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4.6. Sistema Jurídico Brasileiro Influências do Civil Law e do Common Low

4.6.2. Supremo Tribunal Federal

O Supremo Tribunal Federal é órgão de cúpula da justiça brasileira, cuja função capital a guarda e proteção da Constituição, conforme se extrai da leitura do art. 102, caput, da Constituição Federal de 1988. Assim, o STF224 tem o dever de julgar, processar e decidir, originariamente, segundo suas atribuições constitucionais, "a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou de ato normativo federal ou estadual (ADIN) e a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou de ato normativo federal (ADECON)." 225

Temos, então, que o Supremo Tribunal Federal tem o poder de apreciar a constitucionalidade das leis quanto aos aspectos materiais e formais, ou seja, deve examinar se a norma respeitou disposição constitucional quanto ao conteúdo e ao processo legislativo que a instituiu.

Validamente, no que atine à análise formal, são colocados em voga os aspectos extrínsecos da lei, seu procedimento de elaboração, o que demanda uma análise entre os fatos dos quais originou a lei e a Constituição, logo, imprescindível a verificação de casos concretos.226

Ao mesmo tempo, a inconstitucionalidade também pode ser material, ou seja, está vinculada estritamente aos elementos intrínsecos da legislação, ou seja, quando a

223 MARINONI, Luiz Guilherme – Precedentes Obrigatórios. 1ª Ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010,

p. 491

224 CF/88: “Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: I -

processar e julgar, originariamente: a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual e a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal”.

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Constituição da República Federativa do Brasil [em linha]. Brasil (5-10-1988) [Consult. 23 de mar. De 2015].

Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm

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TAVARES, André Ramos – Curso Direito Constitucional. 6ª Ed. rev. e atual. São Paulo: Editora Saraiva, 2008, p. 192

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inconstitucionalidade se origina da matéria, do conteúdo, do dispositivo legislativo, e se ocasiona ou não conflito com regras ou princípios constitucionais, inclusive quanto à averiguação do excesso de poder ou desvio de poder legislativo.227

Por conseguinte, importante apontarmos que o controle de constitucionalidade brasileiro, realizado pelo Supremo Tribunal Federal, seja formal ou material, pode ser exercido por duas vias:

a) incidental ou controle difuso: a utilização dessa via ocorre quando, para o julgamento

de uma lide, torna-se necessário aferir constitucionalidade de norma pertinente. O objetivo da demanda não é a declaração de inconstitucionalidade da lei, contudo esta se mostra imprescindível para o epílogo processual;

b) concreta ou controle concentrado: nessa via, o objetivo é a arguição de

inconstitucionalidade ou declaração de constitucionalidade da lei, por intermédio de ações previstas de forma expressa na Constituição e cujo rol de autores é taxativo: a ação direta de inconstitucionalidade, a ação declaratória de constitucionalidade e a arguição de descumprimento de preceito fundamental.

Registramos, também, que o controle difuso pode ser exercido por qualquer dos órgãos da jurisdição brasileira: "o Supremo Tribunal Federal, o Superior Tribunal de Justiça, os Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais, os Tribunais e Juízes do Trabalho, os Tribunais e Juízes Eleitorais, os Tribunais e os Juízes Militares e os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Territórios"228, salvaguardando, além disso, que os juízes de primeiro grau são considerados órgão do Poder Judiciário, como preceitua o artigo 92, incisos III a VII da Constituição Federal.229

Observamos, então, que o controle difuso não está vinculado a um só órgão, tal qual é o caso do controle concentrado exercido exclusivamente pelo Supremo Tribunal Federal. A inconstitucionalidade da norma caracteriza-se como incidente uma questão prejudicial ao deslinde da causa, da questão principal, em que o exame de constitucionalidade não é a principal questão discutida na lide.230

227 MENDES, Gilmar Ferreira – Curso Direito Constitucional. 1ª Ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2007, p. 962 228

Constituição da República Federativa do Brasil [em linha]. Brasil (5-10-1988) [Consult. 23 de mar. De 2015].

Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm

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Art. 92. São órgãos do Poder Judiciário: I - o Supremo Tribunal Federal; I-A o Conselho Nacional de Justiça; II - o Superior Tribunal de Justiça; III - os Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais; IV - os Tribunais e Juízes do Trabalho; V - os Tribunais e Juízes Eleitorais; VI - os Tribunais e Juízes Militares; VII - os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Territórios.

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“No controle incidental a inconstitucionalidade é argüida no contexto de um processo ou ação judicial, em que a questão da inconstitucionalidade configura um incidente, uma questão prejudicial que deve ser decidida pelo Judiciário. Cogita-se também de inconstitucionalidade pela via de exceção, uma vez que o objeto da ação não é o exame de constitucionalidade da lei. Em geral, associa-se o controle incidental ao modelo difuso, tendo em vista a forma processual própria desse modelo derivado do sistema americano.” (MENDES, Gilmar Ferreira - Curso Direito

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Segundo Gilmar Ferreira Mendes, o controle de constitucionalidade difuso assegura a todo órgão judicial o poder-dever de afastar a aplicação de uma lei se a considerar incompatível ao sistema constitucional.231 Proporciona que a análise de constitucionalidade de dispositivos legislativos seja realizada por qualquer tribunal, ou juízes, por meio de recurso extraordinário, mandado de segurança, mandado de injunção, habeas corpus, ao deixar de aplicar a lei por considerá-la inconstitucional.

No caso do Supremo Tribunal Federal, ressaltamos que as manifestações em sede de controle difuso ocorrerão pela análise dos recursos extraordinários, destinados àquela corte quando a decisão recorrida – de instância inferior – violar direito assegurado na constituição.232

Por outro lado, o controle concentrado de constitucionalidade é um comando exercido em face de um direito abstrato e, diante disso, o órgão legitimado para aferir constitucionalidade de normas concentra-se unicamente no Supremo Tribunal Federal.

Interessante registrarmos que antes da promulgação da Constituição de 1988, o controle de constitucionalidade no Brasil também era exercido pelo Supremo Tribunal Federal, não obstante, ao contrário do instituído hoje, a legitimidade ativa para a propositura do processo constitucional era vinculada tão somente à figura do Procurador-Geral da República.

Com o advento da presente Constituição, o rol de legitimados233 foi ampliado de forma significativa, quais sejam: "o presidente da República, a Mesa do Senado Federal, a Mesa da Câmara dos Deputados, a Mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal, o governador de estado ou do Distrito Federal, o Procurador-Geral da República, o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, partido político com representação no Congresso Nacional e confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional." 234

A Constituição Brasileira de 1988 também apresentou tipos processuais específicos para apreciação da constitucionalidade em sede de controle concentrado, conforme alinhavado. Portanto, por intermédio da ação direta de inconstitucionalidade, da ação declaratória de constitucionalidade e da arguição de descumprimento de preceito fundamental, o Supremo Tribunal Federal manifestar-

231

Idem – op. cit. p. 955

232 CF/88: “Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: III

- julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última instância, quando a decisão recorrida: a) contrariar dispositivo desta Constituição; b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal; c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta Constituição. d) julgar válida lei local contestada em face de lei federal.”

233 CF/88: “Art. 103. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade: I

- o Presidente da República; II - a Mesa do Senado Federal; III - a Mesa da Câmara dos Deputados; IV - a Mesa de Assembléia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal; V - o Governador de Estado ou do Distrito Federal; VI - o Procurador-Geral da República; VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil; VIII - partido político com representação no Congresso Nacional; IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.”

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Constituição da República Federativa do Brasil [em linha]. Brasil (5-10-1988) [Consult. 23 de mar. De 2015].

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se-á acerca dos pedidos de constitucionalidades e inconstitucionalidades que lhe forem apresentados, sejam tanto no campo formal quanto no material.

