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Porto: Turistificação e Turismofobia

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Academic year: 2021

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MESTRADO EM RISCOS, CIDADES E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO POLíTICAS PÚBLICAS

Porto: Turistificação e Turismofobia

Tatiana Alexandra Batista Oliveira

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Tatiana Alexandra Batista Oliveira

Porto: Turistificação e Turismofobia

Dissertação realizada no âmbito do Mestrado em Riscos, Cidades e Ordenamento do Território orientada pelo(a) Professor(a) Doutor(a) Luis Paulo Saldanha Martins

Faculdade de Letras da Universidade do Porto

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Porto: Turistificação e Turismofobia

Tatiana Alexandra Batista Oliveira

Dissertação realizada no âmbito do Mestrado em Riscos, Cidades e Ordenamento do Território orientada pelo(a) Professor(a) Doutor(a) Luis Paulo Saldanha Martins

Membros do Júri

Professor Doutor …. Faculdade …. - Universidade ... Professor Doutor …. Faculdade …. - Universidade … Professor Doutor …. Faculdade …. - Universidade ...

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Even the knowledge of my own fallibility cannot keep me from making mistakes. Only when I fall do I get up again. Vincent Van Gogh

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Índice

Declaração de honra ... 6 Agradecimentos ... 7 Resumo ... 8 Abstract ... 9 Índice de Imagens ... 10 Índice de gráficos ... 12 Índice de Tabelas ... 13

Lista de abreviaturas e siglas ... 14

Introdução ... 15

Objetivos ... 18

Metodologia... 18

Capítulo 1. Turismo ... 20

1.1 Tendências do turismo ... 24

1.2. Benefícios e Malefícios do Turismo ... 26

1.3. Turismo em Portugal ... 28

Capítulo 2. Estado de Arte ... 32

Capítulo 3. Enquadramento do tema na atualidade ... 37

3.1. Veneza ... 39

Capítulo 4 – Porto ... 47

4.1. Evolução do Turismo na cidade do Porto ... 48

4.2. Media: uma palavra sobre o turismo ... 53

Capitulo 5. Considerações finais ... 56

Referências bibliográficas ... 59

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Declaração de honra

Declaro que a presente dissertação é de minha autoria e não foi utilizado previamente noutro curso ou unidade curricular, desta ou de outra instituição. As referências a outros autores (afirmações, ideias, pensamentos) respeitam escrupulosamente as regras da atribuição, e encontram-se devidamente indicadas no texto e nas referências bibliográficas, de acordo com as normas de referenciação. Tenho consciência de que a prática de plágio e auto-plágio constitui um ilícito académico.

Porto, 29 de setembro de 2019

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Agradecimentos

A realização desta dissertação contou com o apoio e incentivo de pessoas que sem os quais esta não seria possível.

Ao Professor Doutor Luis Paulo Saldanha Martins, pela sua orientação, apoio e paciência, pela sabedoria e incentivo, pelas suas opiniões, sem as suas palavras esta dissertação não seria a mesma.

Ao meu pai, à minha irmã e ao meu namorado pelo apoio e ajuda nos momentos mais dificéis.

Aos meus amigos, de Águeda e do Porto, por toda a força que me deram durante esta fase e pelo companheirismo.

Por último, a duas pessoas, que embora não estejam presentes fisicamente, estão sempre comigo no pensamento.

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Resumo

Turistificação e turismofobia (ou over-tourism para os académicos) são dois dos temas que têm estado em voga tanto na discussão pública como na académica e divide opiniões.

O Turismo tem crescido exponencialmente a nível mundial e, principalmente nos grandes centros urbanos, levando ao que se designa de turismo de massas.

A presente dissertação expõe uma reflexão sobre os impactos do turismo, tanto positivos como negativos, nos grandes centros urbanos devido ao turismo de massas mas, principalmente os que afetam a qualidade de vida da população residente, representados através dos “media”. Numa primeira fase, demonstra os impactos existentes nas cidades europeias de Veneza, Barcelona e Lisboa e, por fim, analisa os impactos do turismo no Centro Histórico do Porto e a sua influência nos “media” portugueses.

Ao final, notou-se que os “media”, embora retratem os crescimento do turismo no país, têm dado, no último ano um grande foco nos problemas sociais como os despejos, especulação imobiliária, massificação e movimentos sociais organizados pelos habitantes das cidades (manifestações).

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Abstract

Turistification and turismo-phobia (or over-tourism for academics) are two of the themes that have been in vogue in both public as in academic discussion and divide opinions.

Tourism has grown exponentially worldwide and especially in large urban centers, leading to what is called mass tourism.

This dissertation presents a reflection on the impacts of tourism, both positive and negative, in large urban centers due to mass tourism, but especially those that affect the quality of life of the resident population, represented through the media. In a first phase, it demonstrates the impacts on the European cities of Venice, Barcelona and Lisbon and, finally, analyzes the impacts of tourism in the Historic Center of Oporto and its influence on the portuguese media.

In the end, it was noted that the media, while portraying the growth of tourism in the country, have in the past year given a major focus on social problems such as evictions, real estate speculation, massification and social movements organized by city dwellers ( manifestations).

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Índice de Imagens

Figura 1. Visões do Turismo ... 16

Figura 2. Prémio "Porto. Best European Destination" 2017 ... 16

Figura 3. Direito à Cidade, Porto ... 17

Figura 4. Stop Despejos ... 17

Figura 5. Metodologia ... 19

Figura 6. Número de Chegadas e Receitas Internacionais ... 23

Figura 7. Manifestação Habitação, Lisboa ... 31

Figura 8. Modelo do Ciclo de Vida de um Destino Turistico, Butler ... 34

Figura 9. Modelo de Irritação Turistica, Doxey ... 35

Figura 10. Stop Turisme, Barcelona ... 37

Figura 11. Mapa de Enquadramento dos países da Europa Mediterrânea abordados 38 Figura 12. Habitação, Veneza... 39

Figura 13. Manifestação dos Habitantes de Veneza ... 40

Figura 14. Manifestação da Malas, Veneza ... 41

Figura 15. Manifestação dos Habitantes do Centro Histórico de Veneza ... 41

Figura 16. "O Turismo mata os bairros", manifestação em Barcelona ... 42

Figura 17. Manifestação em Barcelona ... 43

Figura 18. "O turismo mata as cidades", Barcelona ... 43

Figura 19. Cartoon "Turismo de ... 44

Figura 20. Manifestação pela habitação, Lisboa ... 45

Figura 21. Festival HabitAção ... 45

Figura 22. Lisboa Does Not Love ... 45

Figura 23. N oticia no Jornal Visão, “Em Liboa, turistas ouviram dizer: a cidade é nossa!” ... 46

Figura 24. Mapa de Enquadramento do Porto ... 47

Figura 25. Notícia Publico, "Dois moradores, um turista" ... 50

Figura 26. Cartaz contra a falta de habitação, Porto ... 51

Figura 27. Fotografia própria, cartaz dos habitantes do Porto ... 51

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Figura 29. Não aos despejos, Porto ... 52

Figura 30. Comparação Doxey vs Butler ... 56

Figura 31. "Welcome Tourist..." cartaz, Barcelona ... 57

Figura 32. ." Dear Tourist..." cartaz, Veneza ... 72

Figura 33. "Dear Tourist..." Cartaz, Barcelona ... 73

Figura 34. Imagens de descontentamento na cidade de Lisboa ... 75

Figura 35.Movimento Rock In Riot ... 77

Figura 36. Imagens de descontentamento do Porto ... 80

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Índice de gráficos

Gráfico 1 Número de Chegadas Internacionais ... 21

Gráfico 2. Evolução do Turismo por Continente ... 22

Gráfico 3. Percentagem de população residente nos centros urbanos ... 23

Gráfico 4 Chegadas de Turistas Internacionais 1950 - 2030 ... 25

Gráfico 5. Entrada de Turistas em Portugal ... 28

Gráfico 6. Evolução do Número Total de Alojamentos Turisticos ... 29

Gráfico 7. Receitas Turisticas em Portugal ... 30

Gráfico 8. Importações, Exportações e Saldo Turistico em Portugal ... 31

Gráfico 9. Residentes no Centro Histórico de Veneza ... 39

Gráfico 10. Dados do Número de Turistas e Pernoitas em Barcelona ... 42

Gráfico 11. Número de Dormidas em Lisboa ... 45

Gráfico 12. População Residente em Lisboa ... 45

Gráfico 13. Noticias escritas sobre o turismo, Lisboa ... 46

Gráfico 14. População Residente no Porto ... 47

Gráfico 15. Evolução da Densidade Populacional, 2009 - 2018 Porto ... 47

Gráfico 16. Dormidas nos estabelecimentos de alojamento turistico do Porto ... 48

