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MUÇULMANOS NA CIDADE DE MOGI DAS CRUZES, SP:

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Academic year: 2022

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EDUARDO HENRIQUE FERRAZ

MUÇULMANOS NA CIDADE DE MOGI DAS CRUZES, SP:

Inserção, estruturação e identidade.

SÃO PAULO – SP

2018

(2)

MUÇULMANOS NA CIDADE DE MOGI DAS CRUZES, SP:

Inserção, estruturação e identidade.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Ciências da Religião da Universidade Presbiteriana Mackenzie como requisito final à obtenção do título de Mestre em Ciências da Religião.

Orientadora: Prof.ª. Dr.ª Suzana Ramos Coutinho

São Paulo - SP

2018

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Dedico este trabalho:

À comunidade muçulmana de Mogi das

Cruzes, ao Sr. Mohamad Ahmad Saada,

pioneiro e líder da comunidade islâmica da

cidade e região, à minha esposa Karen,

pelo constante incentivo e encorajamento,

aos meus filhos Natan e Daniel pela

compreensão do tempo que lhes tomei

para a realização desse projeto.

(6)

Antes e acima de tudo a Deus, por Sua misericórdia, Senhor grandioso que concede graciosamente sabedoria a quem necessita e o pede.

À minha esposa, sempre incentivadora e apoiadora em meus estudos e cursos.

A meu filho Natan por suas preciosas correções na minha pobre gramática.

À Universidade Presbiteriana Mackenzie na representação de sua mantenedora, a Igreja Presbiteriana do Brasil, que nos proporcionou as condições para fazer esse curso.

À Prof.ª Dr.ª Suzana

1

, sábia orientadora, dedicada e sempre paciente, encorajando-me e compreendendo as dificuldades de saúde que enfrentei no decorrer do curso.

Aos professores e professoras do programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião, pelos conhecimentos transmitidos.

Aos ilustres competentes membros da banca: Prof. Dr. Cristiano Camilo Lopes

2

e ao Prof. Dr. Donizeti Rodrigues Ladeia

3

, cuja presença muito contribuiu e honrou a banca.

* Pós-doutorado pela University of Cambridge (Inglaterra) e Ph.D. em estudos da religião pela Lancaster University (Inglaterra). Professora do Programa de Pós- Graduação em Ciências da Religião da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

* É docente permanente do Centro de Educação, Filosofia e Teologia - CEFT da Universidade Presbiteriana Mackenzie - UPM, e atua como professor-pesquisador na graduação e na pós-graduação Stricto Sensu. Possui pós-doutorado em Literatura Infantil e Juvenil na área de Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa da FFLCH/USP (2016), doutor (2012) e mestre (2009) em Letras pela Universidade de São Paulo - USP (Área de Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa). Possui também Magister Divinitatis (Novo Testamento) pelo Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper (2017 - Instituto Presbiteriano Mackenzie), é bacharel em Teologia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (2005) e pelo Seminário Teológico Betel Brasileiro (1998). É membro do Grupo de Pesquisa "Produções Literárias e Culturais para crianças e jovens" da FFLCH/USP.

Possui experiência em docência do ensino superior na área de Teologia e Letras.

* Bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição; Licenciatura Plena em Filosofia, História e Psicologia – F.A.I.; Mestre em Ciências da Religião pelo Instituto Presbiteriano Mackenzie; Doutor em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo.

(7)

Tudo o que acontece uma vez pode nunca mais acontecer, mas tudo o que acontece duas vezes,

acontecerá certamente uma terceira.

Provérbio Árabe

(8)

RESUMO

Analisa-se nesta pesquisa a religião muçulmana na cidade de Mogi das Cruzes, a partir dos recortes: inserção, estruturação e identidade.

Através das investigações de campo e as bases teóricas utilizadas, foi possível verificar que o processo de inserção, estruturação e identidade dos imigrantes muçulmanos em Mogi das Cruzes, se deu pela afirmação e persistência de certos aspectos referentes a valores e princípios diretamente ligados às relações familiares, culturais e religiosas destes imigrantes.

Pode-se verificar também que a inserção do islamismo na cidade de Mogi das Cruzes, SP tem na sua estrutura e identidade imigrantes provenientes do Líbano, tendo o seguimento religioso islâmico sunita.

Assim, este trabalho é uma pesquisa desenvolvida a partir da análise da coleta de depoimentos e entrevistas dos muçulmanos imigrantes pioneiros, seus descendentes de primeira e segunda geração, os líderes religiosos leigos ou não, também aqueles que imigraram posteriormente e nativos que se converteram à fé muçulmana. Buscou- se, através desses depoimentos, identificar quando ocorreu a inserção da religião na cidade, quais foram os caminhos percorridos para sua estruturação e como se configurou a sua identidade atual.

Através de pesquisas bibliográficas, foram apresentados aspectos sobre a inserção, estruturação e identidade da religião islâmica no Brasil, na grande São Paulo e especificamente na cidade de Mogi das Cruzes.

Palavras Chave: Muçulmanos - inserção - estruturação - identidade -

Mogi das Cruzes.

(9)

In this research the Muslim religion in the city of Mogi das Cruzes is analyzed, starting from the cuts: insertion, structuring and identity.

Through the field investigations and the theoretical bases used it was possible to verify that the process of insertion, structuring and identity of the Muslim immigrants in Mogi das Cruzes was due to the affirmation and persistence of certain aspects referring to values and principles directly related to family relations, cultural and religious of these immigrants.

It can also be verified that the insertion of Islam in the city of Mogi das Cruzes, SP has in its structure and identity immigrants from Lebanon, having the Sunni Islamic religious follow.

Thus, this work is a research developed from the analysis of the collection of testimonies and interviews of the pioneer immigrant Muslims, their descendants of first and second generation, lay religious leaders or not, also those who immigrated subsequently and natives who converted to Islam. It was sought through these testimonies to identify when the insertion of the religion occurred in the city, what were the paths covered for its structuring and how its current identity was configured.

Through bibliographical research, aspects about the insertion, structuring and identity of the Islamic religion in Brazil, in Greater São Paulo and specifically in the city of Mogi das Cruzes, were presented.

Key words: Muslims - insertion - structuring - identity - Mogi das Cruzes.

(10)

1. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 2. MC – Mogi das Cruzes

3. SCBIMC - Sociedade Cultural e Beneficente Islâmica de Mogi das Cruzes

4. Sr. MAS – Sr. Mohamad Ahmad Saada 5. SH – Sheikh Hosni

6. CDIAL – Centro de Divulgação do Islã para a América Latina

7. LJIBB - Liga da Juventude Islâmica Beneficente do Brasil

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Figura 01. O Islã no Brasil ...20

Gráfico 01. Cronologia da vida do Profeta Muhammad ...31

Gráfico 02. Censo Religioso de Mogi das Cruzes ...90

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Foto 01 - Lançamento da Pedra Fundamental da Mesquita de Mogi das

