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Os espetáculos são a concretização do trabalho estético-didático do grupo; assim, é fundamental que os conheçamos. Eles vêm sendo apresentados pela Brava Companhia e serão apresentados aqui seus resumos, fichas técnicas, circuito de apresentações e prêmios, bem como as reflexões que eles nos suscitam.

Segundo o texto do Projeto Brava Companhia, apresentado à 16ª Edição da Lei de Fomento ao Teatro-2010, a pesquisa do grupo baseia-se na compreensão de que a técnica é instrumento para o domínio e clarificação do conteúdo apresentado (Projeto Brava Companhia p.8). Assim, as peças da Brava Companhia são densas em conteúdos e reflexões, mas são postas ao público de forma leve, com muita ironia, muito riso, muito prazer para quem assiste. São, realmente, os pressupostos do teatro épico postos a prova. É entretenimento com reflexão. É o riso para uma situação cotidiana dramática, que é quebrado, através da música, ou outro subsídio cênico, que estabelece o efeito do distanciamento. Por isso as técnicas da commedia dell’arte13 e do palhaço também são utilizadas pelo grupo a garantir essa sintonia cômica com o público.

Outro fator essencial para a produção da Brava Companhia é a música que contribui para a sequência narrativa, para divertir, contradizer o texto, criar ironia (Projeto Brava Companhia, p.11). Essa importância atribuída à música é observada no trabalho cuidadoso que os integrantes fazem em relação à preparação vocal, à preparação da trilha dos espetáculos - geralmente toda autoral -, à dedicação a um ou mais instrumentos que muitos

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Segundo Margot Berthold, em História Mundial do Teatro, a commedia dell’arte nasceu no século XVI para oferecer ao público algo que se distinguisse da commedia erudita. Assim, impulsionada pelo Carnaval, pelas máscaras, pelas sátiras sociais e números acrobáticos, essa nova forma de fazer artístico estava alicerçada na vida cotidiana e se utilizava das ruas como palco. (BERTHOLD, 2001, p.353)

deles têm. A imagem abaixo permite-nos observar a utilização de instrumentos musicais como recurso cênico da peça Este lado para cima. Como já exposto anteriormente, a música é fonte de inspiração e ferramenta imprescindível nos trabalhos da Brava Companhia, e é um dos pressupostos estéticos do teatro épico já abordado neste trabalho (Capítulo I).

Apresentação da peça Este lado para cima, no Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto - Julho de 2011.

Os espetáculos apresentados estão organizados de forma cronológica a fim de compreendermos os processos e transformações a que a própria companhia está submetida. A sua pesquisa cênica, suas lutas e conquistas, as novas e velhas parcerias são parte do material que compõe e se materializa em sua criação teatral.

• A Brava

O espetáculo A Brava é a primeira montagem do grupo após a fragmentação da Companhia Manicômicos. É uma releitura da história de Joana D’Arc, montado para ser apresentado na rua ou em espaços alternativos, onde o público, durante uma hora e meia,

entra em contato com personagens medievais que carregam as contradições do seu tempo, que, acumuladas e sintetizadas, referem-se às contradições do nosso tempo.

É uma crítica à Igreja de ontem e hoje, seus dogmas e preconceitos, e aos governantes - suas alianças e interesses particulares na gestão do público. Traz uma rica reflexão acerca da vida social e dos movimentos políticos de forma clara e descontraída, mas faz refletir também sobre a força do indivíduo que não se curva aos (des)mandos daqueles que têm o poder, e que luta para transformar o mundo em que vive.

Essa peça foi montada em um momento muito particular da trajetória da Brava Companhia, pois seus integrantes estavam lutando para transformar suas vidas e a dinâmica cultural do seu lugar, o Parque Santo Antônio, assim como a heroína francesa fizera séculos atrás. Foi um período conturbado de ocupação do antigo sacolão hortifrutigranjeiro, transformado em Sacolão das Artes, com batalhas políticas, derrotas e vitórias.

As pitadas de humor satirizam situações que permitem a todos os espectadores, independentemente de idade, classe social e gênero, se integrarem com a apresentação de maneira fluida. Para isso, a peça é montada de forma épica, se valendo de recursos como a música, a interação com a plateia, e referências da cultura popular e da cultura pop agregadas a situações cênicas que exploram o drama e um humor anárquico (...) (BRAVA COMPANHIA, http://blogdabrava.com/ , acesso em 26/10/2011).

Desde sua estreia, A Brava é um grande sucesso de crítica e público, e continua encantando a todos que a assistem. É uma mistura de emoções e sentimentos, provocando um transporte à história da França do século XV, mas, também, uma densa reflexão sobre o mundo contemporâneo. Uma luta contra preconceitos, autoritarismo, corrupção.

A peça se utiliza de música pop, com guitarras e distorções, efeitos pirofágicos, muito humor e uma enorme sensibilidade dos atores para absorver tudo aquilo que ocorre a

sua volta, já que esse espetáculo é encenado em ruas, praças e parques – lugares abertos, com barulho, pessoas indo e vindo, crianças que interagem com o cenário e com os próprios atores – e eles comandam, em muitos momentos, um deslocamento do público que segue as “andanças” das personagens ao longo da história. Por ser executada, preferencialmente, ao entardecer a passagem do crepúsculo interfere nos nossos sentidos e nos remete à passagem do tempo de luta da própria personagem.

FICHA TÉCNICA

14 Criação Brava Companhia Direção Fábio Resende Dramaturgia Brava Companhia Atuação

Rafaela Carneiro, Fábio Resende, Márcio Rodrigues e Ademir de Almeida

Direção Musical Fábio Resende Músicas Brava Companhia Concepção de cenário Fábio Resende Projeto de cenário Mundano Confecção de cenário Márcio Rodrigues

Criação e confecção de Figurino

Ligia Passos Karla Maria Passos

Assistente de Figurino Rafaela Carneiro Fotos Fábio Hirata Preparação Corporal Brava Companhia

Assessoria a preparação corporal

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A apresentação das fichas técnicas dos espetáculos nos possibilita compreender a prática horizontal das relações entre os integrantes do grupo, considerando a rotação e não fixação das funções dentro da Brava Companhia.

Adriana Fortes Programação Visual Ademir de Almeida Produção Kátia Alves Luciana Gabriel

As imagens que seguem são postagens do próprio grupo em seu blog (http://blogdabrava.blogspot.com.br), que de forma eficaz tem realizado uma comunicação virtual que documenta sua trajetória, seu público, seus espaços de atuação, seus prêmios.

Cartaz de divulgação “A Brava” Cena do espetáculo “A Brava”

O sucesso da peça A Brava pode ser verificado não só pelos prêmios que ganhou, mas, sem dúvida, pelo público que sempre esteve presente nas apresentações e nos bate-papos que ocorreram e ocorrem na sequência do espetáculo. Assim, vale ressaltar que, apesar de essa peça ter estreado em 2007, ela continua sendo apresentada pelo grupo de forma permanente.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007