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4.3 ESTUDO COMPARATIVO DOS CONTEXTOS DA PESQUISA

4.3.1 Legislação, ano de criação e natureza jurídica do Senai-ES e do Ifes

Como é possível notar, o Senai-ES e o Ifes são normatizados por uma legislação federal. Além das leis que estão na sua origem e determinam a sua gestão e seu funcionamento (Senai: Lei nº. 4.048/1942; IFs: Decreto nº. 7.566/1909 e Lei nº.11.892/2008), essas instituições obedecem à normatização da Educação Geral, como a LDB nº. 9.394/96 (BRASIL, 2016), dentre outras; e mais especificamente as Leis da Educação Profissional, como o Decreto nº. 5.154/2004 (BRASIL, 2004), o Decreto nº. 5.840/2006 (BRASIL, 2006) e a Resolução nº. 06/2012 (CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 2012). Isso define alguns limites e diretrizes para a formação e a atuação dos docentes nesses estabelecimentos.

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A instituição é mantida e financiada desde a sua criação por recursos públicos arrecadados compulsoriamente pelo INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) com base no número de empregados (folha de pessoal) das empresas. O Senai de maneira complementar também cobra mensalidades dos cursos e serviços que oferece a comunidade.

Como já mencionado, no estado capixaba, o Senai-ES (criado em 1952) e o Ifes (criado em 1909) são tradicionais na oferta de educação profissional. Por conseguinte, essas entidades possuem um modo de ensinar construído ao longo da sua história. O profissional docente que se insere nessas instituições encontra um modus operandi bastante arraigado, que é produto do conjunto de valores sedimentados com o passar dos anos que vem consolidando as suas culturas organizacional e escolar.

Como pode ser observado, o Senai-ES é uma entidade paraestatal, com gestão privada; assim, em colaboração com o Estado, a instituição desempenha atividades sem fins-lucrativos. Além do mais, os seus serviços são semi-mercantis. Isso significa que, para custear as atividades realizadas pela instituição, parte das ofertas dos cursos pode ser vendida, ou comercializada, à comunidade em geral e às empresas. Contudo, vale ressaltar que, quando isso ocorre, se estabelece no processo de ensino e aprendizagem uma relação, não apenas de professor-aluno, mas de consumo (aluno-cliente e Senai-fornecedor).

Por outro lado, diferente dessa entidade, o Ifes é estatal, com gestão pública; seus serviços tendem a ser ofertados como um direito social de maneira gratuita. Desse modo, o aluno, ao ser selecionado, é um detentor da matrícula conquistada por meios sociais e de mérito. Nesse caso, a relação não se estabelece pelo consumo, mas sim como um direito social. Evidentemente, tais relações no Senai-Es e no Ifes produzem consequências para a formação e a atuação docente.

4.3.2 Público alvo, perfil dos alunos, fluxo escolar e índice de procura dos cursos técnicos em mecânica do Senai-ES e do Ifes

As duas instituições - por sua finalidade comum em realizar formação para o trabalho - são demandadas, principalmente, por trabalhadores e empregadores. Todavia, o acesso ao Senai-ES e ao Ifes não possui caráter universal. Em outras palavras, a matrícula não é totalmente acessível, posto que o acesso é definido com base em critérios diferentes de seletividade social, econômica e meritocrática.

Com efeito, nessas instituições, o docente encontra um público e uma relação pedagógica diferente das escolas públicas (estaduais e municipais) e das escolas meramente privadas. Isto significa que - apesar de o Ifes estar cada vez mais acessível devido ao sistema de cotas e a sua expansão territorial e o Senai-ES estar cada vez mais comercial - os alunos dessas duas instituições são típicos e suas formas de organização são singulares em relação aos outros espaços escolares em geral. Para melhor conhecimento do perfil dos alunos, bem como o índice de procura pelo curso técnico nas modalidades concomitante/subsequente e o fluxo escolar, no contexto da mecânica do Senai - Vitória (CETEC-AF) e do Ifes - Campus Vitória, apresento a Tabela 2.

Tabela 2 – Perfil dos alunos, índice de procura e o fluxo escolar do curso técnico em mecânica (concomitante e subsequente) relativos ao ano de 201617

Dados sobre os alunos Senai- unidade Vitória Ifes - Campus Vitória

Matriculados 555 222

Aprovação 80% 73%

Evadidos 22% 19%

Renda per capita 50% possuem 1,2 salários mínimos

70% possuem entre 1 a 3 salários mínimos

Inserção ocupacional 62% trabalham na área da mecânica

Não foi divulgado

Gênero 84% são homens

16% são mulheres.

