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A constituição de 1988 juntamente com aquilo que não foi revogado na CLT com o advento da nova carta magna estabeleceram a estrutura sindical no Brasil a qual conhecemos hoje. Primeiramente, em relação à criação de um sindicato, já verificamos que o Estado não deve e nem pode interferir no estatuto da sociedade.

Entretanto dois pontos também já abordados merecem atenção especial. Apesar de vedar a interferência do Estado na criação do sindicato, que antes deveria ser feita perante o Ministério do Trabalho, o texto constitucional rege que apenas um sindicato de cada categoria pode existir por base territorial, e que o registro deste deve ser feito pelo órgão competente, entendido este como o cartório de pessoa jurídica como qualquer outra associação. O questionamento é como é feito o controle da unicidade sindical sem a intervenção do Estado, já que, teoricamente, o registro não passa pelo crivo do Ministério do Trabalho.90 Para pacificar o assunto o Supremo Tribunal Federal editou a súmula 677 indicando que após registro, os estatutos sindicais devem ser levados a um órgão correspondente no Ministério do Trabalho, para confirmar o cadastro e exercer de fato o controle da unicidade sindical.

88 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito constitucional do trabalho. Rio de Janeiro: Renovar, 1999

89 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Direito do Trabalho na Constituição de 1998. 2. ed. atual. São Paulo: Saraiva, 1991, p. 47

90 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 17. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: LTr, 2018.

Em relação à natureza jurídica muito ainda se debate sobre uma definição concreta, tendo em vista o modelo sindical brasileiro ter característica de associação, privada e assistencial, como bem define o ilustríssimo Mauricio Godinho Delgado:

O sindicato consiste em associação coletiva, de natureza privada, voltada à defesa e incremento de interesses coletivos profissionais e materiais de trabalhadores, sejam subordinados ou autônomos, e de empregadores. [...]

É associação, sem dúvida, e nesta medida aproxima-se de qualquer outra modalidade de agregação de pessoas. Na linha das associações existentes na sociedade civil (em contraponto ao Estado), é também entidade de natureza privada, não se confundindo com organismos estatais.91

O modelo adotado pelo Estado brasileiro para moldar a estrutura do sindicalismo foi pensado no governo de Getúlio Vargas na década de 30 e regulamentado pela CLT da mesma época, e perdura até hoje, tendo em vista a Constituição de 1988 não ter revogado expressamente ou ter incluído novas regras para a estruturação sindical. O autor Pedro Paulo Teixeira Manus92 define esse modelo como de compartimentado, já que a associação dos trabalhadores basicamente é feita por categoria, devendo haver identidade de profissão ou atividade ou no mínimo similaridade ou conexidade, já os empregados associam-se de acordo com o critério da categoria econômica, definida pela CLT como o “vínculo social básico formado pela solidariedade de interesses econômicos dos que empreendem atividades idênticas, similares ou conexas.”93 Resumindo, Mauricio Godinho Delgado traz a seguinte definição:

[...] o ponto de agregação na categoria profissional é a similitude laborativa, em função da vinculação a empregadores que tenham atividades econômicas idênticas, similares ou conexas. A categoria profissional, regra geral, identifica-se, pois, não pelo preciso tipo de labor ou atividade que exerce o obreiro (e nem por sua exata profissão) mas pela vinculação a certo tipo de empregador.94

Em relação às receitas sindicais, com a vedação de interferência do Estado na organização sindical, esta passou a ser livre para controlar suas finanças e seus recebimentos, exceto em relação à contribuição sindical compulsória, cobrada de todos trabalhadores, até mesmo dos não associados, prevista na CF/88 e, conforme

91 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 17. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: LTr, 2018, p. 1606

92 MANUS, Pedro Paulo Teixeira. Direito do Trabalho. 8. ed. São Paulo: Atas, 2003.

93 Consolidação das Leis Trabalhistas, artigo 578, §2º

94 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito Coletivo do Trabalho. 5. ed. São Paulo: LTr, 2014, p. 92

