• Nenhum resultado encontrado

3.6 Efeitos das altas press˜oes

3.6.4 T´ecnicas experimentais sob altas press˜oes

Espectroscopia de raios X (XANES e XMCD)

Devido `as dificuldades inerentes ao se fazer experimentos de espectroscopia de raios X sob altas press˜oes (como tamanho do feixe da ordem de poucos microns, alto fluxo de f´otons de raios X, alto campo magn´etico e boa taxa de polariza¸c˜ao para os experimentos de XMCD), todas as medidas de absor¸c˜ao de raios X foram realizadas na linha 4-ID-D do Advanced Photon Source, APS, EUA.

O APS ´e uma fonte de radia¸c˜ao s´ıncrotron de terceira gera¸c˜ao constitu´ıda de um acelerador linear (do inglˆes linac), que atrav´es de campos el´etricos alternados acelera os el´etrons a uma energia de at´e 450 MeV. Ap´os esta etapa, os el´etrons s˜ao injetados em um booster e s˜ao acelerados at´e atingirem a energia final de 7 GeV. Os el´etrons de 7 GeV de energia s˜ao injetados em um anel de armazenamento de 1104 m de circun- ferˆencia, formado por cerca de 1000 magnetos e outros dispositivos. Os el´etrons s˜ao condicionados em um ambiente de ultra-alto-v´acuo e s˜ao focalizados por fortes cam- pos eletromagn´eticos em um estreito feixe que ´e defletido radialmente, mantendo sua trajet´oria circular. O anel de armazenamento ´e formado por 40 per´ıodos retos, sendo que 5 deles s˜ao usados para os equipamentos de radiofrequˆencia e inje¸c˜ao do feixe. Os 35 per´ıodos restantes recebem os dispositivos de inser¸c˜ao (insertion devices), como wigglers e onduladores, produzindo feixes de raios X com alto fluxo e brilhˆancia3.

A linha 4-ID-D do APS [88] ´e constitu´ıda por um ondulador linear de 33 mm de

3Fluxo ´e o n´umero de f´otons por segundo que atravessa uma ´area definida. A brilhˆancia ´e o fluxo de f´otons em uma estreita largura de banda por unidade de ˆangulo s´olido nas dire¸c˜oes vertical e horizontal (f´otons/s/mm2/mrad2/0.1% da largura de banda).

3.6. Efeitos das altas press˜oes 47 per´ıodo e ´e equipada por um conjunto de dispositivos ´opticos que consistem em fendas de tungstˆenio, monocromador de duplo cristal de Si(111), lˆaminas defasantes (phase plates) e espelhos. A energia do feixe ´e sintonizada no intervalo de 2.8 a 45 keV, com resolu¸c˜ao de E/E = 1.4⇥10 4. A polariza¸c˜ao linear ´e convertida para circular atrav´es

de lˆaminas quarto de onda (phase plates)4 de diamante (111), operado na geometria

de transmiss˜ao de Bragg. Nessa geometria, os feixes de raios X s˜ao transmitidos pelo monocristal de pouca espessura, orientado pr´oximo a uma reflex˜ao de Bragg . Para produzir feixes circularmente polarizados ´e necess´ario uma diferen¸ca de fase de = ⇡/2 entre as componentes e ⇡ do campo el´etrico da radia¸c˜ao e que as intensidades dessas componentes sejam iguais. Para isso, ´e preciso que o plano de difra¸c˜ao deste cristal esteja posicionado a 45 em rela¸c˜ao ao feixe incidente. O sinal de determina a helicidade do feixe transmitido (circular `a direita ou circular `a esquerda). As grandes vantagens de se utilizar as lˆaminas quarto de onda na geometria de transmiss˜ao de Bragg para a obten¸c˜ao de feixes com polariza¸c˜ao circular s˜ao: obten¸c˜ao de alto grau de polariza¸c˜ao circular (PC 0.9), feixe incidente n˜ao precisa ser altamente colimado,

invers˜ao r´apida da helicidade dos raios X circularmente polarizados e a utiliza¸c˜ao de um intervalo de energia consider´avel dos feixes de raios X.

Ap´os as lˆaminas quarto de onda, um espelho toroidal e um espelho plano (revestido de pal´adio ou sil´ıcio) focalizam e colimam o feixe de raios X na cabana experimental. O tamanho focal esperado para o feixe ´e de ⇠ 300 µm ⇥ 100 µm. No entanto, em experimentos com altas press˜oes, as dimens˜oes do feixe de raios X devem ser da or- dem de poucas dezenas de microns (dependendo do diˆametro do culeta do diamante e, portanto, da press˜ao m´axima que se deseja atingir); a redu¸c˜ao do feixe de raios X pode ser realizada tanto fechando-se as fendas posicionadas antes da amostra ou utili- zando um conjunto de espelhos KB (Kirkpatrick-Baez ). O princ´ıpio de funcionamento da ´optica KB consiste em um espelho com superf´ıcie alinhada horizontamente e um segundo espelho com superf´ıcie alinhada verticalmente. Para se obter um ponto focal comum, ambos os espelhos devem ser curvados elipticalmente de forma que o foco do primeiro espelho coincida com o foco do segundo em um mesmo plano. A grande van- tagem do uso dos espelhos KB em rela¸c˜ao `as fendas ´e que praticamente todo o fluxo de f´otons ´e aproveitado durante a focaliza¸c˜ao. Em praticamente todos os experimentos de espectroscopia apresentados nessa tese, o sistema de espelhos KB foi utilizado para

4O princ´ıpio de funcionamento das lˆaminas quarto de onda de raios X ´e baseado no fenˆomeno da birrefringˆencia (anisotropia no ´ındice de refra¸c˜ao) presentes em cristais perfeitos na condi¸c˜ao de difra¸c˜ao de Bragg. De acordo com a teoria da difra¸c˜ao dinˆamica, as componentes do campo el´etrico na dire¸c˜ao (paralelo ao plano de difra¸c˜ao) e ⇡ (perpendicular ao plano de difra¸c˜ao) propagam-se com diferentes velocidades dentro do cristal. Os diferentes caminhos percorridos resultam em uma diferen¸ca de fase, , que depende da espessura do cristal, do comprimento de onda dos raios X, do ˆ

angulo de Bragg e do deslocamento angular ✓ de um pico de Bragg. A escolha da geometria no qual as lˆaminas quarto de onda podem operar depende da regi˜ao do perfil de difra¸c˜ao do cristal (rocking curve) em que se deseja trabalhar. Em geral, a regi˜ao fora do centro da rocking curve (base da curva) ´e a mais indicada por permitir a manipula¸c˜ao de feixes mais divergentes (quando se considera a regi˜ao central da rocking curve o feixe de raios X incidente na lˆamina deve ser extremamente colimado). Dessa forma, adotando-se essa regi˜ao, dois tipos de geometria podem ser utilizados: (1) Transmiss˜ao de Bragg e (2) Transmiss˜ao de Laue [89, 90].

Espelhos KB 18 x 22 µm2 Si (111) Monocromador P C Diamante(111) Lâmina defasantes Espelho Toroidal I(E) I0(E) H = 6.5 T T = 1.6 K XMCD setup P1 P2 Ondulador Espelho Plano

Figura 3.12: Ilustra¸c˜ao da linha de luz 4-ID-D no Advanced Photon Source, APS, EUA. a redu¸c˜ao do feixe de raios X. As dimens˜oes do feixe na posi¸c˜ao da amostra foi da ordem de ⇠ 21 µm ⇥ 15 µm. Um sistema de fotodiodos foram posicionados antes e depois da amostra para quantificar os f´otons incidentes e transmitidos. As medidas de XMCD foram realizadas utilizando um sistema de mudan¸ca da helicidade dos raios X (do inglˆes: helicity switching mode) na qual a helicidade ou a polariza¸c˜ao circular do f´oton incidente era invertida (circular `a direta e `a esquerda) numa frequˆencia de 13.1 Hz [90, 91]. A Figura 3.12 mostra a configura¸c˜ao experimental da linha 4-ID-D.

