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Estado desenvolvimentista

No documento A ESTRUTURA SOCIAL NA PERSPECTIVA DA (páginas 52-55)

2 CAPITALISMO

2.6 Estado desenvolvimentista

Após analisar os tipos de Estado de acordo com o grau de intervenção na economia, verifica-se que dificilmente se encontrará um tipo determinado de Estado, mas sim uma mistura de tipos em um único Estado. Na maior parte dos países a livre- iniciativa é princípio básico do sistema econômico vigente, mesmo assim a liberdade não significa que não haja intervenção estatal, tendo, apesar de contraditório, uma convivência harmônica.

A atuação do Estado na economia se dá principalmente para garantia da justiça social e aplicação do princípio da igualdade, sendo possível a intervenção do Estado até mesmo em economias que tenham historicamente defendido a mais ampla liberdade, com a finalidade de promover o desenvolvimento humano77, para isso garantindo os direitos fundamentais.

Ao que parece o Estado desenvolvimentista seria uma releitura do Estado de Bem-Estar Social, recalibrado, de tal sorte a realocar os recursos financeiros, como por exemplo a revisão das políticas de seguridade social. Para alguns autores não se trata de outro modelo de Estado, mas apenas o Estado do Bem-Estar Social se adequando à economia internacional globalizada78.

O Brasil se classifica como sendo um Estado desenvolvimentista, já que pela leitura atenta da Constituição Federal, verifica-se que é um Estado Democrático (CF, art. 1º, caput79), havendo a necessidade de inclusão de todos, não podendo ser Estado do

Bem-Estar social devido à falta de recursos suficientes para atender a toda a população, bem como pelo risco de aniquilar a livre iniciativa privada; mas também não é Estado Liberal, já que não tem prioriza a liberdade de mercado, permitindo a competitividade sem limites.

77 SEN, Amartya. Desenvolvimento como liberdade. Tradução de Laura Teixeira Motta. Revisão de

Ricardo Doninelli Mendes. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.

78 Neste sentido consultar a obra de DELGADO, Maurício Godinho. Capitalismo, trabalho e emprego:

entre o paradigma da destruição e os caminhos da reconstrução. São Paulo: LTr, 2006.

79 Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e

A Constituição Federal de 1988, em seus arts. 1º, inc. III80, e 170, caput81,

determina a harmonia dos elementos fundantes da ordem econômica: a valorização do trabalho humano e a livre-iniciativa.

A livre iniciativa pressupõe a existência da propriedade privada, ou seja, a apropriação dos meios de produção pelo particular (CF, art. 5º, XXII82, e art. 170, II83). Assim com o também fará parte do conceito de livre-iniciativa a liberdade de empresa, assegurando a todos a liberdade de empreender e de exercer a atividade que bem entender, sem a necessidade de prévia autorização, excluindo-se os casos previstos em lei (CF, art. 170, parágrafo único84). Por fim, dentro do conceito de livre-iniciativa, deve-se também observar o conceito de livre concorrência, deixando o empresário fixar preços, técnicas de produção e prestação de serviços, da forma que melhor lhe convir. Além disto, aplica-se também o princípio da legalidade (CF, art. 5º, II85), sendo livre a contratação, desde que não haja lei que a vede.

Quanto à valorização do trabalho humano, tendo por fim a valorização do trabalhador e a dignidade da pessoa humana, está estampado no art. 7º da CF alguns direitos que a garantam, mesmo que falte legislação que dê eficácia a tais direitos.

Desta forma, a ordem econômica constitucional brasileira mostra que o sistema econômico proposto é o do Estado Desenvolvimentista ou Estado do Bem-Estar Social recalibrado86.

80 Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e

do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: III - a dignidade da pessoa humana;

81 Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por

fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:

82 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros

e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XXII - é garantido o direito de propriedade;

83 Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por

fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: II - propriedade privada;

84 Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por

fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei.

85 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros

e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei;

86 Para ficar ainda mais explícito o enquadramento do sistema econômico do Brasil, leia-se a parte final

do caput do art. 170: “tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios” (g.n.). Assim, fica o Estado autorizado a desenvolver políticas

A intervenção do Estado na economia não se dá para que haja uma substituição da iniciativa privada pela pública, uma vez que já se verificou historicamente que a iniciativa privada é mais eficaz na produção de riquezas e de bem-estar, mas sim, para manutenção do sistema econômico como um todo, com vistas a uma maior justiça social87.

Para se verificar a adequação do Estado desenvolvimentista à atualidade econômica global, é conveniente se analisar a mais recente crise econômica. A falência do banco norte-americano Lehman Brothers foi um marco no sistema econômico globalizado, originado pelo investimento arriscado em um mercado livre, com isto deixou-se de questionar o papel do Estado na economia e a necessidade de fiscalização, regulamentação e até mesmo atuação direta em setores vitais, como o financeiro.

O Estado desenvolvimentista se aplicado à realidade brasileira é a estrutura de sistema econômico ditada pela Constituição de 1988, sendo possível por meio dela o desenvolvimento econômico com a construção da justiça social.

A possibilidade de intervenção estatal na economia faz com que políticas públicas necessárias ao crescimento econômico (política de câmbio, política de barreiras alfandegárias, concessão de crédito e juros etc.) sejam criadas, bem como políticas públicas sociais88, que tenham como finalidade a distribuição de renda (fixação de salário mínimo, distribuição de renda direta – Bolsa Família, etc).

que promovam a redução da desigualdade e o pleno emprego, por exemplo, bem como tenha programas para que a livre iniciativa privada atinja tais fins.

87 Com a finalidade de se diferenciar o dirigismo, que é próprio das economias autoritárias e planificadas,

do intervencionismo, que é meio de intervenção na economia que teve seu apogeu com o desenvolvimento do Estado do Bem-Estar Social, cita-se FERRAZ Jr, Tercio Sampaio (apud. BARROSO, Luís Roberto. A Ordem Econômica Constitucional e os Limites à Atuação Estatal no Controle de Preços. Revista dos Tribunais, v. 795, p. 55, jan. 2002): “(...) aqui entra a distinção entre intervencionismo e dirigismo. O primeiro é atitude flexível, que visa a estimular o mercado e a definir as regras do jogo. Já o segundo se caracteriza por uma atitude rígida, que impõe autoritariamente certos comportamentos. Neste há uma direção central da economia que funciona na base de um plano geral obrigatório que todos executam; a entidade autora do plano determina a necessidade dos sujeitos e a sua prioridade, fixa os níveis de produção e de preços e opera direta ou indiretamente a distribuição dos bens produzidos”.

88 Percebeu-se que as políticas sociais é meio de enfrentamento de pressões econômicas internacionais,

não devendo ser abandonadas, já que ao final ajudam até mesmo na conquista de mercados internacionais. E assim o norueguês KUHNLE afirma (apud DELGADO, Maurício Godinho; PORTO, Lorena Vasconcelos. O Estado do bem-estar social no capitalismo contemporâneo. Revista do Direito do Trabalho. Vol. 128, p. 155, out. 2007): “As amplas políticas sociais têm sido vistas como um modo de se proteger os mercados de trabalho internos e os cidadãos do risco de exposição a uma economia internacional volátil. Essas políticas têm sido encaradas também como um meio de incrementar o “capital humano” – fortalecendo, assim, as forças produtivas – e de contribuir para a estabilidade social e econômica, estimulando o investimento externo e o crescimento econômico. Isso é demonstrado pelo exemplo dos países escandinavos.

No documento A ESTRUTURA SOCIAL NA PERSPECTIVA DA (páginas 52-55)

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