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Da natureza do jornalismo – questões éticas e deontológicas

3) Estabelecimento da narrativa dominante

O papel da narrativa está relacionado com o enquadramento dado aos eventos noticiados. Como afirma Gans, as notícias consistem não apenas de resultados de uma busca empírica, mas incluem também os conceitos e os métodos com que essa busca é realizada: "Como qualquer outra disciplina empírica, as notícias não se limitam a julgamentos da realidade; ela contém valores ou indicações de preferências. Isso, por sua vez, permite sugerir que há, no substrato das notícias, uma imagem da nação e da sociedade como ela deveria se constituir" (Gans, 2004: 39).

Torna-se importante distinguir os dois conceitos: o de estabelecimento da agenda social e a construção da narrativa dominante. As principais concepções teóricas a respeito da hipótese do agenda-setting colocavam ambas no mesmo plano. Shaw, ao propor o que chamou de teoria do agenda-setting, afirma: "A teoria do agenda-setting afirma que, por causa dos jornais televisões e outros meios, as pessoas têm ou não consciência, prestam atenção ou negligenciam, ressaltam ou relevam características específicas do espaço

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público. As pessoas tendem a incluir ou excluir do seu conhecimento o que os media incluem ou excluem dos seus conteúdos" (Shaw, 1977: 96).

Constitui o que Alsina define como mundo narrativo, que tem como base a realidade para propor uma visão de mundo que nela se encaixe. "O mundo narrativo é o construído pelo sujeito enunciador a partir do mundo real e do mundo de referência" (Alsina, 1989: 60).

Correntemente, a literatura existente não distingue o estabelecimento da narrativa dominante da construção ou estabelecimento da agenda jornalística ou social. No entanto, esta distinção revela-se fundamental para a compreensão de fenómenos mais amplos. Enquanto a agenda dos meios busca entre os fatos que são noticiados destacar alguns em detrimento de outros, o estabelecimento da narrativa dominante condiciona a visão de quais são os motivos de notícia num determinado momento. O trabalho de quem pretende estabelecer a narrativa dominante não se limita às atividades para influenciar a agenda social. É mais do que isso. Para ter efetividade nesse processo de mediação, deve reconstruir a realidade, elaborando um cenário em que as ideias defendidas por quem estabelece a narrativa sejam o fio condutor de uma visão de mundo.

Exemplo do que pode ser considerada uma narrativa dominante encontra-se numa comparação entre o que ocorre atualmente e o que acontecia no jornalismo em Portugal no período da ditadura salazarista, com a censura, elaborada por Correia. Ele apresenta um quadro de como se consegue uniformizar o tom daquilo que sai nos jornais:

"O controlo do que hoje é publicado ou transmitido exerce-se de uma forma mais subtil e sofisticada, fundamentalmente através da implantação de um consenso implícito dentro da sala de redação acerca daquilo que pode ou não ser publicado. Em geral, não são necessárias 'ordens superiores' para que os jornalistas, desde logo os que têm mais anos de 'casa', saibam com bastante clareza quais os critérios jornalísticos (os valores-notícia) a adotar, a forma como devem selecionar e abordar os acontecimentos a maneira de tratar este ou aquele tema, este ou aquele facto, este ou aquele partido, esta ou aquela personalidade" (Correia, 2006: 94).

Desta forma, terá influência não apenas no gatekeeping ou na agenda dos meios de comunicação, mas será orientadora de todo o processo de concepção das notícias que entram e na recusa de notícias em meios de informação, assim como na atribuição de

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espaço e destaque às notícias – ou na sua colocação no alinhamento, no caso de rádios e televisões.

A construção da narrativa permite criar uma visão unívoca da realidade com um claro objetivo político, na linha do que vaticina Castilho: "O fato de noticiar dados novos, fatos inéditos e eventos a partir de um único viés não falseia apenas a visão que as pessoas têm da realidade, mas as leva a desenvolver opiniões cada vez mais radicais e extremadas" (Castilho, 2015).