Cruzes...16

Foto 02 - Mesquita de Mogi das Cruzes...16

Foto 03 - A Mesquita monte do templo, Jerusalém...49

Foto 04 - A Mesquita Azul ou Mesquita do Sultão Amade...50

Foto 05 - A Caaba em Meca...51

Foto 06 - Taj Mahal mausoléu islâmico na Índia ...51

Foto 07 - Mesquita Luz da Fé de Campo Grande...66

Foto 08 - Mesquita Lages, SC...67

Foto 09 - Mesquita de Brasília, DF...67

Foto 10 - Mesquita Omar Ibn Al-Khatab - Foz do Iguaçu, PR...68

Foto 11 - Mesquita Imam Ali Ibn Abi Talib, Curitiba, PR...68

Foto 12 - Mesquita Brasil...75

Foto 13 – Mesquita do Pari...77

Foto 14 – Mesquita de São Bernardo do Campo...79

Foto 15 - Vale do Bekaa...82

Foto 16 - Casa dos pioneiros em Sultan Yacoub, Líbano...83

Foto 17 - Obelisco da Praça da Igreja Matriz...87

Foto 18 - Estátua do Bandeirante de Ferro na entrada da cidade...88

Foto 19 – Reunião de Oração na Mussala na loja dos Pioneiros...93

Foto 20 – Cerimonial de Lançamento da Pedra Fundamental ...95

Foto 21 - Concretagem da Pedra Fundamental...96

Foto 22 – Lançamentos da Pedra Fundamental e Autoridades Políticas...96

Foto 23 – Autoridades Políticas ...97

Foto 24 - Alicerce do Minarete maior...97

Foto 25 - Levantamento dos Alicerces e Paredes...97

Foto 26 - Fundo da Mesquita sendo construído...98

(13)

Foto 28 - Fachada quase erguida...98

Foto 29 - Sr. Mohamad Ahmad Saada trabalhando na construção da Mesquita...99

Fotos 30 e 31 – Acabamentos Finais...99

Foto 32 - Mesquita hoje, olhando do pátio das refeições...100

Foto 33 - Fonte das Oblações com alguns nomes de Alla...100

Foto 34 - Quebla no Interior da Mesquita...100

Foto 35 - Quebla e Mimbar - Púlpito da Mesquita...101

Fotos 36 e 37 - Cúpula da Mesquita, Sheikh Hosni e Autor...101

Fotos 38 e 39 - Praça da Mesquita e o Farol...102

Foto 40 - Praça e Conjunto da obra quando foi finalizada...102

Foto 41 – Reunião de Oração na Mesquita de MC ...105

(14)

INTRODUÇÃO ...14

CAPÍTULO 1...26

1. UMA BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO SOBRE O ISLÃ...26

2. Seu fundador...28

3. Sua mensagem ...31

4. Expansão e Cismas...41

5. Estruturação Doutrinária...47

6. Identidade Islâmica no Mundo...52

CAPÍTULO 2...55

2. A INSERÇÃO MUÇULMANA NO BRASIL E SUA ESTRUTURAÇÃO...55

2.1. Os Pioneiros Segundo as Narrativas da Tradição...55

2.2. Os Pioneiros Históricos...56

2.3. Imigração e Estruturação...59

2.3.1. Sociedades e Associações Culturais Beneficentes ...64

2.3.2. As Mesquitas...65

2.3.3. Outras Estratégias de Expansão...69

2.4. São Paulo...73

(15)

3. A INSERÇÃO MUÇULMANA EM MOGI DAS CRUZES...81

3.1. Inserção...82

3.2. Estruturação e Identidade dos Pioneiros...84

3.3. A Cidade de Mogi das Cruzes...86

3.4. Estruturação e Identidade Religiosa...92

3.4.1. A Mesquita de Mogi das Cruzes...94

3.4.2. Ritos e Performance na Mesquita...103

3.4.3. Estruturação e Identidade Atual...106

3.5. Estruturação e Identidade Profissional...109

CONCLUSÃO...113

REFERÊNCIAS...118

ANEXOS...124

(16)
(17)

INTRODUÇÃO

Essa é uma pesquisar sobre o fenômeno religioso islâmico em Mogi das Cruzes (MC)

4

, sua inserção, seus fundadores, país de origem, período de imigração e motivo, assim como sua estruturação e a resultante identidade desse fenômeno religioso.

Esclarecemos que diante de tantas categorias do movimento imigratório, se usará nessa pesquisa o termo “imigração”, que conforme alguns dicionários, indica o movimento pelo qual um indivíduo ou grupo de indivíduos se estabelece em um país ou região diferente de seu local de origem.

Imigração: Considera-se como imigração o movimento de entrada, com ânimo permanente ou temporário e com a intenção de trabalho e/ou residência, de pessoas ou populações, de um país para outro. O imigrante não deve ser confundido com: [...]▪ o emigrante, aquele que sai de um país com ânimo permanente ou temporário e com a intenção de buscar trabalho e/ou residência em outro país; [...]▪ os refugiados, aqueles deslocados temporariamente em razão de guerras ou catástrofes naturais em seu país de origem.

Educalingo. Dicionário. Disponível em:

<https://educalingo.com/pt/dic-pt/imigracao>. Acesso em: 16 de junho de 2017. (Grifo nosso).

Ainda sobre o termo imigração, o leitor encontrará por várias vezes ao longo desta pesquisa a citação com o adjetivo “imigração islâmica”.

Esclarecemos que essa não caracteriza uma imigração de cunho religioso, mas o que resultou e configurou das imigrações principalmente síria e libanesa ao longo do processo imigratório da história do Brasil e dessas etnias.

O município de MC, com quatro séculos de existência (407 anos), se estende por 713,3 km², a densidade demográfica é de 542,9 habitantes por km², situa-se a 746 metros de altitude, possui clima agradável na maioria dos meses do ano, foi a cidade da região do Alto

4 Esclarecemos que por face de usarmos por diversas vezes o nome da cidade de Mogi das Cruzes, será adotada a sigla MC ao longo desse trabalho.

(18)

Tietê que mais cresceu em habitantes na última década, com uma população atual estimada de 433.901 segundo o último Censo do IBGE

5

. MC possui duas universidades, diversas indústrias, forte comércio e boa infraestrutura.

Nos últimos anos da década de 1980, no bairro do Alto do Ipiranga na Av. Henrique Eroles, hoje número 200, iniciou-se uma grande construção que chamou a atenção da população. Era o lançamento da pedra fundamental da Mesquita Muçulmana de MC, contando com a presença de algumas autoridades políticas e líderes religiosos islâmicos da região do Alto Tietê. Quanto a denominação mesquita:

Uma mesquita é a construção na qual os muçulmanos adoram Deus. Ao longo da história islâmica a mesquita foi o centro da comunidade e cidades foram formadas ao redor dessa construção fundamental. Hoje em dia, especialmente em países muçulmanos, as mesquitas são encontradas em quase todas as esquinas, facilitando aos muçulmanos participarem das cinco orações diárias. No ocidente as mesquitas são partes integrantes dos centros islâmicos que também contém instalações comunitárias e de ensino. [...] Toda mesquita tem um mihrab, um nicho na parede que indica a direção de Meca;

a direção na qual os muçulmanos oram. A maioria das mesquitas tem um minbar (ou púlpito) a partir do qual um sábio muçulmano é capaz de transmitir um sermão ou discurso. Site.

The Religion of Islam IslanReligion.com.

<https://www.islamreligion.com/pt/articles/2748/o-que-e-uma- mesquita/>. Acesso em: 04 de março de 2018.

Erguia-se assim a Mesquita Muçulmana em MC, momento histórico, marcante e simbólico na inserção e estruturação dos fiéis e suas famílias.

