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Apesar de trabalharem com uma matéria semelhante – a elaboração e a modulação de mensagens, adequando-as aos diferentes públicos – o jornalismo e a assessoria gozam de uma valoração social muito diferenciada. De alguma forma, pode-se resumir os motivos dessa apreciação distinta por parte da sociedade ao facto de o jornalismo ser visto como o território da liberdade de expressão e informação, representando assim o conjunto da sociedade, ao passo que a assessoria é considerada como representante de interesses parciais, dos seus contratantes.

Enquanto a assessoria pode ser relacionada com o processo de complexificação das instituições, de forma a gerir a sua imagem dentro da sociedade e assim caminhar em direção à hegemonia, o jornalismo tem um peso social distinto, como nota Neveu, ao afirmar que "surge também como um mecanismo da democracia, facto testemunhado pelo espaço dado à liberdade de imprensa em muitas constituições (...), pela importância do valor da transparência ou por expressões como 'quarto poder'." (Neveu, 2005: 8)

Rieffel estabelece uma ligação entre o jornalismo e as liberdades fundamentais ao abordar o surgimento da profissão: "Mas é a Revolução Francesa e o reconhecimento do princípio da liberdade de expressão e de opinião instaurado pela Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (...) que lançam as bases desta profissão multifacetada" (Rieffel, 2003: 126).

Deuze refere o jornalismo como sendo uma ideologia profissional que partilha valores que incluem o conceito de serviço público, a objetividade – traduzida em imparcialidade, neutralidade e credibilidade – a autonomia (liberdade, independência na realização dos seus trabalhos), o sentido de realidade, o imediatismo da notícia e a ética – ideologia esta que é expressa no sentido da legitimidade (Deuze, 2005).

O conceito de que existe uma ligação do jornalismo com a liberdade de expressão faz com que muitos vejam uma divisão tênue entre o que deva ser a atividade do jornalista enquanto profissional e o simples ato de informar. "Este território pouco definido constitui a origem da necessidade que muitos dos que trabalham recolhendo,

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selecionando, editando e publicando informações se classificarem como jornalistas profissionais" (Fidalgo, 2005: 1).

No entanto, o próprio Neveu apresenta a crítica dessa visão a respeito do jornalismo, tanto ao indicar que não mais de 5% do total dos jornalistas profissionais no ativo exercem a sua profissão de forma que se possa dizer que vivem em situações em que representam o conceito de liberdade de imprensa (Neveu, 2005: 9) quanto ao relatar um cartoon sobre o jornalismo: "O gato do desenhador Geluck observa, numa das suas reflexões memoráveis, que 'lendo o jornal', as pessoas julgam ficar a saber o que passa no mundo. Na verdade, só ficam a saber o que se passa no jornal." (2005: 103)

Essa discussão também tem lugar em Portugal. No 1º Congresso dos Jornalistas Portugueses, Baptista, apesar de reconhecer a associação entre jornalismo e liberdade de expressão, afirma que "muito poucos são os jornalistas que usufruem desse direito", resultado do facto de a esmagadora maioria dos que têm a designação de jornalistas serem assalariados (Baptista, 1983: 41). Coerente com esta posição, ele coloca reservas à denominação de jornalista, afirmando que prefere a designação de "profissional da imprensa, para não dizer já a de empregado de jornal, empregado da rádio, empregado da televisão" (1983: 39).

Conceitualmente, outra distinção está relacionada com a própria natureza do trabalho. O jornalismo pode ser considerado como uma atividade fim, por produzir um produto – a informação – que será oferecida aos leitores, espectadores, ouvintes através dos meios de informação, ao passo que a assessoria constitui-se como um meio de influenciar aquilo que os jornalistas transmitem.

Seguindo o conceito desenvolvido por Molotch e Lester de que as ocorrências constituem balizas para a demarcação temporal do tempo público – que é um espaço padronizado e perceptualmente partilhado, a função do jornalista, assim como a dos historiadores, sociólogos e analistas políticos está voltada para a identificação dos acontecimentos que possam constituir essas balizas (Molotch e Lester, 1993: 36).