Gráfico 17. Proveitos totais do alojamento turistico no Porto ... 49

Gráfico 18. Proporção de Hóspedes Estrangeiros no Porto ... 49

Gráfico 19. Total de Noticias Por Região ... 53

Gráfico 20. Noticias sobre o Porto ... 53

Gráfico 21. Número de Noticias por mês Maio 2018 - Maio 2019 ... 54

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Índice de Tabelas

Tabela 1. Dados do Número de Entradas em Portugal ... 67

Tabela 2. Dados do Número de Alojamentos Turisticos ... 68

Tabela 3. Estada Média em Portugal Total e Estrangeiros ... 69

Tabela 4. Importações, Exportações e Saldo do Turismo (1996 - 2008) ... 70

Tabela 5. Residentes do Centro Histórico de Veneza ... 71

Tabela 6. Número de Dormidas de Alojamento Turistico em Lisboa ... 74

Tabela 7. População Residente em Lisboa ... 74

Tabela 8. Número de dormidas em alojamento turistico no Porto ... 78

Tabela 9. Número de População Residente no Porto ... 78

Tabela 10.Proporção de hóspedes estrangeiros no Porto (%) ... 79

Tabela 11. Proveitos Totais dos Alojamentos Turisticos no Porto (milhares de euros) ... 79

Tabela 12. Noticias - Diário de Noticias ... 84

Tabela 13. Noticias - Expresso ... 88

Tabela 14. Noticias - Visão ... 89

Tabela 15. Noticias - Jornal de Noticias ... 92

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Lista de abreviaturas e siglas

DGT – Direção Geral de Turismo INE – Instituto Nacional de Estatistica

IDESCAT - Institut d'Estadística de Catalunya ISTAT - Istituto Nazionale di Statistica

OMT- Organização Mundial de Turismo PIB – Produto Interno Bruto

WTO – World Tourism Organization WTTC – World Travel & Tourism Council ONU – Organização das Nações Unidas

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Introdução

“O turismo de massas está em ponto de rebuçado para a explosão social. Há manifestações, cartazes ameaçadores, pedidos para limitar os visitantes e queixas sobre aumentos exponenciais das rendas de casa e do custo de vida. Os residentes dizem que lhes tomaram as cidades de assalto e isso levou os governantes a agir. Um pouco por todo o mundo, sucedem-se as medidas para pôr o turismo na ordem” (Rodrigues, S., 2017).

O setor do turismo é considerado um dos mais importantes no mundo a nível económico, social e cultural, talvez por isso alguns conceitos como gentrificação, turismofobia e sustentabilidade têm estado agregados a este setor.

Em 2017, na ONU discutia-se o Turismo enquanto Desenvolvimento Sustentável, nas ruas, discutiam-se os termos referidos acima, devido às manifestações que se estendiam um pouco por toda a Europa. Posto isto, a principal preocupação da presente dissertação é baseada nos movimentos “anti turísticos” que, como refere a jornalista Maria Murray em 2018, apesar de serem considerados ainda, minoritários, podem chegar a um ponto sem retorno e perigoso, que se propagaram pelas grandes cidades europeias e, consequentemente, se fizeram sentir nas Áreas Metropolitanas de Lisboa e Porto.

Este é um tema que se demonstrou bastante controverso e pertinente nos últimos anos, tanto em discussão pública, com as manifestações dos habitantes destas cidades, como nos “media”, onde o ponto final passa pela urgência da criação de medidas que demonstrem que o turismo pode ser um setor com pontos positivos, sustentáveis e saudáveis tanto para as cidades e para aqueles que as habitam, como para os que a visitam.

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O interesse neste tema de investigação, nasceu da vontade de identificar os principais impactos do turismo que afetam a vida dos moradores da cidade do Porto e, desta forma, mitigá-los.

Os estudos e argumentos que abordam este lado do turismo, irão sempre ter distintas perspetivas consoante os interesses de análise, com isto, pode-se afirmar a existência das seguintes visões, dependendo da posição leitor: política, académica e populacional e/ou habitacional.

Importa ainda salientar, que a maioria dos estudos realizados e mencionados na presente dissertação, para identificar tais impactos, basearam-se nas comunidades recetoras e nas perceções das mesmas, pois é a estas que o turismo influencia a qualidade de vida.

Portugal, teve há muito pouco tempo o seu “boom” turístico, setor este que tem vindo a crescer exponencialmente no país e com isto vieram alguns prémios internacionais, World Travel Awards, que fizeram crescer ainda mais o turismo português. Alguns destes prémios, foram o prémio de “Melhor Destino Turístico do Mundo” e “Melhor Destino Turístico Europeu” em

2017/2018, a cidade de Lisboa também foi premiada “Melhor Destino para City Break 2017/2018” e o Porto foi considerado “Melhor Destino Europeu 2012/2014/2017”.

Fonte: Câmara Municipal do Porto Fonte: Elaboração Própria Figura 1. Visões do Turismo

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Atualmente, o turismo representa, em Portugal, 13,7% do PIB nacional, segundo o TravelBi, e o aumento do número de visitantes trouxe, para as Áreas Metropolitanas de Lisboa e Porto, a discussão da habitação por parte dos residentes do centro das cidades devido à gentrificação sentida, ao aumento da especulação imobiliária e, consequente, aumento dos alojamentos locais nas cidades. Todos estes pontos levaram a alguns movimentos em Portugal, organizados pelos dos residentes locais, como o “Porto. Morto.”; “Porto – Unidos Contra os Despejos” e em Lisboa o movimento “Stop despejos”.

Figura 3. Direito à Cidade, Porto Figura 4. Stop Despejos

A organização desta dissertação passa por uma divisão em quatro capítulos que se complementam entre si. O primeiro capítulo apresenta um breve contexto do setor turístico, uma apresentação das tendências mundiais do mesmo relatadas pela Organização Mundial de Turismo e ainda os benefícios e malefícios que este setor acarreta. O segundo capítulo representa uma profunda aquisição teórica, através de autores que criaram modelos que tentam representar as várias etapas da evolução turística nas cidades e que, por fim, levam à irritação turística. Já o terceiro capítulo, designado de “a importância do tema na atualidade”, apresenta o estudo dos movimentos “anti turísticos” sentidos nas várias cidades do mundo e a sua importância na sociedade, dando principal destaque às cidades de Barcelona, Veneza e Lisboa. Por fim, o quarto capítulo distingue-se por se tratar do caso de

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estudo desta dissertação, a cidade do Porto, onde é apresentado um estudo intensivo do boom turístico que se observa nos dias de hoje na cidade e, por fim, os problemas sociais que são sentidos por parte dos moradores.

Objetivos

Os principais objetivos da presente dissertação passam pela compreensão dos principais impactos do turismo, tanto no mundo como na cidade do Porto e as atitudes tomadas pelos residentes face a estes mesmos impactos. De modo a complementar este primeiro objetivo são utilizadas análises teóricas de autores que através dos seus estudos demonstram os impactos deste setor na qualidade de vida dos residentes e a análise das notícias relatadas nos “media”. Por fim através destes impactos, a apresentação de medidas preventivas para o turismo, de modo a que se enalteçam os impactos positivos deste setor e se reduzam os impactos negativos.

Metodologia

Em termos metodológicos, a primeira fase da presente dissertação passou por um estudo intensivo e exploratório de teorias, artigos e dissertações de vários autores que estudaram os conceitos de turismo, turismo de massas e turismofobia. para uma melhor perceção do tema principal.

