• Nenhum resultado encontrado

geocronologia U-Pb em zircão Neste capítulo são apresentados os resultados geocronológicos obtidos na datação de

IV- 1 Estratégia de amostragem

Os locais de amostragem foram selecionados de modo a permitirem recolher um conjunto de amostras representativas do objetivo do estudo que se pretendia desenvolver. Foram selecionados pontos de amostragem em que a rocha se revelasse sã, com faces limpas e apresentando o menor grau de alteração possível. No caso das arribas foram evitadas as zonas superficiais mais expostas à alteração física e química. Houve também o cuidado de selecionar, sempre que possível, amostras com granulometrias mais adequadas para o estudo de minerais

50

pesados (cuja fração se situa idealmente entre 63-250 µm), nomeadamente areias e arenitos de granularidade média a fina (Mange e Maurer, 1992). As amostras de areia de praia foram colhidas na zona de berma, evitando a proximidade aos sedimentos das arribas e solos suprajacentes.

51 IV-1.1. LOCALIZAÇÃO DAS AMOSTRAS

A Figura IV.1 enquadra as praias e os locais onde foi realizada a amostragem na Costa Alentejana, indicando as respetivas coordenadas geográficas.

Na zona a norte de Sines foram amostradas areias holocénicas de praia e areias plio- pleistocénicas da arriba em três pontos do Arco Litoral Tróia-Sines (Figura IV.1): a Praia da Aberta Nova (a cerca de 25 km a norte do Cabo de Sines), a Praia das Areias Brancas (a cerca de 12 km a norte do Cabo de Sines) e a Praia do Norte (a cerca de 2 km a norte do mesmo cabo). No Cabo de Sines foram amostrados sienitos cretácicos do Maciço de Sines. Aproximadamente a 10 km sul foram recolhidas amostras de areia holocénica na Praia de S. Torpes e areias plio-pleistocénicas e grauvaques carbónicos da arriba da mesma praia. Finalmente na arriba da Praia de Monte Clérigo (Aljezur) foi também recolhida uma amostra de grauvaque do Carbónico.

Figura IV.2 - (A) – Cortes geológicos esquemáticos das três praias onde foram amostradas as arribas Plio- Pleistocénicas e (B) colunas estratigráficas simplificadas das mesmas praias.

52

Na Figura IV.2 podem observar-se cortes geológicos e respetivas colunas estratigráficas simplificadas das três praias estudadas (Praia das Areias Brancas, Praia do Norte e Praia de S. Torpes) com maior detalhe e onde foram recolhidas várias amostras tanto das arribas plio- pleistocénicas como de areia de praia. Nos subcapítulos seguintes são apresentados de forma pormenorizada os locais de amostragem e as características das amostras estudadas.

IV-1.2. Praia da Aberta Nova

Na Praia da Aberta Nova (Figura IV.3), foram colhidas duas amostras de areia de praia holocénica (amostras AN-3 e AN-4). As amostras eram contíguas e a sua recolha teve lugar ao nível da berma da praia, até cerca de 10 centímetros de profundidade. Estas areias pertencem à classe de granularidade média.

Figura IV.3 – Localização das amostras da Praia da Aberta Nova. IV-1.3. Praia das Areias Brancas

Na arriba da Praia das Areias Brancas observa-se um nível inferior constituído por areias finas brancas com componente argilosa ao qual se sobrepõe uma série de níveis de areias mais grosseiras de cores amareladas a alaranjadas, com variações laterais de fácies e com intercalações de níveis arenosos de granularidade fina, de granularidade grosseira e também de níveis de cascalho (Figura IV.2). Nas areias brancas com componente argilosa, não se observou a presença de fósseis marinhos, característica da Formação Miocénica do Esbarrondadoiro, aflorante mais a norte, mas não será de excluir que possa ser dessa idade. Na unidade superior

53

de areias do Plio-Pleistocénico foram colhidas duas amostras: a amostra AB-3 (arenito de granulometria média a fina de cor amarelada) e a amostra AB-4 (idêntica, mas colhida num nível superior da mesma unidade de areias) (Figura IV.4). O topo da arriba encontra-se coberto por areias de duna.

Nesta praia foram colhidas duas amostras de areia de praia holocénica, amostras AB-1 e AB-2, também no setor da berma da praia.

Figura IV.4 – Localização das amostras da Praia das Areias Brancas.

IV-1.4. Praia do Norte

Na Praia do Norte o substrato rochoso da arriba é constituído por calcários do Jurássico que estão em contacto com os gabros do Maciço de Sines (Figura IV.2). Sobre este nível de calcários surge discordante um conglomerado poligénico, constituído por calhaus de diferentes dimensões (<40 cm diâmetro), de gabros, sienitos, mas também de quartzo e de fragmentos de rochas carbonatadas, suportados por uma matriz arenítica. Este nível de conglomerados tem maior expressão nas arribas junto ao início da Praia do Norte diminuindo para norte e desparecendo sob as areias que se lhe sobrepõem. As areias da arriba que são atribuídas ao Plio- Pleistocénico são constituídas por níveis descontínuos e de espessura centimétrica de areias de granulometria média a fina amareladas a alaranjadas, com níveis de cascalho intercalados. Sobre estas aflora uma sequência de areias esbranquiçadas a amareladas, médias a finas, por vezes com níveis de areias grosseiras. Na parte inferior ocorre uma unidade constituída por areias finas, com componente argilosa e com níveis de cascalho, de cor esbranquiçada a amarelada

54

(amostra PN-2) (Figura IV.5); sobre esta unidade, com contacto brusco, ocorrem areias finas com componente argilosa de cor mais amarelada (amostra PN-1). O topo é marcado pela presença de areias de duna.