Ou seja, a construção da narrativa inclui a limitação da diversidade das fontes, de forma a radicalizar o posicionamento social no sentido de favorecer um determinado grupo social, político ou econômico. Isso apesar de, como indica Castilho, "o discurso da imprensa é o de que ela sempre ouve os dois lados. Só que hoje existem muito mais do que dois lados numa mesma situação ou na interpretação de um dado. Além disso, existem distorções na prática de ouvir os dois lados" (Castilho, 2015).

Considero o estabelecimento da narrativa dominante no quadro do que no primeiro capítulo defino como a possibilidade de uma mensagem reconstruir o mundo. A forma como uma narrativa se impõe na sociedade pode ser explicada pela teoria criada por Noelle-Neumann (1974) no artigo "The Spiral of Silence – A Theory of Public Opinion". Nesse texto, ela parte de uma experiência em que quatro pessoas – uma que está sendo objeto da experiência e três que se encontram ali para influenciar a sua decisão, mas sem o conhecimento dessa primeira – num ambiente fechado são confrontadas com uma questão e, mesmo sendo a resposta errada, a pessoa questionada responde o mesmo que as outras três.

Trata-se de um processo de atração que a esfera pública exerce em direção ao seu centro, em que as pessoas tendem a preferir estar com os grupos majoritários, mesmo sabendo estarem erradas, do que assumirem posições solitárias.

Talvez a melhor forma de se compreender a construção da narrativa dominante seja colocar o foco na disseminação intencional de informações que não são verdadeiras. Assim, torna-se mais fácil identificar os mecanismos em dados que são reconhecidamente falsos, do que encontrá-los em informações que possam ser verdadeiras ou parcialmente verdadeiras.

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Nesse sentido, Proctor cunhou o termo agnotologia para o estudo dos instrumentos utilizados nas "várias formas de conhecimento que não chegaram a acontecer, desapareceram, foram retardadas ou negligenciadas em vários períodos da história" (Proctor e Schiebinger, 2008: VII). No seu trabalho sobre a agnotologia, Proctor enumera três tipos de ignorância, ainda que reconheça que a classificação possa ser diferente: a ignorância como um estado natural; a ignorância como um reino perdido (ou escolha seletiva); e a ignorância como uma jogada estratégica ou seja, uma construção ativa (Proctor e Schiebinger, 2008: 3).

É a ignorância como uma jogada estratégica que interessa para a construção da narrativa. Cita, como exemplo, todo o trabalho das indústrias de tabaco que procuraram colocar dúvidas a respeito dos estudos que relacionavam o fumo com o cancro: "A indústria eventualmente reconheceu a si própria como uma fabricante de dois produtos distintos, mas codependentes: cigarros e dúvida" (Proctor e Schibinger, 2008: 17). Os mesmos processos são usados atualmente para colocar em questão as evidências científicas a respeito da responsabilidade humana nas alterações climáticas ou influir nas decisões eleitorais em situações como o referendo em relação ao Brexit – a afirmação a respeito dos valores que seriam investidos no no Serviço Nacional de Saúde britânico caso a saída da União Europeia fosse aprovada – ou as eleições presidenciais nos Estados Unidos e no Brasil, por exemplo.

O trabalho realizado no estabelecimento da narrativa dominante enquadra-se no que pode ser definido como spin-doctoring. Trata-se de uma visão mais ampla do que é apresentado como sendo spin-doctoring, no sentido proposto por Esser, Reinemann e Fan: "O termo spin doctor geralmente é usado quando um especialista em relações públicas partidário e determinado tenta influenciar a opinião pública ao impor um viés favorável às suas opiniões na informação apresentada aos media" (Esser, Reinemann e Fan, 2001: 39). Mais do que impor um viés, condiciona-se o conjunto do que se publica nos meios de comunicação.

No seu trabalho sobre spin-doctoring em Portugal, Ribeiro define esta atividade como "a projeção positiva para o espaço público de um determinado sujeito ou ação, através das mais sofisticadas técnicas de manipulação ou persuasão" (Ribeiro, 2013: 389). Situando o surgimento do spin-doctoring em Portugal no início dos anos 1990, com o

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aparecimento das primeiras televisões privadas, ele afirma que, no caso português, os principais spin-doctors não seriam assessores de imprensa, mas os próprios políticos.

