• Nenhum resultado encontrado

Centro Universitário do Distrito Federal UDF Coordenação do Curso de Direito MATHEUS DE JESUS ANDRADE RODRIGUES

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2022

Share "Centro Universitário do Distrito Federal UDF Coordenação do Curso de Direito MATHEUS DE JESUS ANDRADE RODRIGUES"

Copied!
67
0
0

Texto

(1)

MATHEUS DE JESUS ANDRADE RODRIGUES

A NECESSIDADE DA NEGOCIAÇÃO COLETIVA NOS PROCESSOS DE DEMISSÃO EM MASSA

Brasília

2019

(2)

A NECESSIDADE DA NEGOCIAÇÃO COLETIVA NOS PROCESSOS DE DEMISSÃO EM MASSA

Trabalho de conclusão de curso apresentado à Coordenação de Direito do Centro Universitário do Distrito Federal - UDF, como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em Direito.

Orientador: Regiane Sousa de Carvalho Presot

Brasília

2019

(3)

Rodrigues, Matheus.

A necessidade da negociação coletiva nos processos de demissão em massa / Matheus Rodrigues. – Brasília, 2019.

66 f.

Trabalho de conclusão de curso apresentado à Coordenação de Direito do Centro Universitário do Distrito Federal - UDF, como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em Direito. Orientador: Regiane Sousa de Carvalho Presot

1. Direto Coletivo do Trabalho. I. A necessidade da negociação coletiva nos processos de demissão em massa.

CDU

(4)

A NECESSIDADE DA NEGOCIAÇÃO COLETIVA NOS PROCESSOS DE DEMISSÃO EM MASSA

Trabalho de conclusão de curso apresentado à Coordenação de Direito do Centro Universitário do Distrito Federal - UDF, como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em Direito.

Orientador: Regiane Sousa de Carvalho Presot

Brasília, 22 de Novembro de 2019 Banca Examinadora

_________________________________________

NOME DO EXAMINADOR Titulação

Instituição a qual é filiado

__________________________________________

NOME DO EXAMINADOR Titulação

Instituição a qual é filiado

___________________________________________

NOME DO EXAMINADOR Titulação

Instituição a qual é filiado

NOTA: ______

(5)

Dedico à minha família e minha

companheira pelo apoio na realização

deste trabalho.

(6)

pela dedicação e correções, nunca me deixando desistir e incentivando para continuar

mesmo diante das dificuldades. À minha família que sempre foi meu apoio e minha

fonte de inspiração.

(7)

“O trabalho não pode ser uma lei sem que seja um direito.”

V. Hugo

(8)

trabalhistas verificou-se que o trabalhador por ser parte mais frágil dessa relação necessita de uma atenção especial e que, quando age em conjunto consegue maior efetividade na resolução de conflitos e na busca por melhores condições de trabalho.

Foi analisada também a relação entre a legislação e o sindicalismo, percebendo-se os benefícios e também prejuízos que normas pró ou antissindicais trazem, sob um enfoque mais aprofundado nas Constituições Brasileiras passadas e na vigente atualmente. Com este trabalho espera-se que seja verificada a importância do tema e que esteja demonstrado que este não está resolvido com as recentes alterações na norma, sendo de suma importância para o ordenamento jurídico como um todo, e necessária a atuação do Estado para a correta e efetiva normatização, analisando sempre os princípios constitucionais que são basilares da República Brasileira.

Palavras-chave: Proteção; Sindicato; Dispensa.

(9)

layoff is required or not necessary. From the historical review of the labor relations, was verified that the worker, for being the most fragile part of this relation need a special attention and when he acts in group can get more effectiveness on the seek of better conditions of work. Was analysed either a relation between the legislation and the syndicalism, noticing the benefits as also the prejudices brought by rules pro or anti-union, under a focus more deepened on the past brazilian’s constitution’s and on the current. With this academic work is expected that be verifyed the importance of the theme and be demonstrated that he’s not resolved by the recente rules alterations, being very important for the legal system as a joint, and necessary the performance of the State to the correct and effective standardization, always analysing the constitutional principles, basic of brazilian republic.