Foi ainda elaborada uma distinção desses mesmos impactos tanto em positivos como negativos em diferentes categorias económico, ambiental e sociocultural, respetivamente. Para um melhor suporte da dissertação, o principal foco é feito nos impactos socioculturais.

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Numa fase mais prática, a metodologia passou pela obtenção de conteúdos através dos “media” que contenham os temas da dissertação, e, posteriormente foram analisados e categorizados segundo as palavras-chave, designadamente: desenvolvimento turístico, especulação imobiliária, manifestação habitacional, turismofobia e turismo de massas. O quadro que apresenta esta recolha de informação encontra-se nos anexos que acompanham a dissertação.

Ao longo desta, irão ainda ser apresentados vários tipos de estatísticas relacionadas com o turismo, tanto a nível mundial como, especificamente, ao nível da cidade do Porto, estas foram possíveis utilizando as plataformas da Organização Mundial do Turismo, Eurostat e Instituto Nacional de Estatística.

Figura 5. Metodologia

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Capítulo 1. Turismo

O turismo como o conhecemos hoje é um fenómeno do século XX e é inegável a interligação existente entre a cidade e o turismo (Theobald, 2004). A cidade enquanto mistura de pessoas, conjunto de locais, serviços, atividades e organizações é o que atrai os visitantes que usufruem do turismo (Bondarenko, 2018).

Theobald (2004) afirma que é extremamente difícil definir o conceito de turismo, contudo torna-se aqui, claramente importante, compreender alguns dos conceitos, enfatizando o facto deste ser mutável, quer isto dizer, que se altera com o passar do tempo e/ou com as mudanças das necessidades no setor e compreende em si uma dualidade delimitada por Burkart (1974) e Medlik (1974).

De acordo com o Dicionário de Geografia Aplicada (2016), esta atividade é entendida como “… um tipo específico de lazer, caracterizado por exigir uma deslocação desde o lugar de residência habitual e praticado com uma duração mínima…”, esta é uma definição que resume a que é dada pela Organização Mundial de Turismo (1994), define que esta “compreende as atividades que realizam as pessoas durante suas viagens e estadas em lugares diferentes do seu entorno habitual, por um período consecutivo inferior a um ano, com finalidade de lazer, negócios ou outras”.

Este setor sofreu alguns retrocessos com acontecimentos relevantes que se deram no mundo, tais como as duas Grandes Guerras Mundiais e a Crise de 1929 porém, teve claramente o seu impulso em 1950, muito porque esta indústria representa uma “…alavanca essencial e incontornável ao processo de desenvolvimento…” (Martins, 2016) tanto nos países considerados desenvolvidos como nos países ainda em desenvolvimento. Martins (2016) salienta ainda que o crescimento económico que o local teve, foi o que o tornou num potencial destino turistico . Acredita-se que este é um setor que aumenta a qualidade de vida, tanto dos turistas como das comunidades recetoras.

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Numa análise dos dados do Turismo (tabela 1), de acordo com a Organização Mundial de Turismo, o número de chegadas dos turistas tem vindo a crescer exponencialmente, se em 1990 chegavam mundialmente 435 mil em 2018 o número de chegadas foi de 1.4 mil milhões de pessoas, que segundo a Organização Mundial de Turismo seriam as espectativas para 2020, como se pode observar no gráfico número 2 (Organização Mundial de Turismo, 2017).

O presente gráfico, obtido através dos dados da Organização Mundial do Turismo demonstra um aumento exponencial do turismo em todo o mundo desde 1950. Observa-se então, no gráfico 1 que a Europa, desde que há registos se destaca em relação aos outros continentes, o que demonstra que recebe grande parte dos turistas, quase 50%, é de salientar ainda, os seguintes pontos: o aumento desta atividade na Ásia desde 1980, altura em que este setor começa a dar sinais de relevância; a baixa relevância do médio oriente, muito devido às crises sociais que diminuem a segurança nesses países; a América, apesar de tudo tem vindo a aumentar

Fonte: Organização Mundial de Turismo, 2019 Gráfico 1 Número de Chegadas Internacionais

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a sua relevância no setor e, por fim, África que ainda não se salienta tanto em comparação com os outros, muito devido ao mesmo que se sucede no Médio Oriente.

A atividade turística é considerada um fator de desenvolvimento mundial, como já foi referido, e contribui para o crescimento económico mundial.

Posto isto, de acordo com a Organização Mundial de Turismo (2018) observou-se um aumento das receitas do Turismo entre as várias regiões mundiais, salientando-se o Médio Oriente +12,8%, visto que em 2016 o aumento foi de 1%, e a Europa +8%. Na Ásia as receitas aumentaram 2,6%, uma descida em relação ao ano anterior onde o aumento foi de 4,1%, em África as receitas tiveram um aumento de 8%, enquanto nas Américas 1,3.

Gráfico 2. Evolução do Turismo por Continente Fonte: Organização Mundial de Turismo, 2019

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Figura 6. Número de Chegadas e Receitas Internacionais

Embora existam vários tipos de turismo, ao longo da dissertação apenas será falado o turismo urbano. Este tem gerado alguma controvérsia, visto que grande parte da população nos dias de hoje reside em centros urbanos por estes conterem em si melhores oportunidades, melhores serviços e, consequentemente, gera mais qualidade de vida para quem os habita. O gráfico, elaborado pela ONU (2019) demonstra que a percentagem de população que reside nos centros urbanos na Europa irá continuar a aumentar até 2050.

Fonte: Organização Mundial de Turismo, 2018

Fonte: ONU, 2019

Número de Chegadas e Receitas por Continentes

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Posto isto, o turismo urbano é a “ modalidade turística que tem lugar num território ou espaço geográfico catalogado como urbano” (Dicionário de Geografia Aplicada, pag. 513), este caracteriza-se por não só misturar os residentes das cidades com os turistas e/ou estudantes mas também por ser de curta duração, com uma média de dois ou três dias de permanência. “As motivações que movem este tipo de turistas são muito variadas e incluem tanto lazer como negócios, podendo associar-se a a interesses ligados à cultura, festivais, feiras e eventos, folclore, compras, vida noturna, visita de familiares e amigos.” (Dicionário de Geografia Aplicada, pag.513)

1.1 Tendências do turismo

O futuro do turismo, como o seu conceito pode ser mutável e existem uma panóplia de acontecimentos que podem afetar o turismo mundial. De acordo com Martins (2016) o crescimento da atividade turística tem sido constante e, como já foi referido, os principais países emissores e recetores desta, são os mais desenvolvidos, ou seja, na sociedade esta é considerada uma atividade de referência, intrinsecamente interligada ao crescimento económico. E “a procura turística mudou em experiência, em exigência, em motivações, em personalização. Ao turismo de massas justapõe-se um turismo de nicho, alternativo e muito orientado para públicos segmentados e mesmo de elevado nível de personalização” (Novelli, 2005 in Santos, 2014).

“Buhalis (2006), ao fazer uma análise sobre o futuro da indústria do Turismo, em 2006, mencionam que a sua evolução é o resultado da evolução do conceito de Consumo, e das tendências dos consumidores, que estão mais informados, e procuram experiências mais sofisticadas” (Buhalis in Ramos, D. et all 2017).

Por isso, consoante esta atividade vai evoluindo devem ser criados produtos e novas estratégias de gestão, que consequentemente leva a um novo consumidor de turismo, mais tecnológico e informado. Para o turismo sobreviver, as cidades irão

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adaptar-se a este novo mercado. Atualmente, o turismo é uma atividade de consumo regular e equiparável a outros tipos de bens de consumo e serviços (Martins, L. 2016 pp. 100).

A Organização Mundial de Turismo (2012) desenvolveu um conjunto de previsões, analisando assim as tendências futuras do turismo.

“A UNWTO Tourism Towards atualizou a sua perspetiva de desenvolvimento em Turismo para as décadas de 2010-2030, e substitui assim, a anterior visão do Turismo 2020. Esta é uma previsão essencialmente quantitativa, tendo como base a procura internacional, mas tendo sempre presentes fatores que influenciaram e moldaram o Turismo internacional ao longo do tempo, de foro social, político, económico, ambiental e tecnológico” (Ramos, D. 2017 pp.31).

