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1 Agência

Tendo em conta que para a sociologia, ‘agência’ corresponde ao acto do indivíduo se envolver com a estrutura social, como é que o indivíduo constrói a sua auto-representação com o objectivo de adquirir agência? Está o narrador consciente do modo como a sua auto-representação está conforme/inconforme os scripts culturais? (SMITH, WATSON, 2010, p. 235-236).

2 Audiência e remetente

Uma narrativa de vida pode ter múltiplas audiências. Existe uma pessoa, ou pessoas, para as quais o texto é directamente direcionado? Existe uma audiência implícita? Para que tipo de leitor o texto remete? (SMITH, WATSON, 2010, p. 236).

3 Autoridade e autenticidade

É expectável que as narrativas de vida correspondam a relatos de experiências vividas pelos próprios narradores, motivo pelo qual a narrativa pretende manifestar valor de autenticidade (esta minha experiência foi real) mas também de autoridade (eu tenho autoridade para contar esta experiência). De que modo o narrador manifesta a autoridade e autenticidade da sua narrativa de vida? (SMITH, WATSON, 2010, p. 236-237).

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Autor e o momento histórico

Que tipos de dados históricos acompanham a leitura da narrativa de vida? O que significa, historicamente, que o narrador tenha construído a sua narrativa de vida no momento em que foi escrita, publicada e/ou disseminada? Que significados culturais a narrativa adquiriu após ter sido publicada? Como é que a publicação da narrativa transformou o contexto cultural? (SMITH, WATSON, 2010, p. 237-238).

5 Eu

autobiográfico

Importa analisar os múltiplos tipos de eu que fazem parte do eu autobiográfico – histórico, narrador, narrado e ideológico. Quais os factores que marcam a historicidade do narrador (eu histórico)? Qual a história que o narrador procura narrar sobre si próprio (eu narrador)? Quais os elementos que são expressos como caracterizadores do narrador (eu narrado)? Quais as lacunas existentes entre o eu narrador e o eu narrado? De que modo o narrador expressa o contexto socio-cultural de que o eu histórico faz parte (eu ideológico)? (SMITH, WATSON, 2010, p. 238-239).

61 Este anexo corresponde a uma síntese por nós elaborada de um conjunto de estratégias propostas por

Sidonie Smith e Julia Watson numa ferramenta intitulada de tool kit: twenty-four strategies for reading life narratives. Para o acesso à totalidade deste tool kit, Cf. SMITH, Sidonie, WATSON, Julia – Reading

autobiography: a guide for interpreting life narratives. Minneapolis: University of Minnesota Press, 2010,

165 6 Autographics Referente às narrativas de vida expressas sob a forma de banda desenhada (SMITH, WATSON, 2010, p. 239). Não se aplica ao nosso

estudo.

7 Corpo e

corporalização

De que modo o corpo do eu histórico é representado na narrativa de vida (como espaço de doença, de desejo, etc.)? De que modo a fisicalidade do corpo expressa no texto tem impacto no eu histórico? (SMITH, WATSON, 2010, p. 239-240).

8 Coerência e fecho

Existem omissões, contradições, lacunas ou silêncios na narrativa? Se existem, de que modo a identificação destes elementos afecta o modo como o eu histórico é entendido pelo investigador? Qual será o eu narrado que o eu narrador pretende projectar ao integrar estes silêncios na narrativa? De que modo a narrativa é ‘fechada’? Oferece um desfecho final, ou, pelo contrário, abre espaço para ambiguidade? (SMITH, WATSON, 2010, p. 240).

9 Autobiografia colaborativa

É a narrativa de vida resultado de um esforço colectivo? Quais as pessoais envolvidas para a construção da narrativa de vida, e quais os papéis por elas desempenhados (editor, transcritor, entrevistador, etc.)? Estão estas múltiplas ‘vozes’ presentes na narrativa de modo claro, ou, pelo contrário, encontram-se ocultadas? (SMITH, WATSON, 2010, p. 240-241).

10 Ética

Podem-se verificar diversos problemas éticos na escrita e na leitura de narrativas de vida. O narrador revela elementos que podem prejudicar, de algum modo, ele próprio, ou as pessoas que com ele conviveram? Qual a justificação possível para que o narrador tenha revelado tais informações? (SMITH, WATSON, 2010, p. 241).

11 Provas

A que elementos testemunhais o narrador recorre de modo a persuadir o leitor a crer na autenticidade da sua narrativa? Que tipos de provas o narrador inclui na narrativa como formas de testemunhar a autenticidade dos factos narrados (fotografias, transcrições, etc.)? Qual o impacto que possa ter a conclusão de que os factos narrados são, na realidade, falsos? (SMITH, WATSON, 2010, p. 242).

12 Experiência

Em que momentos, e de que modo, o narrador revela aspectos sobre a experiência da auto-narração? O narrador reflecte sobre as dificuldades da experiência de narrar a própria vida? Existem diferentes interpretações da mesma experiência, narrada em diferentes períodos da vida do narrador, capazes de revelar uma evolução/alteração da interpretação de uma mesma experiência? (SMITH, WATSON, 2010, p. 242-243).

13 História dos leitores

Quem foram os leitores da narrativa de vida aquando da sua construção? Actualmente a audiência da narrativa de vida alcança os mesmos leitores daqueles que afectava aquando da sua construção? Quem podia e pode, hoje, aceder à narrativa de vida, como foi disseminada ou ouvida? Como é que a narrativa de vida chegou ao alcance do investigador? E após a intervenção do investigador, quais serão os leitores que a narrativa de vida alcançará? (SMITH, WATSON, 2010, p. 243-244).

166 14 Identidade

Existem múltiplas identidades na narrativa, ou, pelo contrário, existe uma identidade 'dominante'? Quais as características da/s identidade/s incluídas na auto-representação? Quais as diferenças entre a identidade formulada pelo eu narrador, pelo eu narrado e pelo eu histórico? (SMITH, WATSON, 2010, p. 244).

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Conhecimento e auto- conhecimento

Pode ser interessante analisar os métodos de produção de conhecimento gerados pelo narrador no decorrer da sua auto- representação. A narrativa contém diferentes tipos de conhecimento (intuitivo, sobrenatural, místico, simbólico, etc.)? O acto de auto-narração conduz o narrador a produzir novo conhecimento sobre a sua própria vida? Que tipo de conhecimento podem os leitores da narrativa de vida adquirir? (SMITH, WATSON, 2010, p. 244-245).

16 Memória

É o próprio acto de lembrar um tema central na narrativa? Quais as fontes de memória no texto? São os actos de lembrar focados em aspectos íntimos (sonhos, fotografias, histórias de família, genealogia, etc.), profissionais, associados a hobbies? Qual a relação entre os actos de lembrar que ligam a esfera privada com a esfera pública? Qual destas esferas predomina, e de que modo a esfera predominante – pública ou privada – se relaciona com a audiência da narrativa de vida? (SMITH, WATSON, 2010, p. 245).

17 Enredo e tipos de narrativa

Que tipo de narrativa assume a auto-representação? Adquire a forma de bildungsroman, é uma auto-examinação confessional, a história de um indivíduo que alcançou sucesso de modo individual? O enredo da narrativa situa-a em que contexto cultural e histórico? Quais os locais sociais da narrativa (história familiar, sobre crenças políticas ou religiosas, estereótipos culturais)? Qual a relação estabelecida entre o enredo e o tipo de narrativa com a identidade que o narrador pretende fixar na auto-representação? Que formas de storytelling são empregues pelo narrador através do recurso de diferentes formas (poesia, prosa, testemunho) e media (fotografia, transcrições)? (SMITH, WATSON, 2010, p. 245-246).

18 Vidas online

Referente à multiplicidade de formas online de auto-narração, nas quais se incluem blogs, diários online, redes sociais e ambientes de videojogos multiplayer online (SMITH, WATSON, 2010, p. 246-247). Não se aplica ao nosso estudo.

19 Paratextos

O termo paratexto diz respeito aos textos que enquadram o texto principal, apresentando-o, analisando-o e comentando-o ao leitor. Enquadrados no paratexto encontram-se os peritextos (textos dentro do espaço físico do texto principal, como o título, prefácio, sumário, fotografias, bibliografia, etc.) e os epitextos (exteriores à fisicalidade do texto, mas a ele referentes, como recortes de jornal ou críticas ao texto principal). Quais os elementos paratextuais da narrativa de vida? Como é que os epitextos vieram a acompanhar a divulgação da narrativa de vida a nível comercial, online e nos media? Ocorreu alguma alteração do título ou classificação da narrativa de vida? (SMITH, WATSON, 2010, p. 248).

167 20 Relacionamento

Que outros sujeitos habitam no texto? Existe algum sujeito através do qual, para o qual, ou sobre o qual a narrativa de vida é narrada? Quem é esse sujeito, um familiar, amigo, mentor? A voz desse sujeito é revelada de modo explícito ou implícito? Qual o impacto do relacionamento entre o sujeito narrador e os demais sujeitos que integram a narrativa? (SMITH, WATSON, 2010, p. 248).

21 Espaço e lugar

De que modo a narrativa revela um posicionamento social, geográfico, ou geopolítico do narrador? Qual o posicionamento ideológico ou económico do narrador? Quais as fronteiras estabelecidas (ou destabilizadas) entre eu/outro? Existem temáticas associadas à mobilidade de lugar (migração, turismo, exílio)? De que modo a materialidade na qual a narrativa de vida se fixa (folha de papel, livro, blog online, etc.) situa a narrativa? (SMITH, WATSON, 2010, p. 248-249).

22 Temporalidade

É possível identificar o tempo (cronológico) no qual a narrativa de vida fora construída? Em que fase da vida o narrador se auto- representou (adolescência, idade adulta, terceira idade)? No caso de a narrativa ser descontínua, revelando lacunas temporais, qual o impacto da existência destas lacunas, e qual poderá ser a justificação da sua existência? Caso o narrador tenha narrado as mesmas experiências em diferentes momentos cronológicos, quais as diferenças encontradas nas diferentes auto-representações da mesma experiência? (SMITH, WATSON, 2010, p. 249-250).

23 Trauma e escrita terapêutica

A narrativa debruça-se sobre temas associados a memórias traumáticas ou obsessivas enquanto veículo para verbalizar eventos de sofrimento para o narrador? As memórias traumáticas estão associadas a uma dimensão pessoal e/ou política? O narrador discute os efeitos terapêuticos da auto-narração dessas memórias? A leitura de narrativas de vida associadas a trauma têm algum efeito terapêutico no leitor? (SMITH, WATSON, 2010, p. 250).

24 Voz

Embora a ‘voz’ do narrador seja uma, esta materializa-se numa multiplicidade de vozes, numa multiplicidade de tipos de eu (o eu autobiográfico). Existe uma voz 'dominante' na narrativa? O narrador expressa directamente os problemas associados à voz no texto, ao modo como é dada visibilidade/silêncio aos temas narrados? (SMITH, WATSON, 2010, p. 250-251).

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APÊNDICES

APÊNDICE A: