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Comunicado do Sacolão das Artes evidenciando o absurdo

O PARQUE SANTO ANTÔNIO E O PÚBLICO DA BRAVA

O Parque Santo Antônio, na zona sul da cidade de São Paulo, pertence à jurisdição da subprefeitura de M’Boi Mirim, a qual inclui os distritos do Jardim Ângela e Jardim São Luís. Em uma área de, aproximadamente, 62,74 km², a população cresceu de 436.678 pessoas em 1996 para 483.983 em 2000, e em 2008 já contava com, 544.446 pessoas, segundo dados de julho de 2011, da Prefeitura Municipal de São Paulo.

Esse rápido crescimento populacional está associado a alguns fatores que remetem à história da cidade de São Paulo, e à ampliação das atividades econômicas brasileiras. Dentre eles, podemos citar, já no século XX, a inauguração em 1934 do Aeroporto de Congonhas e o desenvolvimento industrial da região de Santo Amaro, principalmente a partir da década de 1950, que trouxe muitos migrantes para o trabalho nas fábricas da região. Na década de 1960, o crescimento populacional desordenado da região avançou para áreas de preservação, inclusive de mananciais, e a falta de planejamento urbano da maior cidade do país ficou evidente.

Com o deslocamento das fábricas das imediações de Santo Amaro para outras áreas da região metropolitana de São Paulo, grande parte dos trabalhadores ficou desempregada, e é a partir desse momento que se deu a escalada da violência na região. Assim, durante as décadas de 1980 e 1990 a região do Jardim Ângela ficou conhecida em todo o Brasil, e no mundo, pelos altos índices de criminalidade e violência destacados pela ONU (Organização das Nações Unidas). Sua população ficou por muitos anos convivendo com o descaso e o preconceito do poder público e das outras regiões da cidade.

Segundo artigo de Maurício Monteiro Filho, do Repórter Brasil, publicado em 2006, a situação no Jardim Ângela e imediações indica melhorias em relação à violência da área. De acordo com levantamento da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE), entre 2000 e 2004 a taxa de homicídios por 100 mil habitantes caiu mais de 45%: de 118,31 para 64,5. No entanto, o texto problematiza que as causas apontadas para tão grande criminalidade e violência combatidas18 desde a década de 1990 permanecem. Assim, os altos índices de desemprego, tráfico e consumo de drogas, falta de investimentos

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A região, apesar da pobreza e da criminalidade que se impõem sobre o cotidiano de seus moradores, tem visto uma ação de ONGs, coletivos culturais, associação de moradores de bairro e governo que tentam driblar a violência e a carência do local.

públicos para suprimento de necessidades básicas – dentre elas saneamento básico, pavimentação de ruas, escolas, postos de saúde, etc - ainda estão presentes no cotidiano da região, como apontou o jornalista.

Nos quarteirões do entorno do Sacolão das Artes, no Parque Santo Antônio, não é diferente. O reflexo da pobreza das periferias das grandes cidades brasileiras está por todos os lados. Casas e casebres amontoados com instalações elétricas clandestinas, em um emaranhado de fios que apresentam o iminente risco de acidentes devido à inocência e falta de informação das crianças que brincam com suas pipas nessas perigosas teias. Montes de lixo, moradores de rua, cachorros de rua e camelôs que vendem desde a última estreia do cinema em dvds piratas, até o relógio caro “de marca”, passando pelos utensílios de cozinha populares, dentre outras coisas. As pessoas vão e vêm pelas ruas e ruelas, pois as calçadas geralmente estão quebradas, ou ocupadas pelos vendedores ambulantes, ou cheias de lixo.

Outra situação diagnosticada através do próprio site da Prefeitura Municipal de São Paulo é a carência de espaços públicos que contemplem atividades culturais para a grande população residente na área. Dentre os existentes podemos citar os CEUs (CEU Vila do Sol, no Jardim Ângela, CEU Guarapiranga, o CEU Casa Blanca “Patativa do Assaré” - no Jardim São Luís) e o Ponto de Leitura Praça do Bambuzal, no Jardim Ângela. Esses espaços públicos permitem a parte da imensa população da região, a realização de atividades ligadas à educação, cultura e lazer, embora não sejam suficientes para os mais de 500 mil moradores da região.

O site do Sacolão das Artes apresenta também alguns dados referentes à situação do Parque Santo Antônio, e nos faz refletir sobre as expectativas do coletivo gestor quanto à criação e manutenção deste centro cultural em uma região periférica da cidade.

Antes da implantação do Sacolão das Artes, a região do Parque Santo Antônio não tinha nenhum equipamento público de cultura e lazer, infelizmente, pois é marcada por estatísticas lamentáveis:

> Detém a maior concentração de favelas de M’Boi Mirim: 4.955 domicílios (14% do total da região);

> Na região do Distrito Jardim São Luiz, teve o maior número de homicídios em 2007: 13 na área de abrangência de apenas uma Unidade Básica de Saúde, sendo que desde 2003 se mantém na primeira colocação; o coeficiente é de 37,6 assassinatos por 100 mil habitantes, quando a média da cidade foi de 16,09 por 100 mil;

> E os serviços sócio-assistenciais e educacionais atuantes na região têm relatado a gravidade e alta incidência de problemas relativos à infância e juventude, havendo, nos mesmos, uma vaga para cada grupo de 88 moradores na faixa entre 7 a 19 anos de idade, quando a média na região é de 1 vaga para 35,3 moradores;

Hoje trabalhamos para que tenhamos aqui mais que um Centro Cultural, mas, também, um espaço onde a população se encontre e possa debater caminhos para a transformação desta realidade. (http://sacolaodasartes.wordpress.com/comunidade/)

As escolas públicas também se tornam importantes peças dessa luta por melhorias na região do Parque Santo Antônio. Elas estabelecem parcerias com a associação dos moradores do bairro, ONGs e coletivos culturais, o que proporciona uma ampliação das possibilidades e oportunidades de reflexão para os seus alunos.

Para a Brava Companhia, a parceria com escolas da região garante o desenvolvimento de atividades pensadas, especificamente, para alunos e professores, como

veremos mais adiante. Assim podemos listar algumas destas escolas, de responsabilidade da Diretoria Regional de Educação Campo Limpo:

 EMEF Zulmira Cavalheiro Faustino, bairro Campo Limpo  EMEF Mauro Faccio Gonçalves Zacaria, bairro Jardim São Luis  EMEF Otoniel Mota, bairro Jardim São Luis

 EMEF Anna Silveira Pedreira, bairro Jardim São Luis

 EMEF Prof Lorenço Manoel Sparapan, bairro Jardim São Luis

 CIEJA (Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos) Campo Limpo