• Nenhum resultado encontrado

Justiça do Trabalho

No documento A ESTRUTURA SOCIAL NA PERSPECTIVA DA (páginas 92-109)

5 ESTRUTURAS DE CONTROLE DA ORDEM SOCIAL NA CONSTITUIÇÃO DE

6.3 Justiça do Trabalho

É justiça especializada, sendo de sua competência as questões relacionadas aos contratos de trabalho, não mais somente as de emprego (CF, art. 114)150. Porém, historicamente o perfil da Justiça do Trabalho já foi bastante diferente, tendo se iniciado com a Revolução de 1930 e o Governo Vargas, quando foi criado o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, conforme já se afirmou anteriormente. Também foram criadas legislações para dar melhores condições aos trabalhadores, convergindo com as legislações estrangeiras de países em que os proletários eram beneficiados, bem como atendendo a algumas das necessidades mais urgentes desta classe tão desfavorecida.

150 Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:

I - as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; II - as ações que envolvam exercício do direito de greve;

III - as ações sobre representação sindical, entre sindicatos, entre sindicatos e trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores;

IV - os mandados de segurança, habeas corpus e habeas data, quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição;

V - os conflitos de competência entre órgãos com jurisdição trabalhista, ressalvado o disposto no art. 102, I, o;

VI - as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho; VII - as ações relativas às penalidades administrativas impostas aos empregadores pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho;

VIII - a execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no art. 195, I, a, e II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir;

IX - outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma da lei. § 1º Frustrada a negociação coletiva, as partes poderão eleger árbitros.

§ 2º Recusando-se qualquer das partes à negociação coletiva ou à arbitragem, é facultado às mesmas, de comum acordo, ajuizar dissídio coletivo de natureza econômica, podendo a Justiça do Trabalho decidir o conflito, respeitadas as disposições mínimas legais de proteção ao trabalho, bem como as convencionadas anteriormente.

§ 3º Em caso de greve em atividade essencial, com possibilidade de lesão do interesse público, o Ministério Público do Trabalho poderá ajuizar dissídio coletivo, competindo à Justiça do Trabalho decidir o conflito.

Assim, a partir desta data verifica-se a criação de diversas leis tendentes a proteção do trabalhador, como: Decreto n. 19.671-A, de 4/2/31, dispõe sobre a organização do Departamento Nacional do Trabalho; Decreto n. 19.770, de 19/3/31, regula a sindicalização; Decreto 20.303, de 19/8/31, dispõe sobre a nacionalização do trabalho da marinha mercante; Decreto n. 20.465, de 1/10/31, trata de Caixas de Aposentadoria e Pensões, dentre tantas outras151.

Em 1932, foram criadas as Juntas de Conciliação e Julgamento, órgão administrativo composto por juízes classistas, representantes dos empregados e dos empresários, e por um juiz presidente, indicado pelo Governo. Tais Juntas somente foram retiradas do ordenamento jurídico brasileiro em 1999, mediante Emenda à Constituição de n. 24, que transformou as Juntas de Conciliação e Julgamento em Varas do Trabalho, ficando apenas o juiz togado responsável pela atividade jurisdicional.

A Justiça do Trabalho foi instituída na Constituição de 1934, sendo implementada apenas em 1/5/1941, sendo em seu início parte do Poder Executivo, ou seja, política pública para defesa dos direitos trabalhistas, passando a integrar o Poder Judiciário apenas na Constituição de 1946.

Nos anos que se seguiram, ou seja de 1946 em diante a Justiça do Trabalho permaneceu defendendo os direitos sociais, sendo ferramenta de inserção de pessoas no sistema econômico e judiciário do país, mesmo durante o difícil período de Ditadura Militar (1964-1985).

A partir da Constituição de 1988 a Justiça do Trabalho entra em sua época contemporânea, com defesa dos direitos trabalhistas e sociais, tendo suas competências alargadas com a Emenda Constitucional nº. 45. Certo é que desde sua criação, a Justiça do Trabalho teve como características principais a celeridade e a eficiência na resolução dos conflitos.

A Justiça do Trabalho concilia e julga as ações judiciais entre trabalhadores e empregadores e outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho152, bem como as

151 SÜSSEKING, Arnaldo; TEIXEIRA FILHO, João de Lima. Instituições de Direito do Trabalho. Vol. 1.

21ª ed. São Paulo: LTr, 2003, p. 57 e 58.

152 Art. 114 da CF. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:

I - as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; II - as ações que envolvam exercício do direito de greve;

III - as ações sobre representação sindical, entre sindicatos, entre sindicatos e trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores;

demandas que tenham origem no cumprimento de suas próprias sentenças, inclusive as coletivas.

São órgãos da Justiça do Trabalho: o Tribunal Superior do Trabalho (TST), os Tribunais Regionais do Trabalho (TRTs) e os Juízes do Trabalho. Os Tribunais Regionais do Trabalho são constituídos por no mínimo sete desembargadores, recrutados dentro da região de atuação do Tribunal, sendo nomeados pelo Presidente da República, dentre brasileiros com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos, sendo composto por um quinto de membros escolhidos dentre advogados com mais de dez anos de efetiva atividade profissional; um quinto por membros do Ministério Público do Trabalho com mais de dez anos de efetivo exercício, sendo os demais juízes que ascenderam ao Tribunal por antiguidade ou merecimento, de forma alternada.

As comarcas em que não houver Juiz do Trabalho terão suas causas trabalhistas julgadas por juiz de direito, em havendo recurso, este será encaminhado ao Tribunal Regional do Trabalho competente.

Devido ao perfil das partes que compõem litígios na Justiça do Trabalho, os princípios que regem o sistema são diferentes daqueles que ditam os processos comuns. Desta forma, na Justiça do Trabalho há o jus postulandi, ou seja, a parte pode ajuizar ação sem a necessidade de um advogado, sendo sua reclamação tomada a termo por funcionário da Justiça.

Outro caráter da Justiça do Trabalho é o fato de ser protetiva, entendendo que o trabalhador é parte hipossuficiente da relação, aplicando-se o princípio da isonomia,

IV - os mandados de segurança, habeas corpus e habeas data, quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição;

V - os conflitos de competência entre órgãos com jurisdição trabalhista, ressalvado o disposto no art. 102, I, o;

VI - as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho;

VII - as ações relativas às penalidades administrativas impostas aos empregadores pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho;

VIII - a execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no art. 195, I, a, e II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir;

IX - outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma da lei. § 1º Frustrada a negociação coletiva, as partes poderão eleger árbitros.

§ 2º Recusando-se qualquer das partes à negociação coletiva ou à arbitragem, é facultado às mesmas, de comum acordo, ajuizar dissídio coletivo de natureza econômica, podendo a Justiça do Trabalho decidir o conflito, respeitadas as disposições mínimas legais de proteção ao trabalho, bem como as convencionadas anteriormente.

§ 3º Em caso de greve em atividade essencial, com possibilidade de lesão do interesse público, o Ministério Público do Trabalho poderá ajuizar dissídio coletivo, competindo à Justiça do Trabalho decidir o conflito.

bem como entendendo que diversos direitos tratados são irrenunciáveis. A Justiça do Trabalho se diferencia da Justiça Comum, uma vez que tem caráter distributivista e intervencionista do contrato de trabalho, com vistas à manter o sistema de freio e contrafreios entre o valor do trabalho humano e a livre-iniciativa, com a finalidade de se ter a justiça social (CF, art. 170, caput). Assim DELGADO e DELGADO afirmam sobre a Justiça do Trabalho após a Constituição de 1988:

Para além do incentivo à ampliação do quadro estrutural da Justiça Trabalhista propiciado pelo período democrático pós 1988, a Carta Constitucional também revigora a tese de compreensão da Justiça do Trabalho enquanto instrumento de Justiça Social.

Portanto, a Constituição de 1988 também fortalece o sentido axiológico atribuído à Justiça do Trabalho, fundado e ancorado no valor da Justiça Social, e que deve vincular a interpretação e aplicação do Direito, no marco do Estado Democrático. Ou seja, a Justiça do Trabalho é considerada um dos mais sólidos e democráticos instrumentos jurídicos e institucionais para a concretização da dignidade do ser humano e dos direitos fundamentais nos conflitos de interesse do mundo do trabalho153.