O aparato experimental utilizado para os experimentos de XMCD consistiu no uso de magnetos supercondutores de 4 Tesla ou 6.5 Tesla, com campo magn´etico aplicado na dire¸c˜ao do feixe de raios X (horizontal), e temperaturas m´ınimas de 4 K e 1.6 K, respectivamente. Nos experimentos realizados com o magneto supercondutor de 4 T, a c´elula de press˜ao utilizada foi uma miniDAC (Figura 3.9c) e a press˜ao na amostra era aplicada apertando-se os parafusos presentes no pist˜ao da c´elula de press˜ao (sempre a temperatura ambiente). Dessa forma, nos experimentos a baixas temperaturas, a amostra era aquecida para 300 K e retirada de dentro do magneto supercondutor. A medi¸c˜ao da press˜ao era realizada em duas etapas atrav´es do manˆometro de rubi: a primeira ap´os se apertar os parafusos da c´elula de press˜ao e a segunda, ap´os se es- quentar a amostra e retir´a-la do magneto supercondutor. Assim, a barra de erro para cada ponto de press˜ao foi determinada atrav´es do desvio padr˜ao dos valores retirados das etapas descritas acima. J´a no magneto supercondutor de 6.5 T, os experimentos de espectroscopia foram realizados utilizando-se uma c´elula de press˜ao de CuBe (Fi- gura 3.9b) acoplada a uma membrana de duplo diafragma feita de a¸co inoxid´avel. A press˜ao na amostra era ent˜ao aplicada atrav´es da inser¸c˜ao de g´as He nessa membrana e este procedimento poderia ser feito a qualquer temperatura acima da temperatura de liquefa¸c˜ao do He (4.2 K), sem a necessidade de se esquentar e retirar a c´elula de

3.6. Efeitos das altas press˜oes 49 Raios-X Gaxeta (Re) Amostra (pó) Rubi (a) Raios-X Gaxeta (Re) Amostra (pó) Rubi (b)

Figura 3.13: Esbo¸co do uso do conjunto de diamantes perfurados nas medidas de absor¸c˜ao de raios X. Em (a) ´e mostrado um conjunto formado por uma bigorna de diamante com espessura de 1.7 mm e um diamante parcialmente perfurado de 0.1 mm de espessura. J´a o conjunto de diamantes mostrados em (b) ´e formado por uma bigorna parcialmente perfurada (0.1 mm) e um conjunto composto por um diamante totalmente perfurado com uma mini-bigorna (600 µm) colada no topo desse diamante (de forma que a espessura total do conjunto ´e da ordem de 700 µm). A superf´ıcie ´optica lisa do diamante mais espesso (bigorna com espessura de 1.7 mm ou a mini-bigorna de 600 µm) permite a medi¸c˜ao da press˜ao pela t´ecnica de luminescˆencia do rubi.

press˜ao de dentro do magneto. A calibra¸c˜ao da press˜ao na amostra foi determinada pela luminescˆencia do rubi atrav´es de um dispositivo ´optico acoplado a uma das janelas do magneto supercondutor (manˆometro descrito na Se¸c˜ao 3.6.3).

Na geometria (transmiss˜ao) utilizada para os nossos experimentos sob altas press˜oes o feixe de raios X atravessa os diamantes presentes na c´elula. No entanto, em certas energias, os diamantes monocristalinos difratam o feixe incidente (de acordo com a Lei de Bragg) resultando no desvio do feixe para fora da trajet´oria incidente. Estes f´otons desviados n˜ao chegam ao detector e o espectro de absor¸c˜ao apresenta picos esp´urios (glitches) nestas energias. A quantidade e a intensidade desses picos dependem da orienta¸c˜ao dos diamantes em rela¸c˜ao ao feixe incidente e da faixa de energia a ser tra- balhada. Assim, durante o experimento, uma r´apida varredura em energia foi realizada para verificar a existˆencia desses picos e, ao encontr´a-los, a c´elula foi cuidadosamente rotacionada para desloc´a-los para fora do intervalo de energia considerado. Outro as- pecto importante al´em da difra¸c˜ao foi a absor¸c˜ao dos raios X pelos diamantes a baixas

Bending magnet Si (111) Monocromador Espelhos KB 3 x 12 µm2 E=29 keV pinhole Criostato de fluxo de He Image Plate

Figura 3.14: Ilustra¸c˜ao da linha de luz 16-BM-D no Advanced Photon Source, APS, EUA.

energias. Para maximizar a transmiss˜ao dos raios X na faixa de energia estudada, diferentes pares de diamantes foram utilizados nos experimentos realizados nesta tese. Esses pares de diamantes est˜ao ilustrados na Figura 3.13.

Difra¸c˜ao de p´o de raios X (dispersivo em ˆangulo)

Os experimentos de difra¸c˜ao de p´o de raios X sob altas press˜oes foram realizados na linha 16-BM-D, do High Pressure Collaborative Access Team (HPCAT), no APS, EUA. Nessa linha de luz, o feixe de raios X ´e gerado por um bending magnet e a energia incidente ´e sintonizada atrav´es de um duplo cristal de Si (111) (6 a 70 keV). Ap´os o monocromador, o feixe de raios X passa por um sistema de cˆamaras de ioniza¸c˜ao, fendas e filtros antes de incidir no sistema de espelhos KB. Esses espelhos focalizam e reduzem o feixe de raios X para um tamanho final de ⇠ 3 ⇥ 12 µm2 na posi¸c˜ao da

amostra. Todos os padr˜oes de difra¸c˜ao foram coletados no modo dispersivo em ˆangulo, no qual a lei de Bragg, = 2dsin✓ ´e obedecida fixando-se o comprimento de onda dos raios X incidentes ( ). Dessa forma, o feixe de raios X foi sintonizado a uma energia de ⇠ 29.2 30 keV (⇠ 0.4 0.42 ˚A), o qual possui uma intensidade suficiente para atravessar os diamantes da c´elula de press˜ao, assim como a amostra policristalina. A essa energia, uma quantidade suficiente de picos de Bragg, necess´arios para a indexa¸c˜ao das estruturas cristalinas, foram coletados dentro do limite angular da c´elula de press˜ao (⇠ 22 ). Para os experimentos a baixas temperaturas, um criostato de fluxo de He com temperatura m´ınima de 8 K foi utilizado. Os padr˜oes de difra¸c˜ao foram coletados atrav´es de um detector de ´area do tipo Image Plate (MAR345) com tamanho de pixel de 100 µm; a distˆancia amostra-detector era determinada dependendo da resolu¸c˜ao angular desejada em cada experimento (neste trabalho, a distˆancia-amostra detector variou entre 400 a 700 mm). A Figura 3.14 mostra a configura¸c˜ao e a montagem experimental utilizada na linha de luz 16-BM-D.

A c´elula de press˜ao utilizada em todos experimentos de difra¸c˜ao apresentados nessa tese foi a c´elula sim´etrica mostrada na Figura 3.9a, com bigornas de diamante (n˜ao perfurados) de 1.7 mm de espessura e pontas planas de 300 µm. Gaxetas de Rˆenio

3.6. Efeitos das altas press˜oes 51 foram prensadas at´e uma espessura final de 60 µm e um furo de 120 µm foi realizado no centro da ´area prensada. A c´elula foi carregada com a amostra, g´as He (que serviu como meio de press˜ao), um pequeno peda¸co de rubi e p´o de Au para a determina¸c˜ao in-situ da press˜ao aplicada. A press˜ao na amostra foi ent˜ao aplicada atrav´es de um sistema manual acoplado aos parafusos da c´elula de press˜ao (gear box ), procedimento que poderia ser realizado mesmo a baixas temperaturas. Antes de come¸car cada experi- mento, um difratograma da amostra padr˜ao CeO2 foi coletada para se fazer a calibra¸c˜ao

da distˆancia amostra-detector. As imagens dos padr˜oes de difra¸c˜ao das amostras foram ent˜ao integradas e convertidas em um gr´afico de intensidade em fun¸c˜ao do ˆangulo 2✓ pelo programa FIT2D (Figura 3.15) [92]. Em experimentos sob altas press˜oes, se a es- trutura do composto ´e conhecida, sua equa¸c˜ao de estado pode ser determinada atrav´es da obten¸c˜ao dos parˆametros de rede da c´elula unit´aria, refinados a partir das posi¸c˜oes dos picos de Bragg, utilizando o m´etodo de m´ınimos quadrados. Para esse prop´osito, o m´etodo LeBail do programa GSAS [41] foi utilizado para todos os compostos estu- dados neste trabalho. O m´etodo Rietveld, apesar de fornecer informa¸c˜oes adicionais como posi¸c˜oes atˆomicas, ˆangulos de liga¸c˜oes e etc, n˜ao pˆode ser realizado nos padr˜oes de difra¸c˜ao coletados devido `a diversos fatores como orienta¸c˜ao preferencial (devido ao reduzido tamanho do feixe de raios X, fazendo com que o experimento seja feito em apenas alguns gr˜aos do material), baixa intensidade dos picos de Bragg, assim como curto intervalo 2✓ (resultando em pouca quantidade de picos de Bragg necess´arios para um refinamento confi´avel). 6 8 10 12 14 16 18 50 100 150 200 250 300 350 In te ns id ad e (u n. a rb .) θ ( ) 1.7 GPa

