• Nenhum resultado encontrado

Na língua espanhola, há, também, como estratégia de relativização, a relativa padrão, ou seja, os pronomes relativos aparecem para cumprir duas funções: a de nexo subordinante e a função de elemento que modifica ou complementa seu antecedente. Portanto, são unidades bifuncionales (unidades bifuncionais) (BRUCART, 1999, p. 400).

(25)

(a) La idea que has expresado no es compartida por todos50.

Outra estratégia de construção de relativas que coincide com o PB é a da copiadora, ou seja, há a utilização de um pronome relativo e também de um pronome cópia na subordinada. Em E, Brucart (1999, p. 403) considera que, nesta situação, o que ocorre é uma duplicação de relativos, pois, “(...) dentro de la cláusula puede aparecer además un pronombre que reitere la función desempeñada por el relativo51”.

50 Exemplo extraído de La estructura del sintagma nominal: Las oraciones de relativo (BRUCART,

1999, p. 400).

51“(…) dentro da cláusula pode aparecer também um pronome que reitere a função desempenhada

(26)

(a) El atracador, a quien algunos testigos aseguran haberlo visto por la zona anteriormente, entró en el banco a cara descubierta52.

O mesmo fenômeno pode ser entendido também como despronominalização dos relativos. Nessas construções, alguns autores, como o citado a seguir, consideram que

(…) el relativo ha quedado relegado a simple marca de subordinación tras haber perdido su valor propiamente pronominal. Por ello resulta necesaria la aparición de un pronombre dentro de la subordinada que represente la función que, en la variante normativa, debería corresponder al relativo. Un argumento a favor de la tesis de la ‘despronominalización’ lo constituye el hecho de que el elemento que introduce la relativa en estos casos es siempre que, forma desprovista de toda flexión y coincidente con la conjunción introductora de subordinadas completivas53 (LOPE BLANCH,

1986, p.122).

Brucart (1999) entende o fenômeno por duplicação de relativos em vez de despronominalização, tal como faz Lope Blanch (1986). Isso ocorre devido ao seu diferente ponto de vista em relação às funções dos elementos que compõem esse tipo de relativas, pois defende que “(…) dentro de la cláusula puede aparecer además un pronombre que reitere la función desempeñada por el relativo (...)54 (BRUCART, 1999, p. 403). A partir desse ponto de vista, não se admite a perda da função de pronome do relativo QUE, ao contrário, há uma reiteração da função do relativo por outro elemento, que pode ser um pronome ou um substantivo.

Por outro lado, adotando uma terceira posição, Trujillo (1990) considera que essa suposta despronominalização ou duplicação dos relativos não existe, pois um

52 No PB, para o mesmo exemplo seriam possíveis três formas diferentes para expressar o OD:

(a) O ladrão, que algumas pessoas asseguram tê-lo visto pela zona anteriormente, entrou no banco com o rosto descoberto.

(b) O ladrão, que algumas pessoas asseguram ter visto ele pela zona anteriormente, entrou no banco com o rosto descoberto.

(c) O ladrão, que algumas pessoas asseguram ter visto pela zona anteriormente, entrou no banco com o rosto descoberto.

No exemplo (a) temos o OD como um clítico, lo, no exemplo (b), um nominativo tônico, ele, normalmente usado par a função de sujeito, ou, conforme o exemplo (c), temos um OD nulo.

53 “(…) o relativo ficou relegado à simples marca de subordinação depois de perder seu valor

propriamente pronominal. Por isso, é necessário que apareça um pronome dentro da subordinada que represente a função que, na variante normativa, deveria corresponder ao relativo. Constitui um argumento a favor da tese da ‘despronominalizaçao’ o fato de que o elemento que introduz a relativa, nesses casos, é sempre que, forma desprovida de toda flexão e coincidente com a conjunção introdutora das subordinadas completivas” (LOPE BLANCH, 1986, p.122, tradução nossa).

54“(...) dentro da cláusula, pode aparecer também um pronome que reitere a função desempenhada

pronome nunca reproduz ou substitui o seu antecedente. Os pronomes apenas fazem referência aos antecedentes e o fato de acreditar nesse suposto poder de reprodução que teria o pronome relativo é o que possibilita pensar em duplicação e/ou despronominalização. O mesmo autor exemplifica o aspecto não reprodutor nem substituto do pronome com:

(27)

(a) Tienes unas manías que no te las puede aguantar nadie55.

