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Estado: Origem, Elementos e Finalidades

O Estado, a princípio, era uma figura abstrata criada pela sociedade, com o objetivo de unificar o desenvolvimento do homem em grupo.

Com efeito, o vocábulo Estado vem do latim “status”, que significa ordem. E da palavra ordem traduz que Estado seria uma forma de ordenar, organizar uma sociedade.

Thomas Hobbes139 entendia que o Estado surgiu para viabilizar a paz, já que o homem no estado de natureza, sem organização, representava uma condição de guerra. Assim, o homem deveria se supervisionado pelo Estado, que estaria legitimado por um contrato social.

Todavia, nota-se que a essência de Estado sempre foi a união de seus membros em prol do bem comum. O Estado seria o conjunto de contratos sociais firmados para atingir o bem comum dos grupos que compõe a figura do Estado, sendo o todo uma unidade capaz de proteger seus cidadãos, uns contra os outros e de uns em face do próprio Estado.

Verificamos, ainda, que o Estado é composto de três elementos essenciais: povo, território e soberania. A ausência de quaisquer deles descaracteriza o Estado140.

No mesmo sentido aponta Canotilho141 ao discorrer sobre Estado: “(...) 1. Poder político de comando; (2) que tem como destinatário os cidadãos nacionais (povo = sujeitos do soberano e destinatários da soberania); (3) reunidos num determinado território(...)”.

convivência social, como também não se explica só pela sua função de órgão produtor e mantenedor do ordenamento jurídico. É a reunião harmônica desses três momentos ou fatores, enquanto dialeticamente se compõem na unidade concreta do processo histórico-social. Os três elementos se conjugam e se completam na integração da realidade estatal, e nenhum deles, isoladamente, é bastante em si para explicá-la. (MALUF, Sahid – Teoria Geral do Estado. 31ª ed. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 17).

139HOBBES, Thomas – Leviatã Ou Matéria, Forma e Poder de um Estado Eclesiástico e Civil. São Paulo: Martin

Claret, 2003, p. 143.

140MALUF, Sahid – Teoria Geral do Estado. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 31. 141

CANOTILHO, José Joaquim Gomes - Direito constitucional e Teoria da Constituição. 7ª ed. rev. Coimbra: Livraria Almedina, 2003, p. 90.

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O povo é o elemento humano que integra uma unidade nacional, não sendo correto dizer população, que seria o conjunto de pessoas em sentido amplo, englobando nacionais e não nacionais.

Já o território é a base física, o geográfico, a porção de terra onde o povo se estabelece. Sahid Maluf142, ao definir território, assegura que é “(...) o espaço certo e delimitado onde se exerce o poder do governo sobre os indivíduos. Patrimônio do povo (...)”.

A soberania do Estado é o elemento que traduz o poder de impor determinações e condições. É por meio dela que se regulamenta a ordem social interna e que se define o direito e emite comandos obrigatórios e permissivos. Esse poder do Estado é concedido pelo povo, motivo pelo qual a ordem não pode estar distorcida da vontade geral, tampouco da finalidade de atingir o bem comum.

Assim, o governo é a soberania em ação, é o conjunto de órgãos e as funções cogentes para manter a ordem jurídica e a administração pública.143

Nesse ínterim, Sahid Maluf144 afiança que soberania, no conceito da Escola Clássica, é una, indivisível, inalienável e imprescritível. Una porque há apenas uma autoridade soberana dentro do mesmo território. Indivisível porque todas as atribuições são exercidas pelo mesmo poder, independente da divisão de funções e competências. Inalienável porque trata-se de uma vontade personalíssima, pertencente ao corpo social, que é a soma de vontades individuais. E imprescritível porque a soberania ocorre de modo definitivo e não sofre limitação de tempo para seu exercício.

O que legitima a soberania é o povo por meio da cidadania. A cidadania é um direito e um dever. É um direito na medida em que atribui direitos políticos, como votar (direito de sufrágio) e ser votado (elegibilidade), além de permitir reivindicar direitos. E dever porque impõe a participação da vida coletiva, a consciência política, o fim de criar uma sociedade livre, justa e solidaria.

Dessa forma, é de concluir-se que Estado é a união do povo num determinado território, sujeito às normas impostas pelo governo, segundo a vontade geral e para garantir a ordem e atingir

142MALUF, Sahid – Teoria Geral do Estado. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 33. 143 Idem – Op. cit. p. 25.

144 “UNA porque não pode existir mais de uma autoridade soberana em um mesmo território. Se repartida, haveria mais

de uma soberania, quando é inadmissível a coexistência de poderes iguais na mesma área de validez das normas jurídicas. INDIVISÍVEL é a soberania, segundo a mesma linha de raciocínio que justifica a sua unidade. O poder soberano delega atribuições, reparte competências, mas não divide a soberania. Nem mesmo a clássica divisão do poder em Executivo, Legislativo e Judiciário importa em divisão da soberania. Pelos três órgãos formalmente distintos se manifesta o poder uno e indivisível, sendo que cada um deles exerce a totalidade do poder soberano na esfera da sua competência. INALIENÁVEL é a soberania, por sua própria natureza. A vontade é personalíssima: não se aliena, não se transfere a outrem. O corpo social é uma entidade coletiva dotada de vontade própria, constituída pela soma das vontades individuais. Os delegados e representantes eleitos hão de exercer o poder de soberania segundo a vontade do corpo social consubstanciada na Constituição e nas Leis. IMPRESCRITÍVEL é ainda a soberania no sentido de que não pode sofrer limitação no tempo. Uma nação, ao se organizar em Estado soberano, o faz em caráter definitivo e eterno. Não se concebe soberania temporária, ou seja, por tempo determinado. (MALUF, Sahid – Teoria Geral do

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o bem comum, enquanto o Governo é o conjunto das funções pelas quais o Estado assegura ordem jurídica e busca a concretização dos direitos fundamentais.

Tanto Brasil quanto Portugal adotam como forma de governo a República Democrática indireta ou representativa, na qual o poder emana do povo e é exercido por meio de representantes eleitos. Esse poder, denominado soberania, é dividido em três órgãos distintos: Legislativo, Executivo e Judiciário, todos independentes e harmônicos entre si. O primeiro possui função típica de criar o direito, a lei, o segundo de executar as normas jurídicas e terceiro de aplicar o direito, realizar a justiça.

Nesse contexto, o povo, ser humano, pessoa na singularidade é quem determina a forma de atuação do Estado, pois sendo o povo titular da soberania, só haverá legitimidade na manifestação de soberania do Estado se ela coincidir com a vontade do povo, portanto nada mais justo que as regras impostas pelo Estado para manter a ordem social estejam subordinadas ao quadro da pessoa humana.

A partir dos conceitos acima especificados e conjeturados, e considerando o cerne do presente trabalho, é possível fixar como premissa que só há falar em estado democrático e social dos cidadãos num sistema de tributação justa se houver correlação da vontade do Estado e vontade da coletividade, havendo a devida subordinação das normas tributárias ao quadro normativo da pessoa humana.