A imagem em cima, retirada o site da Organização Mundial de Turismo, em 2017 previa-se que iria haver 1,4 mil milhões de entradas mundiais, porém em 2018 já se atingiram esses números, ao seguir esta linha de pensamento, pode-se talvez concluir que em 2030, irão ser superados os 1,8 mil milhões de chegadas.

Fonte: Organização Mundial de Turismo, 2017 Gráfico 4 Chegadas de Turistas Internacionais 1950 - 2030

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1.2. Benefícios e Malefícios do Turismo

A principal questão desta dissertação relaciona-se com os impactos negativos que o turismo tem na sociedade, visto que sempre se acreditou que o turismo apenas traria benefícios para o local de receção. A partir dos anos 50, o turismo começou a caminhar para a massificação e com ela vieram alguns problemas.

Em 1993, a OMT, refere que os impactos do turismo resultam das diferenças sociais, culturais e económicas entre turistas e habitantes e, a maior parte das vezes, os impactos do turismo são abordados devido aos impactos socioculturais (Ferreira, 2005). Os impactos referidos serão aqueles que se veem em contexto urbano, contudo é de salientar que nem todas as cidades passam pelos mesmos parâmetros.

“Os turistas, os tipos de turismo e os locais são diversos e o ambiente varia segundo os contextos geográficos e culturais” (Vera, 1997 in Pereiro 2009). Os impactos ambientais são as alterações espaciais e do meio ambiente (Pérez,2009) e os impactos positivos passam pela a criação de parques naturais, proteção de áreas naturais, restauração e preservação de edifícios e lugares históricos e introdução de medidas para a gestão das mesmas porém negativamente são a poluição do ar, sonora, visual, aumento do lixo urbano, o congestionamento e a degradação da paisagem, de sítios históricos e de monumentos sobrepõem-se aos impactos positivos.

Já na economia os impactos passam pelas oportunidades e/ou desigualdades da riqueza gerada e do uso dos bens e serviços turísticos (Pérez, 2009). Neste setor, a atividade turística pode ter mais impactos positivos que negativos em alguns locais (Silva, 2017), pois como já foi referido, cada cidade irá adaptar-se à sua maneira, e, posteriormente, reage da mesma forma. O turismo vem alterar a

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estrutura económica do local ao redistribuir a riqueza deste, cria empregos (diretos, indiretos e induzidos) e, consequentemente, aumenta o rendimento dos residentes que estejam inseridos nesta atividade, os turistas são ainda responsáveis pelos lucros locais.

Porém, o turismo também cria dependência económica do setor, resultante dos investimentos privados, da vulnerabilidade da economia local (Ferreira, 2018), da inflação dos preços locais e do aumento da especulação imobiliária (Ferreira, 2005). Estes dois últimos pontos negativos, acabam de certo modo por serem também problemas sociais quando afetam a população residente, que com estes se vê obrigada a sair do seu local de residência e a procurar locais periféricos, aqui nasce a gentrificação.

A gentrificação é um dos problemas que assenta bastante, nos dias de hoje, nos grandes centros urbanos que são afetados pela massificação turística. Fernandes et all (2018) refere que este é um processo de alterações na vizinhança impulsionado por “residentes mais abastados” ou outros tipos de pessoas que usam a cidade, neste caso os turistas. Este dá-se aquando existe uma alteração funcional no local, com substituição das lojas e casa tradicionais, por alojamento local e serviços direcionados para o turismo ou desinteresse da população. Smith (1996) define gentrificação como “Gentrification is the process [...] by which poor and workingclass neighborhoods in the inner city are refurbished via an influx of private capital and middle-class homebuyers and renters – neighborhoods that had previously experienced disinvestment and a middle-class exodus. [...] a dramatic yet unpredicted reversal of what most twentieth-century urban theories had been predicting as the fate of the central and inner-city.” (Smith, 1996: 32).

“Por exemplo, Gladstone e Préau (2008) argumentam que a entrada de turistas pode estar interligada a grandes processos de gentrificação, reabilitação de bairros e a um rápido aumento nos preços do uso do solo, substituindo os residentes permanentes” (Fernandes et al, 2018 pp. 182).

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na vida dos residentes das áreas recetoras, mas também as alterações no seu modo de vida devido aos visitantes (Pérez, 2009). Se por um lado se pode dar a valorização do património histórico, o aumento do orgulho local e o aumento cultural e profissional da população, os impactos negativos passam pela alteração dos valores e tradições muito pelo contacto existente de várias culturas, aumento da criminalidade e “destruição” do património histórico (Ferreira, 2005). Consequentemente, um dos impactos negativos é a perda de identidade do local devido ao processo de turistificação (Ferreira, 2018) dos locais recetores de turismo.

1.3. Turismo em Portugal

O turismo é uma atividade bastante recente em Portugal e este é um país com bastante para oferecer, quer seja do clima ameno ou pela história contida e contada ao percorrer as várias cidades e, o desenvolvimento deste setor nasce principalmente da necessidade de resolver os problemas financeiros que o país atravessava (Cunha, 2010). Contudo, é na década de 60, do século XX, que começa a existir interesse na atividade turística e este setor ganha força (Daniel, 2010), com um atraso em relação aos outros destinos do Mediterrâneo (Martins, 2011).

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No ano de 2018, segundo a OMT (World Barometer, 2019), Portugal ocupava o 17º lugar no Ranking Mundial de Turismo.

O gráfico apresenta a evolução do número de entradas de turistas em Portugal desde 1990 a 2017. No panorama geral, a atividade turística tem crescido gradualmente, com alguns pequenos retrocessos, porém desde 2012 o turismo tem crescido exponencialmente. De acordo com Daniel (2010) o decréscimo entre 1992 e 1993 deve-se à excessiva exploração do tipo de turismo explorado em Portugal devido à sua área costeira extensiva e ao clima associado, o Turismo de Sol e Mar.

Após isso, o turismo cresce gradualmente, sempre com ligeiras oscilações, como por exemplo, devido à crise económica europeia em 2008. Todavia, após 2012, quando se deu Revolução Jasmim na Tunísia, a insegurança sentida neste reorientou os turistas para destinos mais seguros, como Portugal, o que levou a um crescimento exponencial deste setor. Segundo o TravelBi (2019), Portugal recebeu aproximadamente 25 milhões de turistas.

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No que diz respeito à evolução do número total de alojamentos em Portugal, este segue em linhas gerais o a evolução do número de chegadas de turistas ao país, quer isto dizer que de 1964 a 2012, o crescimento não foi muito acentuado e após 2012 deu-se um crescimento exponencial. Deve-deu-se ter em atenção que o aumento de alojamentos turísticos, veio devido a um aumento exponencial da procura. O Turismo de Portugal (2019) afirma a taxa de ocupação do alojamento turístico atingiu os 72,4%. A estada média total, tem vindo a descrescer gradualmente, mas sempre com algumas oscilações com uma média entre os 2,7 dias e os 3 dias, aumentando nos destinos urbanos.

O Turismo é um setor que influencia o Produto Interno Bruto de Portugal e, de acordo com o Turismo de Portugal (2019), em 2018 este representava 8,2% do PIB per capita português. As receitas em 2018 foram de 16,6 mil milhões de euros e tiverem um crescimento de 9,6% (+1,5 mil milhões de euros) em relação a 2017.

As exportações do turismo, ou seja, as despesas que os turistas estrangeiros fazem no país, tais como em hotéis, nos restaurantes ou em lazer, têm aumentado desde 1996, contudo não se pode deixar passar a oscilação que esta teve em 2008/2008, que como já foi referido, foi a altura da crise económica europeia. No que diz respeito às importações, relativas às despesas que os turistas nacionais fazem no estrangeiro, tem-se obtem-servado um aumento gradual. Contudo, pode-tem-se concluir, que Portugal é um país, fundamentalmente, recetor de turistas e não emissor (PORDATA, 2019).

Fonte: Turismo de Portugal, 2019

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O setor turístico é bastante importante para o desenvolvimento do país. Mas, o

boom trouxe consigo alguns problemas principalmente nos grandes centros urbanos.