Para o autor, com esse exemplo, é possível demonstrar a “(...) absurda hipótesis de que ese que ‘repite’ a unas manías56”, pois, se fosse assim, facilmente

se consideraria como válida a “(...) extraña estructura ‘básica’ para la cláusula de relativo: ‘nadie te las puede aguantar unas manías’57” (TRUJILLO, 1990, p. 25).

Por tudo o que foi mencionado anteriormente, Trujillo (1990) não considera, tal como faz a tradição gramatical, que esse tipo de construção seja anômala. Aliás, é curioso pensar como se pode considerar uma construção presente e comum no E atual, tanto na literatura como na oralidade, como anômala.

Antes de apresentar a última estratégia de formação das relativas em E, acreditamos na importância de esclarecer que, independentemente da classificação e interpretação que diferentes autores deram ao fenômeno em questão, é a construção em si o foco desta pesquisa, e o fato de usarmos a nomenclatura despronominalização e/ou duplicação, neste trabalho, se deve a que essa forma de ver o fenômeno, acredita-se, é a mais produtiva no contraste do PB (a partir dos estudos de Tarallo, 1983, que desencadearam a preocupação presente neste trabalho) com o E (a partir dos estudos de Lope Blanch, 1986, e Brucart, 1999, autores nucleares para o estudo da questão nessa língua neste trabalho).

Por último, há, também, em E, as chamadas relativas no pronominales, um fenômeno semelhante ao das cortadoras em PB, fenômeno esse que, segundo a NGLE (2009, tomo II, p. 3.359), não passaria de um recurso sintático que “(...) se corresponde bien con la rapidez, la improvisación y la inmediatez, características de

55 Exemplo extraído de Sobre la supuesta despronominalización del relativo (TRUJILLO, 1990, p. 25). 56“(...) absurda hipótese de que esse que repete a unas manías” (TRUJILLO, 1990, p.25, tradução

nossa).

57 “(…) estranha estrutura básica para a cláusula de relativo: ‘nadie te las puede aguantar unas

la lengua oral (...)58” Neste tipo de construção, não aparece “(...) el vínculo necesario para conectar la subordinada con su antecedente, lo que precisa de menos operaciones sintácticas, al menos manifiestas59”, como se pode ver em:

(28)

(a) (...) el abogado que hicimos el acuerdo.

(b) (...) unos muchachos que ella todavía no se había hecho amiga60.

Nos exemplos acima de relativas no pronominal, verifica-se o uso de um QUE sem a preposição con e o artigo el (con el que), no exemplo (28a) e con los que, no exemplo (28b), necessários para a formação de uma relativa considerada padrão. Encontram-se alguns exemplos deste tipo de relativização em E, porém, acreditamos que este fenômeno ainda tenha seu uso mais restrito do que no PB. No entanto, não dispomos até o momento de estudos descritivos e quantitativos, feitos a partir de corpora tanto de língua escrita como de língua oral, que permitam fazer uma afirmação segura a esse respeito.

Antes de que passemos para a próxima etapa, na qual observaremos o papel e as características do antecedente nas construções relativas, com foco nas construções duplicadas do espanhol, apresentamos, com o objetivo de fechar o item três da nossa dissertação, um resumo dos processos de relativização no PB e no E.

PORTUGUÊS BRASILEIRO (PB) ESPANHOL (E)

RELATIVA PADRÃO

SIMPLES

RELATIVA PADRÃO

ESTÁNDAR

PIEDPIPING PIEDPIPING

RELATIVA COPIADORA RELATIVA DESPRONOMINALIZADA RELATIVA DUPLICADA

RELATIVA CORTADORA RELATIVA NO PRONOMINAL

58“(…) se corresponde bem com a rapidez, a improvisação e a imediatez, características da língua

oral (...)” (NGLE, 2009, tomo II, p. 3.359, tradução nossa).

59“(…) o vínculo necessário para conectar a subordinada com seu antecedente, o que pede menos

operações sintáticas, ao menos manifestadas” (NGLE, 2009, tomo II, p. 3.359, tradução nossa).