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Estratégias de enfrentamento utilizadas para a prevenção de acidentes domésticos

ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO

5.4.4 Estratégias de enfrentamento utilizadas para a prevenção de acidentes domésticos

Em relação ao ambiente domiciliar dessas mulheres, observou-se recorrência de adequação com ênfase na retirada de objetos perfurocortantes, produtos de limpeza do alcance das crianças e a modificação da estrutura física para a prevenção dos acidentes.

As mães cegas conheciam as medidas preventivas de acidentes domésticos, e a maior parte delas adequou o ambiente de acordo com a necessidade estabelecida por faixa etária.

Os achados que denotam o conhecimento e atitudes das mães cegas nos fez dialogar com a primeira premissa expressa pela teoria do interacionismo simbólico, pois, segundo Haguette (2007), a concepção da sociedade como um processo do indivíduo estão estreitamente relacionados, sendo um aspecto subjetivo do comportamento humano a forma de compreender e de aplicar este conhecimento adquirido no cotidiano. As informações absorvidas pelos indivíduos são provenientes da sociedade e com isso são interpretadas e expressas em ações, que no caso das mães cegas, refletem na proteção do ambiente familiar, implementando medidas de segurança.

Para efeito ilustrativo, ressaltaram que:

“Quando eles estavam nessa fase de perigo, de mexer, de correr, as vezes não sabia muito o que eles estavam fazendo, por exemplo, às vezes eu estava fazendo determinada coisa, então tinha que deixar eles, trancar num lugar que não tivesse nada para mexer, deixar tudo fora do alcance deles, o máximo que eu pudesse. Já peguei em cima de computador, no gabinete do computador em pé, olhando pra janela e assim tantas coisas... Já peguei mexendo na tomada, aí eu colocava o protetor, a fita gomada e mesmo assim, ainda tentavam arrancar... Não tem jeito. Arrastavam o sofá, queriam subir em banco, então assim, era difícil, porque quem tá vendo, as vezes tá fazendo uma coisa e tá olhando e quem não tá vendo tem que estar diretamente com ele, não tem como fazer uma coisa e tá com ele, tem que aproveitar a hora do sono, a hora que estão assistindo TV quietinho, é sempre assim, fazendo uma coisa e indo lá, fazendo outra coisa e indo lá (Orquídea).

“A questão das tomadas, das escadas... Tem a danação de toda criança, mas na verdade tirando a parte do fogão, como ele é elétrico e ela andou apertando, as vezes a gente desliga a tomada pra ela não ficar mexendo nas bocas. Tinha umas tomadas que a gente ia tentar ajeitar porque ela sobre na escada e tem acesso. Só que ela sobe na escada e desce sozinha, ela é muito desenrolada. Com relação a remédio a gente nunca deixa nenhum remédio fácil dela pegar, os objetos cortantes ela também não tem acesso. Com relação ao banho, a gente sempre teve cuidado pra banheira não ficar muito cheia para ela não se afogar, e depois o chuveiro. Ela também não toma banho sozinha, ela fica assim perto (Violeta).

Isso denota uma relação com o que é abordado pela teoria do Interacionismo Simbólico, percebida quando as mães na prevenção de acidentes domésticos utilizavam o conhecimento adquirido na sociedade para desenvolver estratégias e realizar a adaptação do ambiente domiciliar adequando à sua deficiência.

Destaca-se que um dos mecanismos utilizados como percepção das mães para evitar acidentes domésticos é o uso da linguagem, como destacamos na fala a seguir:

“Eu digo, olhe se você for vai se queimar, vai doer e ficar dodói... Digo também que está escuro e ela fica com medo” (Tulipa).

Diante da preocupação das mães cegas para adequar o ambiente doméstico, algumas apresentaram limitações e dificuldades para esta adequação. Três mães relataram não se atentar à adequação do ambiente, por terem auxílio de terceiros desde o nascimento da criança:

“Minha mãe ajuda mas, quando estou só com meu filho, sempre me preocupo de deixar a casa limpa, tenho muito cuidado quando vou colocar ele em algum canto, passo sempre a mão antes. Não utilizo coisas de vidro, nem objetos muito pequenos porque tenho receio que ele coloque na boca” (Rosa).

Mesmo com esta preocupação, aconteceram acidentes dos tipos: quedas da cama, do andador infantil, de escada, choque elétrico, queimaduras e cortes diversos.

Evidenciamos que as mães que residiam sozinhas demonstraram um bom conhecimento quanto às medidas preventivas e se mostraram mais preocupadas com os cuidados quando comparadas com as que tiveram ajuda de familiares ou funcionários desde o puerpério.

Esse fato também foi evidenciado no estudo de Pagliuca, Uchoa e Machado (2009) que apontaram a prevenção dos acidentes domésticos como: manter em local adequado materiais de limpeza, produtos tóxicos e cáusticos e as crianças longe do fogão, de janelas e escadas. A prevenção de acidentes faz parte da habilitação das pessoas cegas nas atividades da vida diária e os primeiros socorros podem ser ensinados com tecnologia educacional adequada.