Figura 3.15: Padr˜ao de difra¸c˜ao em 2D e ap´os a integra¸c˜ao utilizando-se o programa FIT2D.

Compostos RERh4B4

(RE =

Dy e Er)

4

Neste cap´ıtulo ser˜ao apresentadas as investiga¸c˜oes das propriedades eletrˆonicas, mag- n´eticas e estruturais dos compostos da fam´ılia RERh4B4 (RE = Dy e Er) atrav´es das

t´ecnicas de espectroscopia e difra¸c˜ao de raios X a press˜ao ambiente e altas press˜oes. Em uma primeira parte, ser˜ao mostrados o crescimento e as caracteriza¸c˜oes estruturais e magn´eticas dos compostos a press˜ao ambiente e baixas temperaturas. Em seguida, ser´a mostrado como a estrutura eletrˆonica dependente de spin desses sistemas reagem sob a aplica¸c˜ao da press˜ao f´ısica. O comportamento das contribui¸c˜oes dipolar (n´ıveis 5d ) e quadrupolar (n´ıveis 4f ) aos espectros de absor¸c˜ao das terras raras foi determi- nado e relacionado `as altera¸c˜oes locais da estrutura atˆomica induzidas pela compress˜ao da rede cristalina.

4.1

Introdu¸c˜ao

Os el´etrons f de compostos intermet´alicos de terras raras e actin´ıdeos s˜ao respons´a- veis por uma variedade de novos estados supercondutores e magn´eticos descobertos e estudados nas ´ultimas d´ecadas [18]. Em especial, duas s´eries de compostos tern´arios de terras raras, os calcogenetos REMo6X6 (com X = S e Se) e os boretos de r´odio

RERh4B4, tˆem sido extensivamente estudadas por apresentarem, em uma mesma es-

trutura, a intera¸c˜ao e competi¸c˜ao da supercondutividade e magnetismo [11, 93]. O ordenamento magn´etico de longo alcance apresentado por esses compostos ´e atribu´ıdo, em parte, `a sub-rede ordenada de terras raras. Por outro lado, a persistˆencia da su- percondutividade, mesmo na presen¸ca de uma concentra¸c˜ao relativamente grande de ´ıons RE, ´e atribu´ıda `a fraca intera¸c˜ao de troca entre os el´etrons de condu¸c˜ao e os mo- mentos magn´eticos RE. Este fato, por sua vez, parece estar associado aos “clusters” formados pelos ´ıons de metal de transi¸c˜ao, que juntamente com os ´ıons RE, formam a estrutura b´asica dessas fases tern´arias. Acredita-se que a supercondutividade esteja associada aos el´etrons dos metais de transi¸c˜ao d que est˜ao relativamente confinados dentro destes “clusters” e, portanto, interagem fracamente com os ´ıons RE. No entanto, a quest˜ao do porque das terras raras serem t˜ao ineficientes em destruir a supercon- dutividade e qual o mecanismo f´ısico que regula essa coexistˆencia ainda n˜ao foram