Outrora, os grande locais recetores de turismo eram o Algarve, a Linha de Lisboa – Cascais e a Madeira (Martins, 2011) mas, o turismo também deu um grande salto nas Áreas Metropolitanas de Lisboa e Porto. Se por um lado, esta atividade trouxe para o país muitos benefícios económicos (aumento do emprego), físicos (reabilitações urbanas), sociais (melhoria da qualidade de vida dos residentes), por outro têm havido algumas manifestações por parte dos residentes em relação ao turismo de massas que foram visíveis nas grandes cidades portuguesas e relatadas nos media, onde o tema principal são os despejos dos residentes para construções de novos alojamentos locais nos centros das cidades, a especulação imobiliária das mesmas e a capacidade de carga turística excedida.

Fonte: PORDATA, 2019

Fotografia de Manuel de Almeida | LUSA Gráfico 8. Importações, Exportações e Saldo Turistico em Portugal

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Capítulo 2. Estado de Arte

De acordo, com Cordero (2007) já existe uma panóplia de pesquisas e estudos sobre os impactos do turismo e as perceções dos residentes, porém deve-se voltar aos primórdios deste tema para que se compreenda tudo o que já foi elaborado. Deste modo, a linha de pensamento segue a evolução dos modelos de percepção turística.

As teorias das perceções dos vários impactos do turismo foram motivo grandes de pesquisa nos anos 60/70 do século passado (Toousun, 2002), visto que só após 1950 é que este setor foi considerado como relevante.

Christaller, em 1963, escreveu o texto “Some considerations of tourism locations

in Europe: the peripheral regions-under developed countries – recreations areas”,

uma obra de extrema relevância para a explicação do desenvolvimento dos lugares turisticos. Importa aqui salientar que estava a decorrer uma fase de mudança de pensamento geográfico, para um paradigma neopositivista e com ele nasceu “Algumas considerações dos locais turísticos na Europa: as regiões periféricas - em países desenvolvidos - áreas de recreação” que explica os padrões de povoamento das localidades e organização espacial do solo feitas pelo Homem e, ainda, demonstra o padrão de ocupação das áreas periféricas baseadas no turismo. Esta surge no seguimento das teorias de localização que tem como plano principal a distribuição dos espaços e consequentemente a disposição não só da população, mas também dos bens e serviços dos locais. (Brito et al 1987)

Através desta linha de pensamento, a distribuição da população pode afetar o desenvolvimento das cidades, e Christaller demonstra que o turismo é procurado nos locais considerados “intocados” pelo Homem tendo como ponto fulcral a paisagem, todavia não descarta as grandes cidades centrais que recebem um outro tipo de turismo, como o de negócios ou educação. Esta teoria revelou-se importante, visto que, demonstra que o turismo ajuda no desenvolvimento de algumas áreas menos desenvolvidas.

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É referente ao padrão de ocupação do solo quando se trata de turismo, que é, designadamente, em primeiro, chegam os pintores que exploram estes locais como inspiração para a sua arte e daqui nasce uma colónia artística, depois os poetas e cineastas, por fim, à medida que o lugar cresce chega a juventude dourada.

Com isto, este local, agora em voga, as grandes empresas ficam interessadas e, a partir daqui começam a aparecer os hotéis e pensões para albergar os visitantes e, com o aumento dos mesmos este é publicitado e todo um marketing é necessário para o seu crescimento. Enquanto isto, os primeiros exploradores já foram à procura de um novo e intocado local de inspiração. Só depois deste crescimento é que aparecem as agências de turismo (Christaller, 1966). Este é um fenómeno que simultaneamente se vai difundindo pelo mundo.

E, para o autor, o turismo localiza-se na periferia das áreas centrais e este é um setor que representa um meio para atingir o desenvolvimento económico local. O turismo tem uma tendência a redefinir a organização da estrutura das cidades através da turistificação da mesma o que leva à teoria dos lugares centrais. (Callizo, 2011)

Butler (1980), inspirou o Modelo de Ciclo de Vida de um Destino Turístico (Tourist Area Cycle of Evolution) nos princípios defendidos por Christaller e no ciclo de vida dos produtos.

Este considera que as áreas turísticas são dinâmicas, evoluem e mudam ao longo dos anos, posto isto, demonstra as fases da evolução da procura que um destino turístico irá sofrer. Inspirado no conceito de ciclo de vida de um produto, este encontra-se relacionado com a mudança das preferências dos visitantes, a gradual deterioração e possível destruição do equipamento e mudança e/ou desaparecimento das atrações naturais e culturais iniciais.

“O padrão apresentado aqui é baseado no conceito de ciclo do produto, pelo qual as vendas de um produto ocorrem lentamente no início, experimentam uma rápida taxa de crescimento, estabilizam e subsequentemente diminuem; por outras palavras, uma curva assintota básica é seguida.” (“The pattern which is put forward here is based upon the product cycle concept, whereby sales of a product proceed slowly at first, experience a rapid rate of growth, stabilize, and subsequently decline; in other words, a basic asymptotic curve is followed.”)

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O modelo considera que as áreas turísticas contêm em si a fórmula da sua própria destruição, uma vez que permite ser demasiado comerciais, perdendo assim as qualidades iniciais do local que atraiu os primeiros turistas.

Figura 8. Modelo do Ciclo de Vida de um Destino Turistico, Butler

Importa explicar as várias fases de evolução apresentadas no gráfico acima. A primeira fase deste modelo é a fase exploratória, onde o local vai sendo ocupado aos poucos e os turistas que o visitam são atraídos pela paisagem natural e cultural local. Nesta fase, o destino é pouco evoluído em termos de infraestruturas e os retornos económicos não são consideráveis. De seguida, dá-se um aumento do número de turistas com regularidade, e, é nesta fase de envolvimento, que se dá também o envolvimento dos residentes, onde estes apoiam o crescimento da atividade turística e providenciam os equipamentos e serviços para os turistas. Com o aumento do número de chegadas, o destino inicia a fase de desenvolvimento com o aumento dos investimentos através dos grandes grupos, o que leva a um decréscimo do envolvimento da população. O destino sofre grandes alterações em detrimento dos serviços turísticos, por exemplo, substituição do comércio local por grandes serviços comerciais e/ou alojamentos locais.

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Quando o número de visitantes atinge o seu pico, a área turística atinge a fase de estagnação, que acarretam problemas relacionados com a capacidade de carga local. Ao chegar a este patamar, o destino turístico pode ter uma das duas fases: rejuvenescimento e/ou declínio. Na fase de declínio os esforços para inovar no turismo são reduzidos e dá-se um declínio no número de chegadas de turistas e pode haver comportamentos hostis dos residentes em relação aos visitantes. Contrariamente, a fase de renovação compreende a renovação do destino e da sua oferta de modo a atrair mais e novos visitantes.

Este é um modelo que se revelou muito importante, se refletirmos o panorama atual de evolução das áreas turísticas, este pode ser uma mais valia no planeamento das mesmas aquando estas se encontram a ultrapassar a fase de desenvolvimento e quando a capacidade de carga já foi ultrapassada.

Uma das teorias de perceção dos habitantes em relação aos visitantes mais conhecidas a nível mundial, é a teoria de George Doxey de 1975. O “index of tourist

irritation” ou “irridex” procura identificar e explicar os efeitos cumulativos na relação

entre visitantes e visitados, em quatro estágios comportamentais.

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O modelo explica que com o aumento do número de turistas e o desenvolvimento dos locais de receção turística, a perceção dos residentes varia nos seguintes estágios: euforia, apatia, irritação e antagonismo.

Estas fases, devem ser explicadas para uma melhor perceção do modelo em questão. Na etapa inicial, os moradores recebem bem o turismo, com euforia, pois este revela ser uma fonte forte de impactos positivos para os locais através da criação de emprego e, consequentemente, aumento da riqueza e a qualidade de vida da população local. Com o aumento do número turistas, começa a existir alguma pressão de modo a que se consigam infraestruturas básica para o turismo e aqui a população começa a ter uma relação apática com esta indústria. A irritação turística, surge quando existem grandes mudanças na localidade que influenciam a qualidade vida dos residentes, como o congestionamento das ruas e estradas, o aumento dos preços do comércio local, a pressão imobiliária, o que leva a que estes duvidem dos benefícios do turismo e consequentemente, a comunidade cria sentimentos hostis perante os turistas. O antagonismo é marcado pela ampla expressão dos sentimentos dos residentes em relação aos visitantes, que são responsabilizados por todos os impactos negativos sentidos (Aires et al, 2011).

