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2. A INSERÇÃO MUÇULMANA NO BRASIL E SUA

2.4. São Paulo

A cidade de São Paulo, além de ser a principal cidade do Brasil,

com a maior população, maior pólo industrial, econômico e cultural, é

também a cidade com a maior variedade de colônias estrangeiras de

todo o país, sendo assim um espaço privilegiado para as experiências

religiosas.

A etnia sírio-libanesa e seus descendentes se concentraram em

São Paulo desde o final do século XVII, até hoje. Essas duas

nacionalidades árabes representam a maioria dos islâmicos da cidade,

tornando São Paulo um dos pólos mais importantes da história do Islã no

Brasil. Segundo o censo de 2000, a presença de imigrantes de origem

sírio-libanesa e seus descendentes (nascidos no Brasil) representavam

4% da população brasileira, mais ou menos oito milhões de pessoas dos

quais cerca de um milhão deles habitava a Grande São Paulo. (TRUZZI,

2005, p. 25).

Depois de algumas décadas de imigração, com o crescimento e o

estabelecimento da colônia sírio-libanesa (islâmica), como já pontuamos,

surge a necessidade de praticarem sua religião de forma mais

estruturada. Então, em 1928, na Avenida do Estado, é criada a primeira

Sociedade Beneficente Muçulmana no Brasil, com 62 pessoas arroladas,

originárias da Síria, Líbano, Palestina, Nova Granada e Egito. Poucos

anos depois, em 15 de junho de 1933, foi publicado o primeiro jornal

islâmico no Brasil, intitulado AZ-ZIKRA, conhecido como Jornal Sírio. Em

1929, deu-se início a construção da primeira mesquita do país e da

América Latina, sendo inaugurada três décadas depois, em 1960,

chamada de Mesquita Brasil, localizada no bairro do Cambuci, em São

Paulo. (RIBEIRO, 2012, p. 119).

Sobre a Mesquita Brasil, Batista, Alves e Sanches relatam com

mais detalhes sobre esse importante marco simbólico do Islã no Brasil:

A Mesquita Brasil tem como base a preservação cultural e religiosa do Islamismo na cidade, oferecendo aos seus visitantes, gratuitamente, a oportunidade de ampliar seus conhecimentos referentes ao Islam. Sua arquitetura segue os padrões dos templos muçulmanos e encanta por suas formas e pela riqueza de detalhes no acabamento do seu interior. Sua construção foi idealizada pelo arquiteto Paulo Camasmie, idealizador da Catedral Ortodoxa de São Paulo. (2017, p. 30-31).

Foto 12 - Mesquita Brasil.

(BATISTA, ALVES e SANCHES, 2017, p. 59) Foto: Aline Batista.

A Mesquita Brasil constitui um espaço que ultrapassa os limites

das práticas e rituais religiosos, ela é hoje um dos maiores símbolos da

presença mulçumana em São Paulo, integrando e articulando membros

de diferentes instituições Islâmicas em uma comunidade muçulmana

imaginada em dimensões regionais ou, como indica o seu nome,

nacionais.

55

[A Mesquita Brasil], está ligada à mais antiga instituição muçulmana do Brasil, a Sociedade Beneficente Muçulmana. Começou a ser construída em 1929 e foi ampliada e reformada em estilo "neornameluco" em 1956. O exterior do edifício branco com um alto minarete e o seu interior decorado com painéis pintados com arabescos característicos das estampas egípcias evocam a arquitetura religiosa do Oriente Médio contemporâneo, assim como um passado imaginário da "época de ouro" do Islã.

A mesquita tem uma comunidade própria com 1680 membros, além de cinquenta alunos registrados nas aulas de árabe e religião. Essas aulas são destinadas principalmente aos novos convertidos, embora sejam abertas aos não muçulmanos, constituindo um importante canal de conversão ao Islã. A influência da Mesquita Brasil ultrapassa em muito os limites da comunidade formalmente ligada a ela, uma vez que muitas pessoas de outras comunidades muçulmanas

55 ROCHA PINTO, Paulo Gabriel Hilu. Ritual, Etnicidade e Identidade Religiosa nas Comunidades Muçulmanas no Brasil. In: PEREIRA, João Batista Borges. Religiosidade no Brasil. São Paulo, SP: Edusp, 2012. p. 337.

frequentam aí as orações e, principalmente, o sermão de sexta-feira. Isso é expresso no fato de que essa mesquita possui diversos

shaykhs especializados em cada uma das atividades religiosas que compõem a liderança da comunidade (liderança das orações, ensino, sermão, consultas morais etc.). Os shaykhs dessa mesquita são todos oriundos da Universidade Al-Azhar, a instituição de estudos religiosos mais prestigiosa do mundo sunita, seja da sua sede no Cairo ou de sua filial em Beirute, ou da Universidade Islâmica de Medina, na Arábia Saudita. (PEREIRA, 2012, p. 338).

