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Estratégias Nacionais de Acolhimento

Capitulo 3. Portugal solidário? estratégias nacionais de acolhimento

3.2. Estratégias Nacionais de Acolhimento

Em 2015 e Europa assistiu à maior migração em massa, sendo que mais de um milhão de pessoas solicitou asilo na U.E., maioritariamente em fuga de conflitos armados e chegaram à Europa através de arriscadas travessias do Mar Mediterrâneo. A Agenda Europeia para as Migrações52 (AEM), apresentada pela Comissão Europeia (CE) a 13 de maio de 2015, refletiu esta preocupação, designadamente ao nível da resposta imediata, propondo a implementação de um sistema de recolocação dentro da própria U.E. em resposta a este fluxo migratório. Em maio de 2015, a Comissão propôs recolocar, durante os 2 anos seguintes, 40.000 pessoas a partir da Grécia e Itália (países sob maior pressão migratória), para outros Estados-Membros da U.E. Em setembro de 2015, o Conselho adotou ainda duas decisões que estabeleceram um mecanismo excecional de recolocação de mais 120.000 requerentes de proteção internacional para outros Estados-Membros da U.E. até setembro de 2017 (ACM, 2017).

A resposta nacional ao plano de recolocação europeu incidiu essencialmente na colaboração e apoio em matéria de gestão dos fluxos nos países de entrada desses fluxos – Grécia e Itália – e na assunção da responsabilidade de acolher requerentes de proteção internacional no quadro das figuras de reinstalação e recolocação, num total de 4.574 até Setembro de 2017. Em termos nacionais, do ponto de vista quantitativo, refira-se o acréscimo significativo em 2015 do número de pedidos de asilo face ao ano anterior (+100,4%), registando- se 896, com o reconhecimento de 33 status de refugiado e a concessão de 161 títulos de autorização de residência por razões humanitárias (SEF, 2015). Já em 2016 verificou-se o aumento de 64,0% nos pedidos de asilo face ao ano anterior, registando-se 1.469 pedidos, com

52 A saber, a “Agenda Europeia para as Migrações” (AEM) proporia mais especificamente, entre outras

medidas, “ativar o sistema de emergência previsto no artigo 78, nº 3, do Tratado a fim de assegurar uma melhor distribuição dos requerentes de asilo por toda a Europa”, criando assim o atual programa de recolocação da União Europeia (UE). A recolocação consiste assim na transferência de requerentes de proteção internacional entre Estados Membros da União Europeia, como medida de solidariedade entre estes para aliviar os sistemas de asilo mais sobrecarregados. Depende de acordo do Estado-Membro e do refugiado e concede um estatuto formal, geralmente o de refugiado com autorização de residência. 3 “Solidariedade Europeia: Sistema de recolocação de refugiados” (http://ec.europa.eu/dgs/home- affairs/what-we-do/policies/european-agenda-migration/background-information/

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o reconhecimento de 104 status de refugiado e a concessão de 267 títulos de autorização de residência por razões humanitárias (SEF, 2016).

De forma a dar vazão ao acréscimo de solicitações de asilo verificado nos últimos 15 anos, o governo criou o Grupo de Trabalho para a Agenda Europeia para as Migrações (GTAEM), coordenado politicamente pelo Ministro Adjunto, e tecnicamente pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), de acordo com a Resolução do Conselho de Ministros n.º 5/2016, de 27 de janeiro, de natureza pluridisciplinar, que mobilizou representantes de organismos públicos de diversas áreas, tais como a Direção-Geral dos Assuntos Europeus (DGAE-MNE), SEF, Instituto da Segurança Social (ISS), Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), Direção-Geral da Saúde (DGS), Direção-Geral da Educação (DGE), Alto Comissariado para as Migrações (ACM, I.P.), bem como das autarquias locais e organizações não-governamentais, designadamente o Conselho Português para os Refugiados (CPR), a Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR), a Cruz Vermelha Portuguesa (CVP), a União das Misericórdias Portuguesas (UMP), a Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS), União das Mutualidades Portuguesas, a Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP) e a Câmara Municipal de Lisboa (CML) (SEF, 2015).

