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4 SOBREJORNADA DE TRABALHO, FATORES DE RISCO E O

4.3 Hipertensão arterial

Outro importante fator a ser correlacionado é a hipertensão arterial sistêmica (HAS), que corresponde ao estado duradouro de pressão insistentemente elevada que acomete o indivíduo por causas primárias ou secundárias.

A doutrina de Antônio Lopes Monteiro (2019, p.145) compreende por causas primárias a hipertensão advinda de fatores desconhecidos e por causas secundárias, a hipertensão advinda de fatores bem definidos, na maioria das vezes fatores renais e endócrinos.

A hipertensão, por si só, não está associada diretamente ao ambiente de trabalho e a jornada laboral exercida pelo trabalhador, entretanto importante é a observância do princípio da concausalidade, já que este sugere que as complicações cardíacas, vasculares ou renais, advindas do quadro de HAS, podem

derivar das condições especificamente danosas em que se presta o labor, ficando evidenciado o nexo de causalidade.

Nessa linha de pensamento, fato é que existe uma associação indireta entre a hipertensão arterial agravada pelo surgimento de doenças coronarianas, e o ambiente laboral, já que este último corresponde a um fator capaz de impulsionar as consequências originárias da pressão alta. Principalmente, quando o trabalho é exercido de maneira excessiva ocasionando o desgaste físico e mental do trabalhador, e este já possuindo a HAS pode ter sua condição agravada diante da intensiva prestação laboral.

Uma pesquisa realizada em Istambul, na Turquia, no ano de 2005, feita com a colaboração de 730 trabalhadores de curtimento de couro, utilizou-se o critério do período de exposição no trabalho como indicador da relação existente entre hipertensão arterial e a jornada de trabalho prestada pelos trabalhadores, apontando o estudo que o período de trabalho influência decisivamente sobre a elevação dos riscos de desenvolvimento da hipertensão. (INCE N, et al. 2008)

Dessa pesquisa é possível depreender a relevante conexão que há entre a prestação jornada de trabalho excessiva e o surgimento, nos trabalhadores sobre essa jornada, da hipertensão arterial. E dessa hipertensão arterial adquirida do ambiente de trabalho, devido as longas jornadas laborais, surgem consequências diretas ao sistema circulatório dos empregados, ao passo que estes agora acometidos pela HAS podem evoluir seus quadros para o desenvolvimento de doenças associadas ao coração e vasos sanguíneos.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O conteúdo exposto retratou os conceitos e características em torno do instituto jurídico da jornada de trabalho, com ênfase na jornada laboral adicionada por horas extraordinárias. Também correlacionou os efeitos produzidos pela prestação dessa jornada de trabalho estendida com os fatores de risco relacionados às doenças ocupacionais, com absoluto destaque as doenças cardiovasculares.

Para o desenvolvimento do trabalho foi necessário apresentar o contexto histórico da estruturação da jornada de trabalho, apontando seu processo evolutivo acompanhado pelas constantes lutas sociais dos trabalhadores, na busca da efetivação dos direitos a saúde e ao lazer, como exemplo. A partir desse contexto histórico tornou-se perceptível que a jornada de trabalho continua sendo tema de grandes discussões entre os doutrinadores trabalhistas, divergindo estes em pensamentos quanto as limitações e a regulação deste instituto jurídico.

Logo após os devidos e necessários apontamentos introdutórios a despeito da jornada laboral, o foco da pesquisa convergiu-se na busca pela constatação da inter-relação existente entre a sobrejornada e as doenças ocupacionais. Dessa maneira, foram analisados os reflexos que a jornada exaustiva com horas extras ocasiona a pessoa do empregado, sendo os principais reflexos a fadiga e o estresse, e a partir desses reflexos foi possível associa-los aos fatores de risco presentes na maioria das doenças ocupacionais, e, dessa maneira, foi possível constatar que o reflexo advindo da sobrejornada também pode ser enquadrado como fator de risco para certa doença ocupacional, favorecendo assim o acometimento do trabalhador por tal enfermidade.

Da associação acima mencionada, ficou evidenciado que os reflexos da sobrejornada na pessoa do trabalhador podem contribuir para o agravamento ou acometimento de doença ligada ao trabalho, uma vez que esses reflexos atingem negativamente o prestador da atividade laboral influindo em sua saúde física e mental.

Importante ainda destacar que o quadro pode ser agravado ao passo que as horas extraordinárias são adicionadas a jornada laboral comum de maneira continuada ou cotidiana, de modo que quanto mais frequentes forem as atividades laborais prestadas, sobre esse regime demasiadamente exaustivo, maiores serão os riscos dos empregados desenvolverem doenças do trabalho.

Ao final, o enfoque recaiu sobre as doenças cardiovasculares, que correspondem ao tema central da pesquisa, buscando associar o acarretamento dessas enfermidades a prestação regular de horas extraordinárias. Para tanto, foram analisados fatores de riscos pertencentes às doenças que atacam o sistema circulatório, e tais fatores foram encontrados nos efeitos advindos da atividade laboral adicionada de horas extras, sendo possível depreender que quando prestada a jornada de trabalho com suplementação de horas extras de maneira rotineira, o riscos de desenvolvimento de doenças cardiovasculares aumentam de maneira alarmante.

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