3. ALTERAÇÃO DA SÚMULA 244, III DO TST
3.4. Estabilidade Provisória e Contrato a Termo Exceção prevista na Lei n 9.061/98
Contudo, em relação à estabilidade provisória da gestante nos contratos por prazo determinado, a exceção consiste no que está disposto no artigo 1º, § 4º, da Lei n. 9.601, de 1998.
A referida Lei dispõe sobre o contrato de trabalho por prazo determinado e disciplina que:
Art. 1º - As convenções e os acordos coletivos de trabalho poderão instituir contrato de trabalho por prazo determinado, de que trata o art. 443 da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, independentemente das condições estabelecidas em seu § 2º, em qualquer atividade desenvolvida pela empresa ou estabelecimento, para admissões que representem acréscimo no número de empregados.
(...)
§ 4º São garantidas as estabilidades provisórias da gestante; do dirigente sindical, ainda que suplente; do empregado eleito para cargo de direção de comissões internas de prevenção de acidentes; do empregado acidentado, nos termos do art. 118 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, durante a vigência do contrato por prazo determinado, que não poderá ser rescindido antes do prazo estipulado pelas partes.
Verifica-se, portanto a possibilidade de se ter a estabilidade provisória em um contrato por prazo determinado, além disso, o exposto na Lei em questão tem como objetivo fomentar novas admissões na empresa.
A doutrinadora Alice Monteiro de Barros sustenta ainda que52, “a única hipótese de contrato por prazo determinado que comporta estabilidade provisória é aquela prevista na Lei n. 9.601, de 21 de janeiro de 1998”.
Por outro lado, a doutrinadora Vólia Bomfim Cassar adepta do posicionamento que não aceita a estabilidade provisória nos contratos a prazo determinado após seu término,
defende o que se segue53:
(...)
Ainda adotamos a tese de que a estabilidade, qualquer que seja o tipo, é adquirida até o fim do contrato por prazo determinado, mas não depois de seu prazo, pois não há despedida e sim caducidade do contrato. O contrato nasce com dia ou momento certo para romper, cláusula ajustada legalmente ou contratualmente desde a admissão. Não surpreende as partes e não viola direitos. Explico. Implementado o termo final, o contrato rompe-se naturalmente, dispensando a declaração das partes ou qualquer notificação neste sentido. Isto porque, na verdade, não há dispensa ou pedido de demissão. Há morte natural do contrato. A estabilidade, a suspensão ou a interrupção do contrato restringem o exercício do poder potestativo do empregador e, por isso, impedem a despedida imotivada. Porém, quando o contrato chega ao seu termo final, não há despedida, pois as partes já tinham ciência, desde seu início, do momento ou data da terminação. Há morte natural.
Constata-se, do exposto acima, que a estabilidade não prolonga o termo final do contrato, pois não há despedida e sim caducidade.
A doutrinadora defende que o empregado adquire estabilidade durante o ajuste por prazo certo, isto é, tem o empregado o direito de não ser despedido sem justa causa antes do termo final de seu contrato por prazo determinado se for detentor de algum tipo de estabilidade.
Desse modo, o empregador não poderá rescindir, sem justo motivo, antecipadamente, o contrato por prazo determinado, na forma do art. 479 da CLT.
Se o fizer, pagará a totalidade dos salários pelo período da estabilidade, limitados ao termo final do contrato.
Assim, observam-se os diversos posicionamentos doutrinários acerca de tal tipo de contratação, porém é certo que tendo em vista o entendimento jurisprudencial do TST, os empregados contratados para o fim ora discutido possuem amparo para eventuais demandas na justiça bem como para eventuais excessos ou abusos ocasionados por seus respectivos empregadores, fazendo jus à estabilidade provisória.
52 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito do trabalho. 9a. ed. São Paulo: LTr, 2013, 1104p. p. 792. 53
VÓLIA BOMFIM CASSAR. Breves Comentários Às Novas Súmulas E Orientações Jurisprudenciais Do TST. Disponível em: http://blogs.unigranrio.com.br/direito/2012/10/17/comentarios-sobre-as-novas-sumulas-e- orientacoes-jurisprudenciais-do-tst-prof%C2%AA-volia-bomfim-cassar/. Acessado em: 21.07.2013
Conclusão
O presente trabalho sobre a estabilidade da gestante buscou mostrar a evolução da entrada da mulher no mercado de trabalho, que desde o século XIX vem conquistando seu espaço.
