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A NOTÍCIA NO TELEJORNALISMO: ESTRUTURA E CARACTERÍSTICAS

3.3. ESTRUTURA DA NOTÍCIA TELEVISIVA

Apesar haver características semelhantes entre a notícia televisiva e o jornalismo impresso, notamos elementos pontuais que constroem uma linguagem específica da notícia no telejornal, conferindo-a aspecto diferenciado. O objetivo, então, é destacar alguns traços que possam ser reconhecidos como dominantes nas transmissões das notícias em TV. De modo geral, aplica-se ao telejornalismo os critérios e elementos, levantados anteriormente neste trabalho, como: noticiabilidade, objetividade e subjetividade jornalística, singularidade da notícia, atualidade do fato e interesse público. Portanto, a existência de algumas particularidades, em relação a outros meios, confere característica própria ao processo de construção da notícia em televisão.

As raízes históricas do telejornalismo apontam dois caminhos distintos: Europa e os Estados Unidos. Nascidos de modelos de televisão diferentes, enquanto a Europa praticava o jornalismo engajado, partidário, analítico, sempre explicitando seu posicionamento (até porque por muito esteve preso ao controle do Estado, sofrendo forte influência dele e, por conta disso, não exercitando a busca da imparcialidade), os americanos criavam a escola do jornalismo clean, asséptico, onde os mitos da imparcialidade e da objetividade são trabalhados e defendidos como verdades inabaláveis até hoje. Segundo DRUMMOND (2006), o jornalismo brasileiro absorveu muito do jornalismo norte-americano em relação aos enfoques dados às matérias. Em ambos, há uma supervalorização de personalidades e a publicação dos fatos sem uma análise profunda. É um

Percebemos que, desde seu advento, na década de 50, a televisão brasileira tem sofrido a influência americana, tanto na estrutura comercial como na produção, ao importar programas, idéias, temas, roteiros e, mesmo, técnicas administrativas. Assim, como os americanos, o telejornalismo no Brasil sempre procurou ter como característica marcante o aprimoramento técnico. De acordo com HAMBURGER, o JN ao seguir este modelo, por exemplo:

“(...) consolidou um formato fixo com a cobertura da política nacional, uma pitada de internacional, esportes e alguma variedade. Apostou na agilidade e na rapidez da notícia curta. Com esse projeto de jornalismo “clean”, o jornal se impôs como um dos programas de maior audiência de nossa televisão. E se tornou referência nacional” (apud Borelli e Priolli, 2000, p: 57).

De modo geral, a linguagem telejornalística deve ser de tom coloquial, clara e precisa, com uso de pausas bem colocadas com a finalidade de se aproximar e criar certa intimidade com o espectador, como se o apresentador e/ou repórter fosse alguém próximo, um vizinho ou parente contando uma história. Assim, procura-se “personalizar” a informação, passando a sensação que, apesar da notícia ser dada a milhões de telespectadores, ela é dirigida a um único receptor. Desta forma, “o espectador se sente ao mesmo tempo íntimo e universal” (Novais, 1991, p: 86), e totalmente seduzido pelo universo televisivo.

Por esta razão, a função emotiva é usada constantemente nos noticiários televisivos, criando uma polissemia sensorial no discurso televisivo, através: do uso preciso do texto e da imagem; da fala e da sintaxe do apresentador; da narração do repórter; do depoimento das fontes; da encenação dos acontecimentos por meio da dramatização; dos componentes técnicos, como: cenografia, ambiente de estúdio, estilo de apresentação das notícias, cortes, edição, uso dos caracteres, iluminação do estúdio, som original, trilha musical, enquadramento da câmera, uso de recurso visuais e eletrônicos.

Desta forma, observando algumas características próprias no telejornalismo (que situam a televisão na condição peculiar de um meio identificado com a indústria do lazer e do entretenimento e, assim sendo, subordinada a certas regras da indústria cultural), podemos identificar os seguintes pontos específicos da linguagem da telenotícia:

 Presença dominante da imagem na enunciação, onde a informação visual domina sobre a textual, revelando-se gestos, atitudes, expressões, movimentos, através do som e da imagem, seja em matérias gravadas ou “ao vivo”;

 Instantaneidade da notícia, isto é, o fato é enunciado como se ocorresse no mesmo tempo real do espectador e, enquanto linguagem, nascendo e morrendo no instante em que é divulgada, não podendo, com isso, voltar como se faz com as páginas de um jornal. Assim, como diz PATERNOSTRO, “o receptor ‘deve pegar a informação de uma vez’. Se isso não acontece, o

objetivo de quem está escrevendo – transmitir a informação – fracassa” (1991, p: 44);

 Fragmentação excessiva dos assuntos do noticiário, distribuindo e justapondo as notícias em blocos e segmentos por proximidade temática que, na interpretação de MARCONDES FILHO, acontece como uma estratégia mercadológica para aumentar a audiência, onde se opera, nesse caso, “a desvinculação da notícia de seu fundo histórico-social e, como um

dado solto, independente, ela é colocada no mercado de informação” (1986, p: 41). Fragmentada,

cortada, dividida, a notícia trás maior agilidade ao noticiário e mantém o espectador mais atento. Porém, como diz LIPOVETSKY, este recurso, ao imprimir ritmo ágil, onde tudo deve ser imediatamente compreendido, pois muda muito depressa, não explora “nenhuma necessidade de

memória, de referências, de continuidade” (1989, p: 230). Com isso, como defende BOURDIEU

(1997) ninguém se informaria completamente de nada, pois faltariam pormenores que o tempo de transmissão do noticiário não permite. Contudo, deve-se ressalvar que a notícia televisiva não poderia ser completa, pois, como todo discurso, trata-se de um recorte da realidade, marcado por escolhas, critérios e interpretações pessoais;

 Personalização da notícia, onde se reduz o acontecimento ao mecanismo da intimidade;

 Caracterização das personagens, a fim de intensificar os relatos humanos e obter maior identificação emocional com o público.

e formação (o público alvo do Bom Dia Brasil – mais elitizado, necessitando que os fatos sejam abordados com maior densidade – não seria o mesmo do Jornal Hoje – tendendo a notícias mais leves e de comportamento, por atingir quem está no intervalo para o almoço –, que difere do Jornal

Nacional – amplo, familiar, que busca informações sucintas e de fácil entendimento – mudando no Jornal da Globo – dinâmico, resumindo os acontecimentos do dia para quem quer distração

noturna).

Mas, ao mesmo tempo, todos buscam um público médio, padrão, que possa ampliar as possibilidades de audiência. Como pontua PRETI, “as audiências não são bem definidas e, então,

procura-se nivelar os padrões, em busca de uma linguagem comum, que possibilite uma compreensão natural, considerando-se as variações geográficas ou sócio-culturais dos telespectadores” (1991, p: 232).

Analisando as especificidades do jornalismo televisivo, VIZEU (2005) aponta alguns pontos que o caracteriza e o torna reconhecível no campo. De acordo com o autor, as notícias de televisão consistiriam em um relato de acontecimentos atuais; utilizariam o meio de reportagem na “cobertura” dos acontecimentos do dia, isto é, na descrição factual daquilo que um observador viu e ouviu em cima do acontecimento em questão; são relatos de fatos que são produzidos por organizações com objetivos especiais, escolhidas e escritas por pessoas, cuja inteira ocupação é colher e escrever notícias; são relatos melodramáticos de assuntos atuais, onde os acontecimentos retirariam a sua identidade jornalística, em grande parte das ficções dramatizantes que os jornalistas e as fontes tecem à volta deles; utilizariam temas, fórmulas e símbolos na construção de linhas de ação dramática que dão significado e identidade aos acontecimentos.

Segundo Vizeu (2005), a questão da notícia de televisão procurar ser coerentemente organizada e coesa está associada ao fato desta ser inserida e apresentada no tempo, ou seja, as notícias são selecionadas e organizadas de modo a serem vistas integralmente pelo espectador em um curto espaço temporal, formando um todo unificado. Acrescenta-se que, a narração dos acontecimentos tenta passar a idéia para o telespectador de um “presente acontecendo”. O noticiário televisivo tenderia a apresentar uma interpretação única, monolítica, unificada dos fatos do dia como um todo e a constituir períodos de tempo tendo um único movimento, ação ou tons definidos. Assim sendo, a notícia de televisão seria concebida para ser completamente inteligível quando vista na sua totalidade. Acrescenta que a notícia de televisão é uma forma muito mais flexível e

intelectualmente amoldável, ou seja, menos “interpretava”, mais influenciável pelo fluxo diário dos acontecimentos.

Como a televisão é tanto visual como auditiva, tornaria possível à notícia se apoiar na narrativa falada. De acordo com o autor, a notícia de televisão adotaria uma voz narrativa intensamente pessoal. O repórter pode fazer referência aos seus próprios atos tanto na observação dos acontecimentos, como na busca de fatos, até havendo alusões explícitas à própria consciência deste sobre os motivos das fontes, a validade das afirmações citadas, etc. E como estratégia de captação de audiência, a notícia televisiva dá maior importância ao espetáculo. Ainda para Vizeu, isto não seria simplesmente porque a televisão tem uma grande e sofisticada capacidade para descrever a imagem e o som dos acontecimentos, mas por descrever algo mais diretamente temático e melodramático de forma atraente, simples e de fácil entendimento para o receptor.

Nesse sentido, LIPOVETSKY observa que a comunicação televisiva está ordenada sob a lei da sedução e do divertimento, estruturada pelo processo em que reinam as necessidades das sondagens e as contagens de audiência. Mas, mesmo assim, percebe-se aspectos positivos, como a “socialização da informação”, pois quando “a mídia fragmenta e superficializa o saber, torna o

público mais aberto em relação ao mundo, criando, com isso, novos espaços para trocas sociais”

(1989, p: 234)

De um modo geral, a linguagem da telenotícia, com sua apresentação coloquial, íntima e apelativa aos sentidos, possibilita ao telespectador a dupla sensação: está sendo informado sobre os fatos do dia ao mesmo tempo em que se sente fazendo parte deles.