Como já mencionado, o papel ocupado pelas mesquitas é de

fundamental importância para as comunidades islâmicas, pois é através

das Mesquitas e Sociedades Beneficentes que elas se organizam, assim

como as igrejas cristãs. A mesquita é o lugar de adoração, estruturação e

organização dos assuntos da vida. Há mais de “23 espaços islâmicos

(mesquitas e centros islâmicos) no Estado de São Paulo, mas

certamente há muito mais salas de oração que não são notificadas pelos

órgãos oficiais da própria comunidade muçulmana”. (MONTENEGRO e

BENLABBAH, 2013, p. 120).

Quanto às mesquitas de São Paulo capital, algumas delas têm

diferentes características de configuração:

As mesquitas em São Paulo apresentam características próprias, dadas principalmente pela forma com que o sheik as administra. A Mesquita Brasil, a mais antiga no País, possui uma comunidade de cerca de 1.700 membros com orientação sunita, enquanto a mesquita do Brás possui uma liderança xiita, com cerca de 20 mil membros. Ambas as mesquitas são voltadas, principalmente, para os árabes e seus descendentes. Por outro lado, a mesquita do Pari possui na sua liderança um sheik sunita, chegado há quatro anos da Síria, e volta-se, quase que inteiramente, para os revertidos brasileiros, tendo também cadastradas 200 famílias de origem libanesa. (RIBEIRO, 2012, pg. 122. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.15603/2176-1078/er.v26n43p106-135>. Acesso em: 06 de março de 2017. (Grifo nosso).

As comunidades islâmicas se espalharam de Norte a Sul, de Leste

a Oeste pela cidade de São Paulo. Algumas delas se destacam como a

Mesquita de Santo Amaro, com aproximadamente 500 famílias

muçulmanas residentes nessa região, Mesquita fundada em 1977; mais

ao sul tem a Mesquita da Vila São José (Grajaú/Sul); nos extremos da

cidade encontra-se a Mesquita em São Miguel Paulista e a de Vila Rica

na zona leste; a Mesquita da República no centro da cidade e as já

mencionadas acima, a Mesquita Brasil no Cambuci, Mesquita do Brás e

do Pari.

A Mesquita do Pari merece um destaque por pertencer à Liga da

Juventude Islâmica Beneficente do Brasil (LJIBB)

56

, outra estruturação

estratégica de divulgação e integração, onde os sermões são feitos em

árabe, e aqueles que quiserem podem acompanhá-los em tradução

simultânea para o português através de fones de ouvido distribuídos na

entrada. (PINTO, 2014, p. 214).

Foto 13 - Mesquita do Pari, Rua Barão de Ladário, 922 - Pari – São Paulo, SP. Disponível em:

<https://www.islamcuiaba.com/products/mesquita-do-pari-liga-da-juventude-isl%C3%A2mica/>. Acesso em: 07 de junho de 2018.

Sobre a LJIBB

,

temos os seguintes dados:

Fundada em 12 de janeiro de 1995 e com sede própria em São Paulo, a Liga da Juventude Islâmica Beneficente do Brasil – Mesquita do Pari – é uma entidade civil sem fins lucrativos de âmbito religioso, composta por um ilimitado número de sócios individuais, de várias nacionalidades, que professam a fé islâmica.

Todos nossos eventos e atividades têm como base os ensinamentos do Alcorão Sagrado, as tradições do Profeta Muhammad (que a paz e a bênção de Deus estejam sobre ele) e as biografias dos muçulmanos virtuosos do passado.

56 Informa-se que a partir desse ponto se usará a sigla LJIBB para designar Liga da Juventude Islâmica Beneficente do Brasil.

A Liga da Juventude Islâmica Beneficente do Brasil não pertence a um determinado lugar, restringindo as suas atividades a um só estado ou cidade; a entidade tem as suas atividades estendidas em todo território nacional.

