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Os estudos acerca da felicidade e os aspectos positivos da experiência humana são integrantes do tema bem-estar, tornando-se bastante recorrente na sociedade moderna e se apresentando como uma das principais preocupações das pessoas no seu dia-a-dia. O ser humano busca a satisfação de suas necessidades, tal como os demais seres vivos, porém, a consciência de sentir-se feliz é algo específico da espécie humana (OLIVEIRA, 2008). Nesse sentido, a felicidade pode ser estabelecida, para uns, como um objetivo final em que as metas de vida são estabelecidas, e para outros, apenas um ingrediente na receita de uma vida considerada satisfatória (FREY; STUTZER, 2002).

A avaliação acerca da qualidade de vida é realizada de forma individual, fundada em critérios estabelecidos pelo próprio indivíduo e o resultado dessa avaliação leva à configuração do que é considerada uma vida dotada de bem-estar. Segundo Ganglmair- Woolis e Lawson (2011), o BES consiste na percepção subjetiva do indivíduo acerca da sua qualidade de vida. Dessa forma, tal abordagem é denominada de bem-estar subjetivo, e uma avaliação que determina positivamente tais padrões é denominada felicidade. O BES é definido como a experiência vivenciada pela pessoa e mensurado através de uma perspectiva individual (DIENER; DIENER, 2002). Basicamente, o estudo do BES busca compreender a avaliação que as pessoas fazem de suas vidas. Assim, tal estado de bem-estar é considerado elevado quando inclui frequentes experiências emocionais positivas, raras experiências emocionais negativas e satisfação com vários aspectos da vida (ALBUQUERQUE; TRÓCCOLI, 2004).

A subjetividade é a síntese singular e individual que cada um constitui conforme se desenvolve e vivencia as experiências da vida social e cultural. Essa síntese – a subjetividade – constitui o mundo das ideias, significados e emoções, construído internamente pelo sujeito a partir de suas relações sociais, de suas vivências e de sua constituição biológica, bem como é também fonte de suas manifestações afetivas e comportamentais (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 1999). As pessoas, portanto, podem ser mais felizes além do que se espera, assim

como a felicidade não aparenta depender significantemente de circunstâncias externas (MEYERS; DIENER, 1996).

Apesar dessa conotação individual do BES, vale ressaltar o que Velho (2006) destaca acerca da subjetividade (o interno), afirmando que esta é produzida, condicionada e fabricada pelo externo. O indivíduo ou o self, dependendo da vertente, é essencialmente social e como representação ou como conteúdo, o interno só pode ser explicado pelo externo. Como a cultura e a personalidade se influenciam mutuamente, ambos os níveis de análise são fundamentais para o entendimento do bem-estar subjetivo dentro de uma perspectiva cultural (ALBUQUERQUE; TRÓCCOLI, 2004), num contexto pós-moderno. Dessa forma, infere-se que o BES, mesmo possuindo esse caráter individual e único, pode ser considerado como construído a partir de experiências consideradas exteriores (cultural e socialmente) ao indivíduo.

O fenômeno do bem-estar subjetivo consiste em dois aspectos básicos de sentimentos ou afetos e cognição. Os sentimentos são a qualificação atribuída a ânimos e emoções, que representam a avaliação das pessoas aos eventos que ocorrem em suas vidas. Assim, sentimentos de prazer e desprazer são construtos separáveis, porém fazem parte do bem-estar subjetivo, onde a felicidade pode ser subdividida por si mesmo em uma frequência de experiências afetivas positivas e negativas (AHUVIA; FRIEDMAN, 1998). Nessa estrutura básica do bem-estar subjetivo, os aspectos afetivos encontram-se dotados de fatores como alegria, afeição, orgulho, e os afetos negativos, compreendidos pelas emoções e estados de espírito que abrangem a raiva, ansiedade, tristeza, entre outros (DIENER; DIENER, 2002). Dessa forma, a felicidade não significa ausência de aspectos negativos, mas o equilíbrio de experiências boas e ruins na vida cotidiana. Na perspectiva do BES, predomina, portanto, a visão hedonista da felicidade, composta pelos afetos positivos, negativos e a satisfação com a vida. No caso da perspectiva hedônica, o BES estaria associado ao prazer (da mente ou do corpo), ou à felicidade (OLIVEIRA, 2008). Ou seja, o bem-estar pode ser considerado uma necessidade de busca de realização, um desejo de consumo e de liberdade ilimitada, sendo sentido conforme a satisfação dos desejos do indivíduo (GOUVEIA, 2003).