Ao distinguir os assessores de imprensa dos spin-doctors, Ribeiro considera que os primeiros tem como função servir de ponte entre jornalistas e políticos, enquanto os segundos teriam uma atividade manipuladora, que muitas vezes chega à amoralidade ou à ilegalidade. No entanto, ambos realizam as suas atividades através da relação pessoal com os jornalistas.

A noção mais acertada não é a de introduzir um viés favorável na cobertura noticiosa, mas sim a de oferecer um conjunto coerente e acabado em que os fatos noticiosos serão enquadrados e que vão formar balizas dentro das quais se insere o panorama noticioso, excluindo o que se situa fora dessa linha orientadora.

No entanto, a narrativa dominante pode ser quebrada. Salmon e Line indicam que estudos posteriores sugerem que é possível as pessoas se oporem à narrativa dominante se tiverem apoio individual ou do grupo a que pertencem e que estes relacionamentos têm maior força do que os relacionamentos impessoais, como é o caso da informação que se obtém através dos média (Salmon e Kline, 1983).

Para a compreensão da narrativa dominante, o caminho que pode ser adotado é buscar a relação entre o fenômeno do conhecimento e o objeto de conhecimento, conforme proposto por Husserl (1989) ao apresentar a crítica do conhecimento consubstanciada na fenomenologia.

Como exemplo prático do estabelecimento de uma narrativa dominante em Portugal, pode-se tomar o caso do processo de resgate financeiro do país, de 2011 a 2013. A narrativa que prevalecia tinha como lema "Não há alternativa" e sugeria uma imagem de rigor na aplicação do dinheiro público, em contraste com o período anterior, de grandes gastos injustificados. Essa prevalência começa a ser quebrada a partir da afirmação de que "as contas não batem certo". Toda a imagem de rigor científico e matemático que sustentava a afirmativa de que não haveria alternativa começou a decompor-se no confronto com os dados da economia.

Observa-se que em relação ao governo surgido depois das eleições de outubro de 2015, a tentativa de desacreditá-lo com base na afirmação de que as contas não batem certo não teve o mesmo efeito. Isso porque o eixo sobre o qual a narrativa era construída

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era substancialmente diferente. Ante um governo que tinha como proposta o atendimento das necessidades das pessoas, o que poderia quebrar a narrativa dominante seria algo como a afirmação: eles não se preocupam com as pessoas.

Outro caso em que ocorreu uma quebra da narrativa dominante foi o do processo de impeachment da presidenta brasileira Dilma Roussef. Durante meses, o processo foi construído com base na narrativa que afirmava que retirar a presidenta seria dar um golpe na corrupção que mina o sistema político o país. Essa descrição era partilhada pelos principais meios de comunicação brasileiros, incluindo a Rede Globo (televisão), Folha de S. Paulo, O Globo, O Estado de S. Paulo, revistas Veja e Isto É. No entanto, pouco menos de um mês antes de a Câmara dos Deputados brasileira ter votado o início desse processo, no dia 28 de março de 2016, o jornal norte-americano Los Angeles Times publica um texto com o título "The politicians voting to impeach Brazil's president are accused of more corruption than she is" (Bevins, 2016) em que afirma que os políticos que pretendem tirar a presidente Dilma do poder podem ser mais corruptos do que ela. A partir desse texto, surgiram com a mesma narrativa textos em jornais norte-americanos como o New York Times, o Washington Post, entre outros. Apesar de não ter conseguido reverter o processo, deixou-se de falar em corrupção como o motivo para o afastamento da mandatária brasileira.

A quebra da narrativa brasileira também teve palco no panorama informativo francês, após pressões sobre o provedor do leitor – mediateuer du lecteur – Franc Nouchi, do jornal Le Monde. Num artigo intitulado "Brésil: « Le Monde » a-t-il été partial?" publicado na sua coluna no dia 23 de abril de 2016, Nouchi faz uma crítica da forma como estava sendo realizada a cobertura da situação no Brasil e do pedido de impeachment da presidente. Na coluna, ele cita cartas de leitores brasileiros que vivem na França e de franceses que vivem no Brasil reclamando da parcialidade da cobertura e explica que esta era baseada nas posições adotadas pelos jornais brasileiros. Termina por fazer um crítica da posição assumida pelo jornal.

