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O processo de determinação e indeterminação nas relativas em E

6. Alguns dos possíveis “culpados” nas construções relativas não padrão

6.3. O processo de determinação e indeterminação nas relativas em E

O segundo fator que pode contribuir para o fenômeno da duplicação de relativos e que, acreditamos, é de grande importância para nosso estudo, é a determinação e indeterminação nas relativas, outro aspecto que estaria altamente relacionado com a inversa assimetria entre essa língua e o PB e que poderia influenciar muito nas escolhas feitas pelos aprendizes brasileiros de ELE.

Para Trujillo (1990), não faltam exemplos que comprovem que o aparecimento de um pronome clítico juntamente com o relativo QUE nas orações restritivas não é apenas abundante, mas sim, a construção preferida pelos usuários da língua espanhola.

(66)

(a) Nos encontramos con unas viviendas que las habían ocupado los inmigrantes.

(b) Buscábamos unos libros que ya los había leído todo el mundo. (c) Eran unas casas que no las quería nadie.

(d) No eran unos cuadros que los vendieran en cualquier parte. (e) Allí estaba el escritor que le dieron el premio.

(f) Era la joven que le habían buscado una silla en el salón.

Para o autor, a probabilidade do aparecimento dessas construções varia de acordo com o diferente grau de determinação dos antecedentes (sublinhados) na duplicação com objeto direto, exemplos (66a, b, c, d), e a possível ambiguidade de significado da subordinada. Tais aspectos contribuem para a afirmação de que não são construções anômalas; tampouco se deve acreditar em uma possível perda de função do relativo, ao contrário, essas construções devem ser consideradas comuns e, às vezes, necessárias.

Nas orações relativas restritivas, é interessante observar que, segundo Trujillo (1990), quando a função do antecedente na subordinada é a de objeto indireto, exemplos (66e, f), essa suposta duplicação ou despronominalização, muitas vezes, tem maior uso e aceitação do que a relativa padrão. Como ocorre também nos exemplos abaixo:

(67)

(a) Hay gente que le gusta vivir así. (b) Hay gente a la que le gusta vivir así.

Tais enunciados, conforme mencionado, são mais comuns em E, e até considerados obrigatórios, ao contrário da relativa supostamente correta (68a).

(68)

Segundo Trujillo (1990, p.37), “(...) Le, les anafóricos ocurren con frecuencia con el artículo precedido de a ante el relativo, y en ciertas ocasiones, como sucede con verbos del tipo gustar, agradar, su presencia resulta obligatoria125”.

Isso ocorre porque le é um pronome de objeto indireto e, portanto, está em um segundo plano da complementação verbal. A anáfora com le é vista apenas como uma alusão redundante do antecedente e pode aparecer tanto na restritiva quanto na explicativa, sem grandes restrições gramaticais, ainda que, normalmente, a duplicação ocorra com maior frequência nas restritivas. Portanto, a suposta duplicação do objeto indireto não está estritamente relacionada com o grau de determinação do antecedente, haja vista os exemplos (66e, f) com antecedentes [+determinados]. Tal aspecto remete à maior aceitação e liberdade para duplicar o objeto indireto (OI) em relação ao objeto direto (OD) para todo o tipo de enunciado.

Resumindo, os complementos de OI não produzem nenhum tipo de integração semântica e constroem uma referência externa à oração principal. Por outro lado, os complementos de OD, nas relativas, têm a função de integrar o verbo subordinado e o antecedente, formando uma só unidade semântica.

Ainda segundo Trujillo, o pronome anafórico de OD (lo/los/la/las), normalmente, aparece apenas nas relativas explicativas porque, como o próprio nome diz, faz parte diretamente do conteúdo do verbo, implica e repete o significado verbal, ou seja, representa uma reprodução total do antecedente e do seu grau de determinação na subordinada, o que exige, obrigatoriamente, que seja uma relativa explicativa. Contudo, pode aparecer nas relativas restritivas juntamente com o pronome relativo QUE se o seu antecedente não estiver totalmente determinado.

(69)

(a) Compró un libro que se lo había recomendado su profesor.

No exemplo (69a), o pronome anafórico lo não substitui o antecedente, un libro, que não está totalmente determinado, ao contrário, seu papel é retomar e definir um antecedente que, na subordinante, tinha um grau menor de determinação. Como explica Trujillo (1990, p. 39), “(...) en muchos casos puede suceder que

125“(…) Le, les anafóricos ocorrem, com frequência, com o artigo precedido de a antes do relativo, e

em certas ocasiões, como acontece com os verbos do tipo gustar e agradar, sua presença é obrigatória” (TRUJILLO, 1990, p.37, tradução nossa).

alguna ambigüedad u oscuridad del sentido favorezca la aparición del complemento directo anafórico: parece preferible, por ejemplo, ‘era un hombre que no lo conocía nadie’ que la supuesta correcta126”.

Segundo Flórez (1992, p. 272), o mais importante nas orações relativas explicativas, se não se quer quebrar a coerência, é que o falante tenha como específico o referente da expressão que funciona como antecedente. Nesse tipo de construção, não importa se a referência é definida ou indefinida, pois, independentemente do grau de determinação do antecedente, não se pode explicar algo que não esteja especificado previamente na mente do falante, no sentido de pressupor sua existência no momento da enunciação.

(70)

(a) Un amigo que conociste en Madrid quiere verte. (b) Un amigo, que conociste en Madrid, quiere verte. (c) El amigo que conociste en Madrid quiere verte. (d) El amigo, que conociste en Madrid, quiere verte.

É importante ressaltar, também, que a duplicação com um pronome anafórico na função de sujeito, em relativas restritivas, adquire, normalmente, um valor enfático e que “(...) resulta raro como especificativo pero no imposible127 (TRUJILLO, 1990, p.39).

Para finalizar essa etapa, é importante ressaltar que a determinação e/ou indeterminação do antecedente nas relativas é um aspecto que pode contribuir para o fenômeno da duplicação, e este aspecto está totalmente relacionado com a tipologia das relativas (explicativas e restritivas) para que essa duplicação ocorra com maior ou menor frequência.

126 “(…) em muitos casos pode acontecer que alguma ambiguidade ou falta de clareza no sentido

favoreça o aparecimento do complemento direto anafórico: parece preferível, por exemplo, ‘era un hombre que no lo conocía nadie’ que a suposta correta” (TRUJILLO, 1990, p.39, tradução nossa). 127 “(...) é incomum como especificativo, mas não impossível” (TRUJILLO, 1990, p.39, tradução