5 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Disponível em:

<https://cidades.ibge.gov.br/brasil/sp/mogi-das-cruzes/panorama. Censo do IBGE 2010>. Acesso em: 13 de junho de 2017.

(19)

Foto 01 – Pedra Fundamental (1992). Foto 02 – Mesquita de Mogi das Cruzes.

Acervo pessoal do Sr. Mohamad Ahmad Saada

A mesquita foi inaugurada no ano de 2004, tendo como sua mantenedora, a Sociedade Cultural e Beneficente Islâmica de Mogi das Cruzes (SCBIMC)

6

, fundada pelo Sr. Mohamad Ahmad Saada no ano de 1978, imigrante libanês, eminente e respeitado cidadão mogiano.

O êxodo de milhares de imigrantes muçulmanos que cruzaram o Atlântico a partir do fim do século XIX para a América do Sul, despertou e desperta vários estudiosos, sociólogos, antropólogos e cientistas da religião a investigarem e tentarem explicar as causas e as consequências desse fenômeno religioso, que hoje se configura nas principais cidades do mundo e do nosso país.

Outro aspecto que despertou o interesse para desenvolver essa pesquisa é o número crescente de muçulmano dos nossos dias, cerca de 1,3 bilhões de seres humanos, um quinto da humanidade com o qual precisamos inevitavelmente repensar a convivência. Identifica-se três causas de o Islã ser a religião que mais cresce atualmente no mundo:

[...] alta taxa de natalidade entre os muçulmanos. Entretanto, mesmo que o islã, como o catolicismo, seja hostil aos contraceptivos, o fato por si só não bastaria para explicar o fenômeno. A maioria dos muçulmanos vive em países pobres, Nigéria, Sudão, Egito, Iraque, Paquistão, Índia, Bangladesh, Indonésia etc. E existe uma proporção inversa, bem conhecida, entre renda familiar e tamanho da família. Assim, apesar do

6 Considerando que será utilizado o nome da Sociedade Cultural e Beneficente Islâmica de Mogi das Cruzes por diversas vezes ao longo desta pesquisa, será usada a sigla SCBIMC.

(20)

aumento da natalidade em progressão geométrica ser um fator importante para a dilatação do islã, o crescimento dos muçulmanos nesses países está apenas indiretamente vinculado à religião.

A segunda causa, nitidamente religiosa, seria a conversão.

[...], o islã considera a expansão da fé, dirigida à humanidade inteira, uma obrigação. Não há estatísticas confiáveis, porém, a existência do fenômeno não é questionável. O maior movimento acontece na África, em particular ao longo da extensa fronteira das zonas já islamizadas no Sahel, como em Mali e na Nigéria. [...]

Um terceiro [...]. Os muçulmanos são quase inacessíveis à conversão para outras religiões. Abandonar o islã é considerado apostasia, um crime teoricamente passível de morte. Historicamente, as tentativas missionárias católicas e protestantes obtiveram êxitos extremamente restritos. Em Estados como o Império Otomano, a missão cristã para muçulmanos era proibida, ainda que a missão entre as minorias não muçulmanas fosse legalizada.7 (Grifo nosso).

Assim, considerando as causas apontadas acima, outras recentemente somam-se para espalhar os fiéis islâmicos pelo mundo.

Como por exemplo: nas últimas décadas grande número de refugiados da Síria e das áreas de conflitos políticos e religiosos do Oriente Médio imigram para Europa e também para o Brasil, aumentando consideravelmente o número de religiosos no país.

Pesquisando sobre o prisma histórico do Islã no Brasil, segundo alguns historiadores e órgãos oficiais islâmicos que produzem literaturas no Brasil, a chegada dos primeiros religiosos em terra brasileira coincide com o descobrimento do Brasil e depois com o período do tráfico de escravos, no século XVI, onde milhares de muçulmanos africanos aqui chegaram.

A partir da Segunda Guerra Mundial, a imigração islâmica se avolumou, devido aos constantes conflitos políticos gerados em seus países, principalmente na Síria, no Líbano e na Palestina. A maioria dos imigrantes muçulmanos no Brasil vieram desses países, sobretudo entre as décadas de 50 e 70.

Os conflitos entre palestinos e israelitas, entre as décadas de 50 a 70, motivaram guerras nas regiões por eles disputadas, trazendo graves

7 DEMANT, Peter. O Mundo Muçulmano. São Paulo: Contexto, 2015. p. 193-194.

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crises financeiras; já entre os libaneses, as guerras civis entre muçulmanos e cristãos ortodoxos foram as principais causas da imigração dos palestinos e libaneses para o Brasil e cidades como Mogi das Cruzes. Apurou-se também nessa pesquisa que a maioria dos muçulmanos brasileiros é do seguimento sunita, ala menos radical da religião, questão que relataremos com mais detalhes no próximo capítulo.

No Brasil, o aumento no número de mesquitas, de Sheiks, adeptos tanto de imigrantes principalmente Sírios e Libaneses de décadas atrás, como de imigrantes atuais de várias nacionalidades e de nacionais que

“revertem” para o Islã, tem chamado a atenção de pesquisadores brasileiros e estrangeiros. O crescimento da religião Islâmica, que parecia estar “congelada” em algumas regiões e cidades do país, como São Paulo, São Bernardo do Campo e Foz do Iguaçu, agora aflora de forma progressiva não só nas grandes cidades brasileiras, mas pelo interior e nas periferias urbanas onde alcançam com simpatia as comunidades mais carentes e marginalizadas das grandes cidades.

Apontam as pesquisas que um número significativos de brasileiros moram nessas áreas, estão se convertendo, “reverteram”

8

ao Islã.

Segundo MONTENEGRO e BENLABBAH (2013, p.13) em sua última obra

9

, registram ter enfrentado em suas pesquisas a falta de dados confiáveis sobre o número de muçulmanos no Brasil, destacam o censo demográfico de 2010 do IBGE que registra o número de 35.167 seguidores da religião islâmica no Brasil e sua configuração:

Dentro deste número, 21.042 correspondem a homens e 14.124 mulheres, com um amplo predomínio de residência em áreas urbanas e apenas 273 em áreas rurais, entre os quais haveria 193 homens e 80 mulheres. De acordo com a qualificação racial seguida no Censo, encontramos 29.248

8 Reverter é um termo usado para todos aqueles que passam a crer e seguir a fé islâmica. Termo que será usado em alternância como o termo converteram.

9 MONTENEGRO, Silva M. e BENLABBAH, Fatiha. Muçulmanos no Brasil:

Comunidades, Instituições, Identidades. Rosário, Argentina: Editorial de la Universidad Nacional de Rosário, 2013. p. 13.

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brancos, 1336 negros, 268 amarelos, 4.300 pardos e 15 indígenas. (Censo Demográfico 2010, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas, Rio de Janeiro, 2012, p. 144 e 150).10

Quanto ao número aferido pelo IBGE, estudiosos sobre a matéria registram cerca de 300.000 muçulmanos no país. “Isso não deixa de ser motivo de controvérsias que, em todo caso, assinalam a ausência de dados fidedignos e a necessidade futura de coletá-los”. (Ibid. 2013, p.

13).

