• Nenhum resultado encontrado

De acordo, com Cordero (2007) já existe uma panóplia de pesquisas e estudos sobre os impactos do turismo e as perceções dos residentes, porém deve-se voltar aos primórdios deste tema para que se compreenda tudo o que já foi elaborado. Deste modo, a linha de pensamento segue a evolução dos modelos de percepção turística.

As teorias das perceções dos vários impactos do turismo foram motivo grandes de pesquisa nos anos 60/70 do século passado (Toousun, 2002), visto que só após 1950 é que este setor foi considerado como relevante.

Christaller, em 1963, escreveu o texto “Some considerations of tourism locations

in Europe: the peripheral regions-under developed countries – recreations areas”,

uma obra de extrema relevância para a explicação do desenvolvimento dos lugares turisticos. Importa aqui salientar que estava a decorrer uma fase de mudança de pensamento geográfico, para um paradigma neopositivista e com ele nasceu “Algumas considerações dos locais turísticos na Europa: as regiões periféricas - em países desenvolvidos - áreas de recreação” que explica os padrões de povoamento das localidades e organização espacial do solo feitas pelo Homem e, ainda, demonstra o padrão de ocupação das áreas periféricas baseadas no turismo. Esta surge no seguimento das teorias de localização que tem como plano principal a distribuição dos espaços e consequentemente a disposição não só da população, mas também dos bens e serviços dos locais. (Brito et al 1987)

Através desta linha de pensamento, a distribuição da população pode afetar o desenvolvimento das cidades, e Christaller demonstra que o turismo é procurado nos locais considerados “intocados” pelo Homem tendo como ponto fulcral a paisagem, todavia não descarta as grandes cidades centrais que recebem um outro tipo de turismo, como o de negócios ou educação. Esta teoria revelou-se importante, visto que, demonstra que o turismo ajuda no desenvolvimento de algumas áreas menos desenvolvidas.

É referente ao padrão de ocupação do solo quando se trata de turismo, que é, designadamente, em primeiro, chegam os pintores que exploram estes locais como inspiração para a sua arte e daqui nasce uma colónia artística, depois os poetas e cineastas, por fim, à medida que o lugar cresce chega a juventude dourada.

Com isto, este local, agora em voga, as grandes empresas ficam interessadas e, a partir daqui começam a aparecer os hotéis e pensões para albergar os visitantes e, com o aumento dos mesmos este é publicitado e todo um marketing é necessário para o seu crescimento. Enquanto isto, os primeiros exploradores já foram à procura de um novo e intocado local de inspiração. Só depois deste crescimento é que aparecem as agências de turismo (Christaller, 1966). Este é um fenómeno que simultaneamente se vai difundindo pelo mundo.

E, para o autor, o turismo localiza-se na periferia das áreas centrais e este é um setor que representa um meio para atingir o desenvolvimento económico local. O turismo tem uma tendência a redefinir a organização da estrutura das cidades através da turistificação da mesma o que leva à teoria dos lugares centrais. (Callizo, 2011)

Butler (1980), inspirou o Modelo de Ciclo de Vida de um Destino Turístico (Tourist Area Cycle of Evolution) nos princípios defendidos por Christaller e no ciclo de vida dos produtos.

Este considera que as áreas turísticas são dinâmicas, evoluem e mudam ao longo dos anos, posto isto, demonstra as fases da evolução da procura que um destino turístico irá sofrer. Inspirado no conceito de ciclo de vida de um produto, este encontra- se relacionado com a mudança das preferências dos visitantes, a gradual deterioração e possível destruição do equipamento e mudança e/ou desaparecimento das atrações naturais e culturais iniciais.

“O padrão apresentado aqui é baseado no conceito de ciclo do produto, pelo qual as vendas de um produto ocorrem lentamente no início, experimentam uma rápida taxa de crescimento, estabilizam e subsequentemente diminuem; por outras palavras, uma curva assintota básica é seguida.” (“The pattern which is put forward here is based upon the product cycle concept, whereby sales of a product proceed slowly at first, experience a rapid rate of growth, stabilize, and subsequently decline; in other words, a basic asymptotic curve is followed.”)

O modelo considera que as áreas turísticas contêm em si a fórmula da sua própria destruição, uma vez que permite ser demasiado comerciais, perdendo assim as qualidades iniciais do local que atraiu os primeiros turistas.

