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1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

1.3. ESTRUTURA GERAL DA TESE

Nas próximas páginas, serão apresentadas, de forma sumária, as temáticas abordadas nesta tese e especificadas na Tabela 1 abaixo.

Tabela 1: Estrutura geral da tese Considerações iniciais Introdução geral da tese

Capítulo I Corpo e ginástica rítmica: entrelaçamentos Capítulo II Interdisciplinaridade e etnografia: sobre a prática

de pesquisa

Capítulo III Treinamento: experiência corporal e esportiva Capítulo IV Performance esportiva: experiência estética e

artística

Capítulo V Subjetividades: experiência atlética e formativa Considerações Finais Para (não) concluir...

Fonte: Elaboração própria (BOAVENTURA, 2016). Considerações iniciais

Nesta primeira parte, descrevemos as experiências vividas no âmbito da ginástica rítmica e o ponto de partida da tese. Apresentamos a introdução, os objetivos, a justificativa e a questão problema do trabalho.

Capítulo I

Nesse capítulo, buscaremos analisar a relação entre corpo e ginástica rítmica, tomada como fenômeno social e cultural. E com a pergunta “de que corpo estamos falando?”, nos situaremos para compreender algo sobre esses corpos. Mostraremos as múltiplas possibilidades na construção dos corpos contemporâneos e como eles refletem a cultura na qual estão inseridos. Analisar essas particularidades na ginástica rítmica, norteadas por sua regulamentação, permite-nos certa

aproximação à constituição e ao desenvolvimento desses corpos gímnicos. Isto resulta não apenas informações sobre as formas de fortificá-los e melhorar as aparências inventadas, mas, também, de desvendar, conhecer e explicar os momentos de inquietude neles presentes.

Capítulo II

A importância de interpretar e integrar o conhecimento e a sociedade a partir de uma abertura para o diálogo com visões diferentes de um mesmo objeto é utilizada neste trabalho. A noção de complexidade ajuda a fundamentar esse estudo, mostrando possibilidades interdisciplinares de entenderem-se os corpos na ginástica rítmica. Para tanto, como metodologia de caráter interdisciplinar, proporemos, em um primeiro momento, algumas considerações sobre a etnografia para, então, apresentarmos como foi feito nosso trabalho de pesquisa.

Uma grande perspectiva da etnografia, e também desta pesquisa, é obter uma descrição densa: em síntese, tentar ler e apreender as práticas e seus sentidos e por fim apresentá-los. O que importa é o que as pessoas, em diferentes situações, disseram e fizeram sob determinadas condições, com referência ao que se estuda. Isto traz implicações para esta pesquisa. Tomar acesso ao mundo conceitual dos sujeitos é compreender como estes configuram suas práticas em um universo específico, conhecendo como os sujeitos constroem, no cotidiano, suas relações com o corpo. Aqui, o olhar não é apenas para as teorias e descobertas e certamente não somente para o que os apologistas dessa prática dizem sobre ela, mas ver e entender o que as praticantes de ginástica rítmica pensam e fazem.

Para tal fim, realizamos um trabalho de campo (observações, entrevistas, questionários) com atletas e ex-atletas de ginástica rítmica, na tentativa de compreendermos como elas percebem, usam e se relacionam com seus corpos. Os dados que serão apresentados foram construídos a partir de três temporalidades (correspondentes ao material coletado na graduação, no mestrado e no doutorado) em uma narrativa sobre nosso grupo social pesquisado, articulando teoria e campo, num esforço em atribuir significações às representações e práticas nativas, contribuindo, assim, para desvendar, compreender, construir e reconstruir esse mundo gímnico.

Capítulo III

No capítulo três, serão abordadas questões relacionadas ao treinamento esportivo, aspectos que visam à produtividade do corpo e à relação instrumental com ele. Dentro desse diálogo, trabalharemos com o conceito corpo-objeto, ou ainda, corpo-máquina, quando se trata de alto rendimento. Parece que nessa lógica, os números [e as repetições] para mensurar o rendimento são uma tendência presente no esporte, algo que transforma as diversas manifestações em fenômenos quantificáveis e tecnificados. Isso ocorre em função de um progresso sem fim e sem limites, no qual a técnica, e por meio dela a dor e o sofrimento, estabelecem os processos de dominação do corpo (o meu e o de outro) para alcançar uma melhor performance ou chegar a um objetivo proposto. Logo, tentaremos compreender a dor como um elemento fisiológico no processo de racionalização do corpo, mas também como resposta sensível, com significados culturais. As ginastas atribuem valores diferentes à dor, conforme sua história e pertencimento social. Refletir sobre ela, a partir de uma dimensão cultural, é pensar o seu significado em um determinado grupo. Não se trata de qualificar a dor, dizer sobre ela algo de positivo ou negativo, mas apontar o sentido dela para as ginastas.

