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4 SOBREJORNADA DE TRABALHO, FATORES DE RISCO E O

4.1 Estresse ocupacional

Esse é o primeiro fator a ser apontado, que por sua vez é figura carimbada nos empregados sujeitos as longas jornadas de trabalho, ao mesmo tempo em que é fator de risco que favorece ao desenvolvimento de DCV.

A relação entre o trabalho e desenvolvimento de doenças cardiovasculares está sendo bastante retratada em recentes evidências epidemiológicas onde apresentam que os fatores psicossociais do trabalho influenciam intensamente na morbimortalidade cardiovascular, predispondo ao infarto agudo no miocárdio (ROZANSKI et al., 2005; ROSENGREN et al., 2004).

Os fatores psicossociais são definidos pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) como aqueles que se referem à interação entre o meio ambiente laboral, o conteúdo do trabalho, as condições organizacionais, e as necessidades e habilidades dos trabalhadores. Entre esses fatores pode- se destacar: a estabilidade no emprego, o salário, as relações sociais no trabalho, a carga e o conteúdo do trabalho com seus desafios, o ambiente físico, a autonomia, a oportunidade de desenvolvimento profissional, o reconhecimento e a valorização profissional (WHO, 1984).

Dessa forma, os fatores psicossociais estão intrinsicamente interligados ao ambiente de trabalho, e condições como conquistas, oportunidades, sobrecarga e a adaptação, influenciam diretamente na saúde psicológica do trabalhador.

O estresse é definido por Lentine, Sonoda e Biazin (2003, p.103) como “a resposta fisiológica, psicológica e comportamental de uma pessoa, visando adaptação a mudanças ou situações novas, geradas por pressões externas ou internas”.

Nessa linha de pensamento, o estresse, de maneira genérica, é conceituado como um estado físico, psicológico e comportamental que atinge as pessoas que

estão diante de situações não habituais ou não corriqueiras. Desse modo, na busca pela adaptação a tais situações adversas, a demasiada cobrança feita pela própria pessoa ou por terceiros conduz ao aparecimento do estresse.

Os autores acima ainda pontificam que o estresse ocupacional é aquele que está associado a profissionalização e a evolução da sociedade, sendo assim, cabe ao trabalhador administrar as obrigações profissionais e saber conduzir as situações conflituosas ocasionadas pela sociedade e pelas pessoas. (LENTINE, SONODA e BIAZIM, 2003)

Dessa forma, o estresse ocupacional esta, intimamente, relacionado ao ambiente de labor e as relações sociais dos homens, já que é de competência do trabalhador lidar com suas responsabilidades no trabalho e lidar com as dificuldades e os conflitos que as relações sociais naturalmente ocasionam. Portanto, o estado de estresse ocupacional ou profissional ocorre mediante correlação entre trabalho e vida social do empregado, cujo quando desequilibrada está a administração dos dois ambientes, tal estado de estresse acomete a figura do trabalhador.

No mundo industrializado e globalizado, os trabalhadores estão cada vez mais expostos a empenhos especiais de adaptação, de modo que a consequência desse ritmo acelerado da informatização é o aumento das situações estressoras. (OLIVEIRA, 1996, p. 150)

Em conformidade com o pensamento do doutrinador acima, as situações com elevado potencial estressor estão cada vez mais frequente no ambiente de trabalho, ao passo que a aceleração do ritmo de trabalho tem exigido mais dos trabalhadores para que estes se adaptem as novas tendências de informatização do trabalho.

É de significativa relevância iniciar, a exposição dos principais fatores de risco das doenças cardiovasculares, pelo estresse laboral, uma vez que Tamayo (2004) destaca que tal condição não é uma doença, porém corresponde a fator que predispõe o organismo do trabalhador ao aparecimento de variadas formas de enfermidades. Desse modo, o estresse se manifesta por meio de sintomas como dores de cabeça, palpitações, dores lombares, suor, medo, aceleração do batimento cardíaco, dentre outros sintomas.

O estresse ocupacional compõe um dos vários fatores de risco relacionados ao aparecimento das doenças cardiovasculares nos trabalhadores. Nesse diapasão, Sardá Jr, Legal e Jablonski Jr (2004, p. 38) pontificam que:

As doenças ocupacionais geram custos e danos para as organizações e os trabalhadores, quando não se desenvolve um ambiente de trabalho adequado, que propicie o bem estar. Reinhold (1985) define estresse ocupacional como um estado desagradável decorrente de aspectos do trabalho, que o indivíduo considera ameaçadores a sua auto-estima e ao seu bem-estar. Ambientes que favorecem o contato com fatores estressantes _ como, por exemplo, excesso de atividades, longa jornada de trabalho, pressões, medo de perder o emprego _, podem acarretar adoecimento e absenteísmo. Conforme apontado por Figueroa (2001), os elementos percebidos na situação de trabalho podem agir como estressores e podem conduzir a reações de tensão e estresse. Se os estressores (por exemplo: ambigüidade de funções, conflito de funções, incerteza com respeito ao futuro no trabalho) persistirem, e se os indivíduos perceberem sua potencialidade de confrontação como insuficiente, então poderão produzir-se reações de estresse psicológicas, físicas e de conduta, e desta maneira, levar eventualmente à doença e ao absenteísmo (SARDÁ Jr; LEGAL: JABLONSKI Jr, 2004, p.38).

Dessa forma, é de notório conhecimento que as situações estressoras no ambiente de trabalho são proporcionadas pelo ritmo de trabalho demasiadamente intenso, com inúmeras atividades e responsabilidades para o trabalhador, e assim a continuidade de tais situações de estresse, favorece o desenvolvimento de doenças e do absenteísmo.

O ambiente de trabalho e as relações nele existentes proporcionam o aparecimento do estresse na organização. Dessa forma, fatores como as jornadas de labor extenuantes e cansativas, condições de trabalho insalubres ou perigosas, cansaço físico e emocional e flexibilização de horários de trabalho com divisão de turnos são alguns dos problemas que contribuem para o desenvolvimento do estresse ocupacional. (GUIMARÃES & FREIRE, 2004; COUTO, 1980; CODO, SORATTO & VASQUES-MENEZES; TAMAYO, 2004)

O estresse ocupacional é gerado pelas características das jornadas de trabalho intensas quanto as horas de labor e quanto as atividades extenuantes prestadas pelo trabalhador, logo evidenciado esta que o estresse também pode ser ocasionado pela natureza do trabalho prestado.

Para explicar a correlação que existe entre estresse ocupacional e aparecimento de DCV, o primeiro atua no organismo humano de modo indireto, proporcionando padrões de vida não saudáveis como o tabagismo, o sedentarismo e desequilíbrio alimentar (BERKMAN, 2005; EVERLY, 2002; McEWEN, 1998) e de maneira direta, através de uma disfunção do eixo hipotálamo-hipofisárioadrenal (CHANDOLA et al., 2008; HMAER; MALAN, 2010) e hiperatividade do sistema nervoso autônomo (SNA), conduzindo à liberação descontrolada de catecolaminas,

que causa danos ao desempenho vascular, proporcionando a atividade simpática elevada inapropriada (LUCINI et al., 2007).

Assim sendo, o estresse profissional que atinge os trabalhadores produz efeitos decisivos para o surgimento das doenças cardiovasculares, de modo que, indiretamente, o estresse modifica o estilo de vida dos trabalhadores, os conduzindo a prática de atos não saudáveis, e, diretamente, quando interfere negativamente no desempenho do sistema nervoso autônomo.

Nesse diapasão, muitos doutrinadores confirmam que o ambiente de trabalho é uma geradora importante de estresse, impulsionando o número de profissionais acometidos pelas DCV (ELLER et al., 2009; KRISTENSEN, 1989; VRIJKOTTE et al., 1999).

Tanto que o local de trabalho pode ser idealizado como uma usina produtora de situações estressoras, corroborando decisivamente para o fortalecimentos do índices de trabalhadores acometidos por doenças cardiovasculares.

É importante destacar que novas ideias de pesquisa investigam outros fatores associados ao trabalho que estão interligados ao desenvolvimento de DCV, como carga de trabalho, turno de trabalho e jornada de trabalho. Quanto a jornada, esta condiz ao lapso temporal de exposição do trabalhador à elevada exigência no trabalho. Entre os empregados japoneses há um fenômeno conhecido por Karoshi, que retrata a morte súbita por excesso de trabalho, que está se tornando comum, muito embora as evidências epidemiológicas sejam limitadas (IWASAKI et al., 2006). Os Resultados de uma investigação feita com trabalhadores japoneses demonstram que a carga de trabalho superior a 11 horas por dia aumenta o risco de Doença Isquêmica Coronária (DIC) (SOKEJIMA; KAGAMIMORI, 1998)

Ao decorre do tempo, novas pesquisas são realizadas no intuito de comprovarem a relação existente entre o exercício do labor e o aparecimento de DCV, dessas novas pesquisas é possível depreender novos fatores que proporcionam o desenvolvimento de tal enfermidade. Tanto que, em algumas pesquisas realizadas com trabalhadores japoneses, ficou constatado que quanto mais prolongado e intensivo for a jornada de trabalho maiores são as chances de desenvolver problemas relacionados ao coração.

Em estudos que tiveram como desfecho as DCV, observou-se uma forte relação entre os agentes estressores do trabalho e a incidência de eventos

cardiovasculares. Nesse contexto, a alta exigência no trabalho tem sido apontada como importante fator de risco para a ocorrência de DCV (ELLER et al., 2009).

Conforme o posicionamento supramencionado, as pesquisas que associam o estresse ocupacional como o desenvolvimento de DCV, estão fortalecendo os fundamentos comprobatórios dos efeitos da elevada exigência do trabalho no processo de condução do trabalhador ao estado de portador de doença cardiovascular.

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