Diante destas controvérsias e imprecisão, dados que não retratam com exatidão os religiosos no Brasil, é importante destacar que, para os líderes muçulmanos e suas instituições, o número de seguidores do Islã é muito superior aos relatados pelas pesquisas e mídias oficiais, chegando atualmente na cifra de 1,5 milhão de fiéis no país. Segundo um dos periódicos de grande circulação no Brasil, o número de brasileiros revertidos

11

ao islã cresceu 25% entre 2001 e 2011. O fenômeno pode ser visto em várias capitais e cidades conforme registram o gráfico abaixo da Figura 01. O Islã no Brasil

Os resultados do gráfico abaixo ocorreram pela atual mudança de postura dos líderes religiosos (Sheiks), que antes vinham para o Brasil por um tempo, e depois voltavam para seus países; agora, muitos deles vêm para ficar, fixam residência, aprendem a língua e pregam e ensinam a doutrina muçulmana em português.

10 IBGE. Disponível em: <https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/94/cd_

2010_religiao_deficiencia.pdf>. Acesso em: 10 de outubro de 2017.

11 Reversão: Dentro do islamismo o termo usado para se referir e identificar um novo adepto é o termo “revertido”. No islamismo há um entendimento de que todos os seres humanos nascem muçulmanos, portanto, uma conversão, na verdade, é um retorno ao estado original. Revertido é aquele que retorna a Deus.

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Figura 01. O Islã no Brasil. Disponível em:

<http://istoe.com.br/349181_OS+CAMINHOS+DO+ISLA+NO+BRASIL/>.

Acesso em: 12 de setembro de 2016.

Outro fator importante para se ressaltar, constatado pelos pesquisadores do fenômeno e pelas mídias, é que, a cada ano, mais e mais fiéis imigrantes, oriundos dos constantes conflitos no Oriente Médio e África, chegam ao Brasil, espalhando-se nos estados e cidades onde já existiam ou não a religião. Vale esclarecer que esse assunto não será abordado nessa pesquisa, sendo supostamente objeto de uma pesquisa futura.

Considerando o tema e cidade, constatou-se que o Islã se originou

dos imigrantes libaneses que chegaram em MC no início da década de

(24)

50, motivados em busca de melhores condições de vida, pois seu país como já relatado anteriormente, sofria constantes crises políticas, religiosas e financeiras.

Os primeiros imigrantes muçulmanos chegados em MC, conforme revelaram os dados da pesquisa, se adaptaram com certa facilidade à nova cultura e à nova língua. A vida religiosa foi mantida no contexto familiar, a língua, as leituras do Alcorão, as orações, as práticas e rituais religiosos continuaram a serem praticados e ensinados aos filhos; as relações entre os parentes consanguíneos sempre foram muito valorizadas, tanto nos negócios profissionais, quanto nos casamentos.

As práticas religiosas extra lar também foram praticadas através das sextas-feiras na Mesquita Luz de São Paulo, onde a comunidade muçulmana já estava mais estabelecida. Dessa maneira conservaram e transmitiram a sua fé às futuras gerações, estruturando-se e se identificando na cidade de MC.

Segundo dados dos líderes religiosos da cidade de MC, a religião já tem mais de trezentos fiéis, tanto de origem sírio/libanesa como de outras etnias e convertidos nativos da cidade.

Dentre as modalidades de pesquisa adotadas, além daquelas realizadas em literaturas bibliográficas que tratam da história do Islã, sua expansão no mundo e no Brasil, foram também realizadas pesquisas em sites especializados, e pesquisa de campo em Sociedades Beneficentes Islâmicas e Mesquitas.

Nas pesquisas de campo, escolhemos alguns personagens centrais sem os quais não conseguiríamos realizá-las. Destacamos o Sr.

Mohamad Ahmad Saada, imigrantes libanês, líder leigo e principal

protagonista da inserção muçulmana na cidade de MC. Nessas

entrevistas, para melhor registrar os depoimentos, lançou-se mão de

questionários pré-elaborados, que foram gravados, e outras informações

anotadas. Algumas perguntas mais objetivas, que não apresentam

necessidade de presença, foram deixadas para os entrevistados

(25)

responderem e depois recolhidas. As visitas foram acompanhadas de conversas informais e formais, e depoimentos relativamente livres, de acordo com o interesse dos entrevistados.

Neste trabalho, a fotografia entrou como um instrumento acessório que serviu para compreensão dos objetivos da pesquisa. Assim nas pesquisas de campo, foram registradas inúmeras fotos dos objetos móveis, imóveis e símbolos místicos que representam parte da fé islâmica, estes, dotados com poder simbólico que servem para estruturar e nortear as práticas religiosas. À medida em que a confiança dos entrevistados aumentou, também deixaram-se fotografar, e também permitiram o acesso às fotos de acervo particular.

As principais bibliografias consultadas foram obras relacionadas à religião islâmica e às imigrações no Brasil, tais como: Enzo Pace (Sociologia do Islã – Fenômenos religiosos e lógicas sociais, 2005), Peter Demant (O mundo Muçulmano, 2015, 3ª edição), Karen Armstrong (O ISLÃ, 2001), Paulo Gabriel Hilu da Rocha Pinto (Islã: Religião e Civilização, 2010) e Neusa Neif Nabhan (Islamismo: de Maomé aos nossos dias, 1996) estas se referem à formação da religião islâmica, seus dogmas, mandamentos e expansão no mundo. Oswaldo Truzzi (Imigrantes no Brasil – Sírios e Libaneses – Narrativas de História e Cultura, 2009), Sílvia Montenegro e Fatiha Benlabbah (Mulçumanos no Brasil - Comunidades, Instituições, Identidades, 2013) e André Gattaz (Do Líbano ao Brasil, história oral de imigrantes). Estes autores e pesquisadores tratam dos aspectos históricos, sociológicos, antropológicos e identitários que caracterizam os imigrantes com a fé islâmica no Brasil.

As comunidades islâmicas espalhadas no mundo, assim como outras comunidades religiosas, sempre existiram e coexistiram de forma amistosa ou conflituosa, havendo uma que sobressaia sobre a outra.

A religião minoritária subsiste praticando secretamente a sua fé,

até que em um dado tempo de sua inserção e estruturação, aconteça

(26)

uma inversão ou equilíbrio entre as mesmas e, quando isso acontece, há sempre mudanças significativas na cultura, costumes e identidade religiosa, tanto nas já existentes, como o surgimento de outras.

O estudo da religião é tema constitutivo e fundador da sociologia.

Tanto Karl Marx como Émile Durkheim e Max Weber se interessaram pela elaboração de teorias visando compreender aspectos da vida religiosa e sua influência na sociedade. Bavinck ressalta que a religião é um dos fenômenos mais importante para o estudo dos pesquisadores, fenômeno que afeta a história e todos os seus protagonistas, estando relacionada com todas as funções da vida psíquica e se expressa em imagens mentais, emoções e ações.

12

Essa pesquisa é academicamente relevante, pois trata um tema atual, um fenômeno que vem se replicando há quase um século em diversos países, estados e cidades do mundo todo, principalmente em países de maioria cristã. É importante também ressaltar que existem poucos materiais bibliográficos em português sobre o assunto, mesmo porque a inserção, estruturação e identidade deste fenômeno religioso passou a chamar a atenção dos pesquisadores há duas décadas, à medida em que as estatísticas no Brasil começaram a ter números expressivos de crescimento sobre o fenômeno, conforme registra a BBC:

O número de mesquitas e mussalas (salas de oração islâmicas) no Estado de São Paulo cresceu cerca de 20% em 2015, impulsionado pela chegada de refugiados e pela conversão de brasileiros, segundo a Federação das Associações Muçulmanas do Brasil (Fambras13).