Os efeitos que produzem as decisões do Supremo Tribunal Federal dependem, precipuamente, de qual o tipo do controle de constitucionalidade exercido. Em regra, quando é utilizada a via incidental, os efeitos das decisões proferidas serão inter partes, ou seja, só atingem as partes envolvidas no litígio e, como regra, não são munidos de retroatividade e tampouco efeito vinculante. Já na via principal, os efeitos das decisões proferidas serão erga omnes, possuem efeito vinculante e em regra não retroagem, a depender de modulação de efeitos.

Observamos, então, que no controle difuso, o reconhecimento da inconstitucionalidade da lei não enseja sua expurgação do mundo jurídico, surtindo efeito somente entre as partes. Nesse sentido, Bonavides leciona que a sentença que líquida a controvérsia constitucional não conduz a anulação da lei e limita sua aplicação ao objeto da demanda.235

Diferentes são os resultados quanto ao controle concentrado, porquanto neste, o objeto da ação é a resolução acerca da constitucionalidade da norma. Destarte, nessa situação, os efeitos da decisão são erga omnes, ou seja, atinge a todos vinculados à égide legislativa.

Também no controle difuso é possível a extensão dos efeitos à todos os jurisdicionados. Tal fato ocorre quando a questão de direito debatida, de ordem constitucional, tiver repercussão social, ou seja, quando a decisão nele proferida atingir a todos, possuindo efeito vinculante.

Isso decorre da implementação dos artigos 543-A e 543-B do Código de Processo Civil,236 inovação trazida pela Lei n. 11.672/08, que teve por finalidade delimitar a competência do Supremo Tribunal Federal no julgamento de recursos extraordinários, limitando-lhe a sua atuação às questões constitucionais com relevância social, política, econômica ou jurídica que transcendam os interesses subjetivos da causa.

Essa sistemática passou a criar a norma jurídica a partir da interpretação constitucional, com efeito vinculante, cumprindo o Supremo Tribunal Federal seu escopo, que é a uniformização da interpretação constitucional, agilizando a prestação jurisdicional e preservando a segurança jurídica.

235 BONAVIDES, Paulo – Curso de Direito Constitucional. 18ª Ed. atual. São Paulo: Editora Malheiros Editores

Ltda., 2006, p. 302.

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Art. 543-C. Quando houver multiplicidade de recursos com fundamento em idêntica questão de direito, o recurso especial será processado nos termos deste artigo. (Incluído pela Lei nº 11.672, de 2008).

§ 7o Publicado o acórdão do Superior Tribunal de Justiça, os recursos especiais sobrestados na origem: (Incluído pela Lei nº 11.672, de 2008).

I - terão seguimento denegado na hipótese de o acórdão recorrido coincidir com a orientação do Superior Tribunal de Justiça; ou (Incluído pela Lei nº 11.672, de 2008).

II - serão novamente examinados pelo tribunal de origem na hipótese de o acórdão recorrido divergir da orientação do Superior Tribunal de Justiça. (Incluído pela Lei nº 11.672, de 2008).

§ 8o Na hipótese prevista no inciso II do § 7o deste artigo, mantida a decisão divergente pelo tribunal de origem, far-se- á o exame de admissibilidade do recurso especial. (Incluído pela Lei nº 11.672, de 2008).

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Os acórdãos julgados com repercussão geral são enunciados interpretativos sobre questão jurídica, questões abstratas não contempladas especificamente na lei, mas que necessitaram de interpretação judicial uniforme, portanto não se referem à matéria de fato. Tais decisões "possuem efeito vinculante aos demais órgãos do Poder Judiciário e da Administração Pública e não podem ser contrariados por esses órgãos." 237

Ressaltamos, ainda, que a Constituição atribuiu a missão de uniformizar a jurisprudência das normas constitucionais ao Supremo Tribunal Federal, com o escopo de existir coerência na hermenêutica das normas constitucionais, tal qual a necessidade de tutela da estabilidade da ordem jurídica, da previsibilidade e da igualdade.

É por meio dessa uniformização que o próprio direito fundamental da segurança jurídica é levado em consideração, por fazer com que cada caso concreto seja julgado não só de acordo com as leis, mas em conformidade aos precedentes, preservando-se o direito das partes e o bem comum da sociedade.