• Nenhum resultado encontrado

Evolução do Turismo na cidade do Porto

No documento Porto: Turistificação e Turismofobia (páginas 48-53)

Capítulo 4 – Porto

4.1. Evolução do Turismo na cidade do Porto

O Porto é uma das cidades portuguesas mais antigas e a sua particularidade e espírito faz com que esta seja uma das cidades mais procuradas pelos visitantes (National Geographic, 2019).

“Foi uma cidade mecantil, animada pelo vinho do Porto a partir do século XVIII, intensamente industrializada no século XIX e cidade de comércio e serviços no século XX.” (Fernandes et all, 2018).

Hoje em dia, a cidade é marcadamente turística e este setor tem uma grande importância para a cidade, onde se deram grandes alterações no tecido urbano da cidade como reabilitações urbanas. Em 2018, o número de turistas no Porto foi de 4,1 milhões de visitantes.

Fonte: INE, 2019

Como se pode observar no gráfico o número de dormidas nos estabelecimentos hoteleiros continua a crescer exponencialmente, sendo que em 2017 houveram 3,7 milhões de dormidas e em 2018 as dormidas chegaram aos 4,7 milhões, se compararmos com o número de residentes no gráfico em cima, podemos afirmar que enquanto o número de turistas aumenta, o número de residentes diminui, o INE (2018) sublinha “entre 2008 e 2018, as dormidas de residentes cresceram 28,2% e as de não residentes aumentaram 56,1%”mas este será um assunto que irá ser tratado a seguir.

A estada média, segundo o INE (2018) é de 2,0 noites. Já no gráfico seguinte os proveiros totais dos alojamentos turísticos no Porto têm subido significativamente entre 2009 a 2018, contudo importa mencionar que o crescimento se torna mais acentuado após 2014.

O crescimento do número de turistas marca o passar dos anos, de acordo com Fernandes et al (2018) em 2017 deu-se um aumento de 88% do número de estabelecimentos hoteleiros na cidade do Porto, sendo que a proporção de hóspedes estrangeiros no Porto em 2018 é de 76,9% (INE, 2019).

Importa ainda referir que em 2017, foi aprovado o Regulamento da Taxa Municipal Turística, de 2 euros por dormida e por pessoa, até ao máximo de 14 euros (7 noites seguidas de estadia/pessoa), com entrada em vigor em 1 de março de 2018

Fonte: INE, 2019 Fonte: INE, 2019

Gráfico 17. Proveitos totais do alojamento turistico no Porto Gráfico 18. Proporção de Hóspedes Estrangeiros no Porto

(ATP, 2018) e segundo Ricardo Valente (2019) esta taxa gerou 10,4 milhões em 2018 à cidade do Porto.

Toda esta evolução do setor turístico, o aumento do número de turistas e/ou excurcionistas na cidade do Porto, agregados à sua história e essência trouxeram consigo alguns efeitos positivos e negativos que afetam a qualidade de vida dos habitantes.

A reabilitação do tecido urbano da cidade é um aspeto positivo e vem na consequência do aumento da “influência” do setor turístico na cidade, esta vem melhorar, restaurar ou conservar os edifícios, “…ainda que com soluções muito diversificadas e discutíveis, que oscilam entre o restauro, o fachadismo e a renovação” (Chamusca et al 2019).

O alojamento local tornou-se num dos grandes problemas da cidade do Porto devido ao turismo. Em 2018, numa noticia de Mariana Correia Pinto no Publico 4411 alojamentos locais (AL) situados na União de Freguesias do Centro Histórico do Porto e um total de 6198, já em 2019 o número de registos de Alojamentos Locais passaram a 8354 dos quais 6039 são no Centro Histórico do Porto (Registo Nacional de Turismo, 2019). É de enfatizar que a distribuição do turismo, tem-se observado principalmente no Centro Histórico da cidade do Porto, pois é este que contém em si uma grande porção da história portuense.

51

Outro ponto emergente no alojamento local, é o crescimento do Airbnb, uma plataforma de alojamento local que de acordo com Fernandes et al (2018), em Maio 2018, já existiam cerca de 15.610 registadas na Área Metropolitana do Porto dos quais cerca de 5.000 estavam localizadas no Centro Histórico do Porto.

O aumento do custo de solo do centro do Porto (2050€ por m2) teve como consequência dois pontos importantes nesta tese: a especulação imobiliária e os despejos.

A especulação imobiliária (ato de investir em bens imóveis – como casas, edifícios – para obter lucros acima da média com a sua venda ou aluguer) trouxe consigo o problema da subida das rendas das casa, principalmente para os residentes. “Hoje, é possível encontrar um T0 com 15 metros quadrados em plena Rua de Cedofeita, no Porto, a custar 1200 euros de renda mensal” (Publico, 2017). Porém, a especulação imobiliária no centro do Porto está a tornar-se numa bolha imobiliária visto que a cada ano que passa os preços continuam a aumentar. A gentrificação, que com os problemas a cima referidos se tornm “…incomportáveis com a manutenção dos residentes no centro da cidade” (Chamusca et al 2019) e a turistificação das cidades são alguns dos grandes motivos deste problema, visto que assim dá-se a saída das pessoas que não conseguem efetivamente pagar para “entrarem” pessoas com um maior poder de compra. Com isto, dá-se o aumento de pessoas que não conseguem pagar o aluguer da casa e ficam sem casa para viver, aumento de pessoas

sem-abrigo.

O outro grande problema, tem gerado bastantes opiniões principalmente nas redes sociais ou “media”, os despejos ou o realojamento de habitantes do Centro Histórico para a periferia. Este impacto negativo é uma

Figura 26. Cartaz contra a falta de habitação, Porto

consequência de tudo o que foi abordado a cima, onde a as casas no centro da cidade são vistos como um lucro

para os proprietários e não como um direito essencial para os residentes.

De acordo com o Público (2018) o Balcão Nacional de Arrendamento passou 1348 ordens de despejo para o porto desde 2013.

Estes impactos levaram ao descontentamento dos residentes e à criação de Organizações Sociais por parte dos residentes da cidade, como o “O Porto não se Vende!”; o “Direito à cidade!” e o “Núcleo de Moradores do Centro Histórico do Porto” (ver manifesto em anexo). Estes têm como principal objetivo uma habitação acessível e lutam pelo fim dos despejos e têm feito algumas manifestações, como no dia 22 de Setembro de 2018.

.

Figura 29. Não aos despejos, Porto

"Um dia a cidade vai ficar descaracterizada. Se tiramos a população, se pomos tudo em inglês, isto deixa de ser a cidade do Porto. Passa a ser um sítio de comes e bebes, e de roupa barata", alertou uma residente. (Diário de Noticias, 2017)

No documento Porto: Turistificação e Turismofobia (páginas 48-53)

Documentos relacionados