Este modelo tem uma importância indiscutível no que diz respeito à evolução dos impactos sociais sentidos pela população, porém, demonstra algumas limitações, visto que trata a comunidade recetora como um grupo homogéneo e ignora as variações intrínsecas entre os residentes do mesmo local. Isto é, nem todos os residentes sentem o mesmo em relação ao turismo.

Fazendo uma breve ponte para o cenário atual retratado nesta dissertação, pode-se dizer que este antagonismo é o que pode-se tem pode-sentido nas grandes cidades europeias com as manifestações anti-turistas, e, estes autores oferecem ferramentas de avaliação para uma análise da relação que existe entre o desenvolvimento turístico e os residentes. No capítulo seguinte, irão ser relatados estes movimentos.

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Capítulo 3. Enquadramento do tema na atualidade

O tema da turismofobia não é recente, este é um nome dado pelos media às manifestações dos habitantes em relação à pressão turística e à emergência da existência de uma solução para uma melhor qualidade de vida dos habitantes. Este fenómeno, que outrora autores anglo-saxónicos designaram de overtourism, está diretamente relacionado à crescente evolução das práticas insustentáveis do turismo de massas nos centro urbanos (Milano, 2018). Sempre foram estudados, tanto nos pros como nos contras deste setor, como já foi referido nos capítulos anteriores. Mas, aqui surge a questão: “será que este tema se enquadra na atualidade?”.

Desde a década passada começaram a sentir-se, em vários destinos turísticos uma critica social que demonstra o desagrado em relação à saturação turística, muitas vezes através de organizações sociais.

Estes movimentos de anti turismo têm sido manifestados um pouco por todo o mundo, desde as manifestações e ataques a autocarros turísticos em Barcelona, os protestos de gentrificação de Berlim (Füller e Michel, 2014; Novy, 2016 in Milano, 2017), as concentrações nas Ilhas Baleares, a chamada Sindrome de Veneza e os protestos contra os navios de cruzeiro, o

desconforto e a irritação emergentes torno da superlotação e transformações socioespaciais no centro de Amsterdão (Gerritsma e Vork, 2017; Pinkster e Boterman, 2017 in Milano 2017) e o alerta e manifestações das associações nas ruas lisboetas (Milano, 2017 ) e portuenses, todos estes movimentos foram retratados pelos media. Estes cenários vão ao encontro do Modelo de Irritação Turística de Doxey com algumas distinções, visto que este se

Fotografia de Pau Francesc Rodriguez, La Vanguardia 2017

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adaptou aos padrões de vida atuais.

Ao falarmos de turismo de massas ou overtourism, a nossa mente rapidamente pensa no aumento do número de turistas, mas este fenómeno contemporâneo é muito mais complexo, onde se deve ter em atenção todos os atores que englobam o setor turístico.

Os principais motivos de desagrado dos habitantes manifestam-se devido aos seguintes pontos (Milano, 2018):

a) à privatização e congestionamento do espaço público; b) ao aumento do custo de solo;

c) à especulação imobiliária;

d) à perda ou diminuição do poder de compra dos moradores e) ao crescente aumento do número de turistas e/ou excurcionistas; f) ao impacto ambiental, poluição e resíduos gerados;

As cidades de Veneza e de Barcelona foram as que mais se distinguiram em relação a este tema. Para uma melhor percepção portuguesa será feita uma abordagem de Lisboa e o estudo de caso, o Porto.

É de salientar ainda o facto destes sintomas, na Europa, serem sentidos principalmente na Europa Mediterrânica. De acordo com a Organização Mundial do Turismo (2018), a Europa Mediterrânica é a que recebe um maior número de turistas em toda a Europa.

Figura 11. Mapa de Enquadramento dos países da Europa Mediterrânea abordados

Mapa de Enquadramento dos Países da Europa Mediterrânea abordados, 2018

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3.1. Veneza

O Centro Histórico de Veneza, tem demonstrado ser o caso mais paradigmático e problemático no que diz respeito ao turismo e desta cidade nasce a expressão “Sindrome de Veneza”. Esta é uma expressão que designa os fenómenos de turismo de massas, saturação turística e gentrificação da cidade.

Figura 12. Habitação, Veneza

A habitação encontra-se no centro da problemática em questão, onde a especulação imobiliária e despejos das familias afetam todos os residentes. Se pensarmos bem, é normal estes sentimentos de mau-estar, visto que esta é uma cidade com cerca de 261.905 habitantes no total (ISTAT, 2018) todavia, o centro histórico, que é o local que recebe mais turistas e/ou excurcionistas tem apenas 52.996 habitantes (ISTAT, 2018) e recebe cerca de 70.000 visitantes por dia dos quais uma grande parte são excurcionistas ou “daily-trippers”.

Com isto, importa aqui diferenciar o turista e o excurcionista. De acordo com a OMT (2011) um turista é o visitante que permanece no local pelo menos 24h sendo que pernoita no mesmo, já o

excurcionosta é o visitante temporário que permanece no local por menos de 24h e não pernoita no mesmo. De acordo com o Serviço de Estatistica e Pesquisa da Cidade de Veneza (Servizio Statistica e Ricerca, 2019) em 1990 o Centro

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2000 tinha 66.945 habitantes, em 2010 59.621 e em 2018 o número de habitantes é de 52.996, com isto há uma perda constante de população no centro histórico.

Alguns jornais relatam os acontecimentos do turismo na cidade de Veneza como sendo a “morte” mesma. O jornal The Telegraph, em 2018 entitula um artigo com uma questão “Será que o turismo matou Veneza?” seguido de “Visitamos a cidade durante o mês mais movimentada para entender” que é complementado por um mini documentário, feito por Greg Dickinson designado de “Overtourism – The

Destinations loved to death?”. Neste, o autor demonstra que já existem ações sociais

para que haja um melhor ambiente entre turistas e residentes, como o movimento “Enjoy and Respect Venecia”. Este consiste numa lista, que é entregue aos visitantes, composta por regras de turismo

responsável. Sindrome de Veneza deu ainda nome a um filme-documentário, realizado por Andreas Pichler (2012) sobre esta problemática, uma cidade que se auto-destruiu com o turismo e que foi abandonada pelos residentes devido à pressão turística (Pichler, 2012), uma visão dos autor, sobre os residentes locais para o mundo.

Para além dos relatos dos media, a população residente também se organizou para manifestar os desagrados em relação ao crescimento do número de turistas e excurcionostas, ao aumento do número de cruzeiros, ao declínio da qualidade de vida e à falta de soluções por parte do governo central.

Em 2017, começaram a surgir pelo Centro Histórico frases como “Turistas vão para casa!” (Tourists go home!), "Veneza não é um parque temático!".

Fonte: The Telegraph; AWAKENING/AWAKENING

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Figura 14. Manifestação da Malas, Veneza

Figura 15. Manifestação dos Habitantes do Centro Histórico de Veneza

3.2. Barcelona

“Com uma população de mais de 1,6 milhão de habitantes, Barcelona é hoje um dos principais centros turísticos, económicos, de feiras / exposições e de desportos culturais do mundo, e um peso pesado em comércio, educação, entretenimento, media, moda, ciência e arte. É um importante centro cultural e económico no sudoeste da Europa e um crescente centro financeiro. Barcelona é um centro de transportes com um dos principais portos da Europa. O aeroporto internacional de Barcelona recebe mais de 34 milhões de passageiros por ano e a cidade possui uma extensa rede de rodovias. Recentemente, a cidade também se tornou um centro de comboios de alta velocidade, ao aderir ao novo elo entre Espanha e França, atualmente o segundo mais longo do mundo.” (World Tourism Organization, 2012)

O crescimento do turismo em Barcelona dá-se a partir da reabilitação da cidade para os Jogos Olimpicos de 1992, que colocaram a cidade no “mapa” do setor, após esse acontecimento as associações da cidade juntaram-se de modo a promover o turismo e este continuou a crescer intensamente.

