A compreensão do Islã, sua ramificação em toda sorte de seitas e
grupos diversificados, emergiram desde sua origem. Explicam-se na
própria concepção estrutural de sua mensagem, a difícil metodologia
para se explicar o fenômeno religioso do Islã, conforme relata o sociólogo
Jean-Paul Charnay no início de sua obra Sociologia religiosa do Islã:
Como investigar, com efeito, as dimensões do fenômeno religioso em uma civilização na qual o direito e a lei, a moral e o dogma, os comportamentos individuais e de grupo, as relações sociais e o regime político constituem um todo único teológico, ético e normativo ao mesmo tempo [...]? (Charnay, 1994, p. 14 Apud PACE, 2005, p. 19).
Entende-se que a religião islâmica, através de seus dogmas,
práticas e estrutura, abrange a vida total do indivíduo, não sendo
possível ao fiel se dissociar ou escolher particularizar ações de sua vida
sem quebrar tais dogmas da fé. Sobre essa questão de vida integral do
fiel, associa-se a sua devoção sacrificial como que de um militante, um
guerreiro fiel à sua religião.
O islã surge a seus olhos predominantemente como uma religião animada por uma ética guerreira, por um espírito de militância ativa através da fé [...] Para o Islã, em suma, de acordo com Weber, o supremo ideal ascético não é representado pelo trabalho como profissão, mas pelo modelo do monge guerreiro que, em nome da fé, está pronto a sacrificar a própria vida, morrendo mártir. (PACE, 2005, p.17).
Assim, a configuração atual do Islã como religião, está baseada em
sua mensagem, (como toda sociedade organizada passa a adquirir),
sobrepondo um universo de sistemas simbólicos como: crenças, mitos,
ritos, ciência, língua, arte, templo, literatura e objetos, que no seu campo,
se estruturam, estruturando e assim integrando e identificando
socialmente os fiéis. Pierre Bourdieu, em suas sínteses sobre o Poder
Simbólico, descreve esse fenômeno:
O poder simbólico como poder de constituir o dado pela enunciação, de fazer ver e fazer crer, de confirmar ou de
transformar a visão do mundo e, deste modo, a ação sobre o mundo, portanto o mundo; poder quase mágico que permite obter o equivalente daquilo que é obtido pela força (física ou econômica), graças ao efeito específico de mobilização, só se exerce se for reconhecido, quer dizer, ignorado como arbitrário. (BOURDIEU, 2010, p. 14).
O Islã tem seu “Poder Simbólico” na sua complexa estrutura que
se replica por onde a religião se instala é praticada, mobilizando-se e
identificando-se de forma a promover fortes transformações sociais e
culturais.
Para que a configuração religiosa funcionasse de forma prática,
era necessário estabelecer uma estrutura nas comunidades como
elementos que facilitassem e dessem sustentação à fé, e todos os
aspectos sociais e políticos que caracterizavam o Islã. Assim como
observa Nabham em cada cidade tinha:
Mesquita aljama, sempre num lugar central, era o símbolo e o instrumento de autoridade plena.
Musalla, literalmente um local de oração. Normalmente havia um para cada cidade, junto aos principais cemitérios. Foi usado para serviços religiosos e festividades populares, mas não alcançou a consistência típica de uma mesquita.
Masjid, pequenas mesquitas. Desde o início da formação das cidades do Islão, foram construídos estes templos entre os diferentes grupos econômicos, caracterizando-se como lugares privados de reunião e oração.
Machhad, lugares de peregrinação. Os fiéis se dirigiam aos santuários junto aos túmulos de santos para a comemoração de acontecimentos sagrados. Essas datas e fatos resultaram da herança islâmica no contato com inúmeros lugares sagrados que foram islamizados tardiamente; por outro lado, desenvolveu-se no Islão a tendência de centralizar atividades ou definir legitimidades sobre personalidades específicas. Madrasa, escola. A madrasa era considerada um dos monumentos mais importantes junto com as mesquitas e com os santuários.
[...]
Kaysaria, instituição para a venda de mercadorias santuárias. Suq, Mercado. Lojas divididas em setores, onde os compradores encontravam desde roupas até alimentos. (NABHAN, 1996, p. 44-47, grifo nosso).
Vale ressaltar que essas configurações práticas organizacionais se
estruturam até hoje nas comunidades islâmicas espalhadas por todo o
mundo. Ao longo desses 14 séculos de história, o Islã se expandiu por
quase todo o mundo árabe e grande parte da Índia, Ásia Menor e parte
da Europa, exercendo grande influência não só religiosa, mas cultural,
artística e arquitetônica. Várias edificações foram construídas,
tornando-se marcos históricos e simbólicos que retratam a expansão islâmica.
As mesquitas construídas entre os séculos VI e VIII seguem o
“modelo” da casa de Muhammad, em Medina: uma planta quadrangular,
com um pátio voltado para o sul e duas galerias, uma área de oração
coberta, um pátio com fontes de água para as abluções. A casa do
profeta era local de oração, centro político, hospital e refúgio para os
mais pobres. Essas utilidades caracterizam as mesquitas até os dias de
hoje, sendo muitas delas Associações Beneficentes.
37Vejamos a seguir algumas edificações famosas do mundo
islâmico:
Foto 03. Monte do templo, Jerusalém. Foto: Bavid Baum, 3 de janeiro de 2010. Disponível em:
<http://tomclarkblog.blogspot.com.br/2013/07/wallace-stevens-nights-hymn-of-rock.html>. Acesso em: 05 de maio de 2018.
37 Estilos Arquitetônicos. Disponível em:
<https://www.estilosarquitetonicos.com.br/arquitetura-islamica>. Acesso em: 12 de outubro de 2017.
As mesquitas seguem todas o mesmo padrão: um átrio e uma sala para
orações, mas possuem decoração e formas diversificadas.
Foto 04 – A Mesquita Azul ou Mesquita do Sultão Amade (em turco: Sultanahmet Camii) é uma mesquita otomana de Istambul, Turquia. Foi construída entre 1609 e 1616. Disponível em: <https://www.estilosarquitetonicos.com.br/arquitetura-islamica>
Acesso em: 05 de maio de 2018.
Foto 05. A Caaba em Meca· Site o Guia do Peregrino. Foto gratuita no Pixabay. Disponível em: <https://pixabay.com/pt/caaba-meca-guia-do-peregrino-3334363/>.
Foto 06. Taj Mahal, mausoléu islâmico na Índia, construído entre os anos de 1632 a 1653. Disponível em: <https://www.estilosarquitetonicos.com.br/arquitetura-islamica>
Acesso em 05 de maio de 2018.