Key Words: Proteçtion; Syndicate; Layoff.

(10)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 11

1 HISTÓRIA DO DIREITO COLETIVO DO TRABALHO ... 13

1.1 Evolução do direito do trabalho no tempo ... 13

1.2 Criação e importância das entidades sindicais ... 19

1.3 O sindicalismo no âmbito jurídico ... 23

2 O DIREITO COLETIVO DO TRABALHO NO BRASIL ... 29

2.1 História do direito coletivo do trabalho brasileiro ... 29

2.2 O direito coletivo nas Constituições brasileiras ... 33

2.3 Estrutura sindical e atuação na atualidade ... 40

3 O SINDICATO E AS DEMISSÕES COLETIVAS ... 47

3.1 O processo de demissão coletiva e riscos ... 47

3.2 Legislação e jurisprudência a respeito da dispensa coletiva ... 51

CONCLUSÃO ... 61

REFERÊNCIAS ...

(11)

1. INTRODUÇÃO

O trabalho é uma das atividades mais antigas exercida pelo ser humano, nos acompanhando desde o tempo das cavernas, quando era utilizada a força para sobrevivência podendo ser considerada uma das primeiras formas de trabalho. Junto com a evolução da humanidade o trabalho em si também foi sendo alterado, percebendo uma drástica mudança quando o trabalho passou a ser fruto de uma relação, havendo a exploração de um ser humano pelo trabalho de outro. Percebeu- se a possiblidade de obter vantagem econômica através do trabalho, transformando também todo o modelo de sociedade antes conhecido.

Entretanto essa relação não permaneceu saudável, já que uma das partes não percebia nenhuma vantagem, muito pelo contrário. Iniciou-se então o pagamento, a contrapartida pelo trabalho exercido, possibilitando ao trabalhador ter o mínimo para poder sobreviver. Ainda assim não era suficiente, sendo que somente sobreviver e trabalhar para morrer enquanto outro tinha condições de vida extremamente melhores. A partir desse pensamento pode-se dizer que iniciou o surgimento do direito coletivo, já que o trabalhador sozinho não dispunha de força suficiente para enfrentar o seu empregador. Desde então o sindicalismo se instaurou e entrelaçou sua evolução junto com a evolução do próprio direito do trabalho.

Diante das evoluções tecnológicas as relações de trabalho permaneceram evoluindo cada vez de maneira mais ágil e abrupta, sendo necessária especial atenção para que estas evoluções não ocorram em detrimento dos direitos dos trabalhadores, mas que isso também não impeça o avanço da sociedade como um todo. Por isso a figura do sindicato se mostra importante, pois busca o equilíbrio na relação trabalhista e pode representar tanto a classe de trabalhadores como os próprios empregadores, tornando ainda mais igualitário os debates.

Um instituto que decorre destas transformações é o da dispensa, seja por

necessidade, por dependência econômica ou até mesmo pela vontade do

empregador. Analisando desde o ambiente de trabalho até o socioeconômico local e

regional, tal instituto geralmente não traz benefícios a nenhuma das partes, devendo

ser evitado e utilizado somente em casos extremos. E como casos extremos trazem

consequências em maior escala, não devemos tratá-los como outros casos, sendo

assim necessária uma diferenciação entre a dispensa individual com a coletiva. Uma

das formas de exercitar a diferenciação é a participação do ente sindical no

(12)

decorrer do processo, buscando formas de evitar situações danosas para os trabalhadores e negociando direitos, prazos, formas de pagamento e outros itens que irão estruturar as rescisões contratuais.