Dos atuais 30 centros islâmicos do Estado – que abriga a maior comunidade muçulmana do país, cinco foram abertos de janeiro a setembro de 2015. No ano passado, apenas um foi criado.

O crescimento em São Paulo ilustra o aumento do número de praticantes do islã em todo o Brasil, que ainda não foi quantificado. Atualmente, há 102 centros de oração islâmicos em todo o país.

12 BAVINCK, Herman. Dogmática Reformada. São Paulo, SP: Cultura Cristã, 2012. p.

73.

13 FAMBRAS. Federação das Associações Muçulmanas do Brasil. Disponível em:

<http://www.fambras.org.br/>. Acesso em: 03/11/2017.

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"Não há levantamento científico (sobre o número de muçulmanos no país), mas começaremos a desenvolver isso porque ficou bastante evidente que há um aumento baseado nesse fluxo de imigrantes vindos de diversas regiões do Oriente Médio e de países africanos", disse Ali Hussein El Zoghbi, vice-presidente da Fambras, às BBC Brasil.

O Censo 2010 do IBGE fala em cerca de 30 mil praticantes da religião no país, mas a Federação estima que o número total de fiéis tenha saltado de 600 mil em 2010 para algo entre 800 mil e 1,2 milhão em 2015. Disponível em:

<www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/09/150911_mesquita s_saopaulo_cc>. Acesso em: 10 de julho de 2016.

A relevância da inserção, estruturação e identidade de uma religião num país, estado ou cidade, como mencionado anteriormente, causam várias transformações que acabam alterando de forma significativa a cultura, costumes, religião, política, educação e até a economia.

Geertz, definindo cultura registra:

[...] denota um padrão de significados transmitido historicamente, incorporado em símbolos, um sistema de concepções herdadas expressas em formas simbólicas por meio das quais os homens comunicam, perpetuam e desenvolvem seu conhecimento e suas atividades em relação à vida.14

Essa pesquisa marca a sua relevância, pois trata de um tema histórico dos movimentos imigratórios do passado, seus motivos e o resultado, como também o tema sensível e de grande repercussão internacional sobre os novos movimentos imigratórios e as mudanças e transformações que ocorrem onde os imigrantes chegam e se estabelecem. Essas mudanças e transformações podem se dar no curto, médio ou longo prazo, quebrando paradigmas, como por exemplo, o que recentemente aconteceu no Velho Mundo, onde uma importante e histórica cidade como Londres, governada por políticos nativos ou tradicionalmente da religião dominante (anglicana), elegeram, em maio de 2016, o seu primeiro prefeito muçulmano.

14 GEERTZ, Clifford. A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro, RJ: LTC, 1989. p.

66.

(28)

Londres elegeu nessa quinta-feira o primeiro prefeito muçulmano de uma capital de um país da União Europeia.

Sadiq Khan, filho de um motorista de ônibus e de uma costureira, ambos paquistaneses que imigraram para o Reino Unido, venceu com sobra a disputa com o principal rival, Zac Goldsmith, do Partido Conservador. Disponível em:

<http://www.bbc.com/portuguese/internacional/2016/05/160506 _reino_unido_londres_prefeito_novo_fd>. Acesso em: 20 de setembro de 2017.

O crescimento numérico do Islã no mundo é um fenômeno observado até pela maior religião do planeta, conforme anunciou o Vaticano em março de 2008, dizendo que o número de muçulmanos ultrapassara o número de católicos, com aproximadamente “1,3 bilhões de adeptos, faria do Islã a denominação religiosa mais numerosa da Terra”.

15

No Brasil, e, principalmente no estado de São Paulo, o número crescente de convertidos ou revertidos ao Islã, chama a atenção dos pesquisadores, apesar dos líderes religiosos afirmarem que o Islã não faz proselitismo e que as conversões são espontâneas; assim como em outras religiões, seus líderes têm investido de forma expressiva na construção de novas Mussalas (salas de oração), Associações, Sociedades Culturais Beneficentes e Mesquitas, bibliográficas e sites, investimentos que fomentam e também explicam o crescimento exponencial da religião no país.

Por todos os motivos expostos acima, acredita-se que esta pesquisa é relevante, pois irá colaborar para melhor entendimento de forma geral e específica sobre a inserção, estruturação e identidade da religião Islâmica no estado de São Paulo e na cidade de MC, acreditando que servirá de modelo para compreendermos esse fenômeno religioso também em outras cidades do Brasil.

15 PINTO, Paulo Gabriel Hilu da Rocha. Islã: Religião e Civilização. Aparecida, SP:

Santuário, 2014. p. 21.

(29)

CAPÍTULO 1

1. UMA BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO SOBRE O ISLÃ

A religião Islâmica é hoje a segunda maior religião do mundo, quando considerado o cristianismo na soma de todas as suas segmentações. Os fiéis do Islã atingem o número crescente de um quinto da humanidade do planeta (DEMANT, 2015, p.13). Isso faz do Islã um fenômeno religioso muito pesquisado nos dias atuais.

O termo Islã significa submissão, rendição ou dedicação a Deus

16

. Um muçulmano é alguém que se submete a Deus e obedece às leis e comandos islâmicos obrigatórios. A palavra Islã vem da raiz árabe

“Salam” que tem os seguintes significados: paz, pureza, submissão, obediência, etc., no sentido religioso Islã significa “submissão voluntária à vontade de Deus e Obediência à sua Lei”, onde, segundo a tradição, o fiel através dessa submissão pode desfrutar da verdadeira paz e da pureza duradoura. Essas crenças foram escritas pelo seu Profeta Muhammad no livro sagrado do Islã o Alcorão, no qual eles creem que foi enviado como uma cópia exata da revelação celestial original ao profeta.

17

Antes do aparecimento do Islã na Arábia pré-islâmica seus habitantes eram politeístas, sem um tipo de panteão organizado, onde cada tribo adorava seus deuses e depositavam neles uma intervenção divina nos acontecimentos da vida. Quanto à formação histórica pré-

16 O termo religioso “Deus” será usado em toda essa pesquisa como, ainda que a palavra árabe para designar Deus seja Alá ou Allah, em todas as entrevistas realizadas, os entrevistados usaram a palavra Deus, apenas o Sheikh da Mesquita de Mogi das Cruzes, Sheikh Hosni, usou por duas vezes a palavra Alá, mas as demais vezes usou Deus. Também foi observado que todas as vezes que iniciávamos uma entrevista o Sheikh Hosni recitava as seguintes palavras: “Em nome de Deus o clemente, o misericordioso”.

17 SHIRRMACHER, Christine. The Islamic View: of Major Christian Teachings: The Role of Jesus Christ, Sin, Faith, and Forgiveness – Essays. Edited by Ruth Baldwin.

The WEGA Global Issues Series – Vol. 02. Verlag für Kultur und Wissenschaft, Culture and Science Publ. Bonn, Germany - 2008. p. 08.

