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N, coordenadora-geral do projeto da J para a formação de professores da educação

4. O CAMINHO DA NOTÍCIA: CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO E O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA IMAGEM NO JORNALISMO

4.3. A estrutura da notícia

Nesta seção, tomaremos como referência o estudo de van Dijk (1996), no qual o autor reflete sobre a estrutura da notícia. Nosso objetivo aqui é mostrar que o texto jornalístico, especialmente na sua expressão de notícia, tem uma estrutura própria que

incide sobre as condições de produção do discurso. Tais observações serão importantes posteriormente no trabalho de análise do discurso jornalístico, já que não podemos fugir ao fato de que o texto é um dos modos de materialização do discurso.

van Dijk, em “La Notícia como discurso – compreensión, estrutura y producción de la información” (1990), observa que as notícias precisam ser estudadas como um discurso público, ou seja, um discurso que se relaciona com as práticas sociais e com as ideologias que organizam a produção de sentidos do jornalismo. Nesse sentido, para o autor, duas ações estão implicadas no estudo das notícias: a sua análise a partir dos processos de cognição social na produção e compreensão das notícias e as análises das especificidades estruturais do discurso jornalístico.

Ainda que pareça distante da proposição discursiva, a perspectiva cognitiva do autor tem pontos de concordância que dialogam com as perspectivas das Formações Imaginárias e Ideológicas de Pêcheux (2010). Como vimos até aqui, as Formações Imaginárias e Ideológicas colaboram para pensarmos que o jornalismo é sempre atravessado por um já dito e que esse jogo de antecipações provoca uma série de esquecimentos ao produtor do discurso, colocando-o, por sua vez, frente à ilusão que fala por si só.

A perspectiva cognitivista de van Dijk (2008) caracteriza-se pela ideia de que os discursos se “proliferam por meio de estratégias baseadas na cognição, ou seja, no modo como as pessoas assimilam as informações” (BATISTA, 2011, p.24) e também como os discursos hegemônicos estão sendo produzidos no interior das instâncias de poder, enfatizando o controle simbólico sobre as pessoas (van DIJK, 2008, p.46). Há, portanto, a nosso ver, pontos de intersecção entre o proposto por van Dijk e o defendido por Pêcheux, os quais passam justamente pela percepção de que o discurso do sujeito é perpassado por instâncias anteriores a eles.

É interessante observar, como aponta Batista (2011), que para van Dijk o sujeito tem relativa autonomia sobre a produção dos discursos, desde que tenha consciência das possíveis coerções que um discurso pode provocar. Assim, o sujeito é ao mesmo tempo construído pelo discurso e construtor do discurso. Nesse sentido, também a posição de Pêcheux tem apontado para uma nova “posição do sujeito”, mencionada por Batista (2011, p. 25), e que também recuperamos em Pêcheux: “Como separar, nisso que

continuamos a chamar “o sujeito da enunciação”, o registro funcional do “ego-eu” estrategista assujeitado e a emergência de uma posição de sujeito?” (PÊCHEUX, 2010, p. 113).

Pêcheux não responde perguntas, apenas lança novas questões que parecem indicar que talvez haja uma possível resposta ao avançarmos sobre o modo de ler os textos e encontrar neles as posições do sujeito. A esse respeito, pensando em nossa própria tarefa de “ler” textos noticiosos, acreditamos que a Análise Crítica do Discurso poderá nos ajudar especialmente pela contribuição que já tem dado ao descrever as especificidades estruturais do discurso jornalístico (van DIJK, 1990; 1996; 2008).

van Dijk (1990) propõe que as notícias sejam analisadas levando em consideração os aspectos estruturais, contudo, segundo ele, em seu “enfoque” cognitivo ou no sociológico, a distinção sistema/uso é menos relevante pois está preocupado em produzir descrições explícitas e sistemáticas de unidades do uso da linguagem. Para ele, tal processo desdobra-se em duas dimensões: a textual e a contextual. A primeira tenta dar conta da estrutura do discurso em diferentes níveis de descrição e a segunda busca relacionar as descrições estruturais com as propriedades do contexto.

No caso do discurso jornalístico, segundo van Dijk (1996), é necessário descrever tanto a estrutura da notícia como os processos de produção e recepção nas diferentes situações de comunicação e os contextos que envolvem tais situações. Para o autor, o que marca o discurso jornalístico e o que o diferencia é que ele é construído por extratos: “es decir, cada tema se presenta en partes, no como un todo, como es el caso de otros tipo del discurso” (van DIJK, 1990, p.71).

Segundo o autor, essa característica é parte integrante de uma estratégia de produção que considera as limitações de “relevância”, as leituras possíveis e as necessidades dos cortes de texto para se adequar à presença da publicidade. Assim, no texto, o leitor tem sempre a informação mais importante – segundo os critérios do próprio editor e do jornal. Apresentaremos, de modo geral, os apontamentos do autor subdivididos pelos parágrafos das notícias:

 O primeiro é o parágrafo mais importante que oferece o que o autor chama de “macroestrutura” completa do tema principal, nesse parágrafo

aparecem, por exemplo, informações sobre “o agente” da informação, o momento, as ligações dos grupos envolvidos, objetivos;

 O segundo parágrafo apresenta as especificações dos conteúdos apresentados;

 Este paragrafo, ao contrário dos precedentes, não apresenta especificações e sim generalizações. Aqui há uma tentativa de relacionar o tema da matéria com temas mais gerais que tenham relação com os fatos;

 O quarto parágrafo é a especificação de uma consequência, também retoma a especificação de um acontecimento anterior, os participantes, as razões e os objetivos; e

 Este parágrafo – que pode se repetir – dá detalhes dos acontecimentos, dos participantes principais, números e uso de fontes é muito comum.

Assim, van Dijk observa que qualquer leitura das notícias requer uma atenção a essas organizações percebendo que a organização temática no jornalismo passa por três perspectivas: 1) tem uma incidência global, ou seja, ainda que se possam encontrar um ou mais temas no interior do texto, sempre haverá um que prevalece e que organiza globalmente os outros temas; 2) A relevância do tema é controlada e esse controle se dá, sobretudo, na escolha de qual parágrafo ele irá aparecer e 3) A apresentação dos temas é cíclica, ou seja, por entregas.

Fizemos um recorte detalhado do trabalho de van Dijk (1990) sobre a organização temática da notícia e como ela se organiza no texto, porque acreditamos que esse modo de pensar a organização da notícia poderá nos ajudar a depreender dos textos as imagens que se formam sobre o professor.

Feito esse percurso de reflexão a respeito da notícia, seu poder de agendamento, seu caráter discursivo e suas particularidades textuais, partimos para o capítulo em que aprofundaremos a análise do corpus.

5. FORMAÇÕES IDEOLÓGICAS, FORMAÇÕES IMAGINÁRIAS E