Para tanto, o presente estudo buscou realizar pesquisas bibliográficas, desde

o surgimento do sindicalismo e sua importância no decorrer da história mundial, tema

objeto do primeiro capítulo, passando pela história focando no Brasil, analisando de

forma pontual as Constituições e suas mudanças na sociedade, foco abordado no

segundo capitulo e finalizando na atualidade, trazendo especificamente o tema da

dispensa coletiva e da necessidade da negociação coletiva, a atual legislação

recentemente alterada pela reforma trabalhista e a jurisprudência que vem sendo

recém formada.

(13)

1. HISTÓRIA DO DIREITO COLETIVO DO TRABALHO

1.1 Evolução do direito do trabalho no tempo

O trabalho é uma relação humana social presente há tempos, sendo uma das principais interações humanas. No princípio surgiu como forma de punição e castigo, como o próprio significado da palavra trabalho sugere, que vem do latim tripalium, que era um instrumento de tortura. Depois surgiu a escravidão como forma de trabalho, porém de forma forçada e obviamente sem nenhum direito sequer fundamental, ofendendo de forma direta a dignidade do homem escravo, que era visto não como um sujeito que era parte da relação do trabalho, mas sim uma coisa, uma propriedade de alguém que o obrigava a exercer funções que outros cidadãos livres não exerciam.

1

Nesse tempo ainda não tinha nem o que se dizer em direito do trabalho, pois a relação era precária e nenhum direito era resguardado. Tal condição se manteve ainda durante muito tempo, mesmo após a abolição da escravatura.

O Direito do Trabalho é de formação legislativa e científica recente. O trabalho, porém, é tão antigo quanto o homem. Em todo o período remoto da pré-história, o homem é conduzido, direta e amargamente, pela necessidade de satisfazer a fome e assegurar sua defesa pessoal. Ele caça, pesca e luta contra o meio físico, contra os animais e contra os seus semelhantes. A mão é o instrumento do seu trabalho.2

Outra forma de trabalho bastante simbólica no tempo foi a servidão, que evolui um pouco em relação à escravidão mas ainda assim era uma relação bastante desequilibrada e com direitos ainda muito restritos aos servos, que recebiam proteção dos senhores feudais mas não eram livres, e o produto do trabalho deles era destinado integralmente aos senhores feudais que lhes davam proteção. Entretanto o trabalho feudal era substancialmente rural e, em meados do século XI este modelo é altamente enfraquecido diante do crescimento constante da sociedade urbana que estava se formando com os comércios e escambos, além também das grandes cruzadas e pestes que assolaram o campo, fazendo com que os colonos fugissem dos feudos e procurassem as cidades para trabalhar, associando-se lá a artesãos e operários.

3

Essas associações foram denominadas como corporações de ofício, que foram depois regulamentadas e constituíam no monopólio de alguma atividade ou produção e eram

1 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 35. ed., São Paulo: Saraiva Educação, 2019.

2 RUSSOMANO, Mozart Victor. Curso de Direito do Trabalho. 6. ed. Curitiba: 1997, p. 9

3 BOMFIM, Vólia. Direito do Trabalho. 12. ed. rev., atual. ampl., Rio de Janeiro: Forense; São Paulo:

Método, 2016.

(14)

compostas por um mestre, companheiro e aprendiz, conforme definição de Arnaldo Süssekind:

Mas o domínio e a organização do trabalho já estavam nas mãos da corporação, que constituía uma organização com o privilégio de determinada atividade ou produção, e se apoiava em uma “carta-privilégio” dada pelo imperador, pelo senhor feudal ou pela cidade. Apoiadas pela Igreja, pois tinham finalidades também religiosas, as corporações faziam do seu monopólio um meio de exploração dos trabalhadores, e, para isso, os mestres obtinham o apoio das autoridades porque se encarregavam de arrecadar os impostos e pagavam grandes quantias pela obtenção do privilégio.4

Os aprendizes firmavam contrato com os mestres de até 12 anos para aprender o ofício, sendo o mestre responsável pela guarda do aprendiz e até por alimentá-lo. Vemos que aqui ainda não existia contrapartida pelo trabalho, sendo o aprendizado o principal “ganho” do aprendiz que após o aprendizado se tornava companheiro, exercendo o ofício aprendido em locais públicos, mas para se tornar um mestre somente comprando uma carta de maestria ou casando-se com a filha do mestre ou sua viúva. Apesar do mestre dar alojamento e alimentação aos aprendizes, o trabalho ainda era insalubre e as jornadas chegavam até a 14 horas diárias.