A Justiça do Trabalho tem importante função na aplicação da lei de forma a garantir os direitos fundamentais, especialmente os direitos sociais. Conforme já afirmado em capítulo anterior, os direitos sociais fundamentais podem ser exigidos frente ao Poder Judiciário, uma vez que possuem plena eficácia (CF, §1º, art. 5º). Nas palavras de ZANETI Jr.:

A Constituição brasileira prevê um modelo de Estado, Constituição e democracia ativista e compartilhado, no qual o Poder Judíciário contemporâneo, dentro das funções atribuídas aos poderes da República, funciona como o responsável pela judicial review através de uma justiça de autoridade coordenada (paritária) para a implementação de políticas públicas (escolhas políticas) definidas pelos direitos fundamentais. Ao mesmo tempo, os direitos individuais precisam ser equilibrados com os objetivos coletivos, de forma a obtermos uma adequada equação entre o modelo liberal e o modelo comunitarista de democracia. Em outras palavras, significa combinar a promoção de mudanças sociais com os direitos fundamentais individuais e com a participação dos destinatários dos atos estatais de formação da vontade política.

(...)

Com a democratização do País em 1985 e subsequente promulgação da Constituição de 1988, encontrou seu inteiro papel como a Justiça

153 DELGADO, Mauricio Godinho; DELGADO, Gabriela Neves. Estruturação e Desenvolvimento da

Social da república brasileira, contribuindo, decisivamente, para a realização da essencial função de desmercantilizar o trabalho humano no moinho incessante da economia e da sociedade154.

A interferência do Poder Judiciário para a efetivação dos direitos sociais, quando se fala em falta de política pública para a garantia destes direitos, dá-se devido à “disfunção política”155 da administração ou do Legislativo.

O Poder Judiciário deve, por meio de ação judicial, implementar políticas públicas que tenham convergência com a conteúdo constitucional156, não podendo o poder público se imiscuir de sua função alegando a reserva do possível, caso se trate de questão de garantia do mínimo existencial, conforme já se afirmou em capítulo anterior deste trabalho.

Qualquer tipo de ação previsto no ordenamento jurídico nacional poderá ser utilizado para exigir o cumprimento de direito social. Assim, as ações civis públicas, ações individuais, ações de controle de constitucionalidade, ação popular etc. são admissíveis para a consecução deste fim.

Com a Constituição de 1988 houve uma judicialização de diversas questões no país, sendo que o Poder Judiciário passou a exercer também um papel político ao lado dos demais poderes, já que diversas questões de cunho político foram levados ao seu

154 ZANETI JR., Hermes. A teoria da separação dos poderes e o Estado democrático constitucional:

funções de Governo e funções de garantia. O controle jurisdicional de políticas públicas. Coord.: Ada Pellegrini Grinover, Kazuo Watanabe. 2ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2013, p. 35 e 36.

155 ZANETI JR., Hermes. A teoria da separação dos poderes e o Estado democrático constitucional:

funções de Governo e funções de garantia. O controle jurisdicional de políticas públicas. Coord.: Ada Pellegrini Grinover, Kazuo Watanabe. 2ª ed. Rio de Janeiro: Forense, p. 47.

156

Neste sentido, tem-se o acórdão do RE 482.611/SC (STF, RE 482.611/SC, relator: Ministro Celso de Mello, julgado em: 23/03/2010, DJE 06/04/2010), cuja ementa se copia: “INEXECUÇÃO, PELO MUNICÍPIO DE FLORIANÓPOLIS/SC, DE REFERIDO PROGRAMA DE AÇÃO SOCIAL CUJO ADIMPLEMENTO TRADUZ EXIGÊNCIA DE ORDEM CONSTITUCIONAL. CONFIGURAÇÃO, NO CASO, DE TÍPICA HIPÓTESE DE OMISSÃO INCONSTITUCIONAL IMPUTÁVEL AO MUNICÍPIO. DESRESPEITO À CONSTITUIÇÃO PROVOCADO POR INÉRCIA ESTATAL (RTJ 183/818-819). COMPORTAMENTO QUE TRANSGRIDE A AUTORIDADE DA LEI FUNDAMENTAL (RTJ 185/794-796). IMPOSSIBILIDADE DE INVOCAÇÃO, PELO PODER PÚBLICO, DA CLÁUSULA DA RESERVA DO POSSÍVEL SEMPRE QUE PUDER RESULTAR, DE SUA APLICAÇÃO, COMPROMETIMENTO DO NÚCLEO BÁSICO QUE QUALIFICA O MÍNIMO EXISTENCIAL (RTJ 200/191- -197). CARÁTER COGENTE E VINCULANTE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS, INCLUSIVE DAQUELAS DE CONTEÚDO PROGRAMÁTICO, QUE VEICULAM DIRETRIZES DE POLÍTICAS PÚBLICAS. PLENA LEGITIMIDADE JURÍDICA DO CONTROLE DAS OMISSÕES ESTATAIS PELO PODER JUDICIÁRIO. A COLMATAÇÃO DE OMISSÕES INCONSTITUCIONAIS COMO NECESSIDADE INSTITUCIONAL FUNDADA EM COMPORTAMENTO AFIRMATIVO DOS JUÍZES E TRIBUNAIS E DE QUE RESULTA UMA POSITIVA CRIAÇÃO JURISPRUDENCIAL DO DIREITO. PRECEDENTES DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL EM TEMA DE IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS DELINEADAS NA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA (RTJ 174/687 – RTJ 175/1212-1213 – RTJ 199/1219- -1220). RECURSO EXTRAORDINÁRIO DO MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL CONHECIDO E PROVIDO”. (g.n.)

