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5. D EFINIÇÃO DE SOLUÇÕES PADRÃO APLICAVEIS A TRECHOS DE ATRAVESSAMENTO DE LOCALIDADES

5.3. Soluções gerais de aplicação

5.3.3. Estrutura pedonal

As deslocações pedonais, principalmente as de curta distância, constituem uma parte não desprezável do total de viagens em meio urbano e devem ser asseguradas através de uma estrutura pedonal. Há, ainda, que garantir a existência de um espaço vital mínimo que permita a realização de todo um conjunto de actividades sociais e de lazer e que não implicam deslocações (Seco et al, 2006; Baptista e Vasconcelos, 2005; Austroads, 1995).

Ainda que revestida de alguma complexidade, a estrutura pedonal é comummente associada aos passeios e aos atravessamentos pedonais, sugerindo-se a leitura de alguma bibliografia da especialidade (Prevenção Rodoviária Portuguesa, 2005; Baptista e Vasconcelos, 2005; Austroads, 1995). Como princípios gerais, importa que a estrutura pedonal seja contínua, coerente, confortável, segura e passível de transmitir confiança a quem a utiliza (Bastos Silva e Seco, 2008; Seco et al, 2006; Cullen, 1971).

Esta estrutura deve assegurar uma interligação coerente com a hierarquização viária e também com a tipologia das intersecções. Devem ser evitadas soluções que conduzam a percursos pedonais extensos, na medida em que a distância de percurso se torna num factor que condiciona a obtenção de bons níveis de comodidade e de rapidez (Baptista e Vasconcelos, 2005; Prevenção Rodoviária Portuguesa, 2005). Baptista e Vasconcelos (2005) consideram que a concepção da estrutura pedonal obriga ao conhecimento das características físicas, de mobilidade e de comportamento do peão enquanto ser humano. Nas soluções a projectar, deverá ser dada importância às necessidades próprias dos utilizadores, especificamente os idosos, as crianças, à circulação de carrinhos de bebés e também às necessidades de locomoção por parte dos cidadãos de mobilidade condicionada (Seco et al, 2006; Baptista e Vasconcelos, 2005; Tranter, 1994; Stahl, 1992; Applied RTD Consultants, 1990).

Procurando caracterizar a qualidade do serviço oferecido ao peão (independentemente de este se encontrar, ou não, em circulação), torna-se necessário definir uma classificação por níveis de serviço. Os critérios gerais de avaliação aplicáveis, atendendo à movimentação de peões, passam pela liberdade de escolha da velocidade de circulação, pela facilidade de ultrapassar e pelo possível grau de ocorrência de conflitos com outros peões. Em relação aos peões sem movimento, identifica-se um conjunto de níveis de conforto/qualidade de serviço que dependem principalmente do espaço disponível por peão (Baptista e Vasconcelos, 2005; Austroads, 1995). A definição de níveis de serviço será subjectiva particularmente no que diz respeito aos valores dos fluxos que definem as diversas fronteiras. Tais níveis dependem da dimensão transversal básica a adoptar, não só em prol dos seus utilizadores como também pelas dimensões mínimas necessárias para a definição do espaço vital do peão. Essa dimensão torna-se relevante ao nível da colocação de mobiliário urbano e do plantio de elementos arbustivos ou arbóreos (Seco et al, 2006; Baptista e Vasconcelos, 2005; Austroads, 1995).

Nos passeios, bem como noutros espaços pedonais, verifica-se ser de comum aplicação a existência de diversos obstáculos relacionados com a colocação de mobiliário urbano ou de sinalética que impedem a utilização da largura total do trajecto por parte dos peões. De acordo com Baptista e Vasconcelos (2005), os peões tendem a evitar caminhar próximos da berma do passeio ou das paredes de edifícios, particularmente se aí existirem montras que os levem a parar para apreciar o exposto ou a reduzir a sua velocidade de circulação.24 Concretamente sobre os

24 Os peões tendem a evitar caminhar muito próximo da berma do passeio ou das paredes dos edifícios,

perfis a apresentar posteriormente, são sugeridos valores recomendáveis também para as dimensões dos passeios, considerando-se de atender às dimensões do quadro 8.