O outro aspecto constitutivo do BES refere-se às avaliações cognitivas das condições de vida do indivíduo, contemplado pelo fato de que nem todas as pessoas julgam suas vidas da mesma forma, pois atribuem pesos a diferentes aspectos da vida e os avaliam em seu contexto imediato (DIENER; DIENER, 2002). O componente cognitivo refere-se aos aspectos intelectuais e racionais do BES e é usualmente avaliado como medida de satisfação, ou seja, envolve o componente de julgamento e comparação na sua composição (FREY;

STUTZER, 2002). Além do mais, o bem-estar subjetivo compreende-se como dizendo respeito à satisfação que cada sujeito confere a áreas distintas da sua vida, sendo um construto multidimensional (OLIVEIRA, 2008).

Meyers e Diener (1996) apresentam quatro características das pessoas consideradas mais felizes: na primeira, elas são felizes consigo próprias, por possuírem auto-estima, por acreditarem ser mais éticas, menos preconceituosas e mais capazes de conviver com outras pessoas; na segunda característica, indivíduos felizes tipicamente sentem que possuem um controle pessoal com suas vidas, ou seja, as pessoas que não tem o controle de suas vidas – como prisioneiros ou pessoas que sofrem pressão social – sofrem de moral baixa e menor satisfação com sua situação; na terceira, pessoas felizes geralmente mais otimistas e positivas; e na quarta, são pessoas mais sociáveis e menos sozinhas. Layard (2005) acrescenta que as pessoas felizes também são mais compassivas e mais satisfeitas com o que elas possuem. Desse modo, tais características poderão ser observadas ao longo do estudo, de diferentes formas.

A felicidade, no entanto, não é um sentimento dado ou imutável, porém pode ser construído socialmente dentro da pessoa, dependendo do ambiente social ao qual cada um tem vivenciado suas experiências. Frey e Stutzer (2002) abordam quatro processos psicológicos que são na aquisição da felicidade pelo meio social:

a) adaptação: as pessoas se acostumam a novas circunstâncias e, de acordo com elas, ajustam seu nível de bem-estar subjetivo. Adaptação refere-se a diversos mecanismos, no caso da habituação, que são processos automáticos biológicos passivos. A adaptação hedônica, portanto, reduz a resposta individual a estímulos repetidos ou continuados. Ou seja, pessoas que buscam obter altos níveis de renda ou de consumo para obter bem-estar, por exemplo, geralmente retornam, após alcançar seu objetivo, ao nível inicial de BES. A felicidade, portanto, estaria na busca de coisas boas às quais o indivíduo ainda não se adaptou. É mais comum se adaptar mais facilmente aos bens materiais, enquanto as experiências não perdem a importância da mesma forma (LAYARD, 2005).

b) aspiração: as pessoas avaliam sua situação através do nível de aspiração que é formado por suas esperanças e expectativas. Se as pessoas atingem seus níveis de aspiração, elas se tornam mais satisfeitas com a vida.

c) comparação social: essa não é uma medida que diz respeito à felicidade subjetiva. Porém, é fato que as pessoas comparam sua posição com a de outras pessoas consideradas relevantes, trazendo certo bem-estar quando alcançam determinada posição desejada, porém não é um evento duradouro. Esse aspecto é originalmente confirmado através da Teoria da Comparação Social de Festinger (1954), que defende que as pessoas se comparam umas às outras as quais possuem contato frequente.

d) lida: as pessoas tem uma forte capacidade de superação de eventos infelizes, isso considerando que os indivíduos estão em constante busca pelo bem-estar, além de serem sujeitos “adaptáveis”. Assim, observa-se a capacidade de resiliência do ser humano em se adaptar às situações vividas em determinados contextos.

Em suma, é dessa forma que o bem-estar pode ser percebido, pela satisfação consigo mesmo e com o ambiente no qual está inserido, incluindo as respostas emocionais e julgamentos acerca da satisfação com a vida, além de representar a avaliação das pessoas sobre suas vidas, de acordo com os afetos positivos e negativos experimentados. Desse modo, representa também o componente cognitivo que se refere a aspectos racionais e intelectuais acerca da satisfação com a vida em que o indivíduo vivencia, podendo apresentar-se de forma global (satisfação com a vida) e de forma específica (satisfação com áreas da vida, por exemplo, recreação, economia, consumo) (OLIVEIRA, 2008).

Frey e Stutzer (2002) abordam as principais esferas sobre as quais as pessoas podem se mostrar mais satisfeitas, constituindo-se em importantes domínios pessoais que são classificados como: mercado de trabalho, sendo a satisfação com o trabalho uma área crucial da vida das pessoas, que geram bem-estar e produzem melhores desempenhos no trabalho e menor absenteísmo; relacionamentos familiares, em que a convivência com filhos, parentes e pares são considerados como partes do bem-estar subjetivo pela maioria das pessoas; saúde, cujos seus bons indicativos também representam um dos ingredientes da felicidade; o lazer, como importante papel na vida e nos indicativos de bem-estar dos indivíduos; e o consumo, sendo o padrão de vida material como um dos elementos mais importantes do bem-estar na vida das pessoas, por fazer parte das atividades centrais da vida moderna.