• Nenhum resultado encontrado

4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

4.4 Estratégia de tratamento e análise dos dados

No que se refere à abordagem de tratamento e análise dos dados, Richardson (2008) assegura que estudos qualitativos podem descrever a complexidade de determinado problema, analisar a interação entre as variáveis, compreender e classificar processos dinâmicos vividos por grupos sociais e subsidiar maior nível de profundidade no entendimento das particularidades do comportamento dos indivíduos; no caso em foco, todos os sujeitos e ações envolvidas na implementação do PROLER no Rio Grande do Norte, no contexto do Comitê Potiguar.

Em primeiro momento, a pesquisa se apoia na análise bibliográfica e documental de leis, diretrizes, objetivos, projetos e outros documentos, já relacionados em tópico anterior, que fazem referência tanto ao Programa Nacional quanto à realidade da leitura na Unidade Federativa estudada.

Durante o segundo momento, por todo decorrer da pesquisa, é trabalhada a técnica da análise da conversação de todo o material adquirido a partir das entrevistas. Segundo Silva (2008), a conversação é uma pratica social de que precede à todas as outras práticas na vida social: é por meio da conversação que os indivíduos se tornam seres sociais, desenvolvendo relacionamentos com seus semelhantes e assumindo papéis sociais, se apoiando, portanto, no objetivo de alcançar seus propósitos pragmáticos (MODESTO, 2011).

Myers (2002) discute a análise da conversação e da fala como uma técnica oriunda da etnometodologia. Ao apresentar a técnica, Myers diverge de metodologias que tentam reduzir enormes quantidades de dados brutos de uma pesquisa, sejam eles entrevistas já transcritas, formulários de levantamento e anotações de estudos de caso ou anotações de campo, com o objetivo de usar estes dados em uma argumentação, pois assim são desconsiderados os momentos reais da fala e/ou as marcas na página. O autor argumenta que muitas vezes “é adequado voltar a esta enorme quantidade de dados da pesquisa, desde que possamos percebê- los como falas, olhando para interações específicas em suas situações particulares” (MYERS, 2002, p. 271).

O autor destaca ainda a importância da interação social entre pesquisador e pesquisado. Segundo ele, o objetivo dos manuais de pesquisa em ciências sociais é eliminar influências que possam afastar a situação da pesquisa do mundo real. Sendo assim, as interações de pesquisa são planejadas a fim de ser padronizadas e reduzidas, desconsiderando

o pesquisado e as circunstâncias da interação de pesquisa. Portanto, o interesse da análise de conversação está em perceber como os participantes organizam a interação de momento a momento (MYERS, 2002).

Na análise da conversação, os dados de pesquisa não são considerados possuidores de

status especial que os separe de outra fala (MYERS, 2002, p. 272). Com esta técnica, o

pesquisador realiza análise detalhada a partir da fala dos sujeitos da pesquisa, podendo identificar categorias utilizadas pelos participantes, bem como seus pontos de vista. Culminando em direção a uma pesquisa mais reflexiva, pois, além de considerar o referencial do participante, o pesquisador poderá refletir a respeito de seu papel social.

Os detalhes da transcrição são essenciais para realizar a análise de conversação e, portanto, Myers (2002) destaca alguns tópicos práticos que devem ser considerados desde o começo da pesquisa: a) planejamento: o tópico guia ou a folha da entrevista deve garantir gravação clara; b) registro: a gravação deve ser clara para permitir boa transcrição. O local deve ser analisado com antecipação, pois não pode haver muitos ruídos; c) transcrição: entende-se que quanto mais detalhada for a transcrição, mais rica será sua análise; no entanto, para transcrição mais acurada é preciso dispor de maior tempo e recursos financeiros; d) atribuições: para analisar uma fala, é preciso ter clareza a fim de saber quem disse o quê. Tal ponto exige certo esforço para identificar as continuidades ou as falas de cada participante; e) análise: será menos extensa do que a transcrição; no entanto, é importante que o primeiro passo da análise seja uma leitura atenta da transcrição; f) relatório: para o autor, a forma ideal de relatório seria mostrar seções da fita como demonstração de um argumento.

As análises geralmente buscam explicar as estratégias e ações interativas realizadas pelos interlocutores, bem como os meios utilizados para que suas necessidades comunicacionais sejam atingidas no processo interacional real (MODESTO, 2011). Procura- se evidenciar nas análises as estruturas, o funcionamento e o mecanismo conversacional, tentando evidenciar as regularidades, que, consequentemente, exibem mecanismos singulares de atividades sociais. Assim, a conversação passa a ser analisada como processo de cooperação entre agentes sociais.

De modo a orientar o uso da técnica foram criadas categorias de análise para as entrevistas como podem ser vistas no Quadro 9.

Quadro 9 - Variáveis e categorias para a avaliação da implementação do PROLER/RN.

VARIÁVEL CATEGORIAS

Cumprimento dos Princípios e Diretrizes definidos pelo Programa Nacional.

- Fomento e a divulgação do programa;

- Formação continuada de promotores de leitura; - Incentivo a pesquisa e documentação.

Desenvolvimento das ações do PROLER de acordo com as necessidades do município.

- Formação de uma rede municipal de incentivo à leitura e a escrita;

- Cursos de formação de promotores de leitura; - Assessoria para implementação de projetos de promoção da leitura;

- Promoção de cursos, palestras e outras atividades de incentivo;

- Assessoria para o desenvolvimento e implantação de bibliotecas públicas e escolares para crianças, jovens e adultos;

- Sistema de acompanhamento e avaliação das atividades e projetos realizados pelo Comitê Potiguar.

Relação com os principais atores envolvidos com o Programa.

- Articulação com os diversos atores envolvidos na implementação do PROLER no Rio Grande do Norte; - Dificuldades enfrentadas pelo Comitê durante a execução do Programa.

FONTE: Elaborado pela autora.

Myers (2002), no entanto, expõe alguns problemas metodológicos sobre análise de conversação. Trata-se: da inferência, capacidade de persuasão de toda a interpretação – analista procuraria exemplos em que os participantes discordam e mostraria como outros responderiam a essas instâncias; a generalização – é preciso evitar tais generalizações, pois os grupos estudados não são escolhidos para representar a sociedade como um todo, mas são grupos escolhidos devido às suas particularidades, para que pudessem dizer algo referente às questões propostas; outro problema metodológico levantado por Myers (2002) é sobre a relação dos participantes da investigação com vários grupos sociais, ou seja, a identidade. É preciso ter cuidado ao atribuir afirmações a grupos sociais específicos; um último problema apresentado é sobre o tipo de atividade, sobre a relação entre o que eles fazem ou dizem nos grupos focais e o que eles iriam fazer ou dizer em outros contextos, sobre em que pensam os participantes quando falam.

Os argumentos de Myers justificam que uma análise cuidadosa das falas, das transcrições, adotando modelos baseados na análise de conversação, pode nos levar a compreensões mais claras sobre os dados coletados de uma pesquisa em ciências sociais. Por um lado, o uso deste tipo de análise permite ao pesquisador aprofundar-se nas categorias criadas pelos participantes da pesquisa e a relevância dada a essas categorias por eles próprios, fornecendo explicações mais claras. Por outro ponto de vista, esta pode ser uma oportunidade para o melhoramento das técnicas de pesquisa, de vez que permite a reflexão sobre a investigação e o lugar do pesquisador dentro dela.

“Ousar em ambientes escolares é quase

um risco. [...]. Inquietar é mexer com paradigmas e aí está o nó da questão”. – Salizete Freire Soares, PROLER - Anais do Módulo Zero.