Nesta praia foi colhida areia de praia holocénica mas as amostras foram pouco produtivas em zircão para justificar a sua análise.

Figura IV.5 – Localização das amostras da Praia do Norte. IV-1.5. Cabo de Sines (Maciço de Sines)

Os sienitos foram amostrados em afloramentos do Maciço de Sines localizados na arriba cerca de 400 metros a sul do início da Praia do Norte (Figura IV.6).

Os sienitos apresentam geralmente uma textura granular, de grão médio a grosseiro, podendo ser também porfirítica. Os constituintes mineralógicos principais são os feldspatos alcalinos e as plagioclases, nomeadamente albite e oligoclase. Como minerais acessórios ocorre biotite, apatite, mineras opacos, anfíbola, epídoto, esfena, zircão e algum quartzo, calcite e clorite (geralmente intersticial).

Neste afloramento onde os sienitos contactam com os gabros que são cortados por uma rede de filões máficos e félsicos foram colhidas duas amostras de sienito contíguas (MS-4 e MS-5). Os sienitos incluem localmente a presença de encraves de natureza máfica, geralmente inferiores a 15 centímetros de diâmetro. Estes sienitos contactam a norte com gabros, no interior dos quais também se observou a presença de encraves de natureza sienítica. A presença de

55

zircões revelou-se muito abundante nos sienitos, mas praticamente ausente tanto nos gabros como nos encraves félsicos neles observados.

Figura IV.6 – Localização das amostras da zona da Costa Norte de Sines. Detalhe de imagem de lâmina delgada da amostra MS-4.

IV-1.6.PRAIA DE S.TORPES

A amostragem realizada na Praia de S. Torpes foi a que englobou maior número de litologias, provenientes de formações de idades muito diferentes, nomeadamente os grauvaques carbónicos do flysch, as areias plio-pleistocénicas das arribas e as areias de praia holocénicas. Foram escolhidos dois pontos de amostragem, um mais a norte, cerca de 450 metros a sul da desembocadura da Ribeira da Junqueira e outro ponto no extremo sul da praia de S. Torpes junto às escadas de acesso à praia (Figuras IV.7 e IV.8)

No ponto mais a norte da Praia de S. Torpes foi amostrada a areia de praia holocénica (amostra ST-1) constituída por areia média a fina com grande quantidade de minerais máficos magnéticos. Neste ponto de amostragem a base da sequência sedimentar da arriba é marcada por alternâncias de bancadas inclinadas de pelitos, siltitos e grauvaques cinzentos a cinzento-escuros carbónicos da Formação de Mira (Figura IV.2 - A e B); no topo do Carbónico e assentando discordantemente ocorre a sequência de camadas horizontais do Plio-Pleistocénico que se inicia por um conglomerado poligénico com matriz arenítica-argilosa; a amostra ST-6 é de um arenito ferruginoso de cor laranja-acastanhada com componente argilosa, com calhaus angulosos de argilito e calhaus rolados de quartzo e/ou quartzito (inferiores a 5 centímetros); para o topo surgem areias de granulometria média a fina amarelada (amostra ST-5) com níveis de

56

cascalheiras; os calhaus de quartzo, de sienito, de gabro, mas também dos grauvaques são rolados e de várias dimensões (inferiores a 40 centímetros de diâmetro) na base da unidade e calhaus de menores dimensões (inferiores a 12 centímetros de diâmetro) para o topo. Esta sequência está coberta a topo por areias de duna.

Figura IV.7 – Localização das amostras da zona norte da Praia de S. Torpes.

57

No extremo sul da Praia de S. Torpes (Figura IV.8) foram colhidas mais duas amostras: i) uma de grauvaque Carbónico da Formação de Mira (amostra ST-8) e ii) outra amostra de areia de praia holocénica (amostra ST-9). A bancada de grauvaque acinzentado, de grão fino que foi amostrada apresentava cerca de 60 centímetros de espessura, orientação N 60º W e inclinação 60º SW.

A amostra de areia de praia holocénica (amostra ST-9) é de granulometria fina e apresenta menor quantidade de minerais máficos quando comparada com a amostra de areia de praia colhida mais a norte.

IV-1.7.PRAIA DE MONTE CLÉRIGO (ALJEZUR)

Na arriba sul da praia de Monte Clérigo, onde se localiza a povoação que dá nome à praia foi colhida a amostra AJ-1 (Figura IV.9) em bancadas de grauvaques intercalados com siltitos e argilitos pertencentes ao Carbónico da Formação da Brejeira. Esta amostra AJ-1 representa um grauvaque de grão médio a muito fino, com grãos moderada a pobremente calibrados, geralmente subangulares e alongados. Foi colhida conjuntamente com areias de praia holocénica contíguas mas as amostras não foram produtivas em zircão e daí que esta amostra de grauvaque surja um pouco desligada em termos espaciais das restantes. No entanto, resolvemos inclui-la neste estudo de modo a contribuir para se conhecer melhor a proveniência das rochas sedimentares do Carbónico.

58

IV-2. Grauvaques carbónicos (Grupo do Flysch do Baixo Alentejo-