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Estrutura cristalina do composto Sr 2 FeOsO 6 sob altas press˜oes

altas press˜oes

A fim de verificar se o aparecimento de uma componente ferromagn´etica no composto Sr2FeOsO6 em fun¸c˜ao da aplica¸c˜ao da press˜ao seria tamb´em acompanhado por uma

mudan¸ca na estrutura cristalogr´afica deste composto, medidas de difra¸c˜ao de p´o de raios X sob altas press˜oes foram realizadas na linha de luz 16-BM-D da HPCAT, APS. Detalhes do funcionamento dessa linha de luz e da preprara¸c˜ao da c´elula de press˜ao sim´etrica encontram-se na Se¸c˜ao 3.6.4. Os padr˜oes de difra¸c˜ao foram coletados a T = 15 K, com energia dos raios X sintonizada a E = 29.2 keV e uma distˆancia amostra- detector de 700 mm (resultando em uma abertura angular 2✓ de ⇠ 24 ).

5.5. Estrutura cristalina do composto Sr2FeOsO6 sob altas press˜oes 83 4 6 8 10 12 14 16 18 In te ns id ad e (u n. ar b. ) θ

Figura 5.7: Padr˜oes de difra¸c˜ao de raios X dispersivo em ˆangulo para a amostra Sr2FeOsO6 em fun¸c˜ao da press˜ao aplicada a T = 15 K. Os picos de Bragg marcados

com * representam os picos provenientes do rubi e do Au.

encontram-se na Figura 5.7. Nenhuma evidˆencia de transi¸c˜ao de fase estrutural da simetria tetragonal para monocl´ınica foi observada nos padr˜oes coletados. Os parˆame- tros de rede da c´elula unit´aria foram extra´ıdos dos refinamentos dos padr˜oes de difra¸c˜ao dentro do grupo espacial I4/m utilizando o m´etodo LeBail. Nenhuma descontinuidade nos parˆametros de rede da c´elula unit´aria foi encontrada dentro do intervalo de press˜ao medido (at´e 56 GPa). O comportamento do volume em fun¸c˜ao da press˜ao foi obtido e ajustado pela equa¸c˜ao de estado de Birch-Murnaghan (Equa¸c˜ao 3.15) e encontra-se na Figura 5.8. 0 10 20 30 40 50 60 200 210 220 230 240 10 20 30 40 50 5.1 5.2 5.3 5.4 7.6 7.7 7.8 7.9 1.45 1.46 1.47 1.48

Figura 5.8: (a) Curva da dependˆencia do volume da c´elula unit´aria em fun¸c˜ao da press˜ao a T = 15 K obtido do refinamento dos parˆametros de rede utilizando o m´etodo LeBail. O comportamento do volume em rela¸c˜ao a press˜ao foi ajustado pela EOS de terceira ordem de Birch-Murnaghan. (b) Parˆametros de rede a e c da c´elula unit´aria tetragonal e a correspondente raz˜ao c/a em fun¸c˜ao da press˜ao aplicada.

Uma r´apida inspe¸c˜ao do comportamento dos parˆametros de rede em fun¸c˜ao da press˜ao revela que o parˆametro a contrai duas vezes mais que o parˆametro de rede

c: ( a/a0)/ P = −0.1138(3) e ( c/c0)/ P = 0.0679(4). Por outro lado, a raz˜ao

c/a aumenta cerca de 3% at´e a m´axima press˜ao atingida. O aumento da raz˜ao c/a em fun¸c˜ao da press˜ao pode estar provavelmente relacionado ao aumento das distor¸c˜oes das liga¸c˜oes Fe-O-Os no plano ab. De fato, o mesmo comportamento da raz˜ao c/a ´e observado para essa amostra quando resfriada de 300 a 15 K a press˜ao ambiente [12, 120]. No entanto, ´e interessante ressaltar que a raz˜ao c/a a press˜ao ambiente diminui de 1.437 ˚A para o composto Sr2FeOsO6 [12], para 1.413 ˚A e 1.408 ˚A para

os compostos SrCaFeOsO6 e Ca2FeOsO6 [120], respectivamente, ambos com simetria

monocl´ınica (na fase monocl´ınica, a raz˜ao c/a foi obtida atrav´es da f´ormula c/[(a+b)/2] j´a que o ˆangulo ´e perto de 90 para ambos os compostos). Dessa forma, a redu¸c˜ao da simetria do sistema da fase tetragonal para monocl´ınica resulta na diminui¸c˜ao da raz˜ao c/a devido ao aumento das distor¸c˜oes das liga¸c˜oes Fe-O-Os ao longo do eixo c, comportamento oposto ao verificado para o composto Sr2FeOsO6em fun¸c˜ao da press˜ao.

A observa¸c˜ao do aumento da raz˜ao c/a em fun¸c˜ao da press˜ao com a preserva¸c˜ao da simetria tetragonal do sistema indica que distor¸c˜oes nas liga¸c˜oes Fe-O-Os ao longo do eixo c pode n˜ao estar acontecendo na estrutura com Sr. For¸cando um modelo para refinar os padr˜oes de difra¸c˜ao no qual o parˆametro de rede c contrai mais r´apido que a resulta em uma raz˜ao c/a de ⇠ 1.36. Essa brusca redu¸c˜ao da raz˜ao c/a corresponderia a significantivas mudan¸cas na estrutura local do sistema, que se manifestariam em expressivas mudan¸cas nas oscila¸c˜oes de EXAFS presentes no espectro de absor¸c˜ao na borda do Os.

Tendo em vista que a raz˜ao c/a aumenta em fun¸c˜ao da press˜ao, pode-se argumentar que pequenas distor¸c˜oes nas liga¸c˜oes Fe-O-Os podem estar presentes ao longo do eixo c, apesar disso n˜ao refletir na mudan¸ca de simetria do sistema como um todo. No entanto, as oscila¸c˜oes de EXAFS presentes nos espectros de absor¸c˜ao na borda L2 do Os n˜ao

apresentaram significativas mudan¸cas em fun¸c˜ao da press˜ao (Figura 5.6a), indicando que estrutura local em torno dos ´ıons de Os n˜ao muda drasticamente. Essas oscila- ¸c˜oes fornecem informa¸c˜oes sobre distor¸c˜oes nas liga¸c˜oes Fe-O-Os, j´a que esses desvios afetam fortemente a amplitude e a fase do espalhamento m´ultiplo [128], como pode ser claramente observado nas diferen¸cas das oscila¸c˜oes entre compostos com Ca e Sr a press˜ao ambiente (Figura 5.9). Baseados nesses resultados e tamb´em nos padr˜oes de difra¸c˜ao de raios X, conclu´ımos que as liga¸c˜oes Fe-O-Os ao longo do eixo c permancem colineares.

5.6

Discuss˜ao

Os resultados apresentados nas Se¸c˜oes 5.4 e 5.5 indicam que enquanto o sistema tetra- gonal Sr2FeOsO6 apresenta a transi¸c˜ao de um ordenamento antiferromagn´etico para

ferrimagn´etico sob altas press˜oes, a origem da mudan¸ca da estrutura magn´etica parece ter uma natureza diferente daquela encontrada para o composto Ca2FeOsO6. Traba-

5.6. Discuss˜ao 85 12.39 12.42 12.45 12.48 0 1 2 3 4 X A N E S Energia (keV) 1 bar 12.40 12.42 12.44 12.46 12.48 0.4 0.5 0.6 0.7 Ca2FeOsO6 Sr2FeOsO6 X A N E S Energia (keV)

Figura 5.9: Compara¸c˜ao entre os espectros de absor¸c˜ao na borda L2 do Os dos com-

postos Ca2FeOsO6 e Sr2FeOsO6 a press˜ao ambiente.

Sr2FeOsO6 explicam a origem dos diferentes ordenamentos antiferromagn´eticos obser-

vados nesta estrutura a press˜ao ambiente [14, 120, 129]. Como mencionado anterior- mente, duas diferentes configura¸c˜oes AFM (AF1 e AF2), observadas por experimentos de difra¸c˜ao de nˆeutrons, coexistem a baixas temperaturas. A fase AF2 surge abaixo de 67 K e passa a ser a estrutura dominante abaixo de 55 K (85% a 2 K). A fase AF1, por outro lado, consiste do acoplamento FM entre os ´ıons magn´eticos de Fe e Os ao longo do eixo c, enquanto que metade das liga¸c˜oes Fe-Os acoplam-se AFM na fase AF2. A mudan¸ca parcial do acoplamento Fe-Os verificado na estrutura AF2 ´e um resultado das distor¸c˜oes da rede cristalina no qual distˆancias curtas (AFM) e longas (FM) entre os ´ıons de Fe e Os s˜ao criadas. A estrutura magn´etica das fases AF1 e AF2 do composto

Sr2FeOsO6 pode ser observada na Figura 5.10.

Duas consequˆencias diretas surgem da redu¸c˜ao da distˆancia das liga¸c˜oes Fe-O-Os induzidas por press˜ao [130]. A primeira delas ´e o aumento das integrais de transferˆencia dos el´etrons entre os ´ıons de metal de transi¸c˜ao e os oxigˆenios. Estas integrais, que nada mais s˜ao que a probabilidade de um el´etron ser transferido de um ´ıon de metal de transi¸c˜ao para outro via os ´ıons de oxigˆenio, s˜ao dadas pelos parˆametros tpd e

tpd⇡ para as transferˆencias entre os orbitais eg $ p e t2g $ p⇡, respectivamente.

Ambos os elementos de matriz de transferˆencia possuem uma dependˆencia / rM T O3.5 com a distˆancia entre o ´ıon de metal de transi¸c˜ao (MT) e o oxigˆenio. Al´em disso, ambas as intera¸c˜oes de Super-Troca e Dupla Troca possuem dependˆencia similares em rela¸c˜ao `as integrais de transferˆencia (at´e a primeira ordem). Portanto, ambas as intera¸c˜oes s˜ao afetadas da mesma forma com a diminui¸c˜ao das liga¸c˜oes Fe-Os. C´alculos num´ericos indicam uma dependˆencia m´ınima das intera¸c˜oes de troca com as integrais de transferˆencia [130]. A segunda quantidade que ´e afetada pela redu¸c˜ao da distˆancia Fe-Os s˜ao os efeitos do campo cristalino. Neste caso, as intera¸c˜oes de troca magn´eticas s˜ao diretamente afetadas. A intera¸c˜ao de Dupla Troca envolve a troca de um el´etron

AF1 AF2 FiM P T 3.97 Å 3.97 Å 3.94 Å 4.00 Å J1 J’1 < 4.00 Å < 3.94 Å Os Fe

Figura 5.10: Evolu¸c˜ao da estrutura magn´etica sob diminui¸c˜ao da temperatura e au- mento da press˜ao. Metade do acoplamento FM entre os ´ıons Fe e Os ao longo do eixo c da fase AF1 tornam AFM com a diminui¸c˜ao da temperatura (fase AF2). A adicional redu¸c˜ao dessas distˆancias com a aplica¸c˜ao da press˜ao leva ao aumento do campo crista- lino em ambos os ´ıons e ao enfraquecimento das intera¸c˜oes de Dupla Troca ao longo do eixo c, favorecendo o acoplamento AFM. J1 e (J10) representam as intera¸c˜oes de troca

entre os primeiros vizinhos entre os ´ıons de Fe e Os. As distˆancias Fe-Os presentes nas estruturas AF1 e AF2 foram extra´ıdas da Referˆencia [14].

entre os orbitais eg dos ´ıons de Fe e Os. At´e a primeira aproxima¸c˜ao, o ganho em

energia da intera¸c˜ao de Dupla Troca ´e dada pela f´ormula: EDE ⇠= t4 pd 2 JHund,Os (U + 10DqOs 10DqF e) (5.1) onde ´e a energia de transferˆencia de carga entre os ´ıons de Os e O e U , ´e a trans- ferˆencia de carga do ´ıon de Fe para Os. Pode-se observar que o ganho em energia da intera¸c˜ao de Dupla Troca ´e diretamente proporcional ao acoplamento de Hund, JHund,Os , no ´ıon de Os (primeira regra de Hund). A diminui¸c˜ao das distˆancias Fe-Os

gera um aumento na diferen¸ca entre os parˆametros do campo cristalino para ambos os ´ıons, 10DqOs 10DqF e, levando `a redu¸c˜ao da intera¸c˜ao de Dupla Troca.

A redu¸c˜ao da intera¸c˜ao de Dupla Troca em fun¸c˜ao da diminui¸c˜ao das liga¸c˜oes Fe-Os leva a uma explica¸c˜ao natural do aparecimento das diferentes fases magn´eticas observa- das no composto Sr2FeOsO6. Como mencionado anteriormente, a origem da invers˜ao

do sinal da intera¸c˜ao de troca entre os ´ıons de Fe e Os ao longo do eixo c na fase AF2 parece estar relacionada ao aumento do campo cristalino nos ´ıons de Fe e Os participantes das liga¸c˜oes curtas. Com a compress˜ao da rede cristalina induzida pela aplica¸c˜ao de press˜ao, a redu¸c˜ao de todas as distˆancias Fe-Os e o consequente aumento do campo cristalino nesses ´ıons leva ao enfraquecimento das intera¸c˜oes ferromagn´eticas entre os ´ıons de Fe e Os ao longo do eixo c, favorecendo o acoplamento antiferromag- n´etico entre os mesmos. No plano ab, o acoplamento permanece AFM em todas as temperaturas devido `a forte intera¸c˜ao de Super-Troca associado `as expressivas distor- ¸c˜oes das liga¸c˜oes Fe-O-Os nesse plano. A redu¸c˜ao da intera¸c˜ao de Dupla Troca faz com que o acoplamento entre os ´ıons de Fe e Os ao longo do eixo c seja AFM, resultando em um ordenamento ferrimagn´etico no composto Sr2FeOsO6 sob press˜ao.

5.7. Conclus˜ao parcial 87

5.7

Conclus˜ao parcial

O alto grau de ajuste das intera¸c˜oes de troca sob altas press˜oes ´e uma caracter´ıstica exclusiva das perovskitas duplas 3d -5d : a reduzida intera¸c˜ao Coulombiana nos orbitais 5d faz com que a intera¸c˜ao de Dupla Troca ferromagn´etica entre os ´ıons de Fe e Os seja fraca comparada `as intera¸c˜oes presentes nas perovskitas duplas 3d -3d. Por exemplo, o composto La2MnNiO6 apresenta uma robusta intera¸c˜ao de troca ferromagn´etica entre

os ´ıons de Mn e Ni, como resultado de fortes intera¸c˜oes Coulombianas (forte acopla- mento de Hund) presentes nos ´ıons de Mn [131]. O robusto ordenamento FM permanece a press˜oes aplicadas de at´e 38 GPa, sem nenhuma redu¸c˜ao na temperatura de ordena- mento ou no momento magn´etico do sistema [131]. No entanto, a coercividade desses sistemas ´e pequena (⇠ 300 Oe) devido `a fraca intera¸c˜ao spin-´orbita presente nos ´ıons 3d [132]. Por outro lado, a fraca intera¸c˜ao Coulombiana nos ´ıons 5d em decorrˆencia da grande extens˜ao espacial dos orbitais 5d, leva ao enfraquecimento das intera¸c˜oes de Dupla Troca FM entre os ´ıons de Fe e Os, um acoplamento que pode ser facilmente destru´ıdo por pequenos est´ımulos externos ou pequenas distor¸c˜oes das liga¸c˜oes Fe-O- Os. De fato, o acoplamento dos ´ıons de Fe e Os no plano ab ´e AFM devido `a presen¸ca de pequenos desvios da colinearidade (⇠ 168 graus) das liga¸c˜oes Fe-O-Os. Isto resulta em uma fraca intera¸c˜ao FM de Dupla Troca sendo superada pelas intera¸c˜oes AFM de Super-Troca, que n˜ao dependem fortemente de distor¸c˜oes nas liga¸c˜oes Fe-O-Os (Figura 5.3). A habilidade de n˜ao somente alterar profundamente a estrutura magn´etica com press˜ao externa, mas fazer isso de uma forma cont´ınua ´e atraente para aplica¸c˜oes onde o ajuste da coercividade e da magnetiza¸c˜ao de satura¸c˜ao ´e desejada. Enquanto que a estrutura Sr2FeOsO6 requer uma press˜ao > 10 GPa para induzir significativas mu-

dan¸cas na coercividade e na magnetiza¸c˜ao remanente, uma possibilidade interessante seria dopar a estrutura de Sr com Ca para ficar pr´oximo de um estado ferrimagn´etico [120] e ent˜ao permitir que a aplica¸c˜ao da press˜ao leve `a transi¸c˜ao AFM-FiM de forma revers´ıvel, isto ´e, atrav´es da dinˆamica de compress˜ao/descompress˜ao. Al´em disso, a habilidade de se atingir altos valores de coercividade manipulando as intera¸c˜oes de troca 3d -5d com press˜ao, acoplado `a intera¸c˜ao spin-´orbita nos orbitais 5d, representa uma oportunidade ´unica na busca de novos materiais, como por exemplo, compostos im˜as permanentes sem a utiliza¸c˜ao dos elementos terras raras [133, 134].

Acoplamento spin-´orbita nos

metais de transi¸c˜ao 5d : es-

tudo da Pt e Hf sob altas

press˜oes

6

Este cap´ıtulo refere-se ao estudo do acoplamento spin-´orbita nos metais de transi¸c˜ao 5d. Mais especificamente mostraremos como tal intera¸c˜ao se comporta sob a aplica¸c˜ao de press˜ao f´ısica utilizando como exemplos os elementos Hf e Pt, que possuem, respec- tivamente, um fraco e forte acoplamento spin-´orbita a press˜ao ambiente. A partir do c´alculo do branching ratio atrav´es dos espectros de absor¸c˜ao nas bordas L2,3 do Hf, a

parte angular do valor esperado do acoplamento spin-´orbita pode ser extra´ıdo e seu comportamento sob altas press˜oes determinado. Ao contr´ario do verificado para Pt, o acoplamento spin-´orbita no Hf aumenta em fun¸c˜ao da press˜ao. Esse comportamento foi relacionado `as propriedades exibidas pelo elemento Hf de forma a entender como esse mecanismo contribui para a f´ısica exibida por esse material sob altas press˜oes.

6.1

Introdu¸c˜ao

Recentemente, um crescente interesse pela f´ısica dos materiais com metais de tran- si¸c˜ao 4d e 5d tem surgido na comunidade cient´ıfica devido `a observa¸c˜ao de estados fundamentais eletrˆonicos e magn´eticos ex´oticos nesses sistemas, como por exemplo, o inesperado ordenamento orbital e o magnetismo localizado em compostos com Ru [135] e Ir [126], respectivamente. Como as fun¸c˜oes de onda dos orbitais d aumentam sua extens˜ao espacial de 3d! 5d, estes materiais tendem a exibir largas bandas eletrˆoni- cas (largura de banda, W ), com fracas intera¸c˜oes Coulombianas (U ⇠ 0.5 3 eV) e fortes efeitos do campo el´etrico cristalino (CEF ⇠ 1 3 eV) [49]. Al´em disso, devido `a grande massa atˆomica associada aos elementos 5d, estes materiais tamb´em exibem fortes intera¸c˜oes spin-´orbita (SO⇠ 0.2 1 eV) [125]. A proximidade dessas trˆes escalas de energia (U ⇡ CEF ⇡ SO) fornece oportunidades promissoras para o estudo da f´ısica decorrente da competi¸c˜ao entre os graus de liberdade de spin, carga e rede cristalina.

De particular interesse ´e o estudo dos efeitos das intera¸c˜oes spin-´orbita nos metais de transi¸c˜ao 5d. Como mencionado anteriormente, essas intera¸c˜oes s˜ao importantes

Hf Ta W Re Os Ir Pt Element Farrel Lytle, 1983-87 Souza-Neto, May/2010 2 3 4 5 6 L 3 /L 2 ( X A S ) 9.8 9.9 11.1 11.2 0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 Tantalum: 5d3 L2 L3 L3 , L2 e d g e X A N E S Energy (keV)

Figura 6.1: Valores de BR calculados a partir da intensidade integrada da linha branca dos espectros de abor¸c˜ao das bordas L2,3 dos metais de transi¸c˜ao Hf a Pt. O inset

mostra o espectro de XANES na borda L2,3 do Ta. As ´areas rachuradas correspondem

`as respectivas integra¸c˜oes utilizadas na determina¸c˜ao da raz˜ao IL3/IL2.

para esses elementos (proporcionais a Z4) e cruciais para o entendimento de diversos

fenˆomenos presentes na f´ısica da mat´eria condensada [136]. ´E muitas vezes desej´avel que o estudo das bandas de valˆencia e de condu¸c˜ao desses sistemas sejam sondados atrav´es de t´ecnicas seletivas ao elemento qu´ımico e sens´ıveis ao bulk, de forma a tamb´em permitir o estudo sob condi¸c˜oes extremas (como altas press˜oes e temperaturas). Para este fim, a t´ecnica de XANES se mostra uma poderosa ferramenta no estudo desses sistemas, uma vez que sonda diretamente as excita¸c˜oes dos estados de caro¸co 2p1/2 e