(30)

islâmico, temos na Enciclopédia Milénios alguns riquíssimos registros que descrevem a sua origem:

Os árabes do deserto, os Beduínos, formavam um grupo independente de tribos, geralmente provenientes do Sul;

obrigadas a emigrar devido ao contínuo incremento demográfico, não podiam, porém, entrar nos territórios do Norte nem espalhar-se pela costa, mal vistos como eram pelos habitantes destas zonas. O próprio Maomé considerá-los-á com certo desprezo, mas, depois de serem conquistados pelo Islã, estes nômades constituirão a sua maior força. Segundo um historiador persa, foram os Beduínos os únicos a abraçar a nova religião com íntima convicção, até porque já tendiam para o monoteísmo, adorando uma espada cravada na areia, como único deus do deserto. Além disso, tinham já recebido a influência de anacoretas que viviam no deserto (aludiam a 2000, mas são historicamente reconhecidos 45) provenientes de centros urbanos onde se difundiam ideias monoteístas devido ao contato com grupos cristãos e com as colônias de judeus estabelecidas em território árabe, e anunciavam a vinda de um «enviado do Senhor».

A Arábia atravessava, pois, um momento crítico, uma fase de transição, agora que as antigas civilizações locais tinham desaparecido e ideias novas se infiltravam por toda a parte.

Como sempre aconteceu no Oriente, o mal-estar social, econômico, cultural, traduziu-se numa crise religiosa.18

Ainda sobre o contexto histórico pré-islâmico, relata-se que a Arábia do século VII era uma terra isolada e sem muitos recursos naturais, onde os povos nômades tribais dominavam a região, com uma estrutura social bem definida e um comércio bem estruturado de mercadores de caravanas que transformaram aquela região inóspita em uma poderosa e bem estruturada rota comercial entre Damasco e a Mesopotâmica. (NABHAN, 1996, p. 15-16). Foi nesse tempo e contexto que o fundador e profeta do Islã nasceu.

18 AMBESI, Alberto Cesare; BERMANI, Maria Felice; COCCIA, Felippo e D’ERIL, Melzi. Os Milénios História das Civilizações - Vol. IV - Idade Média. Os Povos do Islã e do Oriente. Sintra, Portugal: Ed. Gris, Agualva-Cacém, 1970. p. 15-16.

(31)

1. Seu fundador

O fundador do Islã foi Muhammad Bin Abdillah, nascido em 570 d.C em Meca (Makkah), uma cidade da Península Arábica, pertencia a tribo dos qoraichita da linhagem do Banu Hashim. Filho de Abd Allah e de Aminah, ficou órfão na idade inicial de seis anos e foi criado por seu avô, Abd al-Muttalib. Líder de Meca, que morreu alguns anos depois, passando a ser criado pelo seu tio Abu Talib. (SHIRRMACHER, 2008, p.

08).

Esclarece-se que em respeito ao nome do profeta do Islã, será adotado neste trabalho o nome Muhammad ao invés de Maomé.

Segundo a crença dos seus seguidores, Muhammad é o profeta mensageiro de Deus aos homens. No Brasil, aqueles que não são da fé, usa-se o nome Maomé, uma transliteração do nome Muhammad. Nas pesquisas de campo, em entrevista com alguns fiéis e líderes, constatou- se que a maioria deles pronuncia o nome Muhammad em vez de Maomé.

Perguntando sobre essa questão, qual pronúncia seria mais apropriada para se referir ao profeta, alguns deles disseram não ter uma regra ou exigência, mas que alguns fiéis no Brasil, não aceitam usar a pronuncia Maomé, porque “Mau” para eles quer dizer mau, homem mau, e seria um desrespeito muito grande para com o ilustre personagem profeta do Islã.

Quanto a outras datas sobre o nascimento e criação do profeta do Islã, MOHAMAD em sua obra Muhammad o Mensageiro de Deus, registra:

No dia 25 de Abril do ano 571 da era cristã nasceu Mohamad em Macca [Meca]; era manhã de 12 de Rabiul-Awwal, o terceiro mês do calendário lunar, no ano do Elefante (quando Abraha atacou Meca). Os historiadores têm também outras datas, mas a mais conhecida é a de 12 de Rabiul-Awwal. O consagrado astrólogo egípcio Mahmud Bacha e outros teólogos acham que foi na manhã do dia 9 de Rabiul Awwal, equivalente a 22 de Abril do ano 571 da era cristã, numa segunda-feira. Nasceu órfão, já referido antes, pois o seu pai falecera em Medina dois meses antes. O avô, Abdul Muttalib, chefe de Coraix, quando soube do nascimento do neto ficou muito satisfeito. Pegou-o, foi com ele para a Caaba e deu-lhe o nome de Mohamad. A mãe, por sua vez, deu-lhe o nome de

(32)

Ahmad. Tanto um como outro nome querem dizer "o louvado".

Estes nomes não eram vulgares em Macca.19

Quando jovem, o profeta era ensinado sobre os deveres e direitos em sua sociedade; foi pastor e comerciante, e era chamado de Al-Amin (aquele em quem se pode confiar). Com cerca de 25 anos, Muhammad casa-se com Khadija, uma viúva rica e quinze anos mais velha, membro do mesmo clã que o profeta. Sobre Khadija e o casamento do profeta.

O nome dela era Khadija Bin Khuwailid Bin Asad Bin Abdul Uzza Bin Qusai; o seu título era "Táhera" (A Pura). Khadija, uma senhora honorável e respeitada, quinto grau da sua genealogia (em Qusai), ligava-se à família do Profeta Mohamad. Era habitante de Macca, tinha uns quarenta (40) anos de idade. Mãe de vários filhos; já se tinha tornado viúva por duas vezes, era muito rica. Quando lhe morreu o segundo marido, várias pessoas nobres de Macca queriam casar com ela, mas ela sempre recusou. Quando a caravana dos comerciantes de Macca saía em viagens, só a mercadoria de Khadija igualava-se à de todos os outros comerciantes.20

Khadija viúva, dona de grandes riquezas, viu em Muhammad um jovem comerciante bem-sucedido e muito honesto, um pretendente ideal para casar-se novamente, Khadija pede ajuda de uma fiel amiga (Nafissa) e o casamento estava arrumado.

Começou assim um novo capítulo na vida de Mohamad e de Khadija. Mohamad teve todos os seus filhos com Khadija, exceto Ibrahim. Ela viveu mais 25 anos, teve 7 filhos com Mohamad, 3 rapazes, Kassim, Tahir, Tayib, que faleceram ainda pequenos, antes de Mohamad receber a mensagem divina; e quatro meninas, Zainab, Rucaya, Umm Kulçum e Fátima, que viveram e casaram-se. Três delas faleceram durante a vida de Mohamad; só uma, a Fátima viveu mais e teve dois filhos, Hassan e Hussein. Enquanto Khadija esteve viva Mohamad não se casou com mais ninguém.21

Khadija, a despeito do patriarcalismo da sociedade árabe, exerceu enorme influência na vida do profeta. Foi sua confidente, conselheira e, anos mais tarde, sua primeira discípula. Entregou-lhe o comando de

19 MOHAMAD, Háfiz Aminuddin. Muhammad o Mensageiro de Deus. Lisboa, Portugal:

Editora Wamy Assembleia Mundial da Juventude Islâmica, 1987. p. 47.

20 Ibid. p. 61

21 Ibid. p. 63

(33)

todos os seus negócios, proporcionando-lhe conforto material que lhe permitiu dedicar-se mais intensamente às questões espirituais.

