• Nenhum resultado encontrado

O ministro Gustavo Capanema e a Universidade do Brasil

1.2. CONTEXTO BRASILEIRO

1.2.3. O ministro Gustavo Capanema e a Universidade do Brasil

Em 05 de julho de 1937, Getúlio Vargas cria a Universidade do Brasil. Essa instituição substituiria a Universidade do Rio de Janeiro. A nova universidade deveria estabelecer o modelo de educação superior a ser seguido em todo o país. Em seus institutos e escolas seriam encontrados todos os tipos de ensino prescritos pela legislação. Essa ficaria assim sob um estrito controle centralizado; “seria uma universidade de elite, em uma cidade universitária”. (ibidem, 2008, p.269). Na concepção do ministro Gustavo Capanema, o projeto de construção da cidade universitária se confundia com a elaboração dos planos de seus próprios cursos e institutos. O tema cidade universitária coincide com o pensamento paradigmático de um urbanismo moderno e inovador, servindo de suporte a um governo que desejava firmar valores culturais. Dessa forma não há dificuldades de se compreender que havia motivos suficientes para que o ministro tornasse a idéia da construção de uma cidade universitária um dos seus principais projetos. Assim, Capanema compõe uma Comissão de Professores, presidido por ele

5 As razões apontadas para a reunião dos institutos numa Cidade Universitária foram as seguintes: centralização

das fontes bibliográficas, facilidade de ligação entre o ensino e a pesquisa científica, mais possibilidades de intercâmbio dos estudantes e de material científico, eliminação dos serviços duplicados, centralização do esporte e maior possibilidade de controle da reitoria.

próprio, para se dedicar na sua estruturação. Caberia à comissão conceituar a universidade, localizá-la espacialmente e, finalmente, projetar a sua construção.

Para a comissão a proximidade entre a cidade universitária e a cidade tornou-se uma estrutura orientadora de diversos estudos posteriores. Talvez o principal deles tenha sido a definição dos setores. Sendo alguns dos membros considerados periféricos, ou seja, aqueles que exigissem um contato intenso ou permanente com o público e a vida urbana; ou centrais que seriam o oposto, isto é, setores que seriam voltados principalmente para a própria Universidade. Com esses critérios os setores foram assim definidos:

1) Setor de Medicina ou Centro Médico: localizado na periferia do terreno, escolhido para facilitar o acesso aos usuários; 2) Setor de Engenharia: também localizado na periferia do terreno por causa de sua forte ligação com a indústria e com a necessidade de receber desta material de grande volume; 3) Setor de Esportes: outro setor localizado na periferia do terreno devido à possibilidade de receber muitos usuários; 4) Setor de Direito, Filosofia: localizado no centro do terreno, e principalmente, eqüidistante dos outros institutos, considerando suas relações com outros cursos; 5) Setor de Belas-Artes: também localizado no centro do terreno; e 6) Setor Residencial: localizado na periferia do terreno visando tranqüilidade para os usuários. (CAMPOS, 1940, p.388)

Com o apoio da Comissão de Professores, o ministro Gustavo Capanema, convidou o arquiteto Marcello Piacentini, autor do projeto da Universidade de Roma, para atuar como consultor no Rio de Janeiro. Após visitar diversos terrenos, Piacentini considerou ser a Praia Vermelha, no bairro da Urca, o local ideal para receber a cidade universitária. Em 24 de agosto de 1935, o arquiteto voltou à Itália com o compromisso de retornar ao Brasil em outubro. Considerando que o bairro da Urca, já durante muitos anos, era visto como naturalmente destinado a receber a Universidade Pedro II, a indicação de Piacentini não trouxe maiores inovações. Além do arquiteto, o engenheiro José Otacílio de Saboya Ribeiro já afirmava que:

[...] a Praia Vermelha seria o local mais indicado pela tendência histórica; pelas vastas áreas disponíveis para a instalação dos edifícios escolares; campos de esportes; pavilhões de estudantes; bibliotecas; pelo seu isolamento natural; pelas proximidades do centro da cidade e pela facilidade de comunicação. (CAMPOS, 1940, p.388)

Considerando-se que a região preferida apresentava alguns inconvenientes, sobretudo aqueles referentes à exigüidade do terreno e altos custos com desapropriações, foi sugerida, como segunda possibilidade de localização, uma área próxima à Quinta da Boa Vista. Após diversas análises, a comissão reconheceu que o local mais adequado à construção seria aquele compreendido pelas áreas próximas à Quinta da Boa Vista. As características deste terreno seriam:

[...] a maior extensão da área; a economia no custo de aquisição e de preparação do terreno; a facilidade de execução do trabalho; a posição em relação à cidade; e a facilidade de comunicação com os subúrbios, já que haveria uma estação ferroviária no interior da cidade universitária. (CAMPOS, 1940, p.388)

Para Alberto (2003) a escolha do terreno para a cidade universitária indicava que o modelo das universidades norte-americanas tornou-se a matriz pensada pela comissão para a Universidade do Brasil.

Uma área como a Quinta da Boa Vista anteriormente considerada um subúrbio passa a ser vista como o baricentro de uma nova noção de cidade, bem mais ampla e bem mais atenta à própria democratização no que se refere ao seu acesso. Embora a comissão, em suas considerações tenha justificado sua opção após um balanço geral das vantagens e desvantagens peculiares a cada um dos dois terrenos, esta se inclinou para a solução dos terrenos anexos à Quinta da Boa Vista. (ALBERTO, 2003, p.40)

Para contrapor-se à reação negativa junto aos profissionais de engenharia e arquitetura, quanto à vinda de Piacentini, Gustavo Capanema constituiu uma Comissão de Arquitetos e Engenheiros brasileiros que deveria dar forma final ao projeto proposto pelo arquiteto italiano. Essa comissão, que deveria trabalhar em consonância com a Comissão de Professores, sugeriu a vinda ao Brasil do arquiteto francês Le Corbusier.

Alberto (2008, p.1006) observa ainda que:

[...] para Le Corbusier, a Universidade do Brasil seria um campus devidamente setorizado na cidade, mas, ao mesmo tempo, conexo a esta através do sistema de vias do conjunto que seria integrado com um dos grandes eixos da cidade.

Dessa forma, podemos observar que a idéia de Le Corbusier de cidade universitária era diferente do modelo norte-americano, tão bem visto pela comissão de professores brasileiros.