conhecimento157, mesmo tendo seus membros escolhidos por meio de prova, com a análise de títulos, fazendo com que sejam escolhidos por seu mérito e conhecimentos específicos e, não, por meio democrático, como ocorre nos Poderes Legislativo e no Executivo.

157 A título de exemplificação pode-se citar questões como a utilização de células tronco em pesquisas

CONCLUSÃO

Após se analisar a ordem social no histórico das Constituições brasileiras, os direitos fundamentais, sua evolução histórica e social, bem como o sistema econômico adotado e o fenômeno da globalização que alterou não somente o mercado, mas também a prestação de serviços do trabalhador, verifica-se que as estruturas sociais inseridas no bojo da Constituição de 1988 e que fazem parte da sistemática de proteção de direitos sociais e, portanto, fundamentais, são compatíveis com os objetivos do Estado Democrático de Direito e a tripartição de Poderes.

No que tange à legislação vigente, a Constituição de 1988 traz como fundamento da República Federativa a dignidade da pessoa humana, sendo que o trabalho é importante instrumento de dignificação do homem, além de ser a melhor forma de se prover a distribuição de riquezas e, consequentemente, a justiça social.

Por este motivo, analisou-se no presente trabalho a estrutura social, mas mais especificamente sob o prisma do Direito do Trabalho, primeiro devido à sua importância no sistema econômico vigente e segundo porque a partir de sua análise se poderia ter uma visão abrangente em relação aos demais direitos inseridos na ordem social.

A Constituição de 1988 é a Lei Maior mais democrática que o país já teve, sendo que em seu texto está consolidado o pensamento de toda a sociedade, o que justifica inclusive suas contradições. Até hoje, mostra-se sendo uma legislação atual e contemporânea que atende às necessidades prementes da sociedade.

Há uma parcela da sociedade que pede uma análise crítica no que tange aos direitos sociais, defendendo que devido à globalização e à concorrência com o mercado internacional, o custo de tais direitos acaba por excluir o país desta nova realidade. A proposta que fazem é de se desregulamentar os direitos trabalhistas.

Ocorre que este neoliberalismo que visa uma melhor produtividade e qualidade, faz com que em alguns países se empregue mais tecnologia em sua produção, enquanto em outros deteriorem as condições de trabalho de seus trabalhadores de forma a reduzir os custos (dumping social), sendo esta segunda opção adotada mais largamente em países em desenvolvimento, onde os institutos dos direitos fundamentais não estão bem sedimentados.

As alterações de condições mercadológicas, mesmo que mundiais, não podem impingir a desregulamentação de direitos dos trabalhadores, sendo que estes servem historicamente como freio ao ultraliberalismo, garantia de direitos à pessoa humana e da justiça social.

A desregulamentação dos direitos trabalhistas ainda é defendida sob o argumento de que reduziria o desemprego, que é outra preocupação mundial já que os dados estatísticos mostram que há desemprego estrutural internacionalmente.

Coloca-se em cheque a forma de trabalho que se tem hoje, sendo que alguns céticos falam até mesmo em fim do emprego, uma vez que afirmam categoricamente que o desemprego estrutural se dá por três principais razões: (i) terceira revolução tecnológica; (ii) processo de reestruturação empresarial; e (iii) concorrência capitalista de forma globalizada.

