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Fátima: Um desafio para as mulheres Os torcedores brasileiros já estão

A NOTÍCIA NO JORNAL NACIONAL: A (RE)CONSTRUÇÃO DO ACONTECIMENTO

Chamada 09 Fátima: Um desafio para as mulheres Os torcedores brasileiros já estão

acostumados a vibrar com as vitórias das nossas atletas. No vôlei, no basquete e em outros esportes elas se destacam. Mas ainda falta conquistar um outro espaço.

que existe de mais prosaico na vida de uma cidadã comum; lançando mão da habilidade do jornalista como contador de histórias.

As matérias como estas acima, a exemplo de outras: torcedora que foi ao Maracanã pela primeira vez (30/01), confusão na volta às aulas (31/01), mulher que recebeu o primeiro transplante de rosto da história da medicina (31/01), vírus que causaria a obesidade (01/02), estudo sobre a química da paixão (02/03), demonstram que os campos opostos da informação (pertencente ao campo do jornalismo), e do entretenimento (ao campo da criação artística), são interligados pelo Nacional.

Naquela semana, acontecimentos noticiosos eram apresentados como uma “recreação

dramatizada”, como diz CORTÉS (1999). Segundo o autor, a simbiose entre jornalismo e

entretenimento, específica neste momento na televisão, alcança a informação, que não subtrai este espírito do processo de “shownalizacão” que adquiriu esta atividade. Neste sentido, o termo

infotainment definiria muito bem o que seria a informação dentro da televisão.

“Este termo e resultado da fusão de duas palavras anglo-saxônicas:

information (informação) e entertainment (entretenimento), em clara alusão a como, pouco a pouco, a informação televisiva foi perdendo o rigor, convertendo-se mais em entretenimento, buscando o lado amável ou sensacionalista; primando o chamativo e o mórbido dos acontecimentos; alterando a ordem norma de valoração das noticias em função do contágio com o resto da programação” (1999, p: 206).

Percebemos que a temática das notícias vai variando muito pouco de um dia para o outro, assim como a forma constante de apresentação e edição, tornado-se uma das estratégias cruciais de criação de um apelo sensacionalista dos acontecimentos. A notícia é um discurso, assim como é a ficção e, como tal, pode situar-se na esfera da racionalidade e da consciência, atuando por meio de histórias que tendem a dar sentido espetacular sobre os fatos apresentados. Como diz FERRÉS, as decisões humanas são baseadas nas imagens mentais que o sujeito possui sobre a realidade. “As

dos meios de massa. Os meios, principalmente a televisão, são os verdadeiros construtores das imagens mentais” (1998, p: 157).

Assim sendo, se o telespectador baseia suas decisões em função do conhecimento que tem da “realidade” apresentada por um telejornal, qualquer informação oferecida pelo JN, por exemplo, terá uma grande influência nas suas decisões, pois, como já dissemos, o Nacional é a principal fonte de aquisição de informações sobre o dia a dia para milhões de brasileiros.

Como afirma o autor, “não é porque não existam outros meios de comunicação que

transmitam informações, inclusive mais e melhor, mas porque é cada vez maior o número de cidadãos que extraem da televisão a maior parte de suas informações” (idem, p: 158). Isto se

torna perigoso pelo poder exercido por aqueles que conseguem impor o seu próprio olhar sobre a realidade, a ponto de tanto chegar a oferecer informações parciais (ocultando, com isso, dados essenciais), como de enganar o informado, dando-lhe informações falsas. Esse “poder” é maior ao se exercer “com base no fascínio, a partir do mascaramento das intenções e dos mecanismos

formais utilizados” (ibidem, p: 161)

A eficácia socializadora da informação espetáculo, daquela semana no Nacional, reside no fato de que ela funcionava principalmente na área emocional. Seguindo parâmetros dos mecanismos de sedução aplicados por FERRÉ (1998, p: 159), percebemos que, nas reportagens citadas, havia uma fragmentação seletiva da informação, focalizando a atenção dos espectadores nas dimensões isoladas dos acontecimentos, adequando-os ao interesses ideológicos ou comerciais do meio, já que este almejava recuperar pontos de audiência e credibilidade publicitária.

Em todas elas havia uma hegemonia emotiva, potencializando os valores emotivos, espetaculares, com objetivo de aumentar a audiência, com base no uso das emoções fáceis, com o perigo de levar a certo “adormecimento” da realidade, já que notícias políticas e econômicas não mereceram destaques. Como nos diz Ferré (1988), a hipertrofia das emoções potencializa o caráter espetacular das informações, transformado em simples mercadorias para serem consumidas pelas

telespectador, pois, diante da tela, consciente ou inconscientemente, procura-se, principalmente, emocionar-se, em detrimento do saber.

De fato, as notícias daquela semana eram povoadas de indivíduos reais, mas, ao representar os acontecimentos por meio deles, notamos que a maneira de construir uma versão compreensível dos acontecimentos, por meio de ações, palavras e reações das pessoas envolvidas, sempre buscava o lado emocional do fato. Como diz FERRÉ “a credibilidade das informações

está condicionada pelas atitudes emotivas que provoca aquele que as gera” (idem, p: 166); ou

seja, influi que mais seduz.

Desta forma, o JN daquela semana estava cheio de más-notícias. Catástrofes, desgraças, ilegalidades, denúncias criminosas, fait divers foram postos em destaque, em detrimento das notícias políticas e econômicas, da reflexão, debate ou análise. Tratava-se de uma estratégia do poder do infotainment para recuperar a audiência, encontrando, como meio, reportagens que exploravam o uso das emoções e que, assim, construía, espetaculosamente, o mais importante telejornal do Brasil.

As reportagens acima elencadas, pelo JN, foram elaboras mais como entretenimento do que como informação. Ou pelo menos, buscou-se informar através do entretenimento. Era a conseqüência da tirania da briga por pontos de audiência, pois, a telenovela da Rede Record o ameaçava. Como espetáculo, o JN buscou o conflito, os antagonismos que fazem o telespectador se emocionar: vida e morte, prazer e dor, sofrimento e esperança, “bem” versus o “mal”, seguindo a lógica da narrativa folhetinesca, tentando atingir o telespectador pelo efeito psíquico das emoções.

Naquele momento, utilizava-se a informação mais sedutora possível para rapidamente reconquistar a audiência perdida, adequando-se às necessidades e desejos daqueles receptores, que buscavam valores associados às emoções negativas, em conflito com as dimensões essenciais da realidade, sobre a qual se dariam, aparentemente, as informações.

Assim, como afirma REQUENA (1988), neste contexto espetacular, e pelas próprias características de fragmentação e heterogeneidade do discurso dominante da televisão, as imagens do mundo “real”, no Jornal Nacional, eram continuamente justapostas, tanto com aquelas pertencentes a mundos referenciais identificados como “ficcionais” (novelas), como a outras pertencentes ao mundo autoreferencial (televisivo); ou seja, “o imaginário em estado puro: nem

propriamente real, nem exatamente fictício, mas, em qualquer caso, densamente espetacular, impondo sua lógica sobre o conjunto dos gêneros que integram o discurso televisivo dominante”

(1988, p: 106).

A mistura entre o “real”, o “ficcional” e o “televisivo” tendem a construir esse discurso “sedutor”, representados nos exemplos estudados neste trabalho, sempre de forma constante, fragmentado, heterogêneo e dotado de uma intensa e diária continuidade emocional.

CONCLUSÕES