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4.3 ESTUDO COMPARATIVO DOS CONTEXTOS DA PESQUISA

4.3.6 Estrutura física e tecnológica das unidades de ensino e avaliação dos

Sobre as condições do trabalho docente propiciadas pela estrutura física das escolas, explicitadas pelas imagens apresentadas anteriormente e tendo em vista os planos de cursos do Senai e do Ifes, é possível identificar que as duas instituições possuem mais semelhanças do que diferenças no que diz respeito aos tipos

(marcas, tamanho, cores, etc.) e quantidade de materiais, equipamentos, máquinas e ferramentarias disponíveis nos laboratórios e oficinas no campo da mecânica.

Contudo, a organização desses objetos nos espaços formativos possui configurações diferentes, em cada uma dessas escolas. No Senai-ES, os laboratórios e as oficinas são organizados de modo que cada subárea da mecânica está espacialmente mais delimitada. No Ifes, aparentemente a organização é menos compartimentada e os espaços de produção têm interface física com algumas salas de aula, além de incluir outras áreas derivadas da mecânica, como a refrigeração e a mecânica veicular (ver Figura 14 - legenda 5 - e Figura 15), o que, no caso do Senai-ES, situa-se fora do espaço da mecânica industrial.

Como mencionado, no Ifes, os laboratórios e as oficinas possuem algumas salas de aula em anexo, denominadas de salas técnicas, o que permite aos professores relacionarem ensino teórico e prático, sem deslocamentos. No Senai-ES, ao contrário disso, os laboratórios e salas de aulas não ficam juntos, são espaços distintos, característica marcante em que tudo tem seu lugar determinado.

De modo geral, as duas instituições oferecem condições satisfatórias para o desenvolvimento das aulas. Condição essa que, uma vez satisfeita, deve contribuir para o bom andamento do trabalho docente. Contudo, cabe verificar a avaliação que os próprios professores fazem sobre o seu ambiente de trabalho.

Questionados como avaliam a infraestrutura das oficinas e dos laboratórios da área da mecânica, todos os professores do Senai-ES, entrevistados nesta pesquisa, responderam positivamente. O professor JG enfatiza que “os laboratórios e as oficinas do Senai-ES são bons, pois a instituição tem ferramentas de primeiro mundo e equipamentos de alta tecnologia, que nós ajuda a dar uma boa aula prática”.

O professor JG explica que o conhecimento prático possui relevância no Senai-ES, sendo assim, a atividade de ensino dos professores tende a seguir nessa lógica de um ensino mais pragmático, que é viabilizado pela infraestrutura. Isso fica claro no seguinte relato: “o Senai-ES tem um lema, que é aprender fazendo, pois é uma escola que se preocupa em inserir muito para a prática. A prática é essencial para a

gente. Nesse sentido, há bastantes recursos práticos na escola”. Esse relato ratifica a visão pragmática do ensino (voltada para uma formação instrumental), prescrita no documentos do Senai-ES (SENAI-DN, 2010 e SENAI-DR/ES, 2016b).

Os entrevistados do Senai-ES, mesmo considerando que a infraestrutura é adequada, afirmam que há equipamentos defasados na instituição e justificam que manter as oficinas e os laboratórios totalmente modernizados é uma tarefa difícil frente à intensa evolução tecnológica e ao custo elevado dos aparelhos do campo da mecânica. Conforme o relato do professor CA, “a gente tem instrumentos de ponta, mas também temos instrumentos defasados [...]. A maior dificuldade nossa é a atualização rápida dos equipamentos”. Aqui, se evidencia a capacidade do docente e sua formação em se posicionar diante da estrutura formativa oferecida pela instituição.

Em contrapartida, os entrevistados do Ifes afirmam que a estrutura física dos espaços formativos da mecânica é boa, como menciona o professor RG “no Campus Vitória temos uma boa estrutura física, bons equipamentos, as oficinas e os laboratórios são bem estruturados”.

Contudo, os professores do Ifes - se comparados com os do Senai-ES - se demonstram mais insatisfeitos e mais exigentes no que se refere à carência de atualização dos equipamentos. Nesse sentido, o professor RG desabafa, dizendo: “a infraestrutura é boa, mas poderia ser melhor, porque há muitas máquinas de tecnologia antiga no Ifes, precisaria de uma atualização dos equipamentos”. Esse mesmo professor relata: “todo equipamento tem vida útil, os da minha área de atuação já cumpriram a vida útil faz 20 anos”.

