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6 INTERAGINDO COM OS DADOS

6.3 O tratamento da heterogeneidade no ensino de

6.3.2 Heterogeneidades de percurso escolar

A categoria heterogeneidades de percurso escolar contempla a diversidade dos estudantes em relação ao nível de escolaridade, idade, nível de conhecimento e tipos de conhecimentos. A heterogeneidade quanto aos níveis de escolaridade é características das turmas multisseriadas, turmas, como o nome já faz antever, formadas por estudantes de distintos anos escolares.

A segunda subcategoria desse grupo - idade – diz respeito às diferenças de idade entre os estudantes. Essas são comuns nas turmas multisseriadas mas também ocorrem nos casos de reprovações dos estudantes ou entrada tardia na escola.. Também é comum e influencia bastante as turmas da Educação de Jovens

18 Disponível em: https://www.mdh.gov.br/informacao-ao-cidadao/ouvidoria/dados-disque-100/relatorio-

e Adultos, pois tais turmas podem abranger de jovens com 15 ou 16 anos até idosos.

A terceira subcategoria refere-se aos diferentes níveis de conhecimento. Essa subcategoria foi a mais contemplada neste estudo. Em todas as aulas observadas das duas docentes, existiram atividades que visaram fomentar conhecimentos nos estudantes e atender a heterogeneidade de níveis de conhecimento da turma.

A presente pesquisa aborda, especificamente, os diferentes níveis de conhecimento acerca do Sistema de Escrita Alfabética, e os diferentes níveis conhecimentos acerca da produção de textos escritos. Nesse sentido, destacaremos algumas atividades de conduções das docentes a título de exemplo. Retomaremos brevemente algumas atividades das docentes, a título de exemplo, e argumentaremos acerca do que nos leva a identificar a intervenção como sendo um caso de tratamento da heterogeneidade de níveis de conhecimento.

Os estudantes do primeiro ano (docente A), na aula 01, jogaram o jogo da memória com imagens recortadas do livro didático de português. Após esse momento, realizaram a escrita do nome das figuras da forma como sabiam. Após os estudantes realizarem a escrita, a docente fez as intervenções descritas a seguir:

P: Vamos lá, qual foi o par de objetos que a gente escreveu primeiro? Estudantes: Geladeira.

P: Observem a forma de escrita aqui. Tia Flora vai escrever aqui, vamos ver Ge la deira. Não apague, não, olhe aí o de vocês, como está escrito, passem um tracinho, escreve do lado.

Es (1): Eu escrevi.

P: Escreve como tia Flora está escrevendo. Se está igual, tá igual? Estudantes: Não.

P: Olha direitinho pra ver se tem todas as letras, ge la dei ra, ok? Qual é o próximo? Estudantes: Televisão.

P: Te le vi são. Es (1) Esqueci do E.

Es (5): Tia está certo o meu televisão.

P: Quem precisa escrever a palavra aqui ó, escreve. Quem escreveu alguma coisa não é para apagar. Escreve do lado, Maria Coralina não é para apagar. Passa um traço e escreve do lado. Escreva aqui meu bem, a primeira palavra, geladeira. Olhe direitinho, se você escreveu a palavra certa? Se a primeira letra está certa, que letra é essa?

Es (8): G.

Es (1): É de novo?

P: Olhe direitinho, você precisa escrever de novo? Se está certo... Es (1): Balança a cabeça em sinal de positivo.

P: Tem certeza? Olhe as letras, olha se não está faltando algumas coisa nessa letra, está igual Jhoanna? Essa letra, está igual está?

Es (1): Está.

P: Não está. Tá assim ó (escreve E espelhado no quadro como a estudante fez). E esta aqui, veja se essa aqui tem aí.

P: É aí bonita? Não é para apagar. Se você apagar, eu vou guardar seu caderno. (para a estudante 1).

P: Agora qual é o outro objeto que está embaixo? Estudantes: Câmera.

P: Câaamera. Paulo Pereira, você está apagando? Es (9): Não.

P: Olhem o que vocês escreveram. Observem, Jhonn, você está observando? Olha aqui, veja se você escreveu como tia Flora. Vejam se está faltando alguma letra. A escrita está igual. A escrita está igual a de vocês?

Estudantes: Está. Não. Sim.

P: Está muito diferente? A primeira leitura, é a mesma, e a próxima? E qual a atua? Não sei o nome, que eu não estou vendo. Diga o nome da letra.

Es (5): J.

P: Assim, assim você fez? Você fez câmera assim? Foi assim? Foi essa letra que você colocou? J com A?

Estudantes: Já. Es: Janera. (risos).

P: Jaamera? Coloca do lado então, escreva certinho, do lado, escreva do lado.

Aula 01. Docente A.

A atividade propiciou a escrita espontânea. Então, estudantes com diferentes níveis de conhecimentos escreveram da forma que sabiam. Ao escrever a palavra de forma correta no quadro e marcar a pauta sonora, a docente propiciou que estudantes com nível silábico de escrita pudessem perceber, por exemplo, que no interior daquela sílaba que ele grafou com uma letra, existe outra letra que também precisa ser grafada para que o som seja notado de forma correta. O mesmo poderia ocorrer com o estudante que tinha hipótese silábico-alfabética. Com um estudante alfabético, poderia ocorrer o esquecimento, troca de letras ou o espelhamento de letras - como ocorreu -. A intervenção realizada pela docente e a atividade contribuíram para que a estudante ficasse mais atenta à grafia correta da letra ou a perceber que ainda que os sons sejam parecidos, certos sons devem ser grafados com um letra específica. Pelo exposto, consideramos que a atividade e a mediação realizada pela docente atenderam à heterogeneidade de níveis de conhecimentos acerca do sistema de alfabético de escrita.