A entidade tem como objetivo o cumprimento das funções de uma coletividade fiel aos princípios do Islamismo, tais como: - Propagar e pregar os bons costumes e a moral contidos nos ensinamentos do Islam;

- Consolidar e pregar o significado dos valores religiosos islâmicos;

- Pregar a concretização do significado de fraternidade, do companheirismo e da união entre todos os seres humanos; - Elevar o nível cultural e social dos associados, frequentadores e da comunidade;

- Formar uma personalidade islâmica consciente,

comprometida com os ensinamentos religiosos e colaborar com o progresso do Brasil;

- Auxiliar os muçulmanos quando estiverem enfrentando quaisquer tipos de problemas em suas vidas;

- Buscar a cura das doenças sociais, tais como o alcoolismo, a toxicomania, a desintegração moral e a criminalidade;

- Prestar ajuda humanitária e assistência social aos muçulmanos necessitados bem como a todo e qualquer brasileiro que precise de amparo. Disponível em: <http://www.ligaislamica.org.br/liga_islamica_quem_somos.htm >. Acesso em: 07 de maio de 2018.

Estas e outras mesquitas e inúmeras salas de oração (mussalas)

tornam a cidade de São Paulo o maior pólo de concentração de

Mesquitas e de Centros islâmicos do Brasil. (BARBOSA FERREIRA,

2013, p. 117-120).

Juntamente com São Paulo, a comunidade islâmica da cidade de

São Bernardo do Campo, SP, passou a ter considerável destaque no

cenário islâmico nacional. Por anos foi, e ainda é, uma das comunidades

islâmicas mais dinâmicas e divulgadora da religião, recebendo

muçulmanos de toda a região do ABC, São Paulo e Brasil. Inaugurada

em 1990, a Mesquita Abu Bakr Assidik, na rua Henrique Alves dos

Santos, 205, Jardim das Américas - São Bernardo do Campo – SP, é

mantida pela Sociedade Islâmica de Beneficência Abu Bakr Assidik,

nome do primeiro califa do Islã, companheiro do profeta Muhammad.

Também em São Bernardo do Campo, sedia-se o CDIAL - Centro

de Divulgação do Islã para a América Latina, que se localiza na mesma

rua da Mesquita, número 161, no Jardim das Américas. O CDIAL tem

como um dos seus principais objetivos apoiar as comunidades islâmicas,

cultural, social, política e economicamente; ensinar a religião aos fiéis e a

língua árabe, além de incentivar a memorização do Alcorão, promover

discussões, simpósios, cursos e encontros internacionais para divulgar a

cultura e os princípios da fé islâmica; produzir literatura, áudio, vídeo com

distribuição gratuita para a sociedade brasileira e latino-americana e

incentivar às construções de mesquitas (CDIAL, 2018, Disponível em:

<http://www.islambr.com.br/index.php?option=com_content&view=article

&id= 58&Itemid=34>. Acesso em 17 de abril de 2018).

Foto 14 – Mesquita de São Bernardo do Campo. Disponível em:

<http://www.saobernardodocampo.blog.br/sao-bernardo-do-campo-mesquita-sao-bernardo>. Acesso em: 07 de maio de 2018.

Também nessa comunidade existem ações constantes da WAMY

WAMY Brasil, cito a rua Adelina Salvatore Bassoli, 57, Jardim das Américas, São Bernardo do Campo/SP.

A WAMY é uma organização internacional e

não-governamental, criada em 1973, com sede na Arábia Saudita. Está a serviço dos muçulmanos em geral e da juventude islâmica em particular, atuando através de uma série de programas sociais, culturais e educacionais.

É membro da DPI/UNO na ONU, da Federação Internacional de ONG’s para prevenção das drogas (IFNGO), Federação Internacional de ONG’s Árabes e muitas outras organizações pelo mundo. Possui 66 filiais e representantes, mais de 500

organizações associadas e uma rede mundial para

implementação desses programas. Disponível em:

<http://www.wamy.org.br/wamy/index.php/mesquitas>. Acesso em: 07 de maio de 2018.

São Paulo e São Bernardo são centros onde as comunidades

muçulmanas, além de numerosas, compostas na sua maioria de

descendentes árabes (sírio-libaneses) que remontam aos tempos de

imigração, construíram uma estruturação étnica, social e religiosa muito

organizada e dinâmica, onde o resultado deste “capital religioso”

influenciou e ainda influência um crescente número de revertidos

brasileiros. Estes revertidos enfrentam algumas dificuldades devido à

forte “arabização

57

” que ainda caracterizam essas comunidades.

Dificuldades naturais como a falta de domínio da língua árabe, os

costumes e a própria cultura ainda muito enraizada em boa parte dessas

comunidades, questões que dificultam a integração entre “nascidos

árabes” e revertidos. Essas questões não serão abordadas neste

trabalho, sendo tema para uma pesquisa futura.

57

Arabização. O termo se dá pelo fato do Islã ter surgido e se expandido no mundo árabe, seus líderes, sua língua, sua escrita e a cultura. Questões muitos fortes para serem desconsideradas numa religião que se mescla fortemente com a história de um povo.

CAPÍTULO 3

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