Os professores entrevistados do Ifes defendem que a carência de atualização dos equipamentos e maquinários não é um problema de gestão da coordenadoria de mecânica, pois, sempre que há condições, essa coordenadoria investe na modernização das oficinas e dos laboratórios. Para eles, essa carência é devida, principalmente, a quatro entraves: à dificuldade de acompanhar a evolução da tecnologia; ao custo elevado dos equipamentos e das máquinas na área da mecânica; à burocratização do serviço público; e aos cortes financeiros do governo

federal nos últimos anos. De fato, essa carência constitui-se em um desafio para o trabalho docente, porém, conforme esses professores, isso não inviabiliza a realização de aulas práticas nem a qualidade da formação profissional que é propiciada nessa escola.

Especificamente sobre as salas técnicas - que é uma peculiaridade do Ifes - os professores expõem que as consideram importantes, principalmente porque permitem a articulação entre a teoria e a prática no processo educativo, como expõe o professor ST: “no Ifes, foram instituídas as salas técnicas, em que todos os laboratórios funcionam em anexo a uma sala de aula, onde são abordados conceitos e fundamentos referentes a uma determinada prática, ou seja, articular a teoria e a prática”.

A maioria dos entrevistados aponta essa articulação como uma “filosofia institucional”, como pode ser observada no relato do professor ST: “a articulação entre a teoria e a prática é pressuposto do trabalho do professor para a formação técnica dos alunos no IFES. É um modelo institucional. É uma filosofia que faz parte da instituição há muito tempo”.

Essa “filosofia institucional” está prevista no documento legal dessa instituição: Lei 11.892/2008 (BRASIL, 2008b) e, de certo modo, tende a implicar na organização do trabalho pedagógico dos educadores, pois, segundo o professor RG, “os professores tendem a trabalhar, ou tentam trabalhar, nessa lógica da integração teoria-prática. Quando as pessoas não fazem isso, elas praticamente ficam brigando contra a própria instituição”.

A partir dos depoimentos dos professores ST e RG, é possível compreender que o conhecimento prático articulado ao teórico é apregoado pela coordenadoria da mecânica do Ifes - Campus Vitória como um modelo de ensino; logo, os docentes são demandados a trabalhar nessa direção, que é admissível pela estrutura física das oficinas e laboratórios.

Em suma, nesses depoimentos é possível identificar o foco do trabalho pedagógico dos docentes preconizado pelo Senai-Vitória (Cetec-AF), e pelo Ifes - Campus

Vitória. Como mencionado pelos professores, no Senai-ES, há uma ênfase no ensino da prática. Por outro lado, segundo os professores do Ifes, na rede federal, a ênfase está no ensino articulado entre a teoria e a prática. Os entrevistados afirmam que as condições dos espaços formativos dessas instituições permitem um trabalho docente coerente com as prerrogativas institucionais.

Além do mais, é possível afirmar que tantos os professores do Senai-ES como os do Ifes apontam que as condições dos espaços formativos apresentam alguns desafios: quando diante de um equipamento defasado, os docentes precisam adaptar suas práticas de ensino de modo que o processo educativo não fique prejudicado. Mesmo assim, os professores do Senai-ES e os do Ifes admitem que a infraestrutura dos espaços formativos na área da mecânica é satisfatória para processo ensino- aprendizagem.

De fato, na educação profissional, ter um laboratório e uma oficina bem estruturada é primordial, posto que as aulas práticas são essenciais na formação técnica. No caso das instituições observadas, é possível afirmar que, no campo da mecânica, as escolas localizadas em Vitória-ES possuem qualidade na estrutura física.

Essas reflexões sobre a docência e suas implicações na prática pedagógica percorrem todo este trabalho. Para aprofundar essa questão, passo a analisar o processo de inserção dos docentes nas instituições em estudo e sua relação com a formação e prática do professor.

5 INSERÇÃO, FORMAÇÃO, REMUNERAÇÃO E CARREIRA DOS