FONTE: EL PERIÓDICO (2016)

FOTOGRAFIA: MARCO BERTORELLO FONTE: LA VANGUARDIA (2016)

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O termo especifico, turismofobia, nasceu em Espanha e, este foi uma das cidades-mãe nos movimentos anti-turisticos. Esta é uma cidade que sofre deste fenómeno há mais tempo e é um exemplo a observar no que diz respeito ao excesso de turismo. De acordo com o IDESCAT (Institut d'Estadística de Catalunya) Barcelona é uma cidade com 1,6 milhões de habitantes e recebeu cerca de 15,8 milhões de turistas. Apesar disto, segindo Milano (2017 ) as estimativas calculam que mais de 30 milhões de visitantes passaram pela cidade, porém não são contabilizados (excurcionistas e passageiros de cruzeiros).

Em 2017, de acordo com o Barómetro de Barcelona, o turismo foi considerado o maior problema da cidade pelos habitantes, onde foram feitas as seguintes questões “Qual o problema que considera mais grave na cidade Barcelona hoje em dia?”.

Figura 16. "O Turismo mata os bairros", manifestação em Barcelona

Fonte: Relatório da atividade turística de Barcelona em 2017; Observatori del Turisme a Barcelona (2017) Dados do número de turistas e pernoitas em Barcelona 1990-2017

Gráfico 10. Dados do Número de Turistas e Pernoitas em Barcelona

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Apesar desta perceção dos habitantes em relação ao turismo não ser recente, teve mais visibilidade agora muito devido aos media que relataram estes conflitos sociais locais. Em 2008 já se tinha iniciado este eco de descontentamento da população, um exemplo é o artigo do jornal El País, intitulado de “Turistofobia” de Manuel Delgado. “A maneira como fenómeno turístico afeta a vida das cidades é uma questão densa e multifacetada. Uma delas é a aparição, em alguns setores sociais, de uma espécie de rejeição frontal aos turistas, como fator de

contaminação e perigo.” (“La manera como el fenómeno turístico afecta la vida de las ciudades es un asunto denso y con múltiples facetas. Una de ellas es la aparición entre determinados sectores sociales de una especie de rechazo frontal al turista como factor de contaminación y peligro”) (Delgado, 2008).

Figura 17. Manifestação em Barcelona

O autor refere ainda que é insensato confiar no turismo como principal recurso para sustentar a economia urbana e que o problema não está no facto de haverem turistas na cidade mas que hajam apenas turistas, ou seja, que chegue ao ponto de não haverem residentes nas cidades.

Muitos outros foram escritos com títulos como “Turismofobia no auge” (Place, 2008), “A cidade museu” (Carol, 2008), “Paranóias turisticas” (Alzamora, 2008). Contudo, na última década este tópico tem-se

tornado mais importante e foi em 2017 que o tema teve o seu boom e chamou à atenção através dos

media, não só locais mas também internacionais,

quando os residentes começaram a sentir descrença e desconfiança por parte do setor turístico ao passo que foram feitos ataques a autocarros e bicicletas turísticas e manifestações por parte dos residentes.

Fonte: Pau Barrena Fonte: Visão, 2017

Figura 18. "O turismo mata as cidades", Barcelona

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Os jornais britânicos como o Daily and Sunday Express com o titulo “Nova ameaça que os turistas de Barcelona enfrentam quando homens mascarados atacam autocarro, com promessas de mais ataques” (2017), ou o jornal The Telegraph com “Protestantes contra o turismo em Barcelona cortam pneus de autocarros turísticos e bicicletas alugadas” (2017) relatam as reações sociais contra o turismo.

3.3. Lisboa

A cidade de Lisboa também sentiu bastante os impactos do turismo, quer sejam nas alterações do tecido urbano, quer seja no

aumento do custo de solo ou no número de malas que passeiam pela cidade.

A mudança para o século XXI, trouxe consigo a intensificação deste setor na capital portuguesa, e esta beneficia de uma boa a localização geográfica, um bom clima e possui

ainda um aeroporto.

Figura 19. Cartoon "Turismo de Massas", Lisboa

Contrariamente ao cenário de Barcelona onde o turismo já afeta os habitantes há muito tempo, a evolução do turismo na capital portuguesa, embora tardia teve um boom muito grande e rápido no que diz respeito a este setor, contudo pode-se fazer a comparação do que colocou Lisboa no “mapa” com Barcelona, sendo que, como já foi referido o turismo na cidade de Barcelona foi motivado após os Jogos Olimpicos de 1992 e em Lisboa podem ser referidos os seguintes eventos internacionais: Expo98 e o Europeu de Futebol de 2004 (Ferreira, 2016).

Fonte: ANTÓNIO JORGE GONÇALVES

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Ao analisarmos os gráficos da população residente na cidade de Lisboa versus o número de dormidas nos alojamentos turísticos na mesma podemos observar que a população residente sofreu um decréscimo acentuado – menos quase 38 mil habitantes - até 2015 e o número de dormidas continua a

aumentar exponencialmente, sendo que o número de turistas recebidos em Portugal em 2018, segundo o TravelBi (2019) foram aproximadamente 25 milhões, a Área Metropolitana de Lisboa recebeu aproximadamente 8 milhões, ou seja, aproximadamente 16 vezes mais que a população residente.

Estes números de turistas agregados ao aumento do número de alojamentos locais na cidade de Lisboa e consequentes despejos de habitantes por parte de senhorios para fins turísticos e ainda o aumento do custo de solo, foram criadas algumas organizações sociais com o intuito de se manifestarem e demonstrarem o seu desagrado em relação ao turismo, tais como a Lisboa Does Not Love, o Rock in Riot ou a Stop Despejos, que criou palestras sobre o tema e o Festival HabitAção.

Figura 21. Festival HabitAção

Figura 22. Lisboa Does Not Love

Fotografia: MANUEL DE ALMEIDA

Fonte: INE, 2019 Fonte: INE, 2019

Gráfico 12. População Residente em Lisboa Gráfico 11. Número de Dormidas em Lisboa

Figura 20. Manifestação pela habitação, Lisboa

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Ambas as associações referem no seu manifesto (em anexo) a falta de habitação para os residendes, os despejos e a dificultade de usufruito de espaços públicos, sociais e culturais visto que estes são para fins turísticos, foi realizado ainda um documentário que aborda a turistificação lisboeta designado de “Terramotourism”

Todos estes efeitos do turismo e manifestações sobre o turismo tiveram impacto nos media em Portugal, manchetes como "Investigadora diz que ‘turistificação’ do Bairro Alto força moradores a sair" (Publico, 2016), "Queixas de mais de metade do condomínio podem fechar alojamento local" (Publico, 2018) ou relativos às manifestações de 22 de Setembro como "Em Lisboa, turistas ouviram residentes dizer: A cidade é nossa!” (Público, 2018). No total de noticias analisadas sobre o turismo para o estudo desta dissertação foram diferenciadas as noticias que apenas se referem à cidade de Lisboa – um total de 34 - e aquelas que se referem a Portugal – um total de 65 - no geral que, maioritariamente apelam aos problemas sentidos nas duas grandes cidades continentais, designadamente, Lisboa e Porto. Em anexo, estão as tabelas com o total das noticias, subdivididas pelos seguintes jornais: Jornal de Noticias; Diário de Noticias; Público, Expresso e Visão. O grande impacto notável existente nestas tem haver com as manifestações e o descontentamento da população residente, onde o tema principal são os despejos.

Figura 23. N oticia no Jornal Visão, “Em Liboa, turistas ouviram dizer: a cidade é nossa!” Gráfico 13. Noticias escritas sobre o turismo, Lisboa

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Capítulo 4 – Porto

“O Porto, visto como município, é pequeno: tem aproximadamente 41,4 km 2 (cerca de metade da superfície de Lisboa)” (Fernandes, J. et all, 2018), e esta pequena cidade, localizada a Norte de Portugal é composta pelas seguintes freguesias: União das Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde; União de freguesias do centro histórico do Porto; União das Freguesias de Lordelo do Ouro e Massarelos; Paranhos e Ramalde.