conclusivamente respondidas. At´e o momento, as propriedades destes materiais foram estudadas por sondas macrosc´opicas, como resistividade el´etrica, susceptibilidade mag- n´etica, espalhamento de nˆeutrons ou espectroscopia de tunelamento. Estas t´ecnicas, por sua vez, fornecem informa¸c˜oes indiretas sobre a estrutura eletrˆonica dos orbitais que desempenham importantes papeis nos mecanismos que determinam as proprieda- des desses materiais. Dessa forma, a utiliza¸c˜ao de uma t´ecnica seletiva ao elemento, aos orbitais e `as polariza¸c˜oes em spin, como a t´ecnica de XMCD, ´e crucial para se estudar as propriedades eletrˆonicas e magn´eticas provenientes dos elementos RE e Rh presentes neste sistema. Al´em disso, em condi¸c˜oes de altas press˜oes, as terras raras confinadas nos “clusters” de Rh podem ser colocados pr´oximas uma das outras, de forma que mudan¸cas nas intera¸c˜oes eletrˆonicas e/ou magn´eticas dos orbitais 4f, 5d e 4d afetam ainda mais as propriedades magn´eticas e supercondutoras do composto. De fato, foi brevemente mostrado [94] que uma press˜ao externa aplicada (de at´e 2.1 GPa) no sistema Er1 xHoxRh4B4 modifica as propriedades macrosc´opicas magn´eticas e su-

percondutoras do material por afetar as intera¸c˜oes de troca entre os ´atomos vizinhos. Curiosamente, as temperaturas de ambas as transi¸c˜oes (magn´etica e supercondutora) foram aumentadas com a aplica¸c˜ao de press˜oes de at´e 2.1 GPa.

Sendo assim, a id´eia inicial deste trabalho foi utilizar as t´ecnicas de XANES e XMCD nas bordas L2,3 das terras raras e do metal de transi¸c˜ao para investigar as

propriedades eletrˆonicas e magn´eticas das sub-redes de RE e Rh a press˜ao ambiente. Sob altas press˜oes, essas mesmas t´ecnicas seriam aplicadas `as bordas L2,3 das terras

raras (experimentos a mais altas energias) e as propriedades supercondutoras dos com- postos seriam sondadas atrav´es de medidas de resistividade. No entanto, devido `a diversos fatores experimentais, tanto as medidas espectrosc´opicas nas bordas L2,3 do

Rh quanto os experimentos de resistividade sob altas press˜oes, n˜ao puderam ser con- clu´ıdas. Dessa forma, nesta tese, focamos nosso estudo nas propriedades magn´eticas e eletrˆonicas, a press˜ao ambiente e sob altas press˜oes, de dois representantes da s´erie RERh4B4 (DyRh4B4 e ErRh4B4) atrav´es do uso das t´ecnicas de XANES e XMCD nas

bordas L2,3 do Dy e Er. Encontramos que os sinais magn´eticos das contribui¸c˜oes dipolar

(2p3/2 ! 5d) e quadrupolar (2p3/2 ! 4f) ao espectro de XMCD diminuem em fun¸c˜ao

da press˜ao; esse comportamento foi diretamente relacionado `as mudan¸cas da estrutura atˆomica local em torno dos ´ıons de RE que, por sua vez, alteram as intera¸c˜oes de troca 4f -5d nesses ´ıons e o magnetismo macrosc´opico do composto como um todo.

A s´erie de materiais RERh4B4 existe para basicamente a maioria dos elementos ter-

ras raras, onde RE = Y, Th, Nd, Sm, Er, Tm e Lu formam compostos supercondutores e RE = Gd, Tb, Dy e Ho s˜ao ferromagn´eticos. Assim, para os compostos escolhidos, DyRh4B4 possui ordenamento ferromagn´etico e ErRh4B4 apresenta ordenamento mag-

n´etico e supercondutor. Esses compostos cristalizam na estrutura tetragonal primitiva do sistema CeCo4B4, no qual os ´ıons RE est˜ao localizados nas bases e nas arestas (ao

longo do eixo c) da c´elula tetragonal, os ´atomos de Rh formam tetraedros isolados (Rh4) nos v´ertices e no centro da c´elula e os ´atomos de B formam d´ımeros (B2) (Fi-

4.1. Introdu¸c˜ao 55

(a) (b)

Figura 4.1: (a) Estrutura cristalogr´afica do composto RERh4B4. (b) Proje¸c˜ao dos

tetraedros Rh4 ao longo da dire¸c˜ao [001] (eixo c). As distˆancias intermet´alicas Rh-Rh

est˜ao indicadas em Angstroms. O plano superior est´a indicado pelas linhas vermelhas; o plano logo abaixo est´a indicado pelas linhas cinzas.

gura 4.1a). A estrutura cristalina pertence ao grupo espacial P 42/nmc (n° 137). Como