Figura 8. Modelo do Ciclo de Vida de um Destino Turistico, Butler

Importa explicar as várias fases de evolução apresentadas no gráfico acima. A primeira fase deste modelo é a fase exploratória, onde o local vai sendo ocupado aos poucos e os turistas que o visitam são atraídos pela paisagem natural e cultural local. Nesta fase, o destino é pouco evoluído em termos de infraestruturas e os retornos económicos não são consideráveis. De seguida, dá-se um aumento do número de turistas com regularidade, e, é nesta fase de envolvimento, que se dá também o envolvimento dos residentes, onde estes apoiam o crescimento da atividade turística e providenciam os equipamentos e serviços para os turistas. Com o aumento do número de chegadas, o destino inicia a fase de desenvolvimento com o aumento dos investimentos através dos grandes grupos, o que leva a um decréscimo do envolvimento da população. O destino sofre grandes alterações em detrimento dos serviços turísticos, por exemplo, substituição do comércio local por grandes serviços comerciais e/ou alojamentos locais.

Quando o número de visitantes atinge o seu pico, a área turística atinge a fase de estagnação, que acarretam problemas relacionados com a capacidade de carga local. Ao chegar a este patamar, o destino turístico pode ter uma das duas fases: rejuvenescimento e/ou declínio. Na fase de declínio os esforços para inovar no turismo são reduzidos e dá-se um declínio no número de chegadas de turistas e pode haver comportamentos hostis dos residentes em relação aos visitantes. Contrariamente, a fase de renovação compreende a renovação do destino e da sua oferta de modo a atrair mais e novos visitantes.

Este é um modelo que se revelou muito importante, se refletirmos o panorama atual de evolução das áreas turísticas, este pode ser uma mais valia no planeamento das mesmas aquando estas se encontram a ultrapassar a fase de desenvolvimento e quando a capacidade de carga já foi ultrapassada.

Uma das teorias de perceção dos habitantes em relação aos visitantes mais conhecidas a nível mundial, é a teoria de George Doxey de 1975. O “index of tourist

irritation” ou “irridex” procura identificar e explicar os efeitos cumulativos na relação

entre visitantes e visitados, em quatro estágios comportamentais.

O modelo explica que com o aumento do número de turistas e o desenvolvimento dos locais de receção turística, a perceção dos residentes varia nos seguintes estágios: euforia, apatia, irritação e antagonismo.

Estas fases, devem ser explicadas para uma melhor perceção do modelo em questão. Na etapa inicial, os moradores recebem bem o turismo, com euforia, pois este revela ser uma fonte forte de impactos positivos para os locais através da criação de emprego e, consequentemente, aumento da riqueza e a qualidade de vida da população local. Com o aumento do número turistas, começa a existir alguma pressão de modo a que se consigam infraestruturas básica para o turismo e aqui a população começa a ter uma relação apática com esta indústria. A irritação turística, surge quando existem grandes mudanças na localidade que influenciam a qualidade vida dos residentes, como o congestionamento das ruas e estradas, o aumento dos preços do comércio local, a pressão imobiliária, o que leva a que estes duvidem dos benefícios do turismo e consequentemente, a comunidade cria sentimentos hostis perante os turistas. O antagonismo é marcado pela ampla expressão dos sentimentos dos residentes em relação aos visitantes, que são responsabilizados por todos os impactos negativos sentidos (Aires et al, 2011).

Este modelo tem uma importância indiscutível no que diz respeito à evolução dos impactos sociais sentidos pela população, porém, demonstra algumas limitações, visto que trata a comunidade recetora como um grupo homogéneo e ignora as variações intrínsecas entre os residentes do mesmo local. Isto é, nem todos os residentes sentem o mesmo em relação ao turismo.

Fazendo uma breve ponte para o cenário atual retratado nesta dissertação, pode- se dizer que este antagonismo é o que se tem sentido nas grandes cidades europeias com as manifestações anti-turistas, e, estes autores oferecem ferramentas de avaliação para uma análise da relação que existe entre o desenvolvimento turístico e os residentes. No capítulo seguinte, irão ser relatados estes movimentos.

No documento Porto: Turistificação e Turismofobia (páginas 32-37)

Documentos relacionados