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6 INTERAGINDO COM OS DADOS

6.4 Estratégias de trato à heterogeneidade no ensino de

6.4.1 Estratégias de agrupamentos dos estudantes

A macrocategoria 2, como foi listado no início deste capítulo, foi relativa às seis estratégias voltadas para as diferentes formas de agrupamento dos estudantes e seus impactos sobre o favorecimento da aprendizagem de todos os estudantes.

Quadro 17: Estratégias de agrupamento dos estudantes

Macro estratégia Estratégia Docente A Docente B Total 2 Estratégias de agrupamentos dos estudantes

2.1 Formar agrupamentos considerando as características comportamentais e afinidades

entre as crianças.

-- -- --

2 Estratégias de agrupamentos dos

estudantes

2.2 Formar duplas ou grupos com crianças

de mesmo nível de conhecimento 01 02 03 2 Estratégias de

agrupamentos dos estudantes

2.3 Formar duplas ou grupos com crianças de diferentes níveis de conhecimento, mas aproximados (agrupamentos produtivos).

-- -- --

2 Estratégias de agrupamentos dos

estudantes

2.4 Formar duplas ou grupos em que uma criança tenha maior domínio do conhecimento

(por exemplo, sendo escriba do grupo).

-- -- --

2 Estratégias de agrupamentos dos

estudantes

2.5 Fazer atividades em grande grupo (coletivas), com situações que possibilitem

a participação de todos os estudantes.

09 01 10

2 Estratégias de agrupamentos dos

estudantes

2.6 Fazer atividade individual que

possibilita realização por todos. 09 09 15 Agrupamentos que não favoreceram a participação de todos. 05 03 15

Totais de atividades 24 15 39

Os dados expostos na Quadro XXX mostram que a docente A realizou atividades em pequenos grupos visando atender à heterogeneidade apenas uma vez. Ela formou um grupo de crianças que possuíam hipótese pré-silábica de escrita e posicionou as crianças na região da sala próxima à seu birô. Dessa forma, a ação docente possibilitou que os estudantes se localizassem numa posição melhor para receberem mais atenção durante a atividade. Nessa aula, a turma realizou a

produção coletiva de um texto escrito a partir de imagens em sequência. O grupo de estudantes que foi formado à frente da turma participou como os demais estudantes. No entanto, não houve alterações na mediação docente ou reflexão sobre o sistema de escrita durante a execução da atividade. A partir do exposto, consideramos que essa estratégia utilizada pela docente não contribuiu para o progresso do estudante em seus conhecimentos rumo à apropriação do SEA, embora a intenção tenha sido de favorecer a participação deles durante a atividade.

O segundo tipo de estratégia de agrupamento que evidenciava algum esforço da docente A de garantir a participação de todas as crianças nas atividades propostas caracterizou-se como 2.5 (Fazer atividades em grande grupo, com situações que possibilitem a participação de todos os estudantes). O exemplo a seguir ilustra este tipo de estratégia.

P: Está faltando cinco. Es (1): Tem seis aí, tia.

P: Onde que tem seis? Conte ali de novo, por favor. Es (1): Um, dois...

P: E aquela primeira palavra nome de pessoa? Es (2): Meninas, ali é meninas.

P: Aqui está escrito o quê? Estudantes: Meninas.

P: Ó, Carla contou com esse nome aqui, esse nome é nome de pessoa? Estudantes: Não.

P: Está escrito que aqui. Estudantes: Meninas.

P: Vamos escrever meninos.

Estudantes e Professora: Me ni nosss. P: Qual é a diferença heim?

Es (1): S O.

P: O que que tem de diferente aqui? Estudantes: S o, S o, S a.

P: Esperem aí, aqui não tem S não? Estudantes: Tem.

P: Qual a diferença? Estudantes: O A e o O.

P: O A e o O, né!? Que indica que é menino e o que é menina.

Aula 02. Docente A.

Essa atividade de contagem dos estudantes presentes e escrita do nome dos estudantes ausentes foi uma atividade com certa regularidade das aulas da docente. Era uma atividade que envolvia a todos e a docente aproveitava para abordar tanto conhecimentos matemáticos (quanto falta para, onde tem mais, onde tem menos), quanto questões relacionada à apropriação do sistema de escrita, por

meio da pergunta sobre como escrever o nome dos estudantes ausentes. Nesse momento, chamava atenção para letra inicial, som inicial, sons mediais e/ou finais. Tomando como foco do dia esses conhecimentos acerca do SEA, a docente contribuiu para que os estudantes que ainda não tinha esses conhecimentos consolidados, avançassem em suas aprendizagens e outras crianças se beneficiassem dos conhecimentos sobre contagem, operações de adição, dentre outros conhecimentos matemáticos.. Esse dado corrobora com o dado encontrado por Silveira (2013), no qual uma das docentes acompanhada pela pesquisadora, também realizava atividades coletivas, contudo, na pesquisa de Silveira (2013) nem sempre a docente conseguia efetivar a participação dos estudantes não-alfabéticos.