Quadro 8 – Largura mínima de passeios (Baptista e Vasconcelos, 2005)

Tipo de passeio desejável (m) largura aceitável (m) largura Passeio sem mobiliário urbano,

árvores ou montras 2 1,50

Passeio com fila de árvores ou

montras 3 2,50

Passeio com árvores e montras 4 3,50

Tal como previsto no DL n.º 163/2006, de 8 de Agosto, não é permitida a construção de passeios com larguras inferiores a 1,50 m, podendo justificar-se a utilização de valores inferiores em espaços consolidados (tal como referido no capítulo segundo) quando se pretender defender a segurança do peão em zonas particularmente perigosas ou quando for significativa a competição pelo espaço entre peões e veículos estacionados e a fiscalização não se mostrar eficaz (Baptista e Vasconcelos, 2005). Contudo, considera-se que esses 1,50 m se afiguram insuficientes sempre que o fluxo pedonal seja significativo ou sempre que o mesmo responda a actividades urbanas.

Dado as travessias constituírem pontos de conflito do peão com o veículo, devem ser apresentados pontos de atravessamento limitados, forçando o peão a aí atravessar (National Roads Authority, 2005; Prevenção Rodoviária Portuguesa, 2005; Baptista e Vasconcelos, 2005). Mediante o nível de tráfego de atravessamento, essas travessias devem ser constituídas por passagens de peões formalizadas (semaforizadas ou não, e com ou sem botoneira) (Seco et al, 2006; Baptista e Vasconcelos, 2005). Recomenda-se também que a estrutura pedonal e as travessias pedonais sejam sempre iluminadas durante os períodos nocturnos e/ou sempre que as condições climatéricas o justifiquem (Prevenção Rodoviária Portuguesa, 2005; Baptista e Vasconcelos, 2005; Egebjerg et al, 2002; The Scottish Government, 1997; Cullen, 1971).

A escolha do local para a formalização de travessias de peões não deve resultar de um movimentos de contestação, de interesses pessoais nem do factor memória de uma travessia anterior, pelo contrário, deve ser correctamente ponderada, tendo por base princípios de segurança rodoviária e a sua integração na rede pedonal local (Prevenção Rodoviária Portuguesa, 2005; The Highways Angency, 2004). Essa escolha deve resultar da análise do caminho mais curto e natural sem descurar os aspectos relativos à segurança, devendo recorrer-se, sempre que justificável, a elementos físicos de protecção. Tal decorre do facto de o peão tender a efectuar percursos aleatórios e sem qualquer padrão tipificado, seguindo, quase sempre e sem excepções, o percurso menos extenso (Prevenção Rodoviária Portuguesa, 2005; Baptista e Vasconcelos, 2005). A escolha e execução de uma travessia implicarão um comportamento idêntico ao que o peão adopta numa via com tráfego motorizado, comportamento este progressivamente exposto. De um modo geral, o conceito de largura útil dos passeios, corresponde ao espaço disponível para responder às deslocações e actividades por parte dos peões (Baptista e Vasconcelos, 2005).

condicionado à auto-disciplina e à maior ou menor racionalidade a que o peão a si se incute, independentemente da sua formação cívica.

Procurando o local propício para o efeito, considera-se de atender à velocidade de aproximação dos veículos, à distância de visibilidade25 que o local proporciona ao condutor e à distância de travagem26 conseguida no local em função do estado. Há a considerar também o tipo de pavimento existente, a pendente da via e a distância de visibilidade proporcionadas ao peão (Prevenção Rodoviária Portuguesa, 2005; The Highways Angency, 2004).