86% são homens 14% são mulheres. Faixa etária A maioria possui idades entre

18 a 29 anos.

A maioria possui idades entre 18 a 29 anos.

Procedência escolar 75% - escola pública; 25% - escola privada.

76% - escola pública; 24% - escola privada. Procura – candidato por

vaga

Média de 4,1 nos 1º e 2º semestres

Média de 7,3 nos 1º e 2º semestres

Fonte: elaborado pela autora a partir de dados produzidos em entrevistas, realizadas em 2017.

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Os dados são de 2016, porque, no momento da pesquisa, as instituições de ensino tinham essas informações como estatísticas atuais.

De acordo com a coordenação pedagógica do Ifes - Campus Vitória18 - conforme exposto na Tabela 2 - foram matriculados 222 alunos no curso Técnico em Mecânica, no ano de 2016. Dentre esses, aproximadamente 70% possuem renda per capita entre 1 a 3 salários mínimos; a maioria é jovem, com idades entre 18 a 29 anos; 86% são homens e 14% são mulheres; 74% são procedentes de escola pública e 24% são oriundos de escola privada. No que se refere à relação candidato por vaga, a modalidade concomitante/subsequente ao ensino médio teve a média de 7,3 (por vaga) de concorrência no primeiro e segundo semestre de 2016 (INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO, acesso em 23 jun. 2017).

Sobre o perfil dos alunos do curso Técnico em Mecânica do Senai - Vitória (CETEC- AF), a gestão de educação profissional dessa instituição divulgou19 que foram matriculados 555 alunos no referido curso, no ano de 2016, como apresentado na Tabela 2. Segundo essa mesma fonte, dentre esses alunos, aproximadamente 50% possuem renda per capita de 1,2 salários mínimos; 84% são homens e 16% são mulheres; a maioria deles é jovem - possuem idades entre 18 a 29 anos; quase 75% são procedentes de escola pública e aproximadamente 25% são oriundos de escola privada. Sobre a relação candidato por vaga, o Senai-ES informou que a média de concorrência para o curso técnico em mecânica é 4,1 por vaga no primeiro e segundo semestre de 2016.

Como aponta a Tabela 2, o perfil dos alunos do curso Técnico em Mecânica, das duas instituições, é bastante semelhante: a maioria pertence à classe social média- baixa, é do gênero masculino, jovem, proveniente de escola pública.

Entretanto, o Ifes apresenta uma relação candidato vaga (7,3) bem superior ao Senai-ES (4,1). Por outro lado, a inserção ocupacional dos alunos do Senai-ES no referido curso informa que mais da metade possui uma relação ocupacional com a mecânica. No caso do Ifes, essa informação não está disponível. Tais características repercutem no trabalho docente: no Ifes, o professor tende a receber um aluno mais

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As informações sobre o fluxo escolar e o perfil dos alunos foram divulgadas no dia 08 de agosto de 2017 pela coordenação pedagógica do Ifes.

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Essas informações sobre o fluxo escolar, perfil dos alunos e relação candidato x vaga foram divulgadas pela gestão do Senai-ES no dia 25 de julho de 2017.

bem escolarizado; por outro lado, no Senai-ES, o professor deve receber um aluno mais inserido no campo de atuação do curso.

Também podemos observar, na Tabela 2, dados do fluxo escolar de ambas as instituições, os quais se revelam também muito similares, com 555 alunos matriculados no Senai-ES e 222 alunos no Ifes, no ano de 2016. Destes, 80% foram aprovados no Senai-ES e 73% no Ifes. Em contrapartida, 22% evadiram no Senai- ES e 19% no Ifes.

Fica evidente a assimetria entre os números totais de matrículas, razão pela qual se pode questionar sobre o que define a quantidade de egressos a serem formados em cada instituição e unidade de ensino. Se o campo de atuação e a localização das escolas são os mesmos, quais seriam as justificativas para esses números de totais matrículas? No caso do Senai-ES, quanto maior for o número de alunos mais recursos entram no caixa da instituição e, possivelmente, mais trabalhadores qualificados estariam à disposição do mercado. Para o IFES, quanto mais alunos, mais recursos a unidade de ensino recebe da União.