Assim, a delimitação das ocorrências que passam a constituir balizas do tempo público depende de três agentes: os promotores de notícias, os "news assemblers" (coletores de notícias) e os consumidores de notícia. Nessa perspectiva sociológica, há uma distinção clara de funções entre os jornalistas e os assessores de imprensa, sendo que

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os primeiros se enquadrariam na categoria de news assemblers e os segundos no campo dos promotores de notícia – eles definem o promotor como um agente que "ao presenciar uma ocorrência ajuda a torná-la pública para um grande número de pessoas (Molotch e Lester, 1993: 39).

Jornalismo e assessoria na ótica da sociologia das profissões

Se forem comparadas segundo os critérios da sociologia das profissões, pode-se ter uma distinção clara entre o jornalismo e assessoria de imprensa. Trata-se de uma comparação que segue os conceitos de profissão e profissionalismo, que, segundo Rodrigues, estão associados "à génese e desenvolvimento de grupos ocupacionais e à formação das identidades profissionais, isto é, identidades sociais baseadas em critérios relacionados com qualificações, competências e atividade profissional." (Rodrigues, 2012: 19)

A questão se é possível considerar o jornalismo como uma profissão foi alvo de várias avaliações contraditórias. Mesmo usando algumas vezes o termo profissão para definir o jornalismo, Rieffel afirma que "o jornalismo não é uma profissão no sentido sociológico do termo, pelo menos se o compararmos com as profissões liberais, tais como as de médico ou advogado, que se definem pela existência de um saber reconhecido, de um determinado curso académico, de um controlo por parte dos seus pares e de uma deontologia restritiva" (Rieffel, 2003: 127).

Por seu lado, Fidalgo indica a existência de uma incerteza quanto ao estatuto de profissão, por encontrar dificuldades em fixar os limites claros da atividade profissional: "A dificuldade de fixação clara dos limites de atividade dos jornalistas enquanto profissionais vai de par com a dificuldade de definição clara da atividade em si: o jornalismo" (Fidalgo, 2005: 2).

Segundo Moretszohn, os limites da profissão ainda se tornam mais tênues com a ampliação de plataformas de publicação virtuais, em que qualquer um pode publicar informações, e com o surgimento do chamado jornalismo cidadão, em que é elidida a

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mediação jornalística, "que é o que legitima socialmente esse tipo de informação e impõe procedimentos necessários para que se lhe exija a indispensável credibilidade" (Moretszohn, 2006: 63).

A posição de Fidalgo e Moretszohn constitui uma visão mais complexa do que a visão, que se poderia considerar minimalista, apresentada no Estatuto do Jornalista português. Esse documento afirma que os jornalistas profissionais são "indivíduos que, em regime de ocupação principal, permanente e remunerada, exerçam funções de redação, reportagem fotográfica, mediante contrato de trabalho com empresa jornalística ou noticiosa" (CCPJ, 2007).

Rodrigues, no seu trabalho a respeito da sociologia das profissões, apresenta as condições para que uma atividade possa ser considerada como uma profissão:

"uma forma de regulação do trabalho e do emprego baseada na valorização de quatro princípios organizativos: certificação formal, por diplomas, do conhecimento científico e das competências específicas, autonomia de decisão sobre o tipo e a forma de realização do trabalho, autorregulação e fechamento no acesso ao mercado de trabalho e, finalmente, orientação da atividade para a resolução de problemas". (Rodrigues, 2012: 9).

Relatando que os estudos a respeito da sociologia das profissões tiveram a sua maturação nos países de língua inglesa, Rodrigues indica que nesses países o termo profissão está relacionado com uma forma burocrática de organização do trabalho, com regulamentação, associações ou ordens, códigos deontológicos e controlo sobre a atividade dos seus membros (Rodrigues, 2012: 14). Já nos países de línguas latinas, o termo refere-se a "um ofício, uma ocupação, uma atividade profissional, um emprego, uma corporação etc., não existindo tradução unívoca para a palavra inglesa profession" (Rodrigues, 2012: 15).

Segundo Rodrigues, existe uma ambivalência o conceito de profissão usado em línguas latinas. Para uns, profissionalismo corresponde à maestria no exercício de uma ocupação, ao passo que outros relacionam o conceito de profissão a monopólios, privilégios e exploração (Rodrigues, 2012: 21). Isso estaria ligado às duas facetas assumidas pelas atividades profissionais, que tanto podem se constituir enquanto mecanismos de poder, como marcas de uma autonomia profissional, que tem como base conhecimentos e competências mobilizados para a sua execução.