No estudo supracitado, foram encontradas dificuldades no banho como: insegurança sobre a temperatura da água, ocorrência de acidentes e produtos a serem utilizados na higiene da criança. A alternativa das mães para solucionar essa barreira foi suprida pelos sentidos do tato e do olfato e da organização da disposição dos utensílios e medidas de segurança que transmitiam autoconfiança à mãe e preservavam o estar da criança.

Segundo Souza e Barroso (1999) o contexto do acidente inclui todos os níveis de prevenção. Desde o primário, com programas educativos e medidas de segurança, o secundário, tratando eficazmente e minimizando sequelas físicas, emocionais e sociais, e o terciário, reabilitando e reintegrando a criança e seus componentes físicos e socioculturais no contexto familiar e na sociedade.

Os achados evidenciaram o conhecimento e a mobilização de esforços das mães cegas para a adequação do ambiente domiciliar como estratégia de evitar acidentes domésticos, o que reforça o enfrentamento como um processo ou uma interação entre o indivíduo e o meio ambiente. As estratégias utilizadas inserem-se numa forma de cuidado consciente e com limitações existentes no desenvolvimento e interpretações das ações pelas mães.

A partir dos relatos e observando as características do ambiente domiciliar, evidenciou-se que a vida da família representa um processo de formação, sustentação e transformação de objetos na medida em que seus sentidos se modificam. O ser humano é capaz de fazer indicações para si mesmo e isto significa que, ao confrontar-se com o mundo de objetos que os rodeia, ele deve interpretá-lo a fim de agir, construindo um guia de ação à luz dessa interpretação (HAGUETTE, 2007).

O tipo de ajuda prestada pelo marido adquire uma clara condição de acontecer ou não, diferentemente da ajuda de familiares, que se apresenta sob uma diversidade de nuances. Nos casos em que o marido assume a postura de cuidador, esta é somada ao seu papel de provedor da casa:

“Ele é um super pai e também excelente marido. Ajuda nos cuidados com a minha filha, troca fralda, dá banho e também me ajuda nos afazeres domésticos.” (Violeta) “Ele nunca deixou faltar nada, quando dá ele ajuda. Na maioria das vezes já chega cansado do trabalho e não tem muita disposição.” (Tulipa)

A ajuda prestada por familiares e vizinhos para as mulheres cegas também tem grande relevância para elas, sendo um dos fatores que as encorajam para enfrentar as situações delicadas impostas pela vida. Uma das mães entrevistas fez o seguinte relato:

“Sempre a gente fez tudo. A gente tem uma pessoa conosco agora pelo fato de que agora eu trabalho e estudo. Minha filha fica um turno na escola e o outro com essa pessoa. Mas tudo que é preciso fazer com ela, a gente sozinho é quem faz. Às vezes pra dar um remédio, a gente pede ajuda pra moça que trabalha aqui. Pedimos pra ela deixar tudo pronto, a gente só faz dar... Ela deixa na seringa já preparado. Minha mãe ficou comigo até ela ter 15 dias de nascida, depois a gente começou a fazer tudo, enquanto ela estava aqui a gente não estava se apropriando de todas as funções. Não tem aquela história de esperar o umbigo cair, mas quando ela foi, a gente começou a fazer tudo e eu não sabia de nada, não sabia colocar uma fralda, não sabia nem segurar direito. Mas foi uma coisa tão rápida, acho que a necessidade fez com que rapidamente a gente conseguisse dominar bem” (Violeta).

Essa autonomia que as mães conseguem conquistar, mesmo sem o apoio dos familiares, é aprimorada de acordo com a relação do homem com o ambiente e ocorre independente do contexto em que está inserido.

Estudo anterior aponta a prevenção dos acidentes domésticos como: manter em local adequado os materiais de limpeza, produtos tóxicos e cáusticos, e as crianças longe do fogão, de janelas e de escadas. A prevenção de acidentes faz parte da habilitação das pessoas cegas nas atividades da vida diária, e os primeiros socorros podem ser ensinados com tecnologia

educacional adequada (PAGLIUCA, UCHOA e MACHADO, 2009). Este estudo revelou, ainda, que as mães enfrentam dificuldades no banho como: insegurança sobre a temperatura da água, ocorrência de acidentes e produtos a serem utilizados na higiene da criança. A alternativa das mães para enfrentar essa barreira foi suprida pelos sentidos do tato e do olfato, além da organização da disposição dos utensílios e a tomada de medidas de segurança que transmitem autoconfiança à mãe e preservam o bem-estar da criança. Dessa forma, acrescenta-se que a estratégia de adaptação do ambiente é uma alternativa de enfrentamento da situação perante as suas deficiências (PIZZATO,2007).

Embora a abordagem seja com filhos de mães cegas, que podem estar mais vulneráveis a acidentes, mesmo não havendo um estudo comparativo que enfatiza acidentes com os filhos de mães cegas, sabe-se que, no grupo de crianças e adolescentes, os acidentes e as violências são de considerável importância. Nestes grupos, as mortes por estas causas representam em média 20% do total de óbitos anuais por causas externas em Fortaleza, Ceará, Brasil, sendo a primeira causa de morte em crianças a partir dos cinco anos de idade (PORDEUS, FRAGA e FACÓ, 2003).

5.5. As condições intervenientes ao fenômeno: “Ser mulher e mãe cega: dos