• Nenhum resultado encontrado

ESTIMULAÇÃO COGNITIVA E SUA REPERCUSSÃO NA VELHICE

É notório que durante o processo de envelhecimento normal, algumas capacidades cognitivas diminuem naturalmente com a idade. O termo cognição apresenta diferentes variações conforme caracterização de diversos autores. Abreu e Tamai (2006) referem a cognição como capacidade de adquirir e de usar informações com a finalidade de adaptar-se às demandas do meio ambiente. As funções cognitivas podem ser distintamente divididas em: atenção, orientação, memória, organização visuo-motora, raciocínio, funções executivas, planejamento e solução de problemas. A capacidade de adquirir uma informação envolve habilidades para processar essa informação ou a capacidade para entender, organizar e integrar as informações novas com experiências anteriores.

Bem elucidada por Yassuda (2006), a funcionalidade cognitiva de idosos está relacionada à sua saúde e à sua qualidade de vida, bem como, é fator primordial no envelhecimento ativo e longevidade. O bom funcionamento cognitivo é importante para autonomia e para capacidade de autocuidado dos idosos, influenciando as decisões a respeito da possibilidade do idoso continuar a viver com segurança e independência (OMS, 2005).

A cognição é, portanto, mais do que simplesmente aquisição de conhecimentos e, consequentemente, melhor adaptação ao meio; é, também, mecanismo de conversão do que é captado para o nosso modo de ser interno. É o processo pelo qual o ser humano interage com os seus semelhantes e com o meio em que vive, sem perder sua identidade (LEZAK, 1995).

Para Vieira (2002), cognição é o termo empregado para descrever toda a esfera do funcionamento mental. Esse domínio implica habilidades de sentir, pensar, perceber, lembrar, raciocinar, formar estruturas complexas de pensamento e capacidade de produzir respostas às solicitações e estímulos externos.

Santiago (2007) destacou que há forte influência da escolaridade (analfabetismo) no desempenho cognitivo. A educação pode contribuir na aquisição da reserva cognitiva, havendo sugestão de que exposição à estimulação cognitiva mais intensa e complexa pode estar associada com maiores conexões sináptica (ABISQUETA-GOMES, 1999).

Segundo Dunlosky (1998), há declínio nas funções cognitivas, como memória, atenção e funções executivas, mesmo em idosos não acometidos por doenças. Entretanto, para a Organização Mundial de Saúde (2005), muitas vezes o declínio cognitivo é ocasionado por desuso, doenças, fatores comportamentais, psicológicos e sociais, mais do que por envelhecimento em si, podendo essas perdas ser compensadas por ganhos em sabedoria, em

conhecimento e em experiência. Estudos mostram que, no envelhecimento saudável, existe a possibilidade de compensação de declínios cognitivos (BALTES; BALTES, 1990; DUNLOSKY; HERTZOG, 1998).

Yassuda et al. (2006) mencionaram que os programas de treino cognitivo diferem em relação à duração, às estratégias e à metodologia empregada, encontrando-se na literatura grande diversidade em relação aos seus efeitos, à sua generalização para as tarefas não treinadas e à manutenção dos resultados a longo prazo. Em conformidade com estes dados, Carvalho (2006) referiu que o treino da memória no envelhecimento saudável e suas implicações para o bem-estar do idoso constituem tema praticamente inexplorado dentro da perspectiva científica no Brasil. Como sugere a literatura, o treino de memória pode promover mudanças no funcionamento cognitivo em idosos e colaborar para manter sua funcionalidade e independência (SOUZA e CHAVES, 2005; ALMEIDA, 2007).

As intervenções cognitivas são compostas por diferentes tipos de programas de treino, que apresentam efeitos variáveis e amplos no funcionamento cognitivo de idosos, mesmo em idades avançadas (NERI, 2006).