5

Entretanto o modelo de corporação não prosperou, devido aos abusos praticados pelos mestres e pelo monopólio do exercício da atividade impedindo que os companheiros praticassem ou aprendessem outro tipo de atividade, sendo que o próprio monopólio impedia o desenvolvimento da sociedade, que com o tempo foi demandado melhores e mais ágeis meios de produção. Com o princípio da Revolução Francesa em 1791, as corporações começaram a perder força, e instituição do Decreto D’Allarde considerou livre todo cidadão para o exercício de qualquer ofício, desde que recolhesse impostos e obtivesse licença. Nesse mesmo ano mais tarde as corporações foram de fato extintas através da Lei de Chapellier, que efetivou a liberdade ao exercício de qualquer trabalho, mas ao mesmo tempo impediu que fossem formadas associações, proibindo consequentemente greves e manifestações.

Desta forma tivemos um avanço e um retrocesso no mesmo período, já que não existia mais o monopólio do ofício, efetivando o direito ao trabalho, mas também estavam proibidas pelo Estado quaisquer tipos de associações, sejam corporações ou aquelas

4 SÜSSEKIND, Arnaldo ... [et al.]. Instituições do direito do trabalho, volume I. 22. ed. atual. por Arnaldo Süssekind e João de Lima Teixeira Filho. São Paulo: LTr, 2005, p. 100

5 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 9 ed., São Paulo: LTr, 2013.

(15)

que teriam intuito de lutar por melhores condições, enfraquecendo o trabalhador neste ponto. Para Amauri Mascaro Nascimento:

Criou-se uma lacuna na ordem jurídica uma vez que as pessoas que até então podiam pertencer a uma união não puderam fazê-lo, com o que se dispersaram, exatamente como pretendia a ideia liberal. O direito individualista da Revolução Francesa se opõe à coalizão trabalhista e, nesse ponto, deixou um vazio nas organizações sociais e em sua ação coletiva.6

Ainda no século XVIII o surgimento da máquina a vapor provocou a revolução industrial, afetando diretamente no modelo de comércio e produção e causando inicialmente uma grande onda de desemprego já que o trabalho braçal estava sendo substituído pelas máquinas. Entretanto o trabalho humano ainda não era totalmente dispensável, longe disso, era necessário para operar o maquinário na linha de produção. Já não havia mais a necessidade de o dono da fábrica fornecer moradia, alimento ou ensinar um ofício ao empregado, estabelecendo de forma mais estruturada e direta o trabalho assalariado.

Ao emprego dos maquinismos se atribui o aparecimento da desocupação e o rebaixamento do nível intelectual do operário, em virtude de a divisão do trabalho sujeitá-lo a fazer eternamente o mesmo serviço. Houve, a princípio, até a destruição das máquinas e das fábricas pelos operários, petições no sentido de interdizer por lei as máquinas e as fábricas, donde a necessidade de leis para proteção das máquinas. Nenhuma dessas objeções contra a máquina foi procedente. Alegou-se que ela criava o desemprego, porque substituía os operários. À primeira vista, isso pareceu verdade e causou mesmo, como dissemos acima, a destruição de maquinismos na Inglaterra, quando se deram as primeiras despedias em virtude da maior eficiência das máquinas em relação ao trabalho manual. Mas, posteriormente, pôde-se verificar que, se em algumas fábricas de fato os maquinismos produziam a dispensa dos operários, por outro lado, para a sua própria fabricação, eram necessários inúmeros operários.7

Entretanto as condições de trabalho eram extremamente precárias e diante da diminuição do esforço físico trazido pelas máquinas os homens começaram a ser substituídos por mulheres e crianças, que por fim tinham que aceitar condições ainda piores, chegando a trabalhar até 16 horas por dia initerruptamente.