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Considerando que "na base do poder e da autonomia profissional residem conhecimentos e competências profissionais mobilizados para a resolução de problemas" (Rodrigues, 2012: 21), ela propõe como caminho para verificar isso a identificação dos atores envolvidos nesse processo, o que inclui "associações profissionais, Estado, universidades, entidades empregadoras e utilizadores de serviços profissionais – e os recursos que mobilizam" (2012: 19). Além disso, inclui verificar a articulação entre os conhecimentos necessários e as competências; entre a credenciação, a proteção e o monopólio; entre a autonomia e o controlo profissional; e as condições sociais e históricas da construção e da identificação dos envolvidos nos grupos profissionais.

No caso do jornalismo, verifica-se que se aplica com especial ênfase a ambivalência identificada por Rodrigues, que se traduz na questão de como compatibilizar uma profissão – considerando-se a definição de profissão como um grupo fechado, que relacionado a monopólios e que impede o livre acesso aos mercados – com a noção de liberdade de expressão, que está relacionada ao interesse público e à própria ideia de democracia. "Como é que se combinam as várias liberdades – de acesso, de expressão, de associação, entre outras – com a necessidade de o Estado regulamentar as atividades e garantir a qualidade do serviço profissional e o equilíbrio dos poderes?" (Rodrigues, 2012: 22)

Ou seja, existe a necessidade de uma formação reconhecida para que seja exercida a profissão de jornalista, o que gera – através da exigência dessa formação – monopólios, que acabam por resultar em privilégios económicos dos profissionais e que, no entanto, procuram se traduzir num reconhecimento dos conhecimentos profissionais e na indicação de que o profissional está habilitado para realizar um trabalho competente.

A existência de cursos de comunicação social com especialização em jornalismo constitui um passo no sentido desse reconhecimento académico. Trata-se de uma formação académica recente: a primeira faculdade portuguesa de jornalismo abriu apenas em 1979 (Correia e Baptista, 2007), sendo que ainda há profissionais no ativo que atuam desde antes desse período. Correia e Baptista referem que já antes havia esporadicamente tido lugar a realização de cursos de jornalismo: um organizado pelo Diário Popular, em 1966, um promovido pelo Sindicato dos Jornalistas, em 1968 e um curso com a duração de três anos que teve início na Escola Superior de Meios de Comunicação Social, em 1971.

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Mesmo sem ter continuidade, a existência de todos esses cursos – além de um projeto de curso superior que surgiu em 1970 – revelam que se cumpria uma necessidade social de acreditação profissional, ainda que, no caso português, não seja necessário ter o diploma desse curso para o exercício do jornalismo.

Ao situar as profissões em grupos, Rodrigues coloca o jornalismo entre as ocupações do espetáculo, juntamente com toureiros, músicos, realizadores de cinema, escritores ou jogadores:

"este grupo integra ocupações com fraca ligação aos sistemas de formação, adotando dominantemente o modelo de credenciação pela experiência, combinada com mecanismos de certificação e regulamentação no acesso à profissão através da inscrição nas associações e da atribuição de carteiras profissionais. (...) A identidade profissional é construída em torno do ato profissional ou do setor de atividade, sendo a natureza do trabalho marcada por fraca autonomia e rotinização dos procedimentos (embora se possam registar casos de alguma tecnicização)." (Rodrigues, 2012: 51/2)

No entanto, as modificações da profissão ao longo dos anos fizeram com que o jornalismo pudesse ser colocado mais próximo do que Rodrigues chama de profissão de base disciplinar ou académica: "ocupações de elevado nível de qualificação, tendo como marca distintiva uma identidade coletiva construída em torno da área de formação, sendo marcante a diversidade de situações profissionais. (...) O modelo de credenciação baseia- se no diploma, mas o modelo de certificação é, na maioria dos casos, aberto" (Rodrigues, 2012: 51/2). Ao afirmar que encontra-se mais próxima, tenho em conta que, ainda que nem todas as áreas do jornalismo possam ser consideradas como de elevado nível de qualificação, existe uma diversidade de formações profissionais e o modelo de certificação pode basear-se no diploma, mas ainda assim é aberto – em Portugal, baseia- se na Carteira Profissional de Jornalista.