Questões que tratam sobre o ato de comer, a relação instrumental com a alimentação, o hábito alimentar incorporado pelas ginastas, a partir de discussões presentes na “Antropologia da alimentação”, também serão focalizadas no último tópico deste capítulo. A preocupação subjacente é fazer progredir nossa compreensão sobre as representações dos corpos magros, identificando alguns fatores ancorados na cultura gímnica que podem influenciar os usos dos corpos.

Capítulo IV

A técnica é fundamental na realização do esporte, na dominação do corpo (instrumento técnico por excelência), mas também para a performance estética e artística. Busca-se, então, nesta parte do trabalho, atentar para as representações estéticas e artísticas das ginastas e discuti- las a partir de uma reflexão filosófica voltada para a beleza sensível no esporte. A exposição corporal, a articulação entre as partes do corpo em movimento, a coreografia, a música, os aparelhos encapados (decorados), as roupas de treinamento e de competição, as sapatilhas, a maquiagem, o

penteado, o peso corporal, as unhas pintadas, entre outros elementos; todos são revelados pelos ideais de performance de uma ginasta ou de seu grupo. Estes falam sobre o rendimento do gesto esportivo, mostrando o que é considerado belo e eficiente e, por conseguinte, o feio e ineficiente nessa prática esportiva. Esta dimensão estética e artística se apresenta nos processos de criação de movimentos, que se originam em determinados processos iniciais (composição coreográfica), e não nos produtos finais (coreografia), apenas.

É somente a partir do caráter corporal e sensorial da expressão subjetiva e da incorporação de gestos pertencentes a certa tradição que a ginasta pode criar e refletir sobre novas formas de se movimentar. Aqui investigaremos de que forma a técnica e a estética se apresentam empiricamente no cotidiano desse esporte. Talvez a relação entre técnica e mimese possa indicar novas possibilidades na aquisição da performance e de construir novas subjetividades. Essa relação põe em cheque uma performance genérica e homogeneizadora de gestos meramente técnicos.

Capítulo V

As técnicas corporais adquiridas e o habitus incorporado na prática esportiva são elementos importantes para pensarmos a construção das subjetividades e os projetos de vida discutidos nesse último capítulo. A construção do habitus está relacionada ao processo de socialização do sujeito, que consiste na interiorização que cada um faz desde seu nascimento e ao longo de toda a sua vida, algo que está em constante modificação. Assim, socializar é interiorizar no sujeito os modos de ser, pensar e agir dos grupos dos quais faz parte. Ao analisar as disposições incorporadas, transformadas em posturas corporais, podemos compreender de que maneira as ginastas usam seus corpos, realizam suas vontades, seus desejos, dado que, ao pertencer a um coletivo, o social é incorporado e ligado a uma representação legítima do corpo. A noção de habitus orienta, portanto, as práticas corporais que produzem uma maneira de ser e estar no mundo.

Logo, é preciso dizer que o corpo não pode ser pensado apenas dentro de um subcampo, mas também fora dele. A educação e socialização do corpo, em diferentes contextos, implicam uma incorporação de um capital corporal e social que pode deixar marcas e servir como base para o exercício da profissão futura. Nesse contexto, o propósito será compreender como as ginastas lidam com a formação

esportiva, escolar e profissional. Essa formação nos ajudará a pensar sobre os projetos de vida, sobre os conhecimentos incorporados durante a carreira atlética, a possibilidade de reconversão profissional a partir das experiências vividas e a ressignificação do próprio subcampo a partir dos saberes pré-profissionais e profissionais. Desse modo, investigaremos os elementos que compõem a natureza dos saberes das ginastas e sua relação com o curso de graduação em Educação Física. Esses aspectos nos ajudam a compreender a relação entre o habitus e a tradição, bem como os novos saberes corporais que possibilitam distintas formas de pensar os corpos na ginástica rítmica.

Considerações Finais

Por fim, com o intuito de “tocar” os sentidos do leitor a partir de nossa experiência [corporal] de escrita, encerraremos nosso estudo com o objetivo de proporcionar novas reflexões, aberturas, questionamentos sobre a ginástica rítmica, o fenômeno esportivo e, também, a vida em sociedade.

É assim que a organização deste trabalho permite tomá-lo como conjunto coeso: o corpo pensado como um fruto da relação entre natureza e cultura; a técnica como algo a ser apreendido e controlado (ou que nos controla); a estética na sua relação com a arte; a subjetividade como uma experiência incorporada. A compreensão das (im)possibilidades dos corpos de atletas de ginástica rítmica corresponde às características pertencentes a esse subcampo, colocando em discussão conceitos e ideias contemporâneas sobre os corpos. Pensada de forma abrangente, esta tese não define seu público-alvo e não busca cessar a discussão sobre seus temas. Tratada como uma unidade coletiva, deve ser considerada não sob o ponto de vista da aplicabilidade técnica dos seus assuntos, mas da capacidade de ampliar o debate sobre eles.

2. CAPÍTULO I – CORPO E GINÁSTICA RÍTMICA:

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