2p3/2 para as bandas de valˆencia (5d ) (bordas de absor¸c˜ao L2,3, respectivamente), cuja

energia envolvida no processo ´e acima de 10 keV. As intera¸c˜oes spin-´orbita podem ser quantificadas atrav´es do c´alculo da raz˜ao da intensidade da linha branca nos espectros de absor¸c˜ao dessas bordas (conforme explicado com maiores detalhes na Se¸c˜ao 3.3), que por sua vez, est´a diretamente relacionado `a parte angular do valor esperado do acoplamento SO, hL · Si. Para os metais de transi¸c˜ao 5d, o valor do BR aumenta de Hf ! Pt (5d2 ! 5d9) a press˜ao ambiente, conforme observado na Figura 6.1. Um

branching ratio de⇠ 2 ´e verificado para Hf ! Re (5d2 ! 5d5), que ´e o valor estat´ıstico

no limite de intera¸c˜oes spin-´orbita desprez´ıveis. Por outro lado, valores n˜ao estat´ısticos de BR s˜ao observados no final da s´erie 5d (Os ! Pt) e cresce gradualmente com o aumento do n´umero de el´etrons d. Este comportamento est´a relacionado ao fato do BR ser inversamente proporcional ao n´umero de buracos presentes no orbital 5d (Equa¸c˜ao 3.4). O aumento da raz˜ao das intensidades L3/L2 do Hf para Pt tamb´em

evidencia o aumento do acoplamento spin-´orbita para os metais 5d pesados.

Baseados nessas informa¸c˜oes e na aparente importˆancia do acoplamento spin-´orbita nos metais 5d, ´e natural verificar como esse mecanismo ´e afetado pela aplica¸c˜ao da press˜ao. Come¸caremos primeiramente dando o exemplo da Pt, que sob altas press˜oes n˜ao possui nenhuma transi¸c˜ao de fase da estrutura cristalina, mas exibe um forte

6.1. Introdu¸c˜ao 91 11.52 11.56 11.60 13.28 0.0 0.5 1.0 1.5 0.3 GPa 75 GPa X A N E S Energia (keV) (a) 0 20 40 60 80 3.5 4.0 4.5 I( L 3 )/ I( L 2 ) (B ra nc hi ng R at io ) (b)

Figura 6.2: (a) Espectros de XANES nas bordas L2 e L3 da Pt em fun¸c˜ao da press˜ao

a T = 300 K. (b) Comportamento do BR calculado em fun¸c˜ao da press˜ao.

acoplamento spin-´orbita a press˜ao ambiente. Os espectros de absor¸c˜ao nas bordas L2,3

da Pt e o correspondente valor do BR em fun¸c˜ao da press˜ao podem ser observados na Figura 6.2. A regi˜ao de XANES nas bordas L2 e L3 dos metais de transi¸c˜ao 5d

´e dominada, respectivamente, pelas transi¸c˜oes 2p1/2 ! 5d3/2 e 2p3/2 ! 5d5/2, 5d3/2,

permitidas pelas regras de sele¸c˜ao dipolar, l = ±1, 0 e j = ±1, 0. A press˜ao ambiente, a presen¸ca do forte acoplamento spin-´orbita faz com que os buracos na banda de valˆencia da Pt sejam prodominantemente 5d5/2(j´a que os estados j = 3/2 est˜ao todos

ocupados). Dessa forma, as transi¸c˜oes s˜ao proibidas para os caso 2p1/2 ! 5d3/2, mas

permitidas para 2p3/2 ! 5d5/2. Isso explica a presen¸ca da linha branca na borda L3

e a ausˆencia da mesma na borda L2, respectivamente. No entanto, com a aplica¸c˜ao

da press˜ao, a largura de banda dos orbitais 5d tende a aumentar, tornando-se mais relevante do que as intera¸c˜oes Coulombianas e acoplamento spin-´orbita, de forma a induzir uma forte mistura dos estados j = 3/2 e 5/2. Quanto mais car´ater 5d3/2 ´e

misturado, mais a intensidade da borda L2 aumenta, diminuindo assim o valor do BR

[137]. Assim, podemos dizer que o efeito da press˜ao em sistemas com forte acoplamento spin-´orbita ´e o de diminuir essa intera¸c˜ao. Esse mesmo comportamento j´a foi verificado para outros sistemas sob altas press˜oes, como os ´oxidos de Ir [125, 127].

Por outro lado, ´e importante tamb´em investigar o mesmo comportamento em ele- mentos com fraco acoplamento spin-´orbita. Com este fim, neste trabalho, o branching ratio do elemento Hf foi tamb´em investigado pela t´ecnica de absor¸c˜ao de raios X nas bordas L2,3. Como mostrado na Figura 6.1, o metal de Hf (Hf0, 5d2) apresenta um BR