22

Esposa piedosa, não concordou com as opiniões de outras pessoas, que diziam que Muhammad estava obcecado por espíritos malignos ou demônios. No começo, diz que essa era a própria percepção de Muhammad sobre o que aconteceu, mas Khadija o encorajou na crença de que os seus fortes sentimentos e as mensagens recebidas enquanto meditava na caverna de Hara, eram divinas, e ele deveria pregar e proclamar o que Deus lhe havia revelado, exortando seus compatriotas a obedecerem e se arrependerem.

Muhammad foi um dos grandes personagens da história mundial, sua biografia é objeto de inúmeros estudos realizados ao longo dos séculos, alvo de controvérsias por aqueles que o estigmatizavam apenas como “mais um” fundador de uma religião, e também alvo de méritos e respeito:

Os julgamentos negativos pregados pelos Pais da Igreja prevaleceram por longo tempo através do Ocidente e, em A Divina Comédia, Dante Alighieri coloca Maomé nas profundezas do inferno. Não obstante, escritores como Jean- Jacques Rousseau o reabilitaram para a cultura europeia.

Lamartine escreveu: Este Maomé: filósofo, orador, apóstolo, legislador, guerreiro, conquistador de ideias, restaurador de dogmas, fundador de vinte impérios terrestres e de um império espiritual. Qualquer que seja a escala que se use para medir a grandeza humana, esse homem foi muito grande! 23

Para ilustrar resumidamente a vida do profeta, (NABHAN), em sua obra Islamismo de Maomé a Nossos Dias, esquematiza um prático quadro cronológico como segue:

22 ARANTES, José Tadeu. O Maior Perigo do Islã: Não Conhecê-lo. São Paulo, SP:

Mostarda e Terceiro Nome., 2005. p. 16.

23 BALTA, Paulo. O Islã: Uma Breve Introdução. Porto Alegre, RS: L&PM, 2010. p. 17- 18.

(34)

CRONOLOGIA DA VIDA DO PROFETA MUHAMMAD

570 Nascimento em Meca

595 Casamento com Khadija

610 Primeira revelação

613 Início da Predicação Pública 619 Morte de Khadija e Abu Talib 16 de junho de 622 Hégira – Ano 1 muçulmano

Setembro de 622 Chegada a Medina Março de 624 Batalha de Bard Março de 625 Batalha de Uhud Março de 628 Tratado de Al Hudaibiya Janeiro de 630 Batalha de Hunayn: conquista de

Meca

Março de 632 Peregrinação da despedida 8 de junho de 632 Morte do profeta Maomé em Medina

(Yatrib)

Gráfico 02. Gráfico Cronológico do Profeta Muhammad (1996, p. 20).

2. Sua mensagem

As religiões, sem dúvida, têm uma vida externa à alma. Seus líderes têm que lidar com o Estado e os negócios do mundo, e frequentemente sentem prazer nisso. Assim, as religiões e seus líderes surgem sempre com motivações piedosas, insatisfeitos com a injustiça e o monopólio da verdade defendida por outras crenças e culturas que geralmente violam o ideal sagrado da religião. Nas aspirações pessoais espirituais procura-se a divindade ou o sagrado no mundo, sempre acompanhada com a vocação de transformação social. As tradições religiosas sempre se concentram num símbolo ou contexto sócio cultural terreno que lhe é peculiar.

24

Para entender-se sobre a proposta da mensagem do Islã, deve-se mais uma vez pensar no contexto histórico social, cultural, político e religioso que vivia o mundo da época.

24 ARMSTRONG, Karen. O Islã. Rio de Janeiro, RJ: Objetiva Ltda., 2001. p. 7-9.

(35)

O mundo do século VI, assim como em todas as épocas da história humana, passava por aspectos políticos, morais, sociais, culturais e religiosos de crise. As guerras se travavam entre os poderosos e a injustiça social imperava entre as classes dominadas.

As religiões que existiam no mundo eram o Cristianismo, o Judaísmo, o Budismo, o Hinduísmo, o Magismo e o Zoroastrismo. O cristianismo era praticado pelos romanos; o Hinduísmo era praticado na Índia e à sua volta; o Budismo era praticado na Índia, Tibet e no sul da Ásia e o Judaísmo não tinha um local concentrado. Na visão do profeta Muhammad, não havia um governo cuja base fosse a justiça, não havia religião que fosse autêntica. Como grande mercador, o profeta tinha uma visão ampla do mundo em crise, mas essa mesma crise se instalava também na sua sociedade e cultura. Muhammad, insatisfeito com o seu próprio povo que estava deixando-se influenciar pela injustiça e cultura reinante no mundo, e com o desprezo que outros povos tinham dos árabes, começa buscar por transformações sociais, religiosas e políticas para unir o seu povo. Armstrong, retrata a preocupação do profeta quando a situação econômica, social e religiosa do seu povo:

Todo ano, no mês de Ramadã no ano de 610 d.C, Muhammad costumava se retirar para uma caverna no cume do monte Hira, nos arredores de Meca, no Hedjaz árabe, onde rezava, jejuava e dava esmolas aos pobres. Ele vinha se preocupando, já havia algum tempo, com o que percebia ser uma crise na sociedade árabe. Nas décadas então recentes, sua tribo, a quraysh, enriquecera no comércio com os países vizinhos.

Meca se tornara uma próspera cidade mercantil, mas, na corrida agressiva para a riqueza, alguns dos antigos valores tribais tinham se perdido. Em vez de cuidar dos membros mais fracos da tribo, como prescrevia o código nômade, os coraixitas empenhavam-se em ganhar dinheiro às custas de alguns grupos familiares, ou clãs, mais pobres. Havia também uma inquietação religiosa em Meca e em toda a península. Os árabes sabiam que o judaísmo e o cristianismo, então praticados nos impérios bizantino e persa, eram mais sofisticados do que suas tradições pagãs. Alguns chegavam a acreditar que o Deus supremo de seu panteão, Alá (al-Lah) (cujo nome significava simplesmente "o Deus"), era a divindade que judeus e cristãos veneravam, mas acreditavam também que essa divindade não enviara aos árabes nenhum profeta nem nenhum livro sagrado em língua arábica. [...] Muitas

(36)

pessoas, das mais ponderadas da península, consideravam os árabes um povo perdido, exilado para sempre do mundo civilizado e ignorado pelo próprio Deus. (ARMINSTROG, 2001, p. 41-42).

Muhammad, vendo que a sociedade árabe de sua época mais e mais se desviava de seus princípios de ética e justiça social, princípios que caracterizavam sua identidade como povo, começa a articular mudanças para reaver, ou mesmo reestruturar os valores sociais, culturais e religiosos, para que a nação pudesse se unir e fortalecer ante a iminente crise que se instalava no mundo. Vejamos as seguintes considerações quanto a essa questão:

Toda a sociedade que continua no seu tempo enfrenta o problema de transmitir os seus sentidos objetivados de uma geração para a seguinte. Esse problema é atacado por meio dos processos de socialização, isto é, os processos pelos quais se ensina uma nova geração a viver de acordo com os programas institucionais da sociedade. [...] A nova geração é iniciada nos sentidos da cultura, aprender a participar das suas tarefas estabelecidas e a aceitar os papéis, bem como as identidades que constituem a estrutura social. Mas a socialização tem uma dimensão decisiva que não é adequadamente apreendida quando se fala de processo de aprendizado. O indivíduo não só aprende os sentidos objetivados como se identifica com eles e é modelado por eles.