entendimento do Supremo Tribunal Federal, possuía caráter tributário, dando certa possibilidade para que entes governamentais exercessem fiscalização e um certo controle sobre suas receitas.95 Tal tema sempre foi controverso na doutrina trabalhista, mas em 2017 com o advento da Lei nº 13.467/2017, conhecida popularmente como Reforma Trabalhista, o assunto basicamente foi resolvido de maneira definitiva, transformando a obrigatoriedade da contribuição em voluntariedade, devendo o associado expressamente autorizar o desconto em folha salarial.96 A controvérsia na doutrina consistia no fato de a contribuição obrigatória ser expressamente prevista na CLT, a partir do art. 578, mas ser considerada por alguns juristas e doutrinadores como contrária ao princípio da liberdade sindical, já que mesmo aqueles que não eram devidamente associados tinham que realizar a contribuição anualmente, mesmo esse sendo expressamente contrário e não desejar ter nenhum vínculo sindical, ofendendo o princípio acima referido já que a própria constituição define que ninguém será obrigado a filiar-se ou manter-se filiado a sindicato.97 Para Orlando Gomes e Elson Gottschalk, a contribuição compulsória se caracterizava num modelo ainda corporativista, influenciando para o Estado manter certa influência no funcionamento sindical, afetando diretamente a previsão constitucional de não interveniência do Estado em entes sindicais:

A contribuição sindical representa, no fundo, uma deformação legal do poder representativo do sindicato. Baseado numa fictícia representação legal dos interesses gerais da categoria profissional atribuiu-se, por lei, ao sindicato, os recursos tributários impostos pelo próprio Estado, à guisa de estar legislando em nome do sindicato.[...] O sindicato, alimentado por um tributo público, vivendo às expensas do Estado, controlado por este, perdeu a sua independência, alienou toda a sua liberdade. [...] Em nenhum país democrático, que preza a liberdade sindical, jamais se instituiu semelhante tributação. [...] Tributos dessa ordem são próprios ao sistema corporativo tipo italiano da era mussoliniana, que sobrevivem, por acaso, em pouquíssimos países.98

Alfredo J. Ruprecht considera a cobrança uma violação dos direitos sindicais e afirma que a responsabilidade de uma boa arrecadação para manter as funções é do próprio sindicato, que deve agir ativamente para atrair mais associados:

95 BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro de. Direito Sindical. 5. ed. São Paulo: LTr, 2015.

96 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 17. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: LTr, 2018.

97 MORAES FILHO, Evaristo de. apud NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Direito Sindical. 2. ed. São Paulo: LTr, 1984

98 GOMES, Orlando e ELSON, Gottschalk. Curso de Direito do Trabalho. Rio de Janeiro: Forense, 2001, p. 569

Em suma, o que se conhece por imposto sindical é uma violação dos direitos sindicais e que só pode ser imposto quando estabelecido por lei, embora o ideal é que seja radicalmente abolido. O sindicato que precisa de rendas provenientes das cotizações de seus membros deve tratar de engrossar suas fileiras com uma adequada política social e não se utilizar de medidas coercitivas.99

Do outro lado há o entendimento de que a prevista contribuição é essencial ao funcionamento do sindicato e que, mesmo aqueles que não são formalmente associados a um ente sindical, mas que fazem parte de uma categoria profissional, são diretamente beneficiados com os frutos da luta sindical que não seria possível sem a contribuição. Além disso temos a contradição entre duas características inerentes ao sindicalismo: a liberdade sindical e a unicidade sindical. Tal contradição acaba gerando certo comodismo ao trabalhador já que, ao menos no âmbito municipal, ele somente terá uma opção de filiar-se a um único sindicato de sua categoria. Com a unicidade sindical aquele ente representa toda a categoria de trabalhadores da região, não havendo “concorrência” entre sindicatos, causando desinteresse nos trabalhadores já que, se afiliando ou não ao sindicato, ele será beneficiado (ou até mesmo prejudicado) com as decisões tomadas, não sendo necessário pagar um valor de mensalidade por isso, reduzindo consideravelmente a arrecadação do sindicato. Portanto a contribuição sindical imposta pelo Estado sanaria essa redução na arrecadação, já que o próprio Estado causou de certa forma ao insistir no modelo de sindicato único no Brasil. José Cláudio Monteiro de Brito Filho aborda de outra perspectiva o prejuízo trazido pela unicidade sindical:

Nosso modelo sindical faz com que os dirigentes das entidades sindicais rejeitem quantidade muito grande de sócios. É que, na unicidade sindical, a única resistência que pode ser oferecida é a interna, e quanto mais sócios tiver o sindicato, maior a possibilidade de que essa resistência apareça. Por outro lado, como em nosso modelo, no setor privado, existe a contribuição sindical, além de os sindicatos cobrarem – irregularmente – outras contribuições dos não associados, é possível auferir receita sem que se precise de sócios em grande número.100

Entretanto, mesmo com os problemas de arrecadação própria de integrantes formais dos sindicatos, muitos doutrinadores continuam defendendo a importância da contribuição sindical, como por exemplo Amauri Mascaro Nascimento afirma que:

99 RUPRECHT, Alfredo J. Relações Coletivas do Trabalho. Tradução Edilson Alkmin Cunha. São Paulo: LTr, 1995, p. 182.

100 BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro de. Direito Sindical. 5. ed. São Paulo: LTr, 2015, p. 135.

“Não há dúvida que os sindicatos precisam da contribuição sindical, que é a sua principal fonte de recursos em nosso país; seria mesmo difícil, para a maioria dos sindicatos, manter seus serviços assistenciais sem esse recurso.”101 Sobre a questão de ofender a liberdade sindical ao impor o pagamento ao não afiliado, Segadas Vianna atribui a contribuição sindical como uma contrapartida aos benefícios obtidos pela atividade sindical, afirmando que:

[...] não há dúvida que se justifica a sua existência. Corresponde ela à contrapartida dos benefícios variados que as entidades sindicais prestam não apenas aos que gozam diretamente das vantagens da sindicalização, mas a todos os representantes de uma categoria econômica ou profissional, seja na obtenção de vantagens quando da verificação de um dissídio coletivo, seja na assistência ao Poder Público, na elaboração de normas coletivo, seja, ainda, com sua participação na imensa gama de órgãos colegiados existentes na administração do País e dos Estados.102

Percebem-se bons argumentos de ambos lados defendidos por grandes doutrinadores. Entretanto está consolidada a extinção da contribuição compulsória no Brasil pela reforma trabalhista em 2017 e, sendo ainda recente e com o ainda instável cenário econômico, político e de trabalho no país, ainda é cedo para se verificar com certeza os efeitos dessa extinção, que podem ser tanto positivos, com a melhora dos serviços prestados pelos sindicatos que, a partir de então, terá que lutar e incentivar por novas afiliações (o que se parece difícil de alcançar por conta da unicidade sindical já explorada acima) para aumentar sua arrecadação, como podem ser negativos, com o enfraquecimento do movimento sindical por dificuldades financeiras.

No tocante às funções do sindicato permanecem as principais desde a idealização do sindicalismo, que surgiu no intuito de representar um grupo de trabalhadores perante o seu empregador para tentar equilibrar as relações trabalhistas e auxiliar nos conflitos tanto coletivos quanto individuais. Portanto atualmente as funções de representar, prestar assistência e negociar são o centro e o foco do sindicato, podendo até mesmo afirmar que não há sentido em constituir um sindicato que não tenha liberdade para exercer os atos necessários para efetivar tais atividades. A função negocial é definida por Amauri Mascaro nascimento como

[...] poder conferido aos sindicatos para ajustar convenções coletivas de trabalho, nas quais serão fixadas regras a serem aplicáveis nos contratos

101 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Direito Sindical 2. ed. São Paulo: LTr, 1984, p. 213

102 VIANNA, Segadas, SÜSSEKIND, Arnaldo e MARANHÃO, Délio. Instituições de Direito do Trabalho. 8. ed., ampl. e atual. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1981, 2 v., p. 1033

individuais de trabalho dos empregados pertencentes à esfera de representação do sindicato pactuante. Forma-se, assim, um direito do trabalho paralegal para complementar as normas fundamentais fixadas pelo Estado pelas leis e para cobrir as lacunas ou dispor de forma favorável ao trabalhador, acima das vantagens que o Estado fixa como mínimas.103

Referente à ótima definição apresentada pelo autor, cabe realizar uma ressalva no último ponto: a formação do direito para legal para complementar as normas fundamentais. O assunto já foi debatido no presente trabalho, indagando a contribuição do sindicalismo para a formação jurídica e normativa do direito do trabalho. A ressalva é referente ao termo “complementar” trazido pelo autor, cuja obra é do ano de 2010. Ocorre que em 2017 com a reforma trabalhista, a importância dos acordos e das convenções coletivas teve uma alteração substancial. A tal reforma acrescentou na Consolidação das Leis do Trabalho o art. 611-A, que traz em seu caput que: “A convenção coletiva e o acordo coletivo de trabalho têm prevalência sobre a lei quando, entre outros, dispuserem sobre:” e logo após as possibilidades em seus incisos. A reforma confirmou então a força normativa das convenções coletivas, que já era percebida e adotada por grande parte da doutrina. Entretanto trouxe como inovação a possibilidade do que está disposto nas convenções prevalecer sobre a lei, o que merece uma análise mais detalhada e associada com outros fatores, não devendo ser verificado o texto puramente do artigo. Isto porque deve-se levar em conta a aplicação de vários princípios trabalhistas para aplicação de uma norma, desde princípios mais genéricos como da proteção ao trabalhador, como mais específicos definidos por Mauricio Godinho Delgado como “princípios constitucionais jusindividuais”:

São três os princípios constitucionais jusindividuais: o da norma mais favorável, o da continuidade da relação de emprego e o da irredutibilidade salarial. Embora sejam diretrizes tradicionais no Direito do Trabalho, despontaram, com destaque, inseridos no corpo normativo e principiológico do Texto Magno de 1988.104

Arnaldo Süssekind acrescenta ainda o princípio da norma mais favorável, “em virtude do qual, independentemente da sua colocação na escala hierárquica das

103 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do trabalho: história e teoria Geraldo direito do trabalho: relações individuais e coletivas do trabalho. São Paulo: Saraiva, 2010, p.

1296,

104 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do trabalho: história e teoria Geraldo direito do trabalho: relações individuais e coletivas do trabalho. São Paulo: Saraiva, 2010, p.

1296,

normas jurídicas, aplica-se, em cada caso, a que for mais favorável ao trabalhador”105. Portanto, o que podemos concluir é que tais princípios, por serem constitucionais e inerentes ao Direito do Trabalho, permanecerem intactos e devem ainda ser observados, permitindo a flexibilização e a instauração de condições “prejudiciais” aos trabalhadores somente nas condições expressamente definidas na Constituição Federal de 1988, que tratam sobre irredutibilidade salarial e jornada de trabalho, mas nesses casos é obrigatória sempre a participação do ente sindical.106 Além da análise dos princípios, a própria reforma trabalhista trouxe no art 611-B os direitos absolutamente proibidos de serem suprimidos ou reduzidos através de negociação coletiva, além do §3º do art. 611-A que, em caso de redução de salário ou jornada prevê que a convenção deve buscar meios para evitar a dispensa sem justa causa no período em que vigorar o acordo ou convenção coletiva, evitando assim além da redução drástica de direitos básicos, a realização de dispensas em coletiva, tendo em vista essas supressões ocorrerem geralmente quando a empresa está passando por dificuldades econômicas, estruturais ou tecnológicas.

105 SÜSSEKIND, Arnaldo ... [et al.]. Instituições do direito do trabalho, volume I. 22. ed. atual. por Arnaldo Süssekind e João de Lima Teixeira Filho. São Paulo: LTr, 2005.

106 GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Reforma Trabalhista. Salvador: JusPodivm, 2017.

3. O SINDICATO E AS DEMISSÕES COLETIVAS

3.1 O processo de demissão coletiva e seus riscos

Diante da crescente e constante evolução da tecnologia, as relações sociais trabalhistas vêm sendo diretamente afetadas também, desde o princípio com o advento da máquina a vapor até o atual momento com inovações tecnológicas, globalização e crescimento desenfreado da internet. Mesmo até que não haja alteração direta nos meios de produção afetando o modo de exercer a atividade, outros pontos como a economia, o consumo, a obsolescência de produtos e até mesmo a política causam um efeito dominó em todo tipo relação: desde a empresa com o consumidor, a empresa com o fornecedor, a empresa com o Estado e a empresa com o seu trabalhador. Portanto, na maioria das vezes o que se percebe nessas situações é que os sujeitos mais afetados são o empresário e o empregado, entretanto, é justo e consciente concluir que na maioria dos casos o empregado tem maior possibilidade de sair prejudicado desta relação.

Em tempos de crise econômica ou alteração nas relações comerciais, uma das saídas do empresário para regular suas despesas e se adaptar a novos mercados é a redução do quadro de funcionários, seja por vontade do empresário para tentar aumentar seus lucros, seja por necessidade de reduzir despesas para continuar operando, conforme indagação de Nelson Mannrich: “

Organizar o mercado de trabalho não é tarefa das mais fáceis, ante o manifesto antagonismo entre o interesse do trabalhador que é o de conservar o emprego, e o do empresário, que pretende ajustar o efetivo do pessoal a seu serviço às exigências da conjuntura econômica.107