8

A técnica tornou-se mais poderosa e ao mesmo tempo mais exigente.

Começavam a agrupar os homens em massa compacta em torno das máquinas. E essas massas, sem as quais o progresso não era possível,

6 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Direito Sindical. 2. ed. São Paulo: LTr, 1984, p. 19

7 CESARINO JÚNIOR, Antônio Ferreira. Direito Social. São Paulo: LTr: Ed. da Universidade de São Paulo, 1980

8 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 9 ed., São Paulo: LTr, 2013

(16)

começaram a perceber ao longo do tempo, que não lhes fora reservado um lugar humano na estrutura social individualista. O sofrimento, amplificado pelas crises econômicas, levou-as a se unirem, a se organizarem. Assim, a vida comum das oficinas, o trabalho em manufaturas, depois em maquinofaturas, despertaram entre os operários a consciência de sua comunidade de interesses. Com a liberdade de imprensa, o maquinismo e a obsessão do lucro, a necessidade de mão-de-obra não cessa de aumentar.

A miragem do trabalho industrial provoca o êxodo dos trabalhadores rurais para as aglomerações urbanas. Isto determina o excesso da mão-de-obra nas cidades, o desemprego, que se agrava com a introdução de novas máquinas e pelo recurso à mão-de-obra feminina e infantil. [...] As diferenças sociais tornam-se nítidas, os antagonismos agravam-se. Assim, a técnica, criando uma nova psicologia e apoiada pelas novas forças econômicas, conduz a uma transformação da atmosfera doutrinária e política. É este clima que explica o nascimento do movimento operário moderno do sindicalismo.9

Surgem então as primeiras reinvindicações por melhorias na forma de trabalhar, não sendo a liberdade ao trabalho e o valor recebido por ele suficientes, pois não há como falar em liberdade quando jornadas de 14 horas diretas de trabalho não te permitem usufruir do salário recebido ou sequer ter um descanso adequado.

Diante das péssimas condições de trabalho era inevitável a insatisfação dos trabalhadores já que o período era de revoluções e avanços não só nos sistemas econômicos, mas também nas relações sociais, já que em muitos lugares a escravidão e servidão já não eram mais toleradas. Entretanto só a insatisfação pessoal não era suficiente para que houvesse alguma mudança nos postos de trabalho, já que os donos de fábricas detinham de poder econômico e o Estado era liberal, buscando intervenção mínima na sociedade. Como o apelo individual não era efetivo ante o empregador, os trabalhadores começaram a se associar, como ensina Segadas Vianna:

O desenvolvimento da indústria, ou a chamada revolução industrial, ia ser, entretanto, a causa de repetições das coalizões eventuais, mas criando no espírito dos trabalhadores a compreensão de que era necessário um entendimento mais constante e mesmo permanente para a defesa de seus interesses e a luta por suas reivindicações. Surgiam as novas associações de trabalhadores [...].10

Tais associações surgiram com o aglomerado de trabalhadores no mesmo ambiente, que começaram a perceber a imensa desigualdade entre o patrão e o trabalhador, enquanto aquele obtinha o poder econômico que o possibilitava adquirir

9 GOMES, Orlando e ELSON, Gottschalk. Curso de Direito do Trabalho. Rio de Janeiro: Forense, 2001, p. 500.

10 VIANNA, José de Segadas. Direito Coletivo do Trabalho. São Paulo: LTr, 1972, p. 28.

(17)

as máquinas, este exercia todo o trabalho pesado e precário, conforme demonstra Orlando Gomes:

A vida em comum dos trabalhadores nas fábricas indicou-lhes o caminho da união. Tinham idênticos interesses. Sofriam todos a mesma exploração. A miragem industrial, que os arrastara do campo para as oficinas, desfazia-se cruelmente. A sua impotência frente ao industrial despertou-lhes o desejo de se associarem, num movimento natural de defesa.11

