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2 CAPÍTULO I PODER SIMBÓLICO, ENCENAÇÃO E O PAPEL DO

2.2 CENÁRIO POLÍTICO E SOCIOECONÔMICO DO PROGRAMA POVO NA

2.2.2 A estrutura do Povo na TV

No início, a equipe não sabia bem do que se tratava, conforme lembra Maria parecida Barbarioli, diretora do programa. Segundo ela, a equipe criou um esqueleto de um programa que deveria ser ao vivo, com uma unidade móvel, que deveria percorrer os bairros. A proposta era de um programa comunitário. A filosofia principal era chegar até a camada “C”, mais carente da população, que não tinha de certa forma essa voz aberta, esse espaço para as reivindicações. Inicialmente, o programa tinha uma hora e meia no ar, depois passou para uma hora. Era ao vivo no estúdio e ao vivo no bairro.

O programa estreou na correria para evitar que a TV Gazeta entrasse primeiro no ar com um programa parecido, como afirma Maria Aparecida. “A Jane Mary (diretora na época) pegou todo mundo de surpresa, foi uma correria danada. A gente colocou a Cristina Abelha (apresentadora) sentada na Praça Oito num banquinho, o vento no cabelo dela...” recordando o improviso inicial. Ela disse que a Cristina Abelha e o Elias Mugrabi foram os dois apresentadores de estúdio do programa.

De acordo com Magda Carvalho, jornalista entrevistadora e âncora do programa, o projeto do Povo na TV não foi exclusivo da TVE Espírito Santo, mas sim um projeto nacional, mas não deu certo na maioria dos Estados. Ela ficou sabendo quando esteve em visita à sede da TVE do Rio de Janeiro. E, recorda: “A idéia é que o programa fosse criado em todas as afiliadas da rede, mas a maioria dos estados não conseguiu mantê-lo, porque é um programa que exige integração, dedicação integral para ficar no ar”.

Os únicos Estados que mantiveram o programa mais tempo foram Minas Gerais e Espírito Santo, pois quando ela esteve no Rio de Janeiro o programa já tinha acabado lá. Aqui no Estado, o programa ficou de 1991 a 1994. A equipe era formada por duas editoras, duas diretoras, dois apresentadores, dois repórteres ao vivo, seis produtores (produtor interno e externo), roteirista, fora o pessoal da área técnica de estúdio e da unidade externa de microonda.

A parte mais interessante e mais trabalhosa era a produção nos bairros. A equipe de produção externa durante dois ou três dias percorria os bairros da Grande vitória fazendo levantamentos, tais como: quantos moradores tinham o bairro, a história, quais os problemas (luz, água, energia, calçamento de rua, atendimento médico, infra-estrutura). Os dados eram colocados no relatório de produção. Confira em anexo.

Para levantamento dos problemas do bairro, a produção contava com o auxílio das associações de moradores. Esses bairros, então, eram agendados para programas ao longo da semana ou do mês. Os dois produtores percorriam os bairros acompanhados da equipe técnica, que checava se havia sinal, que era o primeiro pré-requisito para a realização do programa. A equipe técnica preparava o relatório, como consta em anexo, especificando os bairros testados ou não e aqueles que tinham ou não sinal. Isso era praticamente o que determinava a presença ou não da equipe no bairro.

Os produtores eram, inicialmente, a Celeste Franceschi, que foi substituída pelo Alonso Ronconi e depois pela Márcia Gáudio e Magda Carvalho. “Íamos para os bairros para ver se o sinal pegava. Infelizmente, em alguns bairros a gente não podia fazer nada, no máximo levar o pessoal para ser entrevistado no bairro vizinho e lá falar também dos problemas daquele bairro que não tinha sinal”, recorda Magda.

