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1.3. Princípio da estabilidade da demanda

1.3.3. Estabilidade objetiva

Como se disse no item anterior, a estabilidade objetiva está relacionada ao pedido e à causa de pedir.

Ocorre que a ação pode ser decomposta em elementos identificadores, como aceita pacificamente a doutrina mundial do processo civil:

a) subjetivos: as partes;

b) objetivos: o pedido (objeto) e a causa de pedir.

Consagram os sistemas processuais, portanto, a teoria da tríplice identidade, teoria segundo a qual a ação possui três elementos identificadores.

O Código de Processo Civil brasileiro não é diferente e exige que a inicial faça menção expressa aos elementos identificadores, conforme art. 282, II (partes), III (causa de pedir) e IV (pedido).

A causa de pedir divide-se em próxima e remota. É expressa pela exposição dos fatos e fundamentos jurídicos do pedido. A exigência da indicação da causa de pedir próxima e remota decorre do fato de que o Código adotou a teoria da substanciação (teoria que se contrapõe à teoria da individuação, pela qual bastaria apenas a causa próxima).

Registre-se que não é pacífica a doutrina brasileira na conceituação da causa de pedir.

Para Nelson e Rosa Nery37, os fundamentos de fato

“compõem a causa de pedir próxima. É a ameaça ou a violação do direito (fatos) que caracteriza o interesse processual imediato, quer dizer, aquele que autoriza o autor a deduzir pedido em juízo. Daí

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por que a causa de pedir próxima, imediata, é a violação do direito que se pretende proteger em juízo, isto é, os fundamentos de fato do pedido (...). Os fundamentos jurídicos compõem a causa de pedir remota. É o que, mediatamente, autoriza o pedido”.

De outro lado, Moacyr Amaral Santos38 afirma que “se deve

entender o requisito do n. III do art. 282: o fato (causa remota) e

os fundamentos jurídicos do pedido (causa próxima)”.

Alexandre Alves Lazzarini39 registra a divergência na doutrina

sobre a questão terminológica. Segundo o autor, a doutrina majoritária (Frederico Marques, Araken de Assis, Greco Filho, Milton Paulo de Carvalho, Ernane Fidélis dos Santos, Humberto Theodoro, Olavo de Oliveira Neto, Marcato, Rogério Lauria Tucci) classifica os fatos como causa remota e os fundamentos jurídicos como causa próxima. Nelson Nery e Clito Fornaciari invertem a classificação, afirmando que a causa de pedir próxima é o fundamento de fato e a causa de pedir remota é o fundamento jurídico.

Entretanto, é pacífica na doutrina a idéia de que os fundamentos jurídicos do pedido não se com fundem com os fundamentos legais, pois o que se exige na inicial é a exposição dos fatos e a menção das conseqüências jurídicas que advêm desses fatos.

Assim, ao juiz devem ser levados os fatos e pleiteadas determinadas conseqüências jurídicas (da mihi factum, dabo tibi

jus), sendo dispensada a fundamentação legal em virtude da

presunção de que o juiz conhece o direito (iuria novit curia).

38

Primeiras linhas de direito processual civil, 17ª ed., São Paulo: Saraiva, 1995, v. 2, p. 136.

39

A causa petendi nas ações de separação judicial e de dissolução da união estável, São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p. 32.

O pedido, como se disse acima, costuma ser classificado pela doutrina em mediato e imediato (imediato: a providência jurisdicional solicitada na inicial. Por exemplo, o pedido de uma tutela jurisdicional condenatória; mediato: refere-se ao bem da vida pretendido, ou seja, o bem pretendido pelo autor).

A fim de garantir a congruência da sentença, dispõe o art. 286 do CPC que o pedido deve ser certo e determinado, sendo que a formulação de pedido genérico só é lícita:

I - nas ações universais, se não puder o autor individuar na petição os bens demandados. É o que acontece, por exemplo, na ação de petição de herança;

II - quando não for possível determinar, de modo definitivo, as conseqüências do ato ou do fato ilícito. Cite-se o exemplo de uma ação de reparação de danos materiais, em que não se pode, no momento da inicial, conhecer-se a extensão dos danos;

III - quando a determinação do valor da condenação depender de ato que deva ser praticado pelo réu.

Ao se referir às prestações periódicas contidas no pedido, o CPC prevê (art. 290) uma atenuação à regra da congruência:

Quando a obrigação consistir em prestações periódicas, considerar- se-ão elas incluídas no pedido, independentemente de declaração expressa do autor; se o devedor, no curso do processo, deixar de pagá-las ou de consigná-las, a sentença as incluirá na condenação, enquanto durar a obrigação.

Trata-se de caso excepcional, em que o Código de Processo Civil considera o pedido como implícito, excepcionando-se a regra do art. 293, no sentido de que os pedidos são interpretados restritivamente.

A sentença, nessa hipótese, pode abranger as prestações vencidas e as que venham a vencer no decorrer da ação.

A estabilidade da demanda, na perspectiva objetiva, vem consagrada no parágrafo único do art. 264 do CPC: A alteração do

pedido ou da causa de pedir em nenhuma hipótese será permitida após o saneamento do processo.

Assim, a estabilidade objetiva da demanda revela-se com a seguinte estrutura fundamental:

Até a citação o autor pode alterar o pedido. Após a citação, somente com a concordância do réu. Nesse caso é necessária a concessão de novo prazo para resposta. Após o saneamento, o pedido, em regra, não poderá ser alterado, ou seja, ampliado ou modificado.

O Superior Tribunal de Justiça tem sido rígido com a pretensão de incluir novo pedido após a citação. Assim se decidiu

no julgamento do recurso especial n. 73.644/SP40:

“PROCESSUAL CIVIL. PEDIDO NÃO FEITO NA INICIAL. IMPOSSIBILIDADE DE FAZÊ-LO A DESORAS

(DEPOIS DA CITAÇÃO: ART. 294, CPC)”.

No mesmo sentido manifestou-se o STJ no julgamento do

recurso especial n. 23.171/RJ41:

40

6ª Turma. Relator Ministro Adhemar Maciel. Julgamento: 12/12/1995. Publicação: DJ do dia 11.03.1996, p. 6.684.

41

Relator Ministro Humberto Gomes de Barros. 1ª Turma. Julgamento: 01/12/1993. Publicação: DJ do dia 07.02.1994, p. 1.134.

“PROCESSUAL - MODIFICAÇÃO DO PEDIDO - VEDAÇÃO - CPC (ART. 294).

O ART. 294 DO CPC PROIBE QUE SE LEVEM EM

CONTA, PEDIDOS OMITIDOS NO LIBELO E

FORMULADOS POSTERIORMENTE”.

Vale registrar o pensamento de Barbosa Moreira42, no sentido

de que “pode ocorrer a redução do pedido, nos seguintes casos:

a) de desistência parcial;

b) de renúncia parcial ao direito postulado;

c) de transação parcial, na pendência do processo;

d) de compromisso relativo a parte do objeto do litígio, na pendência do processo;

e) da interposição, pelo autor, de recurso parcial contra a sentença de mérito desfavorável”.

A estabilidade da demanda, do ponto de vista objetivo, também é preservada no caso de revelia. Conforme estabelece o art. 321 do CPC, ainda que ocorra revelia, o autor não poderá

alterar o pedido, ou a causa de pedir, nem demandar declaração incidente, salvo promovendo nova citação do réu, a quem será assegurado o direito de responder no prazo de quinze dias.

Preocupou-se o legislador em não permitir que o autor venha se beneficiar da inferioridade processual do réu revel, a quem deve ser permitida nova possibilidade de resposta se o autor modificar o pedido ou a causa de pedir.

42

Referida regra deve ser aplicada em consonância com o disposto no art. 264, parágrafo único, do CPC, segundo o qual as mencionadas alterações são vetadas, de forma absoluta, depois de saneado o processo.

Nos ritos sumarizados, que admitem pedido contraposto, a estabilidade é garantida com a exigência de que este só pode ser

baseado nos mesmos fatos trazidos pelo autor na inicial43.

A demanda posta em juízo, assim, não pode sofrer alterações em seus elementos objetivos: causa de pedir e pedido.