Um terceiro caso de construção de uma narrativa dominante é relatada por Bennet e Manheim, num artigo em que discutem a participação do público no processo democrático e o papel da informação na orientação desse público. Ao falar da primeira guerra do Iraque, a que ocorreu após a invasão do Kuwait, apresentam a posição assumida pelo New York Times, nos três primeiros meses do conflito, que permitiu criar "um

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cenário ideal para desenrolar uma elaborada campanha de relações públicas que teve como objetivo preparar a opinião pública para olhar a libertação do Kuwait como um objetivo merecedor do derrame de sangue americano." (Bennet e Manheim, 2001: 113)

Não adoto uma posição alinhada com a de Herman e Chomsky, que colocam toda a imprensa sob o que chamam de "propaganda framework", em que os meios de comunicação de massas são considerados como tendo a função de divertir, entreter e informar, além de inculcar nos indivíduos os valores crenças e códigos de conduta que vão integrá-los nas estruturas institucionais da sociedade mais ampla (Herman e Chomsky, 1994: 1).

A visão apresentada por Herman e Chomsky acaba por ser a de uma imprensa que condiciona toda a visão de mundo adotada na sociedade, apesar de reconhecer a existência de vozes dissonantes – "Mensagens de indivíduos ou grupos fracos e desorganizados, nacionais ou estrangeiros, estão em desvantagem para obter fundos e credibilidade e muito frequentemente não se coadunam com a ideologia ou os interesses dos gatekeepers e outros intervenientes poderosos que influenciam o processo de filtragem " (Herman e Chomsky, 1994: 31). O problema dessa visão é que constitui uma forma de olhar o público que lê, assiste ou ouve os meios de comunicação como apenas agentes passivos, sem capacidade de resposta.

Com outra posição, Hall, Critchen, Jefferson, Clarke e Roberts consideram existir na comunidade jornalística um grau de autonomia na construção da realidade. Eles atribuem essa autonomia à adaptação entre as ideias dominantes por um lado e as ideologias e práticas profissionais nos media:

"Isto não pode ser apenas atribuído – como algumas vezes acontece nas teorias da conspiração – ao facto de que os media sejam em grande parte propriedade de capitalistas (apesar de a estrutura de propriedade poder ser dispersa), uma vez que isso seria ignorar a 'autonomia relativa' do jornalista e dos produtores de notícia no seu dia a dia em relação ao controlo económico direto " (1978: 57).

O conceito de narrativa dominante prevê que haja interação e participação desse público com as mensagens, apresentando a narrativa não como algo estático, mas que vai se adaptando aos acontecimentos, ainda que possa ser uma mistificação da realidade ou mesmo – e no mais das vezes assim é – uma visão baseada em elementos parciais dessa

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realidade, ignorando como sendo de menor importância quaisquer informações ou dados que possam negar essa concepção de mundo.

O peso que a narrativa dominante assume não se mantém uniforme ao longo dos vários momentos políticos. Numa conjuntura de maior acirramento das contradições sociais – por exemplo, em Portugal, o momento em que foi realizado o pedido de auxílio externo de Portugal em 2012, no caso brasileiro, a decisão da Câmara de Deputados a respeito do início do processo de impeachment da presidente Dilma Roussef ou nos Estados Unidos o período após o 11 de setembro de 2002 – esta tende a ocupar um maior espaço na construção das notícias, ao passo que em momentos com menor incidência de acontecimentos dramáticos há um menor controle por parte da narrativa dominante, podendo surgir outros vieses na construção das notícias.

Uma forma de estudar a construção da narrativa dominante é colocar o foco na disseminação intencional da ignorância. Isso porque torna-se mais fácil identificar esses mecanismos em algo que é reconhecidamente falso do que desvendá-los a partir de informações que possam ser verdadeiras ou parcialmente verdadeiras.