Depois da confirmação do sinal e da visita da produção ao bairro, era a vez do repórter comparecer ao bairro munido de informações já levantadas pela produção, conferir em loco essas informações e fazer matéria, destacando os principais problemas e mostrando imagens, além de gravar entrevista com moradores falando desses problemas. Essa matéria gravada depois era editada para ser apresentada no dia em que fosse feito programa ao vivo no bairro. Confira um relatório de repórter em anexo.

Inicialmente, havia uma lista de associações de bairros fornecida pelas prefeituras. A produção ligava e marcava com as pessoas. Magda lembra que, às vezes, não dava, que não era possível nenhum contato. Então, a equipe tinha que ir sem

marcar nada e tentava o contato pessoalmente. “Muitos bairros não tinham nem associação ainda. Só tinham algumas pessoas que falavam em nome das outras. Elas tomavam posturas políticas, mas não havia estrutura de associação,” explica.

Aos poucos o programa foi conquistando credibilidade, especialmente junto às associações de moradores. Durante o programa, os apresentadores convidavam: “Se você quer discutir o seu bairro, nos procure, nos escreva ou nos telefone.” Algumas associações procuravam a TVE toda a semana. Confira em anexo a lista de bairros que foram visitados pela equipe por iniciativa da produção ou solicitação da própria comunidade.

“Era mais que agendar, além de conseguir falar, criava um compromisso. A autoridade vai à televisão, fala que vai fazer alguma coisa, e não faz. Na outra semana, você fala: “fulano não fez. Era uma forma de impor um compromisso maior, porque programa ao vivo é realidade ao vivo“, afirma Magda. Em anexo consta lista de comunidades que pediram o retorno da equipe. Ela lembra que quando começou o programa passou por uma série de experiências que foram sendo adaptadas às necessidades da equipe. Aos poucos foi sendo organizado. No início não havia quadros fixos, não havia estrutura definida. As reuniões eram diárias.

O programa tinha três blocos. Começava, normalmente, com uma matéria mais leve. Tinha sempre uma matéria especial de 4 a 6 minutos. Maria Aparecida cita que houve um momento em que o programa ficou tão elaborado, que havia uma matéria especial por semana, às vezes duas. Havia um tema de debate dentro do programa com a unidade ao vivo com o povo, seja na Praça Costa Pereira, ou então em alguma passeata ou manifestação. “A gente abria o espaço, porque a nossa intenção era ser o espaço público, ser um estúdio aberto. Como as pessoas em Vitória não tinham essa visão, a gente tinha que provocar o debate, através dessas matérias,” explica. Acompanhe em anexo como era o espelho do programa.

O assunto da semana na pauta do dia, que era polêmico, na área de saúde ou de política era transformado em tema para debate. As pessoas envolvidas e interessadas no assunto eram convidadas a participar ou no estúdio ou na praça, que era um estúdio aberto, numa determinada área da cidade.

Maria Aparecida recorda que na época a TVE tinha uma boa infra-estrutura, mas não atendia plenamente à demanda do programa. Os representantes e autoridades, que eram convidados para responder à comunidade, ficavam no estúdio. Ao mesmo tempo, o repórter ficava ao vivo do bairro com a comunidade no ar, que fazia suas reivindicações para os convidados no estúdio.

Era feito todo um acompanhamento através de rádio transmissor e ponto para avisar quando era a vez de cada local entrar ao vivo. “Muita gente tinha preconceito do Povo na TV por ele ser muito parecido com rádio, muito mais do que os programas convencionais de televisão, onde era tudo certinho, direitinho...” declara Magda. Quase todos os bairros tinham os mesmos problemas: luz, água, calçamento de rua, condução, serviços públicos, etc. Veja em anexo.

Muitos bairros apresentavam problemas semelhantes, apesar de estarem em municípios diferentes da Grande Vitória. Por esse motivo, os convidados para falarem sobre as possíveis soluções e respostas eram os mesmos. “Tinham alguns convidados que começaram a ter cadeira cativa, pois estavam presentes em quase todos os programas, como os representantes da Cesan e Escelsa e alguns secretários municipais,” destaca Magda.

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