Se existe uma discussão a respeito de considerar ou não o jornalismo como uma profissão, esta não se coloca para a assessoria de imprensa. Não existe uma certificação profissional para os assessores. Não há monopólio profissional, o que significa que qualquer pessoa, independentemente do seu percurso profissional ou de sua formação, pode trabalhar como assessor. E, no que diz respeito à deontologia, existem recomendações, como a elaborada por Granado e Malheiros num manual para assessores de imprensa e profissionais da área das ciências: "Acima de tudo nunca, por nenhuma

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razão, seja a que propósito for, mentem aos jornalistas que lhes dirigem perguntas" (Granado e Malheiros, 2001: 32). No entanto, recomendações não constituem um código deontológico para quem exerce esta ocupação profissional e, pelo que se viu no processo eleitoral norte-americano de 2016 e posteriormente na presidência de Donald Trump, no referendo que decidiu pela saída do Reino Unido da União Europeia e nas eleições brasileiras de 2018, o respeito pela verdade por parte dos assessores de imprensa depende, em grande medida, do poder que estes detêm.

A corrente funcionalista

No seu livro sobre sociologia das profissões, Rodrigues apresenta as várias correntes formadas para o seu estudo e os critérios pelos quais uma atividade pode ser considerada como profissão. Assim, segundo a abordagem funcionalista, pode-se verificar que tanto o jornalismo quanto a assessoria de imprensa cumprem uma das condições básicas para serem considerados como profissão. Ambos têm como marcas distintivas comuns "o exercício de atividades fundadas em saberes teóricos técnicos e científicos adquiridos durante um longo período de formação em instituições especializadas, a autoridade profissional legitimada com base nas competências técnicas especializadas num domínio de atividade limitado" (Rodrigues, 2012: 73).

Sob essa perspectiva, há uma proximidade entre jornalismo e assessoria no que toca a esta condição apresentada pela abordagem funcionalista da sociologia da profissão. São ambas atividades baseadas em saberes técnicos e – com o aumento do número dos que fazem o curso de comunicação – inclui-se aí um período alargado de formação em instituições especializadas.

No entanto, há outra condição que apenas o jornalismo preenche, que é a "orientação dos profissionais pelos valores do altruísmo, do desinteresse e do serviço público" (Rodrigues, 2012: 73). Estes valores encontram-se implícitos no código deontológico dos jornalistas, ao passo que na assessoria de imprensa o principal objetivo está relacionado não ao interesse público, mas à gestão da visibilidade social do cliente, ou seja, interesses privados – independentemente de estes coincidirem ou não com o interesse público, de forma permanente ou ocasional.

37 A corrente interacionista

À luz de uma segunda corrente da sociologia das profissões – a interacionista – também podem ser verificadas diferenças na avaliação se as atividades de jornalista e assessor de imprensa podem ser consideradas como profissão. Trata-se de uma corrente que analisa os processos através dos quais uma ocupação pode ter o estatuto de profissão. Neste caso, tanto o jornalismo quanto a assessoria preencheriam uma das condições apontadas por Rodrigues como necessárias para que possam ser nomeadas como profissões: "existência de autorização e mandato sobre saberes 'sagrados' e secretos, confiados pela autoridade" (Rodrigues, 2012: 75). No caso, poder-se-ia considerar como saber sagrado e secreto o domínio da intermediação de informações.

No entanto, o outro critério indicado por Rodrigues apenas é cumprido pelo jornalismo. Trata-se da "existência de instituições destinadas a proteger o diploma e manter o mandato, intermediárias entre o Estado e os profissionais e entre estes e o público" (Rodrigues, 2012: 75). Em Portugal, estas instituições seriam a Comissão da Carteira Profissional de Jornalista, com a função de manter o mandato, e a Entidade Reguladora para a Comunicação, responsável pela intermediação reguladora entre os profissionais e o público.