A profissionalização das fontes

Ao aplicar-se à assessoria de imprensa, o próprio termo fonte de informação, como metáfora, é alvo de contestação quanto à sua precisão. Segundo Neveu, trata-se de algo que gera uma ideia errônea quanto à relação do jornalista com quem lhe fornece a informação:

"Recorrer à fonte sugere um comportamento ativo para se abastecer de um género (água ou informação) naturalmente disponível. Este jogo de conotações condiz com as imagens do jornalista curioso ou insistente, o que induz em erro, não porque os jornalistas sejam desprovidos de espírito de iniciativa e de habilidade para aceder a informações escondidas, mas porque as fontes são, hoje em dia, particularmente ativas. Se uma metáfora aquática pode aqui fazer sentido, é certamente a de jornalistas submersos por um dilúvio de informações provenientes das fontes." (Neveu, 2005: 68)

A distinção entre fontes profissionais de informação e simples fontes foi tema abordado por Wolf, que – a partir dos estudos de Herbert Gans – apresenta a diferença de uma forma clara. Segundo Wolf, ainda que as agências de comunicação possam ser

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muitas vezes consideradas e atuem como fontes, elas podem ter um papel diferente no processo de produção das notícias. Enquanto as fontes são parte das instituições a que os jornalistas recorrem para obter informações para a elaboração das notícias, as fontes profissionalizadas procuram realizar o trabalho de confecção das mesmas, apresentando aos jornalistas um produto acabado (Wolf, 1992: 1997/8). Ele indica que a própria forma de organização das assessorias de imprensa reflete as estruturas de poder da sociedade e que a sua estruturação é realizada segundo os procedimentos utilizados para a produção das notícias (Wolf, 1992: 198).

Conforme a definição de Pinto, que considera fontes como pessoas, grupos, instituições sociais ou vestígios – falas, documentos ou dados – elaborados ou construídos por essas pessoas, grupos e instituições, estas estão inseridas em relações sociais e interesses situados num determinado momento ou lugar. Assim, as fontes constituem-se em entidades interessadas, com estratégias e táticas definidas (Pinto, 2000: 278).

No seu estudo das fontes, Pinto (2000: 279) apresenta uma tipificação das fontes, utilizando oito critérios para a sua classificação:

1) Segundo a sua natureza: fontes pessoais ou documentais; 2) Segundo a origem: fontes públicas (oficiais) ou privadas; 3) Segundo a duração: fontes episódicas ou permanentes;

4) Segundo o âmbito geográfico: fontes locais, nacionais ou internacionais; 5) Segundo o grau de envolvimento nos factos: oculares/primárias ou indiretas/secundárias;

6) Segundo a atitude face aos jornalistas: fontes ativas (espontâneas, ávidas) ou passivas (abertas, resistentes)

7) Segundo a identificação: fontes explicitadas/assumidas ou

anónimas/confidenciais;

8) Segundo a metodologia ou estratégia de atuação: fontes pró-ativas ou reativas, preventivas ou defensivas.

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Segundo esta tipologia proposta por Pinto, neste trabalho, ao tratarmos da profissionalização das fontes, referimo-nos a fontes enquadradas como pessoas, públicas, permanentes, nacionais, normalmente secundárias, geralmente ativas, que jogam conforme o momento com a possibilidade de serem explicitadas ou confidenciais, da mesma forma como podem, em algumas ocasiões serem proativas e em outras reativas e, diante de determinadas ocorrências, tomarem uma atitude preventiva ou defensiva.

O caminho até se chegar a este grau de especialização das fontes foi um longo processo. A disputa pela influência sobre o processo de mediação que o jornalismo constitui passou de um processo intuitivo por parte das fontes para uma atividade profissional.

Historicamente, a literatura a respeito da profissionalização das fontes indica como marco o ano de 1906, quando o jornalista norte-americano Ivy Lee deixou a redação onde trabalhava para tratar da imagem do milionário John D. Rockfeller (Chaparro, 2010, Duarte e Duarte, 2006). A meio de uma greve de trabalhadores de uma mina de carvão pertencente a Rockfeller, que tinha sido reprimida e estava criando uma imagem muito negativa do seu proprietário, Lee optou por uma postura de transparência, de atendimento aos jornalistas, de respeito pela opinião pública. Na relação com os media, em alternativa à publicação de artigos pagos – prática da época que tinha credibilidade duvidosa –

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