• Nenhum resultado encontrado

3. JORNADA DE TRABALHO ESTENUANTE ASSOCIADA AO

3.1 Necessidade de redução da jornada de trabalho

Em consonância com os efeitos negativos a saúde do trabalhador e a produtividade da organização, advindos da majoração da jornada laboral, torna-se relevante dar o devido destaque a luta em prol da redução dessa mesma jornada, visto que a diminuição do lapso temporal de prestação laboral contribui decisivamente para a preservação da saúde do empregado, prevenindo o desenvolvimento da fadiga e de seus reflexos no âmbito físico, fisiológico e mental.

As consequências oriundas a redução da jornada orbitam também os âmbitos sociais e econômicos, desse modo o jurista Calvete (2003, p. 15), preleciona que:

A redução da jornada de trabalho não pode ser transformada numa panacéia para o combate ao desemprego. Ela pode ser um instrumento útil se adotada no tempo certo e se acompanhada de

outras medidas igualmente necessárias. Nos marcos do capitalismo atual a redução da jornada de trabalho, para ter algum efeito positivo sobre a geração de novos postos de trabalho, teria que ser significativa e vir acompanhada da proibição de horas extras, maior controle sobre a intensidade do trabalho, manutenção dos padrões de cumprimento da jornada de trabalho e cobertura universal dos novos e velhos riscos sociais.

Ainda no fundamento econômico para a redução da jornada laboral, o “Work sharing”, traduzido como partilha do trabalho, é um ideal amplamente defendido pelas centrais sindicais, visto que com a diminuição da jornada de trabalho é possível expandir a quantidade de vagas de emprego, já que o mesmo trabalho poderá ser fracionado para uma quantidade maior de empregados.

Essa perspectiva é respaldada pelo argumento de que “menos horas por semana seria possível gerar novos empregos” que foi proposto pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudo Sócio Econômico (DIEESE, 2006).

Tanto o DIEESE quanto a OIT relacionam a redução da jornada não só à geração de novos postos de emprego, mas também trazem em seus estudos evidências que associam a redução de jornada a um consequente aumento da produtividade do trabalho. A própria OIT assegura que de 1980 ao ano 2000, a jornada de trabalho vem diminuindo de modo contínuo em países considerados desenvolvidos. Nos locais onde as jornadas passaram de 44 horas para 38 horas semanais, ocorreu um enorme crescimento das vagas de emprego.

Os autores Guy Aznar (1995) e André Gorz (2004) estão em sintonia com o pensamento acima relacionado, visto que salvaguardam a precisão de “trabalhar menos para trabalharem todos” e compactuam com o ideal da partilha de trabalho.

Em consonância com o pensamento de Rosso (1998), na única pesquisa feita no Brasil relacionando a redução da jornada de trabalho, instituída pela Constituição Federal de 1988, com a formação de novas de vagas de emprego, constatou que a redução de 8,33% (48 horas/s para 44 horas/s) da jornada laboral proporcionou, por volta de, 0,7% de geração de emprego. O autor ainda explica que essas porcentagens são frutos das estratégias utilizadas pelas empresas para reorganizar e contrabalancear as funções diante do quadro constitucional redutor da jornada laboral.

Convém salientar, ainda em consonância com Rosso, que a redução constitucional da jornada laboral não só proporcionou estatisticamente novas vagas de emprego, pois também trouxe relativo aumento na proporção de jornadas de

trabalho prestadas com adicional de horas extras. De modo que, nos 6 meses anteriores à promulgação da Constituição, apenas 24,4% dos empregados prestavam horas extraordinárias, já nos 6 meses posteriores a promulgação passou para 41,2% o número de empregados em jornadas suplementares.

Demonstrado está a relação entra a diminuição de horas trabalhadas e o acréscimo de postos de trabalho, favorecendo a classe de desempregados, pelas novas vagas, e aos já empregados, pela diminuição dos riscos de desenvolverem doenças ocupacionais.

Na obra Working-Time Reduction and Employment: Experiences in Europe and Economic Policy Recommendations, dos autores Bosch e Lehndorff, é retratado que na maioria dos países industrializados, em meados de 1870, os empregado trabalhavam em torno de 2.900 a 3000 horas anuais, e com o passar das décadas, a jornada foi sendo reduzida pela metade e concomitantemente o Produto Interno Bruto per capita progrediu de cinco a dez vezes no período destacado. Esse caso demonstra que mesmo com a diminuição do tempo de trabalho dos empregados, a produtividade nacional destes países não foi reduzida, ocorrendo um verdadeiro progresso financeiro nos mesmos.

Ainda na linha de pensamento desses autores, existe um bom numerário de evidências qualitativas que demonstram que os empregadores que optam pela redução da jornada de trabalho, além de perceberem aumento da produtividade, também alteram seus sistemas de organização do trabalho.

O professor e pesquisador John Pencavel (2014) fez um estudo com base em observadores para analisar a correlação entre produtividade e jornada de trabalho, e chegou a conclusão que esta correlação é algo não linear. A pesquisa também sugere que o empregador deve se preocupar com a observância do cumprimento devido da jornada laboral, onde os empregados que estão a bastante tempo em serviço, tendem a sofrer por fadiga ou estresse, diminuindo a produtividade.

De acordo com a sugestão do próprio estudo, o empregador deve se preocupar com a manutenção da jornada de trabalho comum, evitando a utilização de horas suplementares já que as sobrejornadas favorecem o surgimento da fadiga e do estresse nos trabalhadores, prejudicando a saúde dos mesmo, e também trazendo malefícios as organizações quanto a sua produtividade.

Do ponto de vista jurídico, o fundamento constitucional em busca da redução da jornada de trabalho está no direito à redução dos riscos de trabalho, assegurado

pela Magna Carta do Brasil de 1988, no artigo 7º, inciso XXII, que retrata o contexto da proteção do trabalhador, cujo busca a preservação e manutenção da saúde do empregado, servindo assim de diretriz para que seja seguida por legisladores, julgadores e administradores, para que ajam os 3 de maneira concomitante para reduzir os riscos advindos do ambiente laboral.

Nessa linha de pensamento, é plausível compreender que a saúde do trabalhador sempre merece o devido destaque, já que os institutos do direito do trabalho como a jornada de trabalho, devem respeitar essa condição máxima, evitando sempre que possível os riscos de desenvolvimento de acidentes e doenças ocupacionais nos trabalhadores.

Sendo assim, o autor Maurício Godinho Delgado, comentando a despeito desse direito, destaca que:

A Constituição da República apreendeu, de modo exemplar, essa nova leitura a respeito da jornada e duração laborativas e do papel que têm no tocante à construção e implementação de uma consistente política de saúde no trabalho. Por essa razão é que a Carta de 1988, sabidamente, arrolou como direito dos trabalhadores a “redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança

Portanto, a partir desse direito assegurado pela CF/88 é possível perceber a necessidade da redução da jornada laboral, uma vez que esta, de acordo com os estudos demonstrados nesse trabalho, quando suplementada com excessivas horas de labor, proporciona decisivamente no aumento dos riscos do surgimento de acidente de trabalho ou de acometimento por alguma enfermidade ocupacional.

Documentos relacionados