Na aula 10, a docente A e os estudantes construíram uma tirinha de Natal. Como atividade introdutória para essa escrita, os estudantes com o auxílio da docente realizaram a leitura de uma história em quadrinho presente no livro didático. Abaixo vemos como a professora realizou a mediação.

Atividade no livro p. 133 (história em quadrinhos, tamanho não é documento). Vamos colocar a data 6/12/2017

P: Quem conhece, quem já leu, quem já viu um gibi? Es: Não.

se eu consigo trazer um pra mostrar pra vocês. Es: Já.

Es 2: Eu já li um gibi da Mônica. Eu tenho um gibi da Mônica. P: Pronto quem tiver gibi em casa pode trazer amanhã? Es 2: Eu tenho.

P: Pronto. \Pode trazer amanhã? Es: O tia, o que é gibi?

P: É um livrinho de história, mas as histórias são contadas através dos balõeszinhos diferentes. E o texto é diferente O texto igual esse daqui. Dá uma olhadinha.

...

P: Essa história em quadrinhos, o que que tem de diferente? Onde está o texto? Tá escrito onde?

Es: Nooo... No livro.

P: Tá no livro? Tá! Mas aqui dentro, onde é que está o texto? As palavras, a história? Es 2: Nos quadrinhos .

P: Aqui são os quadrinhos Jhoanna. É verdade. Mas as palavras estão exatamente aonde? Es 2: Aqui dentro.

Es 3: Dentro dos quadrinhos .

P: Dentro dos balões. Sem balões não tem história em quadrinho. Tem vários tipos de balões. Deixa eu ver como esse tipo de balão... como é esse tipo de balão?

Es: Nuvem.

P: Tem um balão tipo nuvem, né? Estudantes: É.

P: Sabia que tem até um balãozinho do pensamento? Acho que assim... Você sabia que existia esse balão Zinho do pensamento?

Deem uma olhadinha aí e vejam se eles são parecidos. Es: Não são.

P: Todos terminam assim, ó.

As histórias em quadrinhos são dessa forma. Os balõezinhos servem para a gente escrever o texto. Tem também o texto que ficar fora do balãozinho, mas não é a fala do personagem. Balãozinho serve pra gente escrever a fala do personagem quando um personagem conversa com outro ou então quando personagem está só...

Es: pensando.

P: Pensando. Existe historinha que fica em cima... um texto que fica aqui em cima, contando um pouco da história. Por exemplo, aqui, na história do menino maluquinho, só tem balãozinho não é?

Aula 10. Docente A.

Percebemos que existiam na turma estudantes que já tinham certa familiaridade com o gênero e, por isso, algum conhecimento. Dessa forma, a docente mediava de forma a apresentar aos estudantes conhecimentos acerca do gênero em questão, conhecimentos esses que alguns deles, ou todos eles, ainda não possuíam. Nesse sentido, essa atividade que culminou na produção de texto. É um exemplo de que como a mediação docente atuou sobre a heterogeneidade de níveis de conhecimento dos estudantes.

O trato dos diferentes níveis de conhecimento também foi registrado nas aulas da docente B. Na aula 01, por exemplo, a docente trouxe algumas atividades diferenciadas que visavam promover a apropriação do sistema de escrita e mediou a situação, como podemos ver a seguir.

P: Você vai circular todas as figuras que começam com essa letra aqui (G) depois vai escrever o nome da figura.

Volta para Jenilse.

P: Vamos mudar isso aqui. Ta certo? Primeiro, o que é isso aqui? Es: Gato.

P: Ga....

P: Veja mesmo, venha aqui, aqui. Eu já disse que você, você tem que escutar o que você fala.

P: Você fala como, o que é isso aqui? Es: Gato.

P: Gaaaato. O que tá escrito aqui? Que letra é essa? Es: J.

P: Já, é?

P: Que letra é essa? Es: G.

P: Que letra é essa? Es: A.

P: G com A faz como? Es: Já.

P: Ga. Isso não é um gato? Então G com A faz GA.

P: Como é que você escreve RE? Você tem que escutar o que você fala. Jenilse, veja mesmo, você tem que escutar o som que sai da sua boca. Você fala, gato, GA TO. Como é que você escreve GA RE? Não pode Jeniffer, tem que ter calma. Outra coisa, bora ver aqui... isso é uma?... GAAA RÁ... [se referia a garrafa].

Aula 01. Docente B.

Enquanto os demais estudantes realizavam a atividade de busca de palavras no dicionário, alguns estudantes receberam essa atividade xerocada para realizar e a docente fazia intervenções. Quatro estudantes dos 17 presentes receberam atividades diferentes para realizar e a docente mediava a atividade geral da turma de busca de palavras e se alternava em mediar a realização das atividades por esses quatro estudantes.

Como veremos no capítulo seguinte, essa atividade diferenciada e o atendimento individualizado foram duas estratégias recorrentes nas aulas da docente B para atender à heterogeneidade de níveis de conhecimento dos estudantes. Veremos ainda que existiu certo equilíbrio entre as estratégias usadas pelas docentes.

A seção seguinte encerra esse bloco. Nela, ver-se-á quais tipos de heterogeneidade individuais foram abordadas pelas docentes e como ocorreu a mediação da atividade.