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Estados Unidos da América: o campus universitário

No século XVII, havia, na Inglaterra, um número significativo de estudantes universitários que só será superado no século XX. Esse entusiasmo popular pela educação foi exportado para as colônias americanas. Nos Estados Unidos, entretanto, sob a influência do capitalismo nascente, o modelo anglo-saxônico adquiriu características próprias. Ensino e pesquisa, profundamente articulados, constituem forças impulsionadoras do progresso econômico dos quais as universidades são instrumentos.

ROSSATO (2005, p.131-134) descreve como principais as seguintes características da universidade norte-americana:

1. a multiplicidade das instituições: o crescimento iniciado no século XVII continua: mais de 3.300 IES integram a maior rede universitária do mundo.

2. a diversidade: em razão da larga autonomia conferida pelo sistema aos Estados, há diversidade nas condições para o reconhecimento, no porte e estruturação das IES e na duração dos currículos de formação acadêmica. Deste modo, o sistema é formado por: (a) universidades que oferecem todo o programa de graduação e pós-graduação, priorizando a pesquisa; (b) universidades que oferecem diversos programas de ensino superior e também doutorado; (c) universidades polivalentes e colleges que enfatizam a profissionalização, oferecendo programas de graduação; (d) colleges de artes liberais com cursos de filosofia, letras e ciências; (e) junior colleges e colleges técnicos com programas de curta duração (2 anos apenas); (f) escolas profissionais e institutos especializados que podem oferecer desde o bacharelado até o doutorado num campo específico.

3. pragmatismo: predomina tanto no ensino quanto na pesquisa o utilitarismo: as IES estão a serviço da nação e das empresas: a relação universidade-empresa, distinta dos demais países, faz com que, muitas vezes, os interesses e o poder econômico da segunda se sobreponham aos objetivos da primeira. Decorre do mesmo espírito a busca acentuada de profissionalização, objetivo principal das IES.

4. pesquisa: mais de 100 universidades norte-americanas preenchem o requisito para ser considerada como universidade de pesquisa: dotação orçamentária de mais de 100 mil dólares destinados à pesquisa no orçamento anual. O destaque ocupado pelo desenvolvimento econômico motiva amplo financiamento oficial e empresarial à pesquisa realizada nas IES.

5. democratização: não obstante o custo elevado - que retardou sobremaneira o acesso a negros e imigrantes – os Estados Unidos têm o maior contingente de estudantes universitários em relação à população adulta, bem como em relação ao grupo de idade específico que tem acesso ao ensino superior, que é relativamente fácil e também diversificado.

6. integração com o grau inferior: não tendo sido reformado, como o francês, o sistema americano integra facilmente o ensino médio ao superior: as últimas aulas dos juniors colleges já fazem, praticamente, parte da universidade.

7. tradição familiar ou grupal: sucessivas gerações de mesmas famílias estudam nas mesmas instituições. Esta tradição dá base a certa distinção social e confere a muitas universidades uma tonalidade corporativista.

8. mecenato: desde Harvard, firmou-se a tradição de ex-alunos e empresas fazerem substanciais doações às universidades, seja em espécie, sejam em bibliotecas, prédios e custeio de construções.

9. formação moral: marcante na fase pioneira, esta tradição, embora minimizada, é mantida nas numerosas universidades confessionais.

Em relação à universidade norte-americana o que mais nos interessa neste capítulo, entretanto, é a sua forma arquitetônica e urbanística. No início do período colonial, os norte- americanos romperam com a tradição européia localizando seus colleges nos limites da cidade ou no campo. A romântica noção de uma escola na natureza, separada das forças corruptoras da cidade, tornou-se segundo Turner um ideal norte-americano.

Este ideal é tão forte nos Estados Unidos, que mesmo as escolas localizadas nas cidades, onde a terra é mais escassa, procuram áreas que simulem, de alguma forma, com muito verde, um rio ou um lago, uma espacialidade rural. (TURNER, 1995, p. 4 apud PINTO, 2005, p.10).

O modelo norte-americano propunha um novo espaço de ensino superior, extenso e fechado, longe das cidades. Este espaço seria propício a reflexões, produção e transmissão de conhecimento. O território para o ensino e o aprendizado ampliava-se conforme Pinto (2005, p.10) “do prédio para o campus”.

Para o autor os princípios de Ebenezer Howard2 serviram como referência para a

implantação do primeiro campus norte-americano, localizado em Charlotsville.

2 A visão utópica de Ebenezer Howard foi uma tentativa de resolver os problemas de insalubridade, pobreza e

poluição nas cidades por meio de desenho de novas cidades que tivessem uma estreita relação com o campo. Ele apostava nesse casamento cidade-campo como forma de assegurar uma combinação perfeita com todas as vantagens de uma vida urbana cheia de oportunidades e entretenimento juntamente com a beleza e os prazeres do campo.

PINTO (2005, p.12) descreve o projeto de forma detalhada:

No final de cada um dos eixos perpendiculares, implantou-se um edifício. Um de cada lado do eixo, numa composição equilibrada em que os prédios ficavam separados por um largo jardim, um lown, gramado entremeado por arranjos paisagísticos ao longo dessa extensa avenida verde (de início, o

lown não passava de um descampado deserto, como a imagem mostra). De

cada lado do lown e passando em frente aos edifícios, ruas levavam até a rotunda implantada, majestosamente, no final do conjunto. No início, toda circulação se fazia por uma loggia, caminho abrigado que passava em frente a todos os prédios; posteriormente, foram abertas as ruas que, a princípio, passavam pelos fundos e que, de fato, não eram tão necessárias nessa época. No projeto inicial, ao lado de cada edifício destinado ao ensino, situava-se um alojamento para estudantes ou professores. Sempre separado por um jardim, cada edifício tinha sua independência e personalidade. As funções e a destinação de cada edifício eram mais definidas e não havia a superposição de cursos muito diferenciados nem a superposição de funções muito distintas num mesmo prédio. Uns eram destinados ao ensino, outros ao alojamento, outros a refeitórios, biblioteca etc., de tal forma que cada edifício tinha um uso preponderante. Estas construções não se assemelhavam, em nada, aos prédios monacais ou edifícios alongados dos colleges ingleses. As plantas, geralmente quadradas, permitiam que os edifícios fossem banhados pelo sol e ventilados em todas as faces, graças à forma e ao afastamento entre eles. A vasta área do campus permitia esta individualização e distanciamento entre os edifícios. Naturalmente, todo o conjunto era mais arejado e o reconhecimento de cada prédio facilitado por seu aspecto e localização individual.

É importante observar que esta proposta foi reproduzida em todo país, servindo posteriormente de modelo para os países latino-americanos. Verifica-se no campus, no entanto, um abandono das questões relacionadas com o meio urbano e com a população não universitária do entorno.

Figura 05. Thomas Jefferson, terceiro presidente dos Estados Unidos desenhou o terreno original da Universidade da Virginia e seus principais edifícios, entre eles a Biblioteca, localizada no final do eixo monumental norte/sul como podemos observar na figura acima. Os edifícios em estilo clássico apresentam em suas fachadas uma série de colunas claramente inspiradas em Vignola.

Fonte: http://www.virginia.edu/ Acesso: 12/11/2008