Talvez o nome dado pelo autor supracitado: “Dispensa Coletiva: da liberdade contratual à responsabilidade social” seja um dos problemas sociais mais complexos de se discutir e resolver. De um lado temos o livre exercício da liberdade econômica, que inclui em seu rol a liberdade de contratar trabalhadores assim como de encerrar esses contratos, da forma definida previamente em lei. E de outro temos a responsabilidade social da empresa, que mesmo podendo livremente contratar e rescindir contratos com trabalhadores, deve atuar de forma sustentável nas relações

107 MANNRICH, Nelson. Dispensa Coletiva: da liberdade contratual à responsabilidade social.

São Paulo: LTr, 2000, p. 11.

econômicas, ambientais, sociais e trabalhistas. Vólia Bomfim Cassar assim define o instituto da dispensa coletiva:

Dispensa coletiva, em massa ou lay-off é a praticada pelo patrão, mesmo que em momentos distintos, para afastamento de uma gama de empregados pelo mesmo motivo: redução do quadro de empregados. Normalmente é praticada por dificuldades financeiras ou econômicas pelas quais atravessa a empresa ou para seu enxugamento (reestruturação). Visa a manutenção da saúde econômica da empresa, sua sobrevivência e, por isso, seu quadro funcional será definitivamente ou provisoriamente reduzido, podendo (ou não) ser restabelecido aos poucos à medida em que a empresa se recupere.108

Ainda assim, é de extrema importância sempre lembrar que dentro da relação de emprego devem ser observados vários princípios e requisitos, para inclusive considerar a relação contratual. Temos como exemplo de princípios o da proteção ao trabalhador, da irrenunciabilidade de direitos, primazia da realidade e o princípio da continuidade do trabalho, que preza pela indeterminação de um termo para o contrato de trabalho, buscando a estabilidade financeira e social do empregado do plano individual e no plano social e econômico manter o pleno emprego e efetivar o valor social do trabalho.109 Sérgio Pinto Martins define de forma objetiva esse princípio como:

O empregado deseja a continuidade indefinida da relação de emprego, como meio de sobrevivência e subsistência de sua família. É uma forma de segurança jurídica, pois é melhor o empregado ganhar pouco e ter emprego a não tê-lo e também não ter salário para poder subsistir. O emprego também proporciona ao empregado ser filiado da Previdência Social e gozar de seus benefícios, principalmente se ficar doente ou sofrer acidente do trabalho, bem como para efeito de aposentadoria.110

Já Eneida Melo Correia de Araújo traz outra definição abordando também benefícios da continuidade da relação empregatícia para o empregador:

Essa vinculação continuada atende a aspectos que não são de ordem jurídica, ainda que o direito não os possa considerar. É que o empregado, na generalidade dos casos, tem no emprego a sua única fonte de subsistência e o empregador pode obter melhores resultados econômicos, financeiros e

108 CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do trabalho: de acordo com a reforma trabalhista. 16. ed. rev.

e atual. Rio de Janeiro: Forense, São Paulo: Método, 2019, p. 1025.

109 COLUSSI, Luiz Antônio. Direito, estado, e regulação social: o papel do contrato de trabalho numa sociedade em transformação. São Paulo: LTr, 2009.

110 MARTINS, Sérgio Pinto. A continuidade do contrato de trabalho. 2. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019. p. 45

pessoais de um trabalhador mais antigo, experiente que, ao longo do tempo, adquiriu maior capacidade e integrou-se aos fins empresariais.111

Portanto, a partir desse princípio destaca-se outra característica nas relações trabalhistas no Direito Brasileiro: o prazo indeterminado do contrato de trabalho como regra. Podemos concluir então que, em condições normais de economia e funcionamento das relações sociais, a continuidade do trabalho é mais benéfica a todos. A importância dessa continuidade encontra-se na nossa atual Constituição Federal, que determina como um dos principais direitos do trabalhador a relação de emprego protegida contra a despedida arbitrária ou sem justa causa, prevendo um certo tipo de multa ao empregador que assim agir.112 A dispensa arbitrária surpreende

Portanto, a partir desse princípio destaca-se outra característica nas relações trabalhistas no Direito Brasileiro: o prazo indeterminado do contrato de trabalho como regra. Podemos concluir então que, em condições normais de economia e funcionamento das relações sociais, a continuidade do trabalho é mais benéfica a todos. A importância dessa continuidade encontra-se na nossa atual Constituição Federal, que determina como um dos principais direitos do trabalhador a relação de emprego protegida contra a despedida arbitrária ou sem justa causa, prevendo um certo tipo de multa ao empregador que assim agir.112 A dispensa arbitrária surpreende

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