A partir da consciência de que, mesmo com a máquina automatizando grande parte do processo, o trabalho humano ainda não era totalmente dispensado, pelo contrário, era ainda essencial para o funcionamento de todo o maquinário, os trabalhadores perceberam que poderiam lutar por condições melhores. Como os trabalhadores estavam marginalizados e não detinha de nenhum poder político ou social, as associações se mantinham de forma sigilosa, não podendo exercer suas funções como é atualmente, mas ainda assim de forma precária lutava contra os abusos praticados pelos donos das fábricas. As associações que antes eram pequenas e atuavam somente dentro das fábricas começaram a tomar maiores proporções, alcançando trabalhadores de regiões, estados até abranger o país todo.

Podemos concluir então que, curiosamente, por conta da consciência de classe surge primeiro o direito coletivo do trabalho em relação ao individual tendo em vista que os trabalhadores só tinham voz e efetividade nas demandas quando agiam em união, mas ainda assim era um direito abstrato e não regulamentado pelo Estado que era comandado pelos próprios empresários que não tinham nenhum interesse em conceder direitos, mesmo que os mais básicos, aos seus empregados, temendo afetar a produção e consequentemente diminuição do lucro, o que era o objetivo principal à época.

12

Esse período da revolução industrial foi o que mais marcou o direito do trabalho, não de maneira material, mas sim jurídico-sociológica, sendo extremamente fundamental para enfim haver uma intervenção no Estado se colocando em seu lugar como fornecedor e protetor dos direitos básicos dos trabalhadores, conforme define Amauri Mascaro Nascimento:

A reação pela procura de melhores níveis surgiu com as novas doutrinas políticas e sociais do Estado, mas, também, com a própria ação dos

11 GOMES, Orlando. A convenção coletiva do Trabalho. São Paulo: LTr, 1995, p. 27.

12 GOMES, Orlando e ELSON, Gottschalk. Curso de Direito do Trabalho. Rio de Janeiro: Forense, 2001.

(18)

trabalhadores, inconformados com a situação, coalizando-se, de fato, apesar das proibições legais, para a defesa conjunta de seus interesses profissionais, inicialmente em sociedades secretas, sociedades de resistência, pequenos clubes, entidades de socorros mútuos, etc.13

A regulamentação do direito do trabalho no tempo é divido em 4 fases por diversos autores, sendo que os autores Granizo e Rothvoss definem de forma bem didática essas fases como formação, intensificação, consolidação e autonomia, sendo a primeira no início do século XIX quando os abusos praticados pelos empregadores ainda eram comuns.

14

Mais precisamente no ano de 1802 na Inglaterra foi editada a Lei de Peel que tentou amenizar de forma bastante superficial a condições dos trabalhadores, mas que foi também um importante marco pois foi uma das primeiras normas a trazer alguma proteção. Seu texto restringia o trabalho dos aprendizes paroquianos nos moinhos, limitando em 12 horas diárias e impedindo o exercício antes das 6 horas e após as 21 horas, ou seja, vetando o trabalho noturno.

15

A partir desta lei até aproximadamente o ano de 1848, o chamado período de formação do direito do trabalho, várias leis foram escritas por todo o mundo, mas de forma dispersa e muitas vezes bastante específica, não sendo suficiente para a criação estruturada de um ramo do direito, como demonstra Mauricio Godinho Delgado:

Trata-se também de um espectro estático de regras jurídicas, sem a presença significativa de uma dinâmica de construção de normas com forte indução operária. A diversidade normativa que no futuro caracterizaria o Direito do Trabalho não se faz ainda clara. Afinal, inexistia na época uma união operária com significativa pressão e eficaz capacidade de atuação grupal no contexto das sociedades europeias e norte-americana. É oportuno lembrar que a estratégia de atuação operária e socialista ainda está, neste momento histórico, fortemente permeada pelas concepções insurