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A sobrejornada de trabalho com prestação de horas extras associada ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares.

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UNIDADE ACADÊMICA DE DIREITO

VINÍCIUS NITO NÓBREGA GOMES

A SOBREJORNADA DE TRABALHO COM PRESTAÇÃO DE HORAS EXTRAS ASSOCIADA AO DESENVOLVIMENTO DE DOENÇAS CARDIOVASCULARES

SOUSA - PB 2019

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A SOBREJORNADA DE TRABALHO COM PRESTAÇÃO DE HORAS EXTRAS ASSOCIADA AO DESENVOLVIMENTO DE DOENÇAS CARDIOVASCULARES

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Direito do Centro de Ciências Jurídicas e Sociais da Universidade Federal de Campina Grande - UFCG, como exigência parcial para obtenção do título de bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientador: Prof. Me. Victor de Saulo Dantas Torres

SOUSA-PB 2019

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CDU 349.2:613.6.06 Biblioteca do CCJS - UFCG

1. Doença Ocupacional. 2. Doenças Cardiovasculares. 3. Horas Extraordinárias. 4. Fatores de Risco. I. Título.

Gomes, Vinicius Nito Nóbrega.

A sobrejornada de trabalho com prestação de horas extras associada ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares / Vinicius Nito Nóbrega Gomes. - Sousa: [s.n], 2019.

51 fl.

Monografia (Curso de Graduação em Direito) – Centro de Ciências Jurídicas e Sociais - CCJS/UFCG, 2019.

Orientador: Prof. Me. Victor de Saulo Dantas Torres. G633s

FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA NA FONTE Biblioteca Setorial de Sousa UFCG/CCJS

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A SOBREJORNADA DE TRABALHO COM PRESTAÇÃO DE HORAS EXTRAS ASSOCIADA AO DESENVOLVIMENTO DE DOENÇAS CARDIOVASCULARES

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Direito do Centro de Ciências Jurídicas e Sociais da Universidade Federal de Campina Grande - UFCG, como exigência parcial para obtenção do título de bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais.

Data da aprovação: 28/11/2019

Banca Examinadora:

Prof. Me. Victor de Saulo Dantas Torres

Orientador - CCJS/UFCG

Prof. Me. Leonardo Figueiredo de Oliveira Examinador (a)

Porf. Esp. Kyev Moura Maia Examinador (a)

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Preliminarmente, agradeço ao Senhor Deus por incessantemente ter me concedido forças, sabedoria e saúde para o devido desenvolvimento desse importante trabalho acadêmico.

Aos meus pais, advogado Dr. Dionízio Gomes da Silva e professora Maria Verônica Nóbrega, que são os horizontes de minha vida, cujo qual tanto me espelho a procura de me aperfeiçoar como cidadão e profissional.

A minha amada esposa, Janaína Amaro de Sousa, que tanto me apoiou na construção desse projeto e por manter minha motivação sempre elevada para o melhor aprimoramento do trabalho.

Aos meus queridos filhos, Pedro Henrique e Isabely Allana, por terem confiado nas minhas habilidades acadêmicas e alimentado minha vontade de concluir o projeto.

Para os irmãos, advogado Dr. Dionízio Lucas e Rebeca Verônica, que sempre acreditaram no meu potencial, fornecendo o devido apoio para a conclusão deste. Agradecer a minha irmã por ter concedido o notebook, para a digitação do mesmo.

Ao meu orientador, Professor Victor de Saulo Dantas Torres, por toda a atenção, paciência, ensinamentos e por toda preocupação em torno de um trabalho perfeito.

E, por fim, agradeço aos meus amigos da faculdade cujo levarei os ensinamentos e as parcerias para o restante de minha vida. Em especial aos amigos Lucas, Pedro, Leivas, John, Arthur, Orlando, Gabriel, Douglas, Esdras; e as amigas Miriã, Fernanda, Vitoria, Maylla, Monnysy. Que tanto contribuiram para minha formação acadêmica e humana.

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Os institutos jurídicos evoluem em consonância com as mudanças sociais e políticas que constantemente ocorrem na sociedade, a jornada de trabalho também seguiu essa tendência evolutiva incorporando novos fundamentos para sua estruturação com o passar do tempo. O presente trabalho tem como objetivo central analisar e correlacionar a jornada de trabalho adicionada de horas extraordinárias e os efeitos negativos à saúde do trabalhador, com maior enfoque nas patologias cardiovasculares. Inicia-se com a apresentação dos aspectos gerais das relações de trabalho e de emprego, determinando conceitos e classificações necessárias para o melhor desenvolvimento do trabalho. Em seguida a jornada de trabalho recebe o devido destaque, cujo é abordado o processo evolutivo, os conceitos e o disciplinamento legal da jornada laboral, posteriormente são analisados os efeitos que naturalmente são produzidos pela prestação da sobrejornada. Logo após, a pesquisa orbita sobre o universo das doenças ocupacionais advindas ou agravadas mediante a execução da jornada extraordinária. E, por fim, o trabalho alcança sua finalidade maior, associando clinicamente a prestação de hora extra e seus reflexos patológicos cardiovasculares, apontando cada efeito e os interligando com os fatores de risco das doenças cardiovasculares Trata-se de uma pesquisa qualitativa, quanto a forma de abordagem do problema, classifica-se quanto aos objetivos como explicativa, quantos aos procedimentos técnicos, como bibliográfica e documental e ainda quanto à natureza, caracteriza-se como aplicada. O resultado do estudo demonstra que se faz necessário o aperfeiçoamento da regulamentação jurídica no Brasil a despeito da permissão utilização de horas extraordinárias, visto que esta deveria ser apenas aplicada em situações excepcionais e não de maneira indiscriminada.

Palavras-chave: Horas extraordinárias. Doenças ocupacionais. Doenças Cardiovasculares. Fatores de risco.

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The legal institutes develop according to the social and political changes that happens in society, the workload also followed this evolutionary tendency adding new foundations to the structure over the years. The aim of this work was to analyze and correlate the workload added with overtime and the negative impacts to workers' health, with a special focus on cardiovascular pathologies. It begins with a presentation of the general aspects of labor and employment relations, determining the concepts and applications necessary for the best development of work. Then, the workload is highlighted, the evolutionary process is approached, the concepts and legal disciplines of the workload, afterwards are analyzed the effects that are normally caused by the overtime hours. Shortly after, the research orbits the universe of advanced or aggravated occupational diseases through the execution of the extraordinary journey. Finally, this research achieves its primary purpose, associating overtime hours with cardiovascular pathological reflexes, indicating each effect and interconnecting with cardiovascular disease risk factors. It is a qualitative research, to approach the problem is classified as the objectives as explanatory, as the technical procedures as bibliographic and documentary and also in nature, is characterized as applied. The result of the study demonstrates that it is necessary to improve the legal regulation in Brazil despite the permission to use overtime, since it should only be applied in exceptional situations and not indiscriminately.

Keywords: Overtime Hours. Occupational Disease. Cardiovascular Pathologies. Risk Factors.

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ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas CLT Consolidação das Leis Trabalhistas

DCNT Doenças Crônicas Não Transmissíveis

DCV Doenças Cardiovasculares

DIEESE Departamento Intersindical de Estatística e Estudo Sócio Econômico

INS Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge LER Lesão por esforço repetitivo

HAS Hipertensão Arterial Sistêmica PEC Projeto de Emenda Constitucional

RE Relação de Emprego

RT Relação de Trabalho

OIT Organização Internacional do Trabalho

OMS Organização Mundial de Saúde

OPAS Organização Pan-Americana de Saúde

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1 INTRODUÇÃO ... 8

2 ASPECTOS GERAIS DO TRABALHO ... 10

2.1 Relações de trabalho, relaçao de emprego, contrato de trabalho e jornada de trabalho. ... 10

2.2 Jornadas extraordinárias e efeitos da sobrejornada ... 18

3. JORNADA DE TRABALHO ESTENUANTE ASSOCIADA AO DESENVOLVIMENTO DE DOENÇAS OCUPACIONAIS E A DIMINUIÇÃO DA PRODUTIVIDADE DAS ORGANIZAÇÕES ... 22

3.1 Necessidade de redução da jornada de trabalho ... 31

3.2 Camapanhas em prol da redução da jornada de trabalho... 34

4 SOBREJORNADA DE TRABALHO, FATORES DE RISCO E O DESENVOLVIMENTO DE DOENÇAS CARDIOVASCULARES... 36

4.1 Estresse ocupacional ... 39

4.2 Sedentarismo ... 43

4.3 Hipertensão arterial... 44

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 46

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1 INTRODUÇÃO

Tratar a despeito da jornada de trabalho suplementada por horas extraordinárias é resgatar tema constantemente presente no roteiro de reivindicações da classe trabalhadora. Em uma perspectiva contemporânea, o tema em questão continua sendo conteúdo de fortes debates na doutrina e na jurisprudência, impulsionando assim o ajuizamento de inúmeras ações que, cotidianamente, tocam às Varas da Justiça do Trabalho. As reinvindicações da classe do proletariado insurgiram diante um caótico quadro de enormes desigualdades sociais e econômicas, em busca do aperfeiçoamento das normas de proteção laboral, destacando-se este momento por ser símbolo do surgimento do Direito do Trabalho.

A temática da jornada do trabalho detém aspecto atemporal ao passo que, ainda na atualidade, continua sendo assunto bastante abordado e discutido pela sociedade pelo fato da jornada estar relacionada, umbilicalmente, com o surgimento e agravamento de doenças associadas ao trabalho. O processo de flexibilização, ocasionado pelas continuas alterações normativas quanto às regras da jornada laboral, ocasionou a intensificação dos horários de trabalho e fomentou a oscilação da jornada diária, semanal ou anual.

Essa tendência de ampliação temporal da jornada de trabalho tem se demonstrado como fator agravante do quadro de desemprego estrutural e sistêmico, piorando as desigualdades sociais e fortalecendo as condições de miserabilidade da sociedade, desencadeando significativo aparecimento de doenças laborais e acidentes de trabalho.

As exigências cognitivas sobre os trabalhadores estão ampliando-se proporcionalmente aos avanços tecnológicos, acarretando em esforços mentais mais intensos e exaustivos. A fadiga e a irritabilidade são reflexos negativos da aplicação dessas novas exigências operadas ao longo de jornadas extensivas e submetidas a constantes pressões de produtividade (BUSCHINELLI et al., 1994).

Nesse diapasão, é de salutar que a constante exposição do proletário a uma prolongada jornada de trabalho, incrementada com a prestação de horas extras, acarreta um enorme desgaste físico e mental do trabalhador. De tal modo, a reiteração da exposição a esta jornada demasiada poderá fomentar a maior

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probabilidade de acidentes no trabalho, ou até, o aparecimento de doenças laborais. Consequentemente, é perceptível a queda do rendimento produtivo do trabalhador fadigado, devido a exaustiva jornada por ele enfrentada.

Dessa forma, quando contrabalanceados os riscos de ocorrência de possíveis acidentes no trabalho e/ou o surgimento de eventuais doenças laborais, com a perceptível queda de aproveitamento do labor exercido durante as horas extraordinárias, o resultado é muito negativo para a jornada estendida.

Acometendo os trabalhadores submetidos a prestação da jornada extraordinária, aplicada com habitualidade, por doenças cardiovasculares que comprometem a saúde do sistema circulatório e a qualidade de vida dos trabalhadores.

Com base nos argumentos supramencionados, este trabalho tem como escopo, a luz do ordenamento jurídico brasileiro, a análise da prestação de horas- extras e sua clara interferência no aparecimento de acidentes de trabalho e doenças laborais, com maior enfoque nas doenças cardiovasculares que acometem os trabalhadores sujeitos as jornadas laborais demasiadamente longas.

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2 ASPECTOS GERAIS DO TRABALHO

Este capítulo tem como precípuo escopo a apresentação das definições introdutórias a respeito de alguns institutos jurídicos do direito trabalhista que são fundamentais para a constituição jurídica da jornada de trabalho, tratando-se, portanto, de informações de suma importância para o devido desenvolvimento dos capítulos seguintes.

2.1 RELAÇÃO DE TRABALHO, RELAÇAO DE EMPREGO, CONTRATO DE

TRABALHO E JORNADA DE TRABALHO.

A atividade humana voltada a produção de bens e serviços, quando associada a uma relação interpessoal com interesse do sujeito da relação, é considerada trabalho, sendo esta devidamente regulada pela ordem jurídico- trabalhista nacional.

Importante é, de maneira preliminar, apontar os conceitos associados à relação de trabalho (RT), relação de emprego e ao contrato de trabalho, visto que estes são institutos jurídicos que preexistem à formação da jornada laboral.

O autor Cláudio Mascarenhas Brandão (2005, p. 59), suscita que a relação de trabalho é:

Vínculo que se estabelece entre a pessoa que executa o labor – o trabalhador propriamente dito, o ser humano que empresta a sua energia para o desenvolvimento de uma atividade – e a pessoa jurídica ou física que é beneficiária desse trabalho, ou seja, aufere o trabalho proveniente da utilização da energia humana por parte aquele.

Nesse pensamento, a relação de trabalho é compreendida como a associação feita entre a figura do trabalhador e a pessoa favorecida pela atividade laboral, podendo essa última deter personalidade natural ou, até mesmo, jurídica.

Já, nas palavras de Mauro Schiavi (2006, p. 38), a expressão “relação de trabalho” se refere a:

Trabalho prestado por conta alheia, em que o trabalhador (pessoa física) coloca sua força de trabalho em prol de outra pessoa (física ou jurídica), podendo o trabalhador correr ou não os riscos da atividade. Desse modo, estão excluídas as modalidades de relação de trabalho em que o trabalho for prestado por pessoa jurídica, porquanto, nessas modalidades, embora

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haja relação de trabalho, o trabalho humano não é o objeto dessas relações jurídicas e sim um contrato de natureza cível ou comercial.

Essa outra definição concedida pelo autor supramencionado, destaca que a RT é a execução por conta de terceiro, cujo trabalhador se coloca a disposição de outra pessoa, podendo o trabalhador correr os riscos da atividade ou não.

Desta forma, a relação de trabalho, genericamente, pode ser compreendida como aquela constituída pela união da totalidade de vínculos jurídicos de trabalhos instituídos mediante uma obrigação de fazer substancializada no labor humano, incluindo aqui as relações trabalhistas ou cíveis que envolvam uma prestação de serviço do humano.

Estando a relação de trabalho devidamente conceituada, destaque deve ser dado à importância da análise deste tipo de relação jurídica, ao passo que deve ser demonstrado o interesse da Justiça do Trabalho pela busca da solução dos conflitos advindos das relações de trabalho.

Antes de adentrar as definições e os aspectos característicos da relação de emprego, torna-se significante apontar que a relação de trabalho é gênero do qual a relação de emprego se constitui como espécime. Desse modo, é possível depreender o caráter genérico da Relação de trabalho, por esta abranger mais vínculos jurídicos entre prestador e tomador do que os da relação de emprego.

De tal modo, certas categorias de trabalho como a do autônomo, que exerce suas atividades sem subordinação, e como a do eventual e do avulso, que as exercem de maneira esporádica, exemplificam espécies de atividades humanas prestadas sem a constituição de uma relação de emprego, porém investidos pela relação de trabalho.

Partindo de um contexto socioeconômico do ocidente, que vem a mais de 200 anos dominando as tendências das relações laborais humanas, em conformidade com o pensamento do ilustre Maurício Godinho Delgado (2019, p. 335), é possível afirmar que a relação de emprego transformou-se na mais significativa, juridicamente e economicamente, relação de trabalho existente no período. Essa tendência expansionista generalizou-se devido ao conjunto de mercado de trabalho, submetendo às suas regras a grande maioria de fórmulas de uso da força de trabalho e deu surgimento a um universo orgânico e sistêmico de regras, princípios e institutos jurídicos especializados, expandindo assim o alcance do direito do trabalho.

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Diante disso, o ordenamento jurídico trabalhista, em especial a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT, 1943), preleciona o conceito de relação de emprego, no caput de seu artigo 3º onde suscita que:

Art. 3º Considera-se empregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário.

Para o ordenamento trabalhista nacional, o empregado é caracterizado pela pessoalidade de seus serviços, prestando-o de modo não eventual, não voluntario e mediante remuneração.

A definição feita por Maurício Godinho Delgado (2014, p. 291)

,

aborda que a relação empregatícia:

Resulta da síntese de um diversificado conjunto de fatores (ou elementos) reunidos em um dado contexto social ou interpessoal. Desse modo, o fenômeno sociojurídico da relação de emprego deriva da conjugação de certos elementos inarredáveis (elementos fático-jurídicos), sem os quais não se configura a mencionada relação. Os elementos fático-jurídicos componentes da relação de emprego são cinco: (a) a prestação de trabalho por pessoa física a um tomador qualquer; (b) a prestação efetuada com pessoalidade pelo trabalhador; (c) também efetuada com não eventualidade; (d) efetuada ainda sob subordinação ao tomador dos serviços; (e) prestação de trabalho efetuada com onerosidade.

Nesse diapasão, notórios são os elementos essenciais que revestem a relação de emprego, elementos esses que a torna mais específica, mais restrita e menos abrangente do que a relação anteriormente descrita.

Os elementos que substancializam a relação de emprego (RE) não são provenientes de ficção jurídica, mas sim das realidades fáticas relevantes. Estes pressupostos quando conjugados em certa situação socioeconômica, nasce a relação de emprego, constituída juridicamente. A doutrina costuma dividir, de maneira didática, os pressupostos em 4 tipos diversos, sendo estes: a) atividade exercida pela pessoa do empregado (pessoa natural); b) a prestação de serviço de caráter não eventual; c) de modo subordinado; e d) mediante remuneração, paga pela figura do empregador.

O trabalho prestado diretamente pela pessoa física, sendo o primeiro elemento da relação empregatícia, retrata que a personagem do empregado jamais deixará de ser uma pessoa natural, de tal maneira que, no acordo de prestação de

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serviço apenas por pessoa jurídica, está desfigurada a relação de emprego que esta regulada na seara justrabalhista.

Já a despeito do elemento da não eventualidade, esse transluz o ideário de perenidade na extensão duradoura do contrato de emprego, apoiado e incentivado pelas regras justrabalhistas. Aqui é possível enxergar o princípio da continuidade da relação de emprego cujo há o incentivo da permanência indefinida do vínculo.

O pressuposto da Onerosidade suscita que a relação empregatícia é axiologicamente econômica, logo necessário é que seja dado certo valor econômico a força de trabalho empregada à disposição do empregador e este corresponda com ao pagamento do salário que engloba o conjunto de valores de contraprestação que devem ser pagos pelo empregador devido a relação pactuada com o trabalhador.

E por fim o elemento da subordinação cujo retrata a situação em que o empregado se submete ao poder de direção empresarial na maneira de realização da prestação dos serviços. Sendo assim, ocorre uma verdadeira limitação da autonomia da vontade do trabalhador, de modo que ocorre a transferência ao empregador do poder de direção sobre a função que o empregado desempenha.

Portanto, evidencia-se que a RE é um dos integrantes do grupo de atividades de trabalho revestidas pela relação de trabalho, visto que aquela esta alicerçada na ligação entre o empregado e o empregador, particularizada pela execução pessoal de serviços, de aspecto não eventual e de maneira subordinada, em troca do pagamento de salário. O vínculo jurídico, nessa modalidade de relação, é fixado nas figuras do empregador e empregado, sendo este vínculo regulamentado por normas jurídicas trabalhistas.

Para o ilustre Aluysio Mendonça Sampaio (1993, p. 319), a base do Direito Trabalhista nacional é formada pela adoção da teoria contratual da relação empregatícia. Sendo assim, o sistema jurídico trabalhista pátrio, adota a teoria contratualista como alicerce da constituição das relações de emprego.

Na perspectiva do jurista acima, a teoria contratual da relação de trabalho é o alicerce jurídico do direito laboral do país, de modo que o ordenamento trabalhista adota a mesma teoria.

Interessa salientar que muito embora a relação empregatícia seja oriunda do acordo de vontade das partes, é incontestável que a vontade não esteja investida de absoluta liberdade, ao passo que antes do acerto de vontades, entre o empregado e

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o empregador, deve ser observado um complexo de normas jurídicas inerentes ao acerto em questão.

E disso surge o termo dirigismo contratual, que destaca a precisão do Estado em interferir diretamente em searas do relacionamento humano em todo caso de possibilidade de desequilíbrio da relação de caráter contratual. Tratando-se assim, de uma verdadeira restrição à liberdade de contratar.

Muito embora o dirigismo contratual permeie a maioria dos contratos empregatícios acordados, a Lei 13.467/17 – Lei da Reforma trabalhista - adicionou um parágrafo único ao art. 444 da CLT apontando a possibilidade dos empregados hipersuficentes, que são aqueles detentores de nível educacional superior e que recebem salário igual ou superior a duas vezes ao teto do Regime Geral de Previdência Social, gozarem da plena autonomia de vontade, podendo acertar contratos sem a observância das mesmas restrições que o ordenamento impõe a grande maioria dos contratantes.

Adentrando na temática relacionada ao contrato de trabalho, este detém sua definição gravada no artigo 442 da CLT, conceituando como: “[...] o acordo tácito ou expresso, correspondente à relação de emprego”.

O contrato de trabalho do ponto de vista legal é simplesmente o pacto tácito ou expresso que caracteriza a existência da relação de emprego.

Para os autores Orlando Gomes e Elson Gottschalk (1995, p.118), contrato de trabalho é,

a convenção pela qual um ou vários empregados, mediante certa remuneração e em caráter não eventual, prestam trabalho pessoal em proveito e sob a direção do empregador

À vista disso, depreende-se que o contrato de trabalho é constituído pelo acordo de vontades, sendo este manifestado expressamente ou tacitamente pelas partes, pelo qual o empregado pactua a prestação de serviço pessoal, subordinado e contínuo com o empregador, seja ele pessoa física, jurídica ou despersonalizada, em troco de sua remuneração.

Ainda a respeito desse tipo de contrato, é possível entender que a terminologia “contrato de trabalho” é empregada erroneamente já que, em interpretação mais ampliada, pode-se depreender que esta relação também

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alcançaria as relações de trabalho cíveis, as que não configuram relação de emprego. Portanto, a melhor denominação seria de “contrato de emprego”.

Cabe discorrer a despeito dos elementos que constituem ou que caracterizam o contrato de labor, sendo estes: a) de caráter sinalagmático ou bilateral; b) de natureza onerosa; c) de jeito comutativo; d) prestado pela própria pessoa; e) de maneira consensual; f) com prestações sucessivas; e g) presença de subordinação hierárquica.

É possível depreender que o contrato de trabalho tem caráter sintagmático, devido as obrigações serem marcadas de maneira recíproca, cujo trabalhador executa o serviço e em contrapartida recebe do empregador o pagamento dos devidos salários. Portanto, deve-se prezar pela equivalência das obrigações prestadas mutualmente.

A característica da onerosidade evidencia o envolvimento de vantagens e ônus de maneira recíproca entre o empregado e o empregador. Já a cumulatividade é percebida ao passo que a estimativa da execução do serviço é devidamente reconhecida no momento da celebração do contrato, de modo que só deve ser exigido do empregado tarefas em sintonia com o salário e com a função para qual foi contratada.

O intuitu personae é visualizado mediante a prestação personalíssima da obrigação pactuada e firmada contratualmente, não sendo possível que pessoa não natural venha a exercer atividade laboral nessa categoria. Assim como, o caráter da consensualidade associa-se ao aperfeiçoamento com a simples manifestação da vontade acordada pelas partes, sem qualquer necessidade de garantia ou entrega de alguma coisa.

A atividade laboral projeta-se no tempo e diante do caráter indeterminado das relações empregatícias, tornando-se perceptível o cunho de trato sucessivo. E como última característica, trata-se de subordinação cujo empregado permite que sua força de trabalho fique disponível ao empregador, assim como submeter-se as determinações, ao comando e ao que for estabelecido, pelo empregador, como forma de trabalho.

Falar dos elementos integrantes do processo de formulação do contrato de trabalho é tratar da essência de validade do mesmo. Logo, aplicando-se subsidiariamente o Direito Civil, visto que a própria CLT não pontifica tais elementos, é possível determinar a existência de elementos como a capacidade de ser parte e

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de estar em juízo, como a idoneidade do objeto e como a forma prescrita e não defesa em lei.

A despeito do elemento da capacidade do agente, trata-se da aptidão para que a pessoa possa se sujeitar a direitos e obrigações, não obstante é necessário que a capacidade recaia também na possibilidade de estar em juízo. Nesse caso, o Direito do Trabalho entende como absolutamente incapaz para o trabalho o menor de 16 anos, salvo a situação de aprendiz, que pode começar com 14 anos. Logo para acordar um contrato de trabalho, necessária é a devida capacidade do contratado.

O elemento da idoneidade do objeto se centraliza efetivamente no conteúdo do contrato de trabalho, cujo, via de regra, é caracterizado pela atividade laboral. E esta atividade laboral deve ser empregada em compasso com a ordem, moralidade, os bons costumes e a ordem pública, e também a possibilidade do ponto de vista físico e jurídico.

Relativo à forma do contrato de trabalho, a norma assevera que esse tipo de contrato se configura com ato jurídico não solene, podendo ser pactuado tacitamente ou de modo expressa, na maneira verbal ou escrita, com a fixação de prazo certo ou não.

Relativo a jornada de trabalho, interessante é dar destaque aos fatores históricos e culturais que ao passar do tempo foram lapidando o limite temporal ao trabalho prestado pelo empregado, sempre fundados na proteção da saúde e integridade física e mental dos trabalhadores.

O doutrinador Martins (2016 apud CORREIA, 2017, p.15), discorrendo a despeito da duração da jornada de trabalho, relatou:

Na maioria dos países da Europa, por volta de meados de 1800, a jornada de trabalho era de 12 a 16 horas, principalmente entre mulheres e menores. Robert Owen, em 1800, limitou na sua fábrica na Escócia a jornada de 10h 30m. Nos Estados Unidos, no mesmo período, a jornada de trabalho estava balizada entre 11 e 13 horas. Em 1808, na Inglaterra, a Lei de Saúde e Moral dos Aprendizes (Moral and Health Act) limitou a jornada de trabalho em 12 horas, proibindo o trabalho de menor noturno.

Em consonância com os dizeres acima, compreensível é notar que a duração das jornadas de trabalho durante todo o século XIX era bastante estafantes, conduzindo o trabalhador a situação de enorme fadiga física e psicológica. Em

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contrapartida, medidas protecionistas foram incentivadas e prolatadas em benefício da classe proletária, reduzindo gradativamente a extenuante duração do trabalho.

No ano de 1919, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) editou e publicou a sua 1ª Convenção, cujo não foi ratificada pelo Brasil, que dispunha sobre limitação da duração do trabalho nas indústrias em 40 horas semanais e 8 horas diárias. A jornada de trabalho de oito horas diárias foi prevista, no Brasil, pela primeira vez na Constituição Federal de 1934, em seu artigo 121, permanecendo tal limite em todas as Constituições que se seguiram. Nessa linha, a Constituição de 1988, manteve a jornada diária de oito horas, mas de maneira inédita, reduziu a jornada semanal para quarenta e quatro horas.

A jornada de trabalho pode ser compreendida como a quantidade de trabalho que dia após dia o empregado exerce para seu empregador como obrigação advinda do contrato de trabalho.

Brasil (1824 apud CORREIA, 2017, p.23) define o conceito do instituto jurídico supramencionado, importante é apontar como se deu o processo evolutivo da regulamentação desse instituto, com o decorrer do tempo. A primeira Constituição Federal do Brasil de 1824 não delimitava em seu texto o lapso temporal padrão para a constatação da jornada de trabalho comum.

Brasil (1891 e 1932 apud CORREIA, 2017, p.24) aponta que na segunda Constituição Pátria (1891) também não especificou em seu texto qualquer disposição a despeito da jornada laboral. Por seguinte, em 1932, o Decreto 21.186 foi o primeiro a regulamentar a disposição sobre a jornada de trabalho, detalhando que trabalhadores do comércio tinham jornada de 8 horas diárias e logo após o Decreto 21.364 estendeu esse lapso temporal para os trabalhadores do meio industrial.

Brasil (1937 e 1946 apud CORREIA, 2017, p.24) demonstra que em moldes constitucionais, disposições sobre a jornada de trabalho só passaram a figurar o texto da Lei Maior Nacional, por meio da Constituição de 1934, cujo previa que a duração do trabalho seria no limite de 8 horas, passíveis de redução, mas só prorrogáveis quando presente os requisitos previstos na lei. As Constituições de 1937 e 1946 basicamente copiaram o disposto na Lei Maior da Era Varguista.

Já o Brasil (1891 e 1967 apud CORREIA, 2017, p.25) entende que A Magna Carte de 1967 trouxe uma inovação quanto a necessidade de concessão de intervalo para descanso, exceto nas situações vedadas em lei. E por fim a

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Constituição Cidadã de 1988, ampliou a regulamentação da jornada de labor, acrescentando informações como a jornada semanal de trabalho de 44 horas, a possibilidade de compensação de horários e redução da jornada.

A despeito da natureza das normas jurídicas associadas à jornada de trabalho, essas, de maneira genérica, são normas de caráter imperativo. Logo, o elemento da obrigatoriedade reveste a maior parte dessas normas, implicando na absoluta impossibilidade jurídica do empregado decidir por renunciar a certa vantagem ou ocasião advinda da norma trabalhista.

A temática da transação e flexibilização da jornada merece o devido destaque quanto as possibilidades de ocorrência e aos limites legais interpostos para evitar alterações prejudiciais ao trabalhador. Quanto à flexibilização/compensação da jornada laboral esta, via de regra, devia ser realizada sob a batuta da negociação coletiva, com a presença do sindicato obreiro. Entretanto, com o advento da Reforma Trabalhista (Lei 13.467/2017) o regime de banco de hora anual deve ser obrigatoriamente pactuado por instrumento coletivo negociado, mas a reforma autorizou que o banco de horas fosse pactuado bilateralmente, bastando que seja de forma escrita, sempre que a compensação ocorra dentro do período limite de 6 meses.

Dessa forma, na maioria das situações, a partir do momento em que o empregado adentra a empresa até o instante em que deixa a mesma, entende-se que está à disposição do empregador e, assim, está cumprindo jornada de trabalho.

2.2 JORNADAS EXTRAORDINÁRIAS E EFEITOS DA SOBREJORNADA.

A Consolidação das Leis Trabalhistas, em seu artigo 59º, suscita que: “a duração diária do trabalho poderá ser acrescida de horas extras, em número não excedente de duas, por acordo individual, convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho”.

Dessa forma, o próprio ordenamento jurídico laboral assegura a possiblidade do gozo de horas extras adicionais, fixando o limite máximo de 2 horas de suplementação e aponta as várias formas de pleitear e pactuar com o patrão esse adicional.

A jornada laboral extraordinária ocorre quando há a dilatação do prazo normal da jornada de trabalho, ou seja, quando a prestação do serviço pelo trabalhador vai

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além das 8 horas diárias e 40 horas semanais. Esta dilação do lapso temporal de labor não se da em função da suplementação remuneratória quando comparada à jornada habitual, mas se dá pela ultrapassagem do limite legal e comum da jornada de trabalho.

Nesse diapasão é possível compreender que o adicional incrementado na remuneração padrão do trabalhador que presta horas extras, é meramente efeito ou reflexo comum advindo da sobrejornada. Desse modo percebe-se que o adicional do percentual na remuneração não é requisito de existência da jornada extraordinária, sendo este apenas um efeito que advém a partir da jornada alongada.

Tal modalidade de jornada poderá ser prorrogada em três situações previstas no ordenamento jurídico nacional: a) Conforme o art. 59 da CLT, prorrogação de até duas horas suplementares, com adicional de 50%, por meio de acordo direto entre empregador e empregado ou norma coletiva convenção ou acordo coletivo; b) Conforme o art. 61 da CLT, prorrogação de até quatro horas suplementares, com adicional de 50%, nas situações de serviços inadiáveis que a não execução pode ocasionar prejuízos ao empregador; e c) Conforme a Súmula nº 85 do TST, prorrogação de até duas horas suplementares, sem adicional, mediante a devida compensação da jornada semanal de 44 horas, por meio de convenção ou acordo coletivo de trabalho.

Tratando-se dos efeitos advindos da prestação da sobrejornada de trabalho, de maneira inicial é factível que as horas extras prestadas e recebidas integram o salário, refletindo sobre parcelas trabalhistas como o 13º salário, fundo de garantia por tempo de serviço, aviso-prévio, salário contribuição, dentre outras. Outro efeito se dá pela própria natureza jurídica das horas extras e de seu adicional, tendo este último o elemento condicional em sua essência. Logo, indicativo é que os valores adicionais podem ser suprimidos, sempre que constatado o fim da prestação da sobrejornada. A base de cálculo para a incidência do adicional remuneratório é feito levando-se em consideração o salário e todos os adicionais legais e convencionais, sendo assim adicionado sobre a remuneração completa do trabalhador.

Com base no artigo 59, parágrafo 1º, o valor do adicional também é outro efeito advindo da prestação de horas extraordinárias, sendo fixado no ordenamento brasileiro o percentual mínimo de 50%, salvaguardando as hipóteses de aplicação de índice mais favorável, especificado em regra jurídica especial.

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Importa destacar que a limitação da jornada de trabalho é alicerçada na saúde do trabalhador, de modo que esta relaciona-se umbilicalmente com a fadiga, que se trata de um estado de esgotamento físico ou mental que diminui a capacidade do trabalhador na execução de suas obrigações de maneira segura.

Nesse diapasão, para que o organismo humano tenha um bom funcionamento faz-se necessário um equilíbrio nas condições internas do organismo, o que é denominado pela biologia de equilíbrio homeostático. Oliveira (2010, p.633 - 638) explica que:

Diante do aquecimento proveniente do esforço físico, o organismo do trabalhador aciona os mecanismos de homeostase da regulação interna, provocando pelo sistema excretor a sudorese, o sistema respiratório elimina o ar quente dos pulmões, o aumento dos batimentos cardíacos acelera sistema circulatório e provoca a vasodilatação periférica para maior aporte sanguíneo tecidual, o que exige também ventilação pulmonar em razão do metabolismo aeróbico aumentado. Em razão das calorias consumidas na execução do trabalho, mais o dispêndio energético para manter o organismo em equilíbrio homeostático, sobrevêm o cansaço e a necessidade de descanso para recomposição.

O equilíbrio das condições internas do corpo humano se refere ao estado de homeostase da regulação orgânica, de modo que o próprio organismo se encarrega de acionar os meios necessários para manter o equilíbrio corporal, e quanto mais exigências surgem, principalmente no trabalho, o organismo tende a fadigar diante o grande gasto energético para assegurar o equilíbrio corporal.

Os doutrinadores Gomes e Gottschalk (1975, p. 437 e 438) pontificam que o primeiro fundamento científico para limitação da jornada laboral é fornecido pela Fisiologia, de modo que naturalmente o organismo do homem tende a se desgastar quando posto em exercício, e este quando prestado de maneira prolongada pode ocasionar a perda da oxigenação do sangue, o aumento da sua taxa hidrogênica, a formação excessiva de ácido lático, dentre outros fatores, causando uma sensação de mal-estar.

Quando o trabalho é exercido em locais insalubres, perigosos ou penosos, naturalmente proporcionam maior desgaste físico e psíquico do empregado, e quando estes são prorrogados pela sobrejornada o desgaste se intensifica ainda mais. Desse modo, a Norma Regulamentadora Nº 15 conceitua terminologias como os agentes insalubres, limites de tolerância e os critérios técnicos necessários para a devida análise avaliativa das atividades prestadas nos ambientes insalubres.

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O autor Oliveira (2010, p.152) destaca que é prejudicial o trabalho prestado com adicional de horas extras onde:

os limites de tolerância para exposição aos agentes agressivos foram fixados para a jornada máxima de 8 horas, razão pela qual, após a oitava hora de trabalho, teoricamente, os malefícios atingem níveis intoleráveis para o organismo humano. Por esta razão, o cumprimento de jornada maior exige a adoção de medidas complementares de proteção individual ou coletiva, mencionadas no art.60 da CLT, que a SRTE deve indicar, visando à preservação da saúde dos trabalhadores, porquanto as resistências orgânicas diminuem progressivamente nas exposições prolongadas, deslocando os limites de tolerância para patamares inferiores, em razão da presença simultânea dos dois agentes que se interagem e potencializam os malefícios, ou seja, o agente insalubre mais a sobrejornada.

Dessa forma, evidente é que os efeitos advindos da sobrejornada trazem reflexos diretos a saúde humana, ao passo que quanto mais desgastante for o ambiente de trabalho e a atividade prestada pelo empregado, essa quando coadunada com a prorrogação da jornada habitual de labor, tem o condão de potencializar os riscos e malefícios que naturalmente advém da excessiva prática de atividades físicas e mentais exigidas pelo mister do trabalhador.

Portanto, neste capítulo introdutório foram apresentadas a devidas e necessárias definições legais e doutrinarias a despeito dos institutos jurídicos relacionados ao labor humano. Em seguida, a temática da jornada de trabalho extraordinária foi abordada e delimitada para a devida compreensão dos próximos capítulos.

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3. JORNADA DE TRABALHO ESTENUANTE ASSOCIADA AO DESENVOLVIMENTO DE DOENÇAS OCUPACIONAIS E A DIMINUIÇÃO DA PRODUTIVIDADE DAS ORGANIZAÇÕES

O contexto histórico evolutivo do tempo de duração da jornada de trabalho é marcado pelas inúmeras lutas dos trabalhadores em busca da redução do lapso temporal das jornadas laborais. No final do século XIX e nos primórdios do século XX, os estudos científicos apresentaram a necessidade da inserção do descanso e do tempo livre aos aspectos da jornada de trabalho, adicionando a esta, novos direitos fundamentais dos trabalhadores e conduzindo a um ideal reducional do tempo de trabalho. A justificativa para esses novos elementos incrementados, se deu na forma de três concepções distintas: a) concepção fisiológica; b) concepção social; e c) concepção econômica. (GOMES e GOTTSCHALK, 1968, p. 270)

Nessa linha de pensamento, é possível depreender que a evolução histórica da sociedade ocorrida no século passado, acompanhada pela natural evolução do Direito do Trabalho, conduziu a produção de novos materiais científicos que sustentavam a ideia dos intervalos intrajornadas, proporcionando o descanso, e o ideal da diminuição do tempo a serviço do tomador, impulsionado pela defesa do tempo livre do trabalhador. Além disso, justificativas foram editadas na objetividade de fundamentar a necessidade dessas mudanças.

O autor Arnaldo Susseking (1996, p. 774), expressou em sua obra os fundamentos que dão sustentação a ideologia da limitação do tempo de trabalho, apresentando assim os seguintes fundamentos:

I) Natureza biológica humana, cujo retrata a procura de meios que evitem o acometimento do trabalhador por problemas psicofisiológicos, advindos da fadiga e da massiva racionalização do serviço;

II) Caráter social, cujo apresenta a defesa do tempo livre do trabalhador para as práticas recreativas e culturais que aprimoram a sua convivência social e familiar; e

III) Índole econômica, cujo reduz os níveis de desemprego e possibilita a maximização do rendimento ou da produtividade laboral.

Nesse diapasão, perceptível é que a essência humana apresenta exigências que orbitam a natureza fisiológica, econômica e social do homem, de modo que o

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tempo de labor deve ser pensado com a devida observância de tais exigências. E através dessa forma, pensando e racionando a jornada de trabalho, torne-se possível evitar o desenvolvimento de problemas físicos e mentais à saúde pessoal, coletiva e econômica do trabalhador.

A partir desses fundamentos citados acima, quando o trabalhador é posicionado em uma jornada de trabalho exaustiva, este é conduzido ao estado de fadiga, visto que a própria biologia humana exige o necessário tempo de descanso em atividades exaurientes, e quando esta exigência não é respeita, apresentam-se fatores negativos nas esferas físicas, mentais e sociais do trabalhador, corroborando para o desenvolvimento de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais. E assim, quando o tempo é gasto somente com a prestação de labor, tolhesse o tempo livre essencial para o desenvolvimento das atividades coletivas inerentes a condição humana, causando também problemas de cunho psicológico, como o estresse ocupacional e o suicídio por excesso de trabalho.

Abordados os aspectos que fundamentam o ideal reducional do tempo de trabalho, preciso é delimitar e conceituar os reflexos advindos da prestação excessiva de labor, muitas vezes associada à suplementação por horas extraordinárias. Vale destacar que é de suma importância retratar os conceitos de acidente do trabalho para a melhor compreensão da terminologia doença ocupacional.

A definição legal dada aos acidentes de trabalho está expressa na Lei 8.213/1991, alterada pelo Decreto 611/1992 e pela Lei Complementar 150/2015, mais especificamente no artigo 19 que suscita:

Art. 19 Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço de empresa ou de empregador doméstico ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho.

O artigo posterior (art. 20) pontifica, em seus incisos, a equiparação de algumas enfermidades ao instituto do acidente de trabalho. Determinando assim o conceito legal de doenças ocupacionais:

Art. 20 I - doença profissional, assim entendida a produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a determinada atividade e

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constante da respectiva relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social;

II - doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente, constante da relação mencionada no inciso I.

O parágrafo segundo, desse mesmo artigo 20, determina a excepcionalidade onde a Previdência Social deve considerar como acidente de trabalho, enfermidades não incluídas nos incisos do mesmo artigo, mas que advenham diretamente das condições especiais em que o labor é prestado.

De acordo com os conceitos legais acima, o ordenamento jurídico brasileiro apresenta na lei supramencionada a definição legal de acidente de trabalho, abrangendo também as doenças ocupacionais como pertencente ao grupo. Ainda fornece os conceitos das duas modalidades de doenças ocupacionais, as diferenciando apenas pelo motivo desencadeante das doenças. Logo, as enfermidades profissionais acometem o trabalhador que presta a função padrão de sua atividade, enquanto as enfermidades do trabalho acometem o trabalhador devido às condições cujo qual a função é realizada.

A Associação Brasileira de Normas Técnicas, por meio da Norma Brasileira de Cadastro de Acidentes (ABNT/NBR, 14.280), destaca que o acidente laboral é configurado por uma situação fortuita e não desejável que esteja associada a prestação do ofício, ocasionando lesão à pessoa do empregado ou gerando risco de lesão. Necessário é abordar a definição de acidente de trabalho visto que a partir dessa definição é possível compreender o motivo da Lei 8.213/1991 em inserir doenças ocupacionais no quadro de acidentes de trabalho, uma vez que é possível que os acidentes ocasionem lesões imediatas (infortúnios propriamente dito), como uma lesão traumática, ou mediata (infortúnios impróprios), como uma doença profissional.

Depreende-se, portanto, que a doença ocupacional é acometida por um acidente laboral que ocasiona lesões de características mediatas, e os reflexos dessa lesão se manifestam gradualmente com o decorrer do tempo após o evento acidentário.

O doutrinador Antônio Lopes Monteiro (2019, p. 44) entende que o conceito legal supramencionado é abordado pela Lei 8.213/1991 em sentido restrito e em sentido ampliado. Nesse diapasão, relativo ao sentido restrito, o acidente-tipo ou macrotrauma é aquele que acontece pela prestação de trabalho ao empregador,

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ocasionando lesão corporal ou perturbação funcional que promova a morte ou perda ou redução da capacidade do trabalhador, sejam permanentes ou temporárias. Enquanto ao sentido ampliado, as doenças ocupacionais equiparam-se aos acidentes de trabalho, abrangendo também as enfermidades advindas da prestação de atividades laborais.

Entende o autor que o próprio ordenamento jurídico que trata dos acidentes laborais abordou essa temática em uma perspectiva restritiva e outra ampliativa, no primeiro caso retratou os macrotraumas, que são propriamente os infortúnios que acontecem com a prestação do trabalho e que geram lesões imediatas ao trabalhador, e no segundo caso retratou as doenças ocupacionais, as equiparando aos acidentes de labor, já que estas também surgem da prestação do trabalho, porém ocasionam lesões mediatas ao trabalhador.

Esmiuçando as definições aqui já pontificadas, vale relatar que as doenças profissionais advêm da exposição dos empregados a agentes físicos, químicos, ergonômicos e biológicos que tem o condão de prejudicar a saúde do trabalhador. As lesões por esforço repetitivo (LER) e perda auditiva induzida pelo ruído são exemplos dessas doenças. Já as doenças do trabalho surgem de condições inadequadas de ofício, não é atividade laboral em si que provoca o aparecimento da enfermidade, mas sim as condições associadas ao local e as técnicas de trabalho. (FERREIRA e PEIXOTO, 2012, p. 34)

Basicamente os autores acima determinaram os tipos de elementos condicionantes para a formação de malefícios aos trabalhadores e correlacionaram alguns exemplos de enfermidades associadas a uma das duas modalidades de doenças ocupacionais.

De acordo com o pensamento de Antonio Lopes Monteiro e Ronerto Fleury de Sousa Bertagni (2019, p. 45), o grupo de doenças profissionais, também é conhecido por “tecnopatias” e “ergopatias”, essas enfermidades são ocasionadas pela prestação profissional peculiar de certo exercício, sendo assim desencadeada por condutas típicas da atividade profissional desempenhada pelo empregado. Logo, devido à tipicidade das ações no ambiente de trabalho, a própria lei presume a existência de nexo causal entre a doença e o trabalho. Já a despeito do grupo de doenças de trabalho, também conhecido por “mesopatias”, estas abrangem patologias desencadeadas por atividades realizadas em condições excepcionais de

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trabalho. Entretanto, a lei não destaca a presunção de existência de nexo causal, exigindo comprovação do nexo de causalidade.

Conforme os dizeres dos autores acima, é notável que doenças profissionais possuem relação estrita e direta com a atividade natural, comum e típica prestada pelo trabalhador, convencionado no próprio contrato de trabalho, possibilitando assim a presunção legal de nexo de causalidade entre a enfermidade desenvolvida e a prestação do trabalho. Em contrapartida as doenças de trabalho se relacionam com as condições externas em que a atividade laboral é exercida, e não com a atividade típica em si, e por isso torna-se necessária a comprovação do nexo de causalidade entre a patologia apresentada e o trabalho realizado.

Entendido os conceitos de acidente de trabalho e doenças ocupacionais, torna-se relevante destacar o nexo ou a correlação existente entre a prestação da jornada de trabalho com horas extras adicionais e o aparecimento dos acidentes de trabalho, especialmente na modalidade doença ocupacional.

Naturalmente, às 8 horas diárias constitucionais da jornada de trabalho conduzem o empregado a um nível de cansaço suportável, entretanto com a suplementação de horas extraordinárias a essa jornada constitucional, o grau de cansaço transcende a resistência do homem, de modo que só devem ser adicionadas as horas extras, caso haja uma devida compensação através da redução da intensidade do serviço, para permanecer em níveis suportáveis o cansaço humano, já que pelo contrário ocorrerá um expressivo aumento das manifestações nervosas da fadiga. Sendo assim, perceptível é que a prestação de horas extras está intrinsicamente relacionada com o acréscimo da probabilidade do surgimento de doenças e acidentes de trabalho. (GRANDJEAN, 1998)

Portanto, o cansaço suportável do empregado só é gerado até o limite constitucional de horas para a jornada de trabalho, e quando este teto é ultrapassado, gradualmente o corpo humano transcende suas limitações, endo conduzido a um estado de desequilíbrio. É importante salientar que o corpo humano é limitado para a execução contínua de certas atividades, principalmente aquelas que exigem maior esforço para serem executadas. Essas limitações do corpo humano orbitam os parâmetros físicos, fisiológicas e mentais, que são explicadas da seguinte maneira:

I) Os limites físicos se associam aos caracteres da pessoa, como exemplo o sexo, massa e biótipo, dessa forma as funções desempenhadas e a jornada no

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ofício devem respeitar as fronteiras físicas inerentes as características de cada trabalhador; II) os limites fisiológicos concatenam com descanso, nutrição, saúde e aptidão física, e estes quando ultrapassados causam reações no corpo humano; e III) os limites mentais que são bastantes variáveis de indivíduo por indivíduo, dessa forma o estresse no trabalho causa situações perigosas à saúde do empregado, através de enfermidades, transtornos e acidentes. (LIMA, 2011, p. 3)

Logo, é da natureza humana apresentar limitações para o pleno desenvolvimento da prática de determinada atividade, e essas barreiras naturais alcançam todas as particularidades de cada trabalhador, seja no âmbito físico, fisiológico ou mental.

A fadiga, compreendida como um dos principais fundamentos biológicos para a redução da jornada de trabalho, é entendida como um dos efeitos elementares produzidos pelo gradual aumento de tempo na jornada laboral, e provocando, a fadiga, sintomas como sonolência, lassidão, indisposição para o trabalho, redução da atenção e de percepções, proporciona a redução da produtividade e ocasiona desmotivação para o empregado na prestação de qualquer serviço.

A fadiga é capaz de limitar o desempenho, tolhendo a devida e necessária atenção na feitura do trabalho, esta advém do esforço incessante conduzindo o organismo humano aos limites supramencionados, reduzindo, reversivelmente, as capacidades do homem e deteriorando a qualidade do serviço por ele executado.

Ainda a despeito do cansaço gerado pela prestação excessiva de trabalho, a doutrinadora Maria José Gianella Cataldi (2004), em sua obra Stress e fadiga mental no âmbito do trabalho, pontifica que o cansaço decorre do exagero de labor corpóreo ou psicológico, conduzindo a autointoxicação por leucomaínas liberadas diretamente no cérebro, acréscimo de ácido lático nas musculaturas, creatinina no sangue e a redução da resistência dos neurônios. Todos esses reflexos negativos causam a diminuição da força muscular, produzindo desconforto, favorecendo o acometimento de acidentes de trabalho.

Conforme os dizeres acima a sensação de cansaço reverbera efeitos no organismo humano que naturalmente são interpretados pelo cérebro humano como um sinal de esgotamento, e quando o trabalhador não reduz a atividade exauriente, favorece o surgimento de problemas clínicos em sua persona.

De acordo com Rodrigo Filus e Maria Lúcia Okimoto (2006), o esforço físico naturalmente proporciona ao empregado à formação da fadiga recuperável através

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do descanso. Porém, quando o empregado alcança a fadiga com habitualidade este passa a concentrar um desgaste residual que promove o surgimento da fadiga crônica, que acomete o trabalhador que transpõe seus próprios limites e mesmo assim mantém a execução do seu labor, situação bastante comum nas jornadas adicionadas com horas extraordinárias, causando prejuízos irreversíveis ao corpo e mente do trabalhador.

Então, todo esforço físico quando prestado continuadamente proporciona o aparecimento da fadiga, e este desgaste pode ser recuperado através do descanso. Entretanto, se o corpo humano chegar ao limite da fadiga com frequência, a recuperação do cansaço não mais se dá de maneira integral, sempre deixando resíduos de esgotamento e tornando a fadiga um processo crônico na pessoa do trabalhador.

Em um estudo realizado pela pesquisadora Anne Spurgeon (2003), correlacionando o excesso de tempo de labor com a segurança e a saúde do empregado no trabalho, ficou constatado que a principal preocupação advinda da sobrejornada é o surgimento da fadiga e do estresse ocupacional. A exposição contínua e cumulativa a ambos os efeitos proporciona o desenvolvimento de problemas, como doenças mentais e cardiovasculares.

Alicerçado no estudo dessa pesquisadora, é possível entender que existe uma relação direta e precisa entre o tempo excessivo de trabalho e a saúde do trabalhador, ao passo que foi confirmado que o trabalhador sobre jornadas suplementares merece maior preocupação diante do possível quadro de desenvolvimento de doenças mentais e doenças no sistema circulatório.

Ainda com base no estudo de Anne Spurgeon, os trabalhadores de uma indústria localizada no Japão, que executaram suas atribuições sobre uma jornada de trabalho suplementada com horas extraordinárias, sofreram com o aumento dos riscos de desenvolvimento de problemas associados à saúde mental.

Esse estudo realizado em uma indústria, localizada no Japão, constatou-se que quando esta passou a utilizar, na jornada de trabalho dos seus funcionários, o instituto das horas extras, produziu-se relativo aumento nos riscos de desenvolvimento de problemas na saúde mental de seus funcionários.

Não sendo suficiente, esse fato narrado não só ocorreu no Japão, já que estudos das décadas de 1960 e 1970 demonstraram que nos Estados Unidos as

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doenças cardíacas acometiam constantemente os empregados que trabalhavam mais de 60 horas por semana.

Esmiuçando um pouco mais a questão, outros estudos consubstanciaram que os motoristas de caminhão, que laboravam 11 ou 12 horas por dia, tiveram um acréscimo notável nos casos de fadiga e de problemas músculo-esqueléticos, originários da postura prolongada em condições precárias ao dirigir sentados em pelo menos 50% de sua jornada, além do aumento das doenças do coração. E ainda, outro estudo bastante significativo foi produzido na Alemanha, no qual se constatou, na análise de 1,2 milhões acidentes do trabalho, que o risco de acidente aumentou exponencialmente, depois da nona hora de trabalho, com um percentual 3 vezes maior nas jornadas de 16 horas de trabalho diárias. A partir disso, conclui-se que trabalhar regularmente mais de 50 horas por semana proporciona o aumento do risco de doenças, especialmente as cardiovasculares. (SPURGEON, 2003)

Os estudos aqui elencados demonstram que quanto mais horas são adicionadas a jornada comum de trabalho, de apenas 8 horas diárias, maiores são os riscos de acometimento por algum tipo de acidente de trabalho, em sentido ampliado, visto que as lesões decorrentes da prestação continuada de sobrejornadas, podem ser de natureza imediata como também mediata, sendo estas as doenças ocupacionais.

Relacionando os aspectos econômicos à jornada de trabalho, atualmente, este fundamento vem abalizando o ideal de redução do tempo de labor e esse fato vem favorecendo os defensores da tese de que a jornada laboral prestada com suplementação de horários vem conduzindo ao acréscimo de trabalhadores acometidos por algum tipo de doença ocupacional.

O autor Cañete (2001) suscita que a procura demasiada pela progressão da produtividade tem sido correspondida em aumento da jornada de trabalho, com o adicional de horas extras indiscriminadas. E esse aumento vem se padronizando, transformando a rotina dos trabalhadores em um ritmo demasiadamente intenso, com controle direto sobre o trabalhador, e tais circunstâncias são maléficas tanto aos empregados, causando prejuízos a saúde destes, quanto as organizações, prejudicando a produtividade e a competitividade.

Interessante é o fato que, na busca pela ampliação da produtividade, muitas organizações não se dedicam a investir em maquinário tecnológico, que auxilie diretamente o funcionário na feitura de sua atividade, reduzindo o tempo gasto para

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a produção do produto ou serviço prestado pela organização, e preferem optar por estender a jornada laboral atribuindo horas extras indiscriminadamente na rotina dos empregados. Nessa perspectiva, tratando-se de um método ultrapassado na procura da maior produtividade, consequentemente o empregado é o mais prejudicado, visto que quanto mais permanecerem em jornadas extenuantes de trabalho, com extremo desgaste físico e mental, maior será a possibilidade do surgimento de risco de acometimento por alguma enfermidade ocupacional.

Os médicos do trabalho Paulo Antônio Barros Oliveira e Jaqueline Cunha Campello (2006, p. 80), na cidade de Porto Alegre, realizaram estudo avaliativo da jornada de trabalho bancária e seus efeitos sobre a saúde do homem. No estudo ficou constatado que as jornadas variavam de 8 horas diárias até quase 9 horas e 38 minutos de acordo com o cargo e função, diante isso foi consubstanciado um nível de 30% de adoecimento advindo desse trabalho.

De tal estudo avaliativo também ficou constatado que o acréscimo de horas dentro da jornada de trabalho comum acarretou no elevado aumento do número de bancários doentes devido a prestação frequente de jornadas suplementadas por horas extras.

O ilustre Maurício Godinho Delgado (2019, p. 1026) destaca em sua obra que atividades laborais prestadas de maneira exagerada fortalecem os riscos ocupacionais de desenvolvimento de doenças e acometimento de acidentes. Citando assim que:

É importante enfatizar que o maior ou menor espaçamento da jornada (e duração semanal e mensal do labor) atua, diretamente, na deterioração ou melhoria das condições internas de trabalho na empresa, comprometendo ou aperfeiçoando uma estratégia de redução dos riscos e malefícios inerentes ao ambiente de prestação de serviços. Noutras palavras, a modulação da duração do trabalho é

parte integrante de qualquer política de saúde pública, uma vez que influencia, exponencialmente, a eficácia das medidas de medicina e segurança do trabalho adotadas na empresa. Do mesmo modo que a

ampliação da jornada (inclusive com a prestação de horas extras) acentua, drasticamente, as probabilidades de ocorrência de doenças profissionais ou acidentes do trabalho, sua redução diminui, de maneira significativa, tais probabilidades da denominada “infortunística do trabalho”.

O pensador Dwyer (2006, p. 91) destaca em sua obra que o Conselho de Pesquisa sobre Fadiga Industrial, promoveu várias pesquisas onde comprovavam associações entre a fadiga e os acidentes de trabalho. Tanto que, em 1918, foi

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publicado que o aumento da jornada laboral de 60 horas semanais para 72 horas semanais intensificou em 2 vezes e meia o número de acidentes registrados.

Logo, percebe-se que dessas variadas pesquisas que relacionaram a fadiga com a ocorrência de acidente de trabalho, apontaram para o aumento dos riscos de acidentes/doenças ocupacionais nos trabalhadores à medida que as jornadas eram suplementadas com horas a mais.

A própria Organização Internacional do Trabalho (OIT), no XVI Congresso Mundial de Saúde e Segurança do Trabalho, feito em Viena, e publicado relatório em 2003, ficou reconhecido que a Karoshi foi causa de falecimento associado ao labor através da constatação que 23% de empregados morrem devido doenças no sistema circulatório advindas do trabalho, fixando como principal fator determinante para isso a prestação de jornadas de trabalho exaustivas.

Em consonância com o relatório da OIT publicado no mês de abril, em 2019, as horas de trabalho excessivas estão relacionadas com reflexos crônicos da fadiga que podem desencadear em problemas de saúde como enfermidades cardiovasculares e distúrbios no sistema digestório, sem contar os problemas ocasionados a saúde psicológica, como ansiedade, depressão e insônia.

Portanto, de acordo com tal relatório da OIT, os efeitos crônicos da fadiga conduz o trabalhador ao desenvolvimento de doenças ocupacionais, acarretando prejuízos a saúde física e mental deste, e esses efeitos estão correlacionados com a prestação de atividades laborais além do limite constitucional da jornada de trabalho.

3.1 NECESSIDADE DE REDUÇÃO DA JORNADA DE TRABALHO

Em consonância com os efeitos negativos a saúde do trabalhador e a produtividade da organização, advindos da majoração da jornada laboral, torna-se relevante dar o devido destaque a luta em prol da redução dessa mesma jornada, visto que a diminuição do lapso temporal de prestação laboral contribui decisivamente para a preservação da saúde do empregado, prevenindo o desenvolvimento da fadiga e de seus reflexos no âmbito físico, fisiológico e mental.

As consequências oriundas a redução da jornada orbitam também os âmbitos sociais e econômicos, desse modo o jurista Calvete (2003, p. 15), preleciona que:

A redução da jornada de trabalho não pode ser transformada numa panacéia para o combate ao desemprego. Ela pode ser um instrumento útil se adotada no tempo certo e se acompanhada de

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outras medidas igualmente necessárias. Nos marcos do capitalismo atual a redução da jornada de trabalho, para ter algum efeito positivo sobre a geração de novos postos de trabalho, teria que ser significativa e vir acompanhada da proibição de horas extras, maior controle sobre a intensidade do trabalho, manutenção dos padrões de cumprimento da jornada de trabalho e cobertura universal dos novos e velhos riscos sociais.

Ainda no fundamento econômico para a redução da jornada laboral, o “Work sharing”, traduzido como partilha do trabalho, é um ideal amplamente defendido pelas centrais sindicais, visto que com a diminuição da jornada de trabalho é possível expandir a quantidade de vagas de emprego, já que o mesmo trabalho poderá ser fracionado para uma quantidade maior de empregados.

Essa perspectiva é respaldada pelo argumento de que “menos horas por semana seria possível gerar novos empregos” que foi proposto pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudo Sócio Econômico (DIEESE, 2006).

Tanto o DIEESE quanto a OIT relacionam a redução da jornada não só à geração de novos postos de emprego, mas também trazem em seus estudos evidências que associam a redução de jornada a um consequente aumento da produtividade do trabalho. A própria OIT assegura que de 1980 ao ano 2000, a jornada de trabalho vem diminuindo de modo contínuo em países considerados desenvolvidos. Nos locais onde as jornadas passaram de 44 horas para 38 horas semanais, ocorreu um enorme crescimento das vagas de emprego.

Os autores Guy Aznar (1995) e André Gorz (2004) estão em sintonia com o pensamento acima relacionado, visto que salvaguardam a precisão de “trabalhar menos para trabalharem todos” e compactuam com o ideal da partilha de trabalho.

Em consonância com o pensamento de Rosso (1998), na única pesquisa feita no Brasil relacionando a redução da jornada de trabalho, instituída pela Constituição Federal de 1988, com a formação de novas de vagas de emprego, constatou que a redução de 8,33% (48 horas/s para 44 horas/s) da jornada laboral proporcionou, por volta de, 0,7% de geração de emprego. O autor ainda explica que essas porcentagens são frutos das estratégias utilizadas pelas empresas para reorganizar e contrabalancear as funções diante do quadro constitucional redutor da jornada laboral.

Convém salientar, ainda em consonância com Rosso, que a redução constitucional da jornada laboral não só proporcionou estatisticamente novas vagas de emprego, pois também trouxe relativo aumento na proporção de jornadas de

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