Destacou a importância da Revolução Industrial que contribuiu para que milhares de mulheres entrassem no mercado de trabalho em troca de salários bem mais baixos que os dos homens e jornadas exaustivas e a partir desse fato viu-se o surgimento de medidas protecionistas a fim de conter os abusos às mulheres no ambiente de trabalho.
Foi exposta a evolução das leis protetivas às mulheres nas constituições federais brasileiras destacando a estabilidade da gestante que é uma forma de evitar que a mulher seja demitida por se encontrar grávida, evitando a discriminação pelo estado em que se encontra e consequentemente o desemprego numa fase em que o rendimento é extremamente necessário. No contrato a termo, conforme foi visto, em virtude da alteração da sumula 244, III do TST, observou-se que é possível a estabilidade provisória nos contratos que tem período certo para terminar.
Apesar de existirem divergências doutrinárias que afirmam não ser possível a empregada buscar esse tipo de proteção, pois desde que iniciou o contrato já tinha conhecimento da data de sua saída, não podendo alegar demissão e sim encerramento do contrato.
Buscou-se apresentar as diversas vertentes quanto ao tema a fim de esclarecer e pontuar os tópicos mais relevantes.
O tema estabilidade provisória da gestante é de extrema importância por se tratar de uma vida que está se iniciando e que precisa de toda proteção e cuidado nos primeiros meses de vida, além disso, a proteção dada hoje à gestante, depois de tanta luta e exploração, vem conseguindo tornar mais digna a situação da mulher no mercado de trabalho.
Conclui-se que o direito trabalho, assim definido como um Direito Fundamental é uma condição essencial para realização total do ser humano, uma vez que o labor possibilita o exercício da dignidade de cada pessoa, pois é a partir desse que é alcançado o meio de sustento próprio e dos demais entes da família.
Conclui-se ainda que um dos pontos que mais precisam ser modificados, não só na legislação, mas na sociedade como um todo, é a questão da maternidade, que a despeito de pertencer à natureza feminina a geração de uma criança, o ônus pela criação dos filhos deve
ser compartilhado com os pais, desde a igualdade no que diz respeito à licença-maternidade até outras questões que se refiram ao desenvolvimento infantil, pois, sem sombra de dúvidas, os encargos pela criação de um filho, muitas vezes destinados exclusivamente à mulher, é uma das principais razões pela preferência da contratação de mão de obra masculina ao invés da feminina, o que acaba por gerar a discriminação, aqui intensamente discutida.
O estudo do tema proporcionou o reconhecimento da imensa relevância social do assunto, que é objeto das mais diversas campanhas veiculadas por instituições e órgãos públicos e privados, como é o caso do Ministério Público do Trabalho, que se empenha em trazer a público a questão da discriminação e da desigualdade de tratamento em relação ao trabalho da mulher buscando, assim a conscientização e promoção da liberdade e respeito de gênero.
Observou-se, também, que esta desigualdade que pode ser facilmente constatada, perpetua-se na sociedade e apesar das diversas normas existentes no ordenamento jurídico que foram conquistadas ao longo da evolução político-social da mulher, faz-se necessária a conscientização dos cidadãos no que diz respeito ao tratamento de todos, tanto pessoal como profissional, independentemente de sexo, como bem explicita a Carta Constitucional de 1988.
Foi destacada a possibilidade de se incorrer no risco da discriminação em contratar menos mulheres em período fértil e quanto a isso é preciso analisar os posicionamentos das empresas para se concluir efetivamente como os empregadores se comportarão frente a tal mudança.
Assim, é possível concluir que o tema da presente pesquisa com o passar dos anos permanece atual e os desdobramentos e consequências da concessão da estabilidade provisória da gestante nos contratos a termo somente se observará ao longo do tempo.
É importante frisar que o posicionamento adotado em relação a este tema é o da não aplicação da estabilidade provisória da gestante nos contratos por tempo determinado, é considerado inaceitável e incompatível a estabilidade concedida nos contratos a termo por todos os argumentos aqui expostos.
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