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3 Análise de Caso – Intervenção Individual

3.5 Estrutura das Sessões da Sofia

Conforme é referido pela literatura (Morais, 2007; Olalla, 2009; Rodríguez, 2003; Vásquez e Mila, 2014), foi fundamental manter uma calendarização fixa das sessões, de forma a estabelecer uma rotina. Assim, as sessões, tal como indica o horário (tabela 3), decorreram três vezes por semana, com o tempo previsto de uma hora, sendo que, inicialmente, o tempo era menor, por a residente ficar rapidamente cansada e sem conseguir manter a atenção durante o tempo total de atividade. O tempo e a calendarização regular das sessões foram ao encontro do que é definido pela literatura (Rodríguez, 2003) e, o mesmo autor, dá enfoque à importância de haver um número reduzido de pessoas quando se tratam de pessoas com uma demência mais avançada. Neste caso, não pareceu ser benéfico incluir outros residentes no processo de intervenção, não só pelos tempos de resposta diferentes, mas também para a atenção ser totalmente direcionada para a Sofia.

Em todas as sessões procurou-se criar um ambiente positivo, havendo a valorização das capacidades da Sofia, aspeto referido, frequentemente, pelos autores (Madera, 2005; Mora, et al., 2016; Olalla, 2009; Vásquez e Mila, 2014) e onde se gerasse um momento de calma e conforto (Mila et al., 2015). Ainda sobre o ambiente da sessão, houve a preocupação que estas decorrem-se sempre no ginásio, por ser um ambiente com estímulos mais controlados, questão importante quando se trata de focar a atenção (Geerligs et al., 2014) e para facilitar os processos de comunicação (Goossens et al., 2017). A escolha do espaço como um ambiente harmonioso é salientado por Mora, Piédrola e Huete (2016), até pelas dificuldades evidenciadas em consequência da síndrome demencial, nomeadamente o facto de haver dificuldade de focar a atenção num ambiente com muito estímulos e em retomar uma tarefa quando esta é interrompida (APA, 2013). Por isso. o ginásio assumia-se como o espaço que mais evitava estes fatores.

Relativamente à estrutura das sessões, estas dividiram-se nos seguintes momentos: reconhecimento, momento central e conversa final.

O Reconhecimento do espaço e dos elementos presentes na sala, nomeadamente saber que estava no ginásio o que iria fazer e que materiais havia e que conhecia (aqui também eram realizadas perguntas referentes à orientação espacial). Era feito o enquadramento em relação à altura do dia, mas com menos enfoque na calendarização do dia. Este momento de orientação bem como a criação de uma rotina dentro desta deve ser privilegiado na GPM (Morais, 2007; Olalla, 2009; Rodríguez, 2003; Vásquez e Mila, 2014).

Gerontopsicomotricidade em Contexto Institucional e Comunitário | Influência dos Materiais na Intervenção

Os três momentos de seguida apresentados, traduzem o momento central da sessão, onde se deu o grande destaque ao trabalho dos objetivos previamente estabelecidos (Rodríguez, 2003) e especificados na tabela 6:

− A ativação geral, focada, sobretudo, nas questões do planeamento motor,

capacidade de resolução de problemas, motricidade global, coordenação oculomanual, onde, por norma, se realizavam sempre movimentos amplos com o

auxílio de materiais leves e de grandes dimensões (como é o caso dos arcos e dos tecidos, aspeto que Rodríguez (2003), também aponta como facilitador) e depois fazia- se uma atividade onde a residente perceciona-se, de imediato, o sucesso da ação motora. Este também foi um momento onde as atividades, por envolverem pontuações, se tornaram uma boa oportunidade de trabalhar o cálculo que, e como comprova a literatura, não é dos processos mais afetados e as principais alterações devem-se às questões da velocidade de processamento e retenção de informações (Corey et al., 2003; Rozencwajg et al., 2010), mas onde pode ser realizado o reconhecimento de quantidades e operações simples (Guiu et al., 2016).

− Uma tarefa que utilizava a música sempre como recurso para depois serem realizadas tarefas como a leitura do texto, encontrar palavras na letra da música (atenção), retenção de pequenos excertos (memória a curto prazo) e reprodução dos ritmos de algumas músicas utilizando as palmas (noção de ritmo, enquadrada na

noção de tempo). A utilização da música comprova ter efeitos positivos na promoção

da memória, mesmo nos casos de envelhecimento patológico (Gallego e García, 2016) mas foram tidos cuidados também evidenciados na literatura como usar a música apenas quando esta era parte integrante da tarefa e nunca como música de fundo uma vez que, e como aponta Geerligs et al. (2014), à semelhança da maioria das pessoas idosas, também a Sofia tinha dificuldade em focar-se um estímulo e ignorar informação parasita. A música e a leitura foram também importantes como via de estimular a comunicação, sugestão apontada por Gallego e García (2016) e era um grande gosto da residente.

− Uma atividade com recurso a materiais pequenos (fazendo-se atividades de

preensão fina, noção de espaço e categorização), sendo a manipulação destes

materiais uma ideia de Nuñez e González (2012).

Uma massagem de mãos final com cremes aromáticos, trabalhando-se a questão do reconhecimento dos cheiros aliados à memória a longo prazo e a

descontração neuromuscular. Esta foi uma atividade que, pela familiarização em relação

aos cheiros, permitiu rechamar memórias de longo prazo (Yang et al., 2016), promovendo o bem-estar e (Munk e Zanjani, 2011; Pace et al., 2011b) e dando enfoque ao toque, uma forma de comunicação não verbal (Pace at al., 2011b) fundamental para a relação terapêutica (Rodríguez, 2003). Na discriminação dos cheiros, por vezes, surgiram algumas dificuldades, aspeto apontado por Jin et al. (2016).

A conversa final focava-se em como a Sofia se sentia. Dada as dificuldades na retenção a curto prazo, o recordar das atividades não era uma prioridade neste momento da sessão. Outro dos pontos importantes desta conversa final passava pela

valorização da opinião da residente e pela promoção de um sentimento de autoeficácia, conforme indica Morais (2007). O mesmo autor refere a importância de dizer à pessoa o que vai realizar a seguir à sessão, o que também foi feito nas sessões da Sofia, onde lhe era explicado que, de seguida, iria para a sala e, mais ao final da tarde, ia jantar.

Uma questão transversal a todos os momentos da sessão foi a observação dos aspetos não verbais, que se tornou especialmente importante quando nem sempre a linguagem verbal foi suficientemente clara nas síndromes demenciais, como apontam (Pace et al., 2011a). Também no final das sessões foram feitas observações da prestação nas tarefas e dos comportamentos associados, como indicam Aragón (2012) e Morais (2007). Um exemplo de sessão com a Sofia está, em detalhe, no anexo E.