Atrai-os a si e fá-los seus sentidos. Torna-se não só alguém que possui esses sentidos, mas alguém que os representa e exprime.25

Em consonância com as considerações acima de Berger, Pace, citando Le istituzionu del mondo musulmano de A. Vercellin, diz que o Islã é matéria relevante de estudo sociológico, pois é visto como um mapa cognitivo que orienta o comportamento social de indivíduos, mapa que interage, passiva ou ativamente diante das fases históricas e as situações reais de domínio político, com o modo como pensam

25 BERGER, Peter. O Dossel Sagrado: Elementos para uma Teoria Sociológica da Religião, São Paulo, SP: Paulinas, 1985. p. 28.

(37)

(funcionam, se organizam e se legitimam) as principais instituições nascidas no terreno muçulmano.

26

Muhammad, já com 40 anos, tomado por todos esses motivos, sempre muito religioso e preocupado com as causas sociais do seu povo, tem uma experiência incomum na noite do 17° dia do Ramadan quando meditava no Monte Hira, nos arredores de Meca. Diz a tradição que percebeu a presença do Arcanjo Gabriel que, a partir desse encontrou, passou a revelar ao profeta as palavras do Alcorão (livro sagrado do Islã) as quais segundo os fiéis do Islã ele continuou a recebê- las, em pequenos bocados até o final da vida. (MOHAMAD, 1987, p. 67;

ARANTES, 2005, p. 18-19).

Sobre o Ramadan:

É o mês do jejum, entendido como purificação e acesso para Deus. Durante o mês inteiro, que comemora o recebimento do Alcorão, os fiéis se abstêm, desde o nascer até o pôr do sol, de relações sexuais, comida e bebida, inclusive água, tarefa árdua nas regiões de clima quente, onde se situam as moradias da maioria dos muçulmanos, particularmente quando o ramadã ocorre no verão. Contudo, é também um período de alegria, visitas familiares e confraternizações, que ocorrem desde o anoitecer e continuam madrugada adentro. (DEMANT, 2015, p.

27).

Também Philips

27

complementa sobre algumas das particularidades do mês sagrado do Islã:

Aqueles que estiverem doentes, idosos, os que estão em viagem, as mulheres grávidas ou que estão amamentando; tem a permissão de quebrar o jejum e repor o mesmo número de dias no decorrer do ano. Se houver incapacidade física para fazê-lo, devem alimentar uma pessoa necessitada para cada dia não jejuado. As crianças começam a jejuar (e praticar as orações) a partir da puberdade, apesar de muitos começarem mais cedo. Embora jejum geralmente seja benéfico para a saúde, também é considerado principalmente como uma forma de purificação pessoal. Privando-se dos confortos mundanos, mesmo por um curto período de tempo, uma pessoa

26 PACE, Enzo. Sociologia do Islã: Fenômenos Religiosos e Lógicas Sociais.

Petrópolis, RJ: Vozes, 2005. p. 12.

27 PHILIPS, Abu Ameenah Bilal. Compreenda o Islam e os Muçulmanos. Disponível em: <http://islambr.org.br/?option=com_docman&task=doc_details&gid=17&Itemid=

125&fontstyle=f-larger>. Criado em 14 de maio de 2013.

(38)

experimenta uma maior compaixão por aqueles que padecem de fome diariamente, o que leva ao crescimento espiritual e ao incentivo da generosidade.

O profeta Muhammad não ensinava aos árabes uma nova doutrina a respeito de Deus. Mas, considerando-se como seu último profeta, vinha relembrar-lhes sobre a velha fé no Deus único e verdadeiro, e que se os árabes não se arrependessem e se voltassem para Ele, sucumbiriam como os outros povos e nações que se corromperam nas suas práticas injustas e impiedosas. (ARMSTRONG, 2001, p. 42-43).

Pensando nas grandes transformações sociais que o Islã e sua mensagem trouxeram para o mundo árabe, Pace cita o autor Ibn Khaldun em sua obra al-Muqaddimah (Prolegômenos à história universal), que entende que uma nova religião “não parte de premissas metafísicas ou teológicas para analisar a evolução das sociedades humanas na história, mas ao contrário toma por base a reconstrução dos acontecimentos históricos e sociais para chegar a formular tipologias abstratas e leis gerais de desenvolvimento dos sistemas sociais”. (PACE, 2005, pg. 10).

Muhammad, tentando encontrar uma solução social e política para os problemas que seu povo enfrentava, recebeu ao longo de 21 anos, segundo a tradição, várias revelações divinas que impactaram profundamente a sua vida, despertando-o a entender que a solução não se daria apenas no campo político-social do povo árabe, mas principalmente no campo religioso. Começa então ser escrito o Alcorão, que é o maior símbolo e a base da tradição religiosa do Islã.

Os muçulmanos acreditam que até sua morte, no ano 632, o profeta Muhammad recebeu as revelações de Deus. Poucos anos depois de sua morte, todos os textos que se consideram suas "revelações"

foram resumidos e encontram-se no Alcorão, considerado livro sagrado para a tradição islâmica:

A tradição Islâmica considera o Alcorão a Palavra literal de Deus, transmitida diretamente ao Profeta no decurso de sua vida adulta. Os muçulmanos reconhecem o Alcorão como a

(39)

extensão do divino na esfera terrena, a encarnação da misericórdia, poder e mistério de Deus na terra.

A palavra quran (Alcorão) significa “recitação” e pode referir-se a uma parte ou à totalidade do texto sagrado. [...] Segunda a tradição islâmica, o Alcorão chegou à sua atual forma escrita durante o califado de Uthman (644-656 d.C), que mandou um grupo de muçulmanos respeitados produzir uma versão definitiva. É composto de 114 capítulos conhecidos como suras, cada um deles trazendo um número e um título.28

Pinto diz: “... a tradição religiosa visa à constituição de uma

‘ortodoxia’ que regule os discursos e práticas dos adeptos de uma religião. [...] a ortodoxia é uma relação de poder que dá força normativa a uma determinada construção da tradição”. (2010, p. 33).

Para os muçulmanos, o Alcorão é a própria palavra de Deus, enviada com inspiração verbal, autorizada por toda a eternidade. Da mesma forma, a tradição muçulmana (hadith), histórias sobre o que Muhammad e seus seguidores mais próximos haviam dito e decidido fazer em certas situações, é considerada como tendo a mesma autoridade de Deus. Toda a tradição que os muçulmanos consideram verdadeiras é composta em seis extensas coleções de hadith. As tradições muçulmanas, em combinação com as práticas do povo islâmico, frequentemente exercem mais influência na vida diária de um muçulmano do que o próprio Alcorão.

Muhammad, em suas primeiras mensagens, concentrou-se em duas balizares primícias, uma de caráter monogâmico, afirmando que existe apenas um Deus todo-poderoso, criador do céu e terra, e a outra de caráter “escatológico”, onde todo homem deve se arrepender e se submeter a Deus para evitar o julgamento. (SCHIRRMACHER, 2008, p.

09).

Para entendermos melhor a mensagem do Islã, juntamente com a figura do profeta e o Alcorão, conforme o que foi dito logo acima onde as tradições em combinações com as práticas exercem grande influência na

28 GORDON, Matthew S. Conhecendo o Islamismo: Origens, Crenças, Práticas, Textos Sagrados, Lugares Sagrados. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009. p. 34-35.

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