A corrente neo-weberiana

Uma valoração diferente entre ocupação e profissão é adotada pela abordagem neo-weberiana. Segundo essa corrente, tanto o jornalismo quanto a assessoria de imprensa estariam em situação semelhante, por cumprir a "finalidade de reforçar o seu poder, prestígio e privilégios económicos" (Rodrigeus, 2012: 81).

Segundo essa forma de conceber a sociologia das profissões, a formação académica constituiria uma justificação ideológica para determinar o valor de mercado dos serviços proporcionados pelos profissionais, conduzindo a grupos profissionais fechados, com requisitos de entrada que não obrigatoriamente seriam a tradução de maior qualidade dos serviços oferecidos. Neste ponto, o que distingue os jornalistas dos assessores, pelo menos no caso português, é que os primeiros constituem um grupo profissional fechado, ao passo que o segundo grupo revela-se aberto.

38 A corrente sistémica

Por fim, a abordagem sistémica também releva as notáveis diferenças entre o que constitui o trabalho do jornalista e o de assessor de imprensa para que possam atender aos critérios do que é considerado como uma profissão. São quatro os critérios apresentados por Rodrigues: a fixação de jurisdição; a estrutura interna; as diferenças internas; e os tipos de diferenças internas (Rodrigues, 2012: 89).

Em relação à jurisdição, apenas o jornalismo cumpre – em Portugal – o requisito de ser vedado a outros grupos ou indivíduos desenvolverem essa atividade. Ainda que grande parte dos assessores tenham sido jornalistas, por terem conhecimentos adquiridos que facilitam o exercício dessa atividade, não existe na legislação portuguesa nenhum constrangimento legal para que a atividade não seja exercida por pessoas com outra formação ou profissão. Também não há reações de grupos sociais ou profissionais quando um assessor de imprensa tem uma formação diferente.

No que diz respeito à estrutura interna ou à organização social da profissão, Rodrigues refere-se aos grupos ou segmentos com formas ou características diversas; instituições de controlo, como escolas, credenciamento e verificação do cumprimento do código de ética; e situações de trabalho.

Quanto ao que toca aos grupos e segmentos e a situações de trabalho, estes existem tanto para os jornalistas como assessores de imprensa. Ambos atuam em áreas específicas de trabalho, como economia, cultura, política, desportos, ciências ou educação etc., havendo poucos que transitam de uma para outra. Apesar de haver alguns cursos com especialização em comunicação empresarial, não constituem requisitos para a entrada na atuação profissional, ao passo que o curso de jornalismo normalmente é visto como necessário para a obtenção da carteira – embora não seja obrigatório. Já a existência de credenciamento e um código de ética apenas se aplica ao jornalismo.

Relativamente às diferenças internas, há uma clara distinção entre o que ocorre na assessoria de imprensa e o que se verifica no jornalismo. Na primeira, geralmente não há grande diferenciação, a não ser em grandes empresas de assessoria de comunicação ou de comunicação estratégica. No jornalismo, na maior parte dos locais de trabalho, existe uma estratificação estabelecida, com estagiários, repórteres, redatores, editores e diretores em jornais; estagiários, repórteres, locutores, editores e diretores em rádio; e estagiários,

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repórteres, repórteres de imagem, editores, apresentadores e diretores de informação em televisão. O surgimento de meios de informação através da Internet tornaram essas fronteiras mais fluidas, ainda que alguns desses meios virtuais tivessem optado por reproduzir as estruturas internas das organizações noticiosas não virtuais. Na assessoria de imprensa, apenas pode ser encontrada diferenciação em algumas grandes organizações, não sendo este o padrão para o conjunto da atividade.

O mesmo ocorre no que diz respeito aos padrões de carreira do jornalismo, existindo uma grande diferenciação ao longo do trajeto profissional. Na assessoria de imprensa, não existe uma padronização do percurso.

Assim, segundo as correntes funcionalista, interacionista, neo-weberiana e sistémica da sociologia das profissões, o jornalismo encontra-se muito próximo de cumprir o conjunto do que são os requisitos para ser considerado como uma profissão, bastante distante do que ocorre na assessoria de imprensa. Esta, que não tem o diploma como modelo de credenciação, o seu modelo de trabalho não construído a partir de posições hierárquicas de dominação, têm fraca diversidade interna, com uma identidade coletiva difusa, e apenas pode ser considerada como uma ocupação profissional.

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