A docente A também realizou atividades classificadas na categoria 2.6 (Fazer atividade individual que possibilita realização por todos). Em uma das aulas, por exemplo, ela escreveu algumas palavras no quadro e solicitou que os estudantes lessem e indicassem onde deveriam ser separadas as sílabas. Embora a atividade fosse individual, a professora refletiu sobre cada palavra no quadro, de modo que cada criança, a partir da reflexão feita, poderia ir registrando em seu caderno as respostas às questões.

Já a docente B, propôs atividades em pequenos grupos (2), em grande grupo (1) e individuais (9).

Em relação às atividades em grupos, a professora B, por exemplo, realizou, na aula 08, um ditado. A docente dividiu a sala em dois grupos, o geral e o específico, o grupo geral agregava a maioria da turma e a docente ditou palavras com diversidade de formação silábica (CV, VC, CVC, CCV...), já para o grupo específico, que agregava quatro estudantes, 80% das palavras que a docente ditou tinham a formação silábica CV.

P- Posso começar? Eduarda, bota a data lá!

A primeira palavra é ANIMAL. Menos Janaina, Bianca e Felix. Para vocês eu vou colocar outra palavra.

Para Janaina, Bianca e Felix a primeira palavra é BOLA. Minha gente escreva como sabem!

A segunda palavra é BRASIL.

C: Tia, é com letra minúscula, ou maiúscula? P: BRASIL é nome de que?

C: País!

P: Sei não, viu! Eu não vou nem dizer. Escrevam do jeito que vocês souberem! Não perguntem se é com N, M... Vamos lá continuando?

P: A segunda palavra para Janaina, Bianca e Felix é BONECA. A terceira palavra é DESMATAMENTO.

...

Aula 08. Docente B.

No grupo específico existiam desde estudantes pré-silábicos a estudantes silábico-alfabéticos. Em relação a tal atividade, no entanto, pode-se alertar que, embora a docente tenha formado dois grupos, não houve, de fato, interação entre as crianças, pois, logo após o ditado, a docente chamou alguns estudantes e realizou a correção individual. Desse modo, a atividade assumiu um formato de atividade individual. Em nenhum momento, no decorrer da atividade, a docente informou que era para escrever sozinho, no entanto, como a rotina da turma era de vivência de atividades individuais, os estudantes, tanto o grupo geral como do específico, realizaram a atividade de forma individualizada sem consultar os colegas.

Este e outros dados, portanto, evidenciam que a docente centrava suas aulas em atividades individuais. Em uma delas, por exemplo, a professora passou uma atividade no quadro a ser realizada individualmente. No entanto, as crianças não alfabéticas puderam participar porque ela discutiu coletivamente cada resposta, de modo que as crianças tinham condições de registrar as respostas individualmente. Nesta aula (aula 10), o objetivo era tratar de substantivos, mas as reflexões também foram centradas no registro das palavras, o que favoreceu as crianças que estavam em hipóteses iniciais.

Como dito anteriormente, apenas uma situação em grande grupo possibilitou a participação das crianças não alfabéticas na turma B. Na aula 2, a professora escreveu palavras no quadro e realizou a leitura coletivamente. Ia mostrando os pedaços das palavras e nomeando as crianças que tentavam ler. As que não conseguiam eram auxiliadas durante a tarefa.

No quadro geral dessa macrocategoria se vê que prática de agrupamento em duplas ou grupos para favorecer o tratamento da heterogeneidade foi pouco explorada pelas docentes. Das 24 atividades desenvolvidas pela docente A, ela explorou esse recuso em 1 momento, ainda assim esse agrupamento não implicou em uma mediação diferenciada. A docente B realizou em duas aulas, mas também sem favorecer, de fato, a interação entre as crianças. A realização de atividades coletivas e individuais se sobressaíram no caso da docente A – 09 de cada tipo, e nesses momentos a docente sempre realizava reflexões sobre os sistema de escrita. No caso da docente B, em apenas uma situação houve favorecimento da

participação de todos os estudantes em uma atividade coletiva. A prática recorrente era de atividades individuais.