No âmbito de trabalho deste grupo, foi desenhado um plano de ação para a plena integração dos refugiados em Portugal. A 28 de Setembro de 2015 foi assinado um Memorando de Entendimento entre o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) e a Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP), com vista a reforçar e a apoiar a resposta do Estado português no acolhimento e integração de refugiados e de indivíduos objeto de proteção internacional em território nacional, sendo os municípios incentivados a manifestarem as suas disponibilidades e a criaram planos locais de acolhimento a refugiados. As cidades de Lisboa e de Sintra são um exemplo de municípios que procederam ao desenho destes planos: a Câmara Municipal de Lisboa tem um Plano de Acolhimento de Refugiados na Cidade de Lisboa com a missão de apoiar no acolhimento, acompanhamento e integração de refugiados. Foram ainda definidos princípios a nível nacional para as entidades que se candidatam a acolher refugiados, no sentido de melhor avaliar as propostas por estas enviadas.

O GTAEM é coordenado pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), responsável pela decisão da aceitação de proteção internacional. O SEF dispõe de um Gabinete de Asilo e Refugiados, responsável por organizar os processos de asilo e emitir pareceres sobre pedidos de recolocação, entre outros. O GTAEM é constituído por representantes de vários organismos públicos, entre os quais destaca-se o Alto Comissariado para as Migrações (ACM), responsável pela monitorização do processo de integração. O ACM dispõe de um Gabinete de Apoio à Integração do Refugiado (GAIR) desde março de 2016, bem como do Programa Mentores, que já existia para os migrantes, mas que passou a incluir também as pessoas refugiadas que necessitam de apoio para a integração. O GTAEM é constituído também por representantes da Direção-Geral dos Assuntos Europeus/MNE; do Instituto da Segurança Social; do Instituto do Emprego e da Formação Profissional; da Direção-Geral da Saúde e da Direção-Geral da

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Educação. Podendo solicitar a participação de representantes das autarquias locais e de organizações não-governamentais, que desempenham um papel central na integração dos refugiados. Atualmente existem diversas organizações engajadas em acolher os refugiados em Portugal, dentre elas: Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR), Conselho Português para os Refugiados (CPR), Cruz Vermelha Portuguesa, Câmara Municipal de Lisboa e a União das Misericórdias Portuguesas, Serviço Jesuíta aos Refugiados, entre outras. Cada uma destas instituições é responsável por um conjunto de entidades locais de acolhimento, que submetem propostas de integração diretamente à instituição, ou através do ACM; ou que são contatadas diretamente pelas instituições e convidadas a participar no programa de recolocação (Rodrigues, 2017).

Através da sensibilização da opinião pública para a temática dos refugiados, a articulação com a sociedade civil e autarquias na recolha de propostas de acolhimento de refugiados, a disponibilização dos serviços dos Centros Nacionais de Apoio à Integração de Migrantes (CNAIM), Centros Locais de Apoio à Integração de Migrantes (CLAIM), bem como do Serviço de Tradução Telefónica (STT) e o apoio prestado pelo Programa Português para Todos (PPT), nomeadamente através da sua versão em e-learning, com vista à aprendizagem da língua portuguesa, dado que as suas versões em sala de aula são competência do IEFP e da Direção Geral dos Estabelecimentos Escolares (DGEstE) almeja-se a plena integração dos refugiados no país.

Como bem observam Costa e Teles (2017), desde o início do programa mais de 100 instituições e 140 autarquias demonstraram disponibilidade em acolher refugiados, num número que ultrapassa claramente o fluxo de refugiados que o país se encontra a receber. Este processo está articulado de forma a permitir o envolvimento do cidadão comum no processo de acolhimento e apoio à integração. A sensibilização e envolvimento da sociedade civil é, portanto, um ponto fulcral na estratégia de acolhimento portuguesa.

O Grupo de Trabalho da Agenda Europeia para as Migrações teve a missão de aferir a capacidade instalada e preparar um plano de ação e resposta em matéria de recolocação de requerentes de proteção internacional provenientes de outros Estados-Membros da UE, bem como a apresentação de relatórios das atividades desenvolvidas, e respetivo acompanhamento e monitorização, conclusões, propostas e recomendações. O Plano Nacional para o Acolhimento e Integração de Pessoas Refugiadas Recolocadas previu a intervenção setorial de cada um dos participantes do Grupo de Trabalho nas seguintes fases: Mapeamento pluridisciplinar e proposta de plano nacional; Acolhimento imediato em território nacional; Integração descentralizada e de base comunitária; Monitorização; Avaliação (ACM, 2017).

Dentre os principais objetivos destaca-se a promoção de um acolhimento que restaurasse a segurança, controlo e independência social, económica e cultural das pessoas refugiadas, satisfazendo as suas necessidades básicas, assim como, facilitar a comunicação e promover a integração na sociedade de acolhimento.

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O Programa de Recolocação é financiado a partir dos apoios financeiros previstos nos artigos 10.º da Decisão (UE) 2015/1523, 14 Setembro e Decisão (UE) 2015/1601, 22 Setembro, bem como no artigo 18.º do Regulamento (UE) n.º 516/201413, que visam cobrir os 18 meses de acolhimento e integração inicial dos cidadãos refugiados recolocados, num montante de 6.000€/pessoa, é objeto de protocolo celebrado entre o SEF e as entidades de acolhimento deste montante, conforme definido pelo GTAEM, parte é entregue, mensalmente, pela entidade de acolhimento, sobre forma de pocket money a cada pessoa (ACM, 2017).

Segundo o relatório da ACM, não obstante as limitações e a complexidade inerentes a um processo desta natureza, acrescida da relativa inexistência de experiência similar no nosso país, os resultados do Programa de Recolocação, até ao momento, são francamente positivos. Do total de pessoas acolhidas em Portugal (1.520):

• 50% dos cidadãos em idade ativa estão integrados em formação profissional ou emprego;

• 98% das pessoas têm acesso à frequência de aulas de língua portuguesa; • 100% das pessoas acolhidas em Portugal tem acesso a cuidados de saúde; • O acesso à educação está garantido a todas as crianças em idade escolar;

• 55% das pessoas que terminaram o período de acolhimento institucional autonomizaram-se, não necessitando de quaisquer apoios complementares. Em algumas áreas, os desafios foram maiores e os resultados estão ainda em consolidação.

Para a efetiva integração dos refugiados no país, consideramos que existe uma estrutura bipartidária, com diálogo entre o governo e a sociedade civil. Assim, torna-se relevante pensar no papel desempenhado por cada ator. O governo Português fornece serviços básicos universais (como saúde e educação), disponíveis à população local. A sociedade civil, representada por instituições públicas (como autarquias e santa Casa da Misericórdia) e privadas (como a CPR ou PAR), recebe o repasse financeiro da União Europeia através do ACM, para a oferta de serviços essenciais, como auxílio à alimentação, cursos para aprendizado do idioma local, cursos profissionalizantes que facilitam a inserção no mercado de trabalho e moradia, entre outros. Porém, ainda que exista uma estrutura arquitetada para facilitar o processo de integração local dos refugiados no país, inúmeros desafios se colocam, sobretudo em termos das condições de vida desses migrantes. Interessa analisar, nessa medida, a estrutura voltada para o acolhimento e integração dos refugiados no país e os resultados alcançados até agora.

3.3 . Acolher para integrar? O caminho traçado por Portugal para ser um país