Acevedo (2007) reforçou que esses treinos têm como objetivo maximizar as funções cognitivas e prevenir futuros declínios cognitivos. O engajamento em atividades de estimulação cognitiva e em estilo de vida ativa socialmente tem efeito positivo na cognição e na possibilidade de prevenir declínios cognitivos e demência na velhice.

As oficinas de estimulação da cognição para idosos são importantes. Segundo Zimerman (2000), estimular consiste em instigar, ativar, animar e encorajar. Estimulação é um dos melhores meios para minimizar os efeitos negativos do envelhecimento, levando os indivíduos idosos a viver com melhor qualidade de vida. Os jogos e as brincadeiras permitem criar meios de manter a mente, as emoções, a comunicação e os relacionamentos em atividade.

Yassuda et al. (2006), com o objetivo de verificar os efeitos de programa de treino de memória episódica em 69 idosos saudáveis após quatro sessões, encontraram efeitos modestos desse treino. No pós-teste, os idosos do grupo experimental apresentaram melhor desempenho na recordação de texto e maior uso de estratégias de memória.

Souza e Chaves (2005), analisando o efeito da estimulação da memória sobre o desempenho no Mini Exame do Estado Mental (MEEM) em 46 idosos saudáveis brasileiros, em treino de memória de oito sessões, observaram que a maioria dos participantes apresentou aumento significativo nos escores do MEEM após os treinos. Outros estudos também realizados no Brasil por Lasca (2003) e Carvalho (2006), encontraram melhora no

desempenho dos idosos em tarefas de memória. Carvalho (2006) mostrou que o treino promoveu melhora na memória episódica e maior uso da estratégia treinada, indicando que idosos não acometidos por doenças podem-se beneficiar desse tipo de intervenção. O estudo de Lasca (2003) objetivava avaliar os efeitos de um programa de treino de memória que consistia em instruções sobre como categorizar duas listas de supermercado. Os participantes foram avaliados no pré e pós-teste, sendo esse realizado sete dias após o pré-teste. Evidenciaram que o treino promoveu modesta melhoria nas habilidades de memória, embora sem diferença estatisticamente significativa.

Irigaray (2009), objetivando verificar os efeitos de programa de treino de atenção, memória e funções executivas na qualidade de vida e no bem-estar psicológico de idosos, encontrou diferenças significativas entre os grupos no pré e pós-teste, em relação ao funcionamento cognitivo, à qualidade de vida e ao bem-estar psicológico. O grupo experimental recebeu doze sessões de treino, envolvendo informações sobre atenção, memória, funções executivas, envelhecimento, instrução e prática de exercícios. Após o treino, os idosos apresentaram melhor desempenho cognitivo, melhor percepção da qualidade de vida e maiores índices de bem-estar psicológico. O autor concluiu que intervenções cognitivas podem contribuir para a melhora da qualidade de vida e do bem-estar psicológico de idosos.

O estímulo para um bom funcionamento mental, físico e social configura-se como princípio para a promoção da saúde de idosos. As oficinas para treinamento de memória são estratégias importantes, uma vez que queixas de memória são frequentes neste grupo etário. Atividades mentais funcionam como fator de proteção no declínio cognitivo e algumas estratégias de memorização têm-se mostrado eficazes para melhorar a memória (ALMEIDA, 2007).

Frente a isso, postula-se a aplicação do exercício da memória através de sua estimulação/motivação, como método terapêutico na recuperação e/ou manutenção da função neural associada à cognição (SOUZA; CHAVES, 2005).

Segundo Freire (2000), a velhice não implica necessariamente em doença e em afastamento, possuindo o idoso potencial para mudanças e reservas inexploradas. Quanto mais os idosos forem atuantes e estiverem integrados em seu meio social, menos ônus trarão à família e aos serviços de saúde. De maneira geral, os idosos têm importantes reservas para seu desenvolvimento, que podem ser ativadas por aprendizagem, exercícios ou treinamento. Em boas condições médicas e ambientais, muitos idosos continuam a ter potencial para desempenho em altos níveis e para adquirir conhecimentos teóricos e práticos.

Documentos relacionados