Capital da Área Metropolitana do Porto, a cidade invicta tem uma população de 215 284, segundo o INE (2018) e uma densidade populacional de 5.197,6 hab./km2. Ao analisarmos o gráfico da população residente do Porto pode-se constatar que esta sofreu uma perda acentuada de quase 19 mil habitantes de população desde 2011 até aproximadamente 2015.

A cidade conhecida também como a Invicta possui marcos turísticos bastante importantes que lhe dão alguma notoriedade no mundo, como a Torre dos Clérigos,o Mercado do Bolhão, a Fundação Serralves, a Livraria Lello que inspirou as histórias da autora inglesa J.K. Rowling e ainda, o Centro Histórico é classificado como Património Mundial da Humanidade pela UNESCO em 1996 muito devido à sua riqueza histórica e Capital Europeia da Cultura em 2001.

Mapa de Enquadramento do Municipio do Porto, 2018

Fonte: INE, 2019 Fonte: INE, 2019

Figura 24. Mapa de Enquadramento do Porto

Gráfico 15. Evolução da Densidade Populacional, Gráfico 14. População Residente no Porto

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A cidade do Porto foi ainda reconhecida pelos seguintes prémos:

• World Travel Awards;Listed in the Best Destinations to Visit in 2016, The

Telegraph Travel;

• Best City Attraction (2016), World Travel Awards; • Best City Break (2016), World Travel Awards;

• Best Tourist Destination (2016), World Travel Awards;

Best European Destination (2017), European Best Destinations Awards.

4.1. Evolução do Turismo na cidade do Porto

O Porto é uma das cidades portuguesas mais antigas e a sua particularidade e espírito faz com que esta seja uma das cidades mais procuradas pelos visitantes (National Geographic, 2019).

“Foi uma cidade mecantil, animada pelo vinho do Porto a partir do século XVIII, intensamente industrializada no século XIX e cidade de comércio e serviços no século XX.” (Fernandes et all, 2018).

Hoje em dia, a cidade é marcadamente turística e este setor tem uma grande importância para a cidade, onde se deram grandes alterações no tecido urbano da cidade como reabilitações urbanas. Em 2018, o número de turistas no Porto foi de 4,1 milhões de visitantes.

Fonte: INE, 2019

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Como se pode observar no gráfico o número de dormidas nos estabelecimentos hoteleiros continua a crescer exponencialmente, sendo que em 2017 houveram 3,7 milhões de dormidas e em 2018 as dormidas chegaram aos 4,7 milhões, se compararmos com o número de residentes no gráfico em cima, podemos afirmar que enquanto o número de turistas aumenta, o número de residentes diminui, o INE (2018) sublinha “entre 2008 e 2018, as dormidas de residentes cresceram 28,2% e as de não residentes aumentaram 56,1%”mas este será um assunto que irá ser tratado a seguir.

A estada média, segundo o INE (2018) é de 2,0 noites. Já no gráfico seguinte os proveiros totais dos alojamentos turísticos no Porto têm subido significativamente entre 2009 a 2018, contudo importa mencionar que o crescimento se torna mais acentuado após 2014.

O crescimento do número de turistas marca o passar dos anos, de acordo com Fernandes et al (2018) em 2017 deu-se um aumento de 88% do número de estabelecimentos hoteleiros na cidade do Porto, sendo que a proporção de hóspedes estrangeiros no Porto em 2018 é de 76,9% (INE, 2019).

Importa ainda referir que em 2017, foi aprovado o Regulamento da Taxa Municipal Turística, de 2 euros por dormida e por pessoa, até ao máximo de 14 euros (7 noites seguidas de estadia/pessoa), com entrada em vigor em 1 de março de 2018

Fonte: INE, 2019 Fonte: INE, 2019

Gráfico 17. Proveitos totais do alojamento turistico no Porto Gráfico 18. Proporção de Hóspedes Estrangeiros no Porto

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(ATP, 2018) e segundo Ricardo Valente (2019) esta taxa gerou 10,4 milhões em 2018 à cidade do Porto.

Toda esta evolução do setor turístico, o aumento do número de turistas e/ou excurcionistas na cidade do Porto, agregados à sua história e essência trouxeram consigo alguns efeitos positivos e negativos que afetam a qualidade de vida dos habitantes.

A reabilitação do tecido urbano da cidade é um aspeto positivo e vem na consequência do aumento da “influência” do setor turístico na cidade, esta vem melhorar, restaurar ou conservar os edifícios, “…ainda que com soluções muito diversificadas e discutíveis, que oscilam entre o restauro, o fachadismo e a renovação” (Chamusca et al 2019).

O alojamento local tornou-se num dos grandes problemas da cidade do Porto devido ao turismo. Em 2018, numa noticia de Mariana Correia Pinto no Publico 4411 alojamentos locais (AL) situados na União de Freguesias do Centro Histórico do Porto e um total de 6198, já em 2019 o número de registos de Alojamentos Locais passaram a 8354 dos quais 6039 são no Centro Histórico do Porto (Registo Nacional de Turismo, 2019). É de enfatizar que a distribuição do turismo, tem-se observado principalmente no Centro Histórico da cidade do Porto, pois é este que contém em si uma grande porção da história portuense.

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Outro ponto emergente no alojamento local, é o crescimento do Airbnb, uma plataforma de alojamento local que de acordo com Fernandes et al (2018), em Maio 2018, já existiam cerca de 15.610 registadas na Área Metropolitana do Porto dos quais cerca de 5.000 estavam localizadas no Centro Histórico do Porto.

O aumento do custo de solo do centro do Porto (2050€ por m2) teve como consequência dois pontos importantes nesta tese: a especulação imobiliária e os despejos.

A especulação imobiliária (ato de investir em bens imóveis – como casas, edifícios – para obter lucros acima da média com a sua venda ou aluguer) trouxe consigo o problema da subida das rendas das casa, principalmente para os residentes. “Hoje, é possível encontrar um T0 com 15 metros quadrados em plena Rua de Cedofeita, no Porto, a custar 1200 euros de renda mensal” (Publico, 2017). Porém, a especulação imobiliária no centro do Porto está a tornar-se numa bolha imobiliária visto que a cada ano que passa os preços continuam a aumentar. A gentrificação, que com os problemas a cima referidos se tornm “…incomportáveis com a manutenção dos residentes no centro da cidade” (Chamusca et al 2019) e a turistificação das cidades são alguns dos grandes motivos deste problema, visto que assim dá-se a saída das pessoas que não conseguem efetivamente pagar para “entrarem” pessoas com um maior poder de compra. Com isto, dá-se o aumento de pessoas que não conseguem pagar o aluguer da casa e ficam sem casa para viver, aumento de pessoas

sem-abrigo.

O outro grande problema, tem gerado bastantes opiniões principalmente nas redes sociais ou “media”, os despejos ou o realojamento de habitantes do Centro Histórico para a periferia. Este impacto negativo é uma

Figura 26. Cartaz contra a falta de habitação, Porto

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consequência de tudo o que foi abordado a cima, onde a as casas no centro da cidade são vistos como um lucro

para os proprietários e não como um direito essencial para os residentes.

De acordo com o Público (2018) o Balcão Nacional de Arrendamento passou 1348 ordens de despejo para o porto desde 2013.

Estes impactos levaram ao descontentamento dos residentes e à criação de Organizações Sociais por parte dos residentes da cidade, como o “O Porto não se Vende!”; o “Direito à cidade!” e o “Núcleo de Moradores do Centro Histórico do Porto” (ver manifesto em anexo). Estes têm como principal objetivo uma habitação acessível e lutam pelo fim dos despejos e têm feito algumas manifestações, como no dia 22 de Setembro de 2018.

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Figura 29. Não aos despejos, Porto

"Um dia a cidade vai ficar descaracterizada. Se tiramos a população, se pomos tudo em inglês, isto deixa de ser a cidade do Porto. Passa a ser um sítio de comes e bebes, e de roupa barata", alertou uma residente. (Diário de Noticias, 2017)

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