Não se pode negar que nas últimas décadas houve uma revolução tecnológica e que esta vem alterando o trabalho. As novas tecnologias não só fizeram com que crescesse o desemprego em alguns setores como na indústria e na agropecuária, mas também criou novas espécies de trabalho como o teletrabalho e o home office.

Assim, houve a desagregação dos trabalhadores, uma vez que a rotina de ir para o trabalho e se deparar com diversos trabalhadores na mesma condição deixou de ser uma realidade, fazendo com que crescessem os casos de home office, pequenas centros de produção.

Não quer dizer que a terceira revolução tecnológica levará ao fim do trabalho, já que se aumenta a produção com o emprego de tecnologias, porém o barateamento da produção leva a um maior consumo, gerando maior demanda, ou seja, um ciclo virtuoso. Certos postos de trabalho serão extintos, devido à evolução tecnológica e científica, mas tantos outros também serão criados pelas mesmas razões.

Também é inegável as alterações nos procedimentos de produção, principalmente com os modelos desenvolvidos pelos japoneses (toyotismo, just in time e kanban), que revolucionaram a forma de produção antes conhecida (produção em série, fordismo).

Estes novos modelos de produção fizeram com que se dividissem os centros produtivos em pequenos estabelecimentos, diminuindo a verticalização e a concentração do sistema produtivo. Há um aumento da subcontratação para a produção de peças e implementos necessários, havendo assim uma redução das empresas, já que a produção

deixa de ser feita totalmente por uma única empresa (fordismo) e passa a ser feita por peças (toyotismo) que ao final, juntadas, gerarão o produto final.

Quanto ao que se refere à aglomeração de trabalhadores, em decorrência do teletrabalho e do home office, o que teria como consequência o enfraquecimento das associações e sindicalizações também não se pode crer que este será o resultado.

Observa-se que as novas tecnologias e meios de comunicação vêm integrando as pessoas, colocando-as em contato por mais longas que sejam as distâncias. Melhor exemplo disto são as manifestações que estão se espalhando pelo mundo, começando pela Primavera Árabe e terminando pelas manifestações que se iniciaram no Brasil em junho de 2013, tudo através de redes sociais e mídias desenvolvidas em razão do desenvolvimento tecnológico.

Por fim, a globalização que fez renascer as teorias liberalistas de forma a possibilitar a maior concorrência capitalista entre os países, sendo melhor sucedido aquele que produzir mais e melhor.

Ocorre que a experiência leva a concluir que o liberalismo econômico não é resultado de sucesso, já que não sustenta o próprio sistema econômico, levando-o a crises (Quebra da Bolsa de Nova York, Crise de 2008 etc.), bem como ao agravamento das condições sociais, sem a garantia da dignidade da pessoa humana, que é fundamento de do Estado Democrático de Direito (CF, art. 1º).

As estruturas sociais da Constituição de 1988 garantem a justiça social e a dignidade da pessoa humana, havendo até mesmo possibilidades de flexibilização em momentos de crise econômica previstos em seu bojo, mas que para serem utilizadas precisariam de uma estrutura sindical organizada e forte, atendendo as normas da OIT, uma vez que em negociação coletiva é possível até mesmo a redução salarial (CF, art. 7º, VI); compensação de horário na semana (CF, art. 7º, XIII) e trabalho em turnos de revezamento (CF, art. 7º, XIV).

Não há possibilidade de retroceder no marco civilizatório que se observa hoje, sendo que a aplicação de regras neoliberais com vistas a aumentar a possibilidade de concorrência com outros países, no mercado globalizado em que se vive, significaria exatamente em permitir que os direitos fundamentais fossem violados ou ignorados.

Ao Poder Executivo, por meio do Ministério do Trabalho e Emprego, e o Poder Legislativo caberiam o papel de elaborar orçamento público prevendo a satisfação dos

direitos sociais fundamentais, bem como o desenvolvimento de políticas públicas eficazes para este fim.

Ocorre que estes dois Poderes têm perfil político, sendo que nem sempre as escolhas feitas por estes são de acordo com os interesses da coletividade. Porém, devido ao fato de a escolha de seus membros ser feita de forma democrática, ou seja, através do

No documento A ESTRUTURA SOCIAL NA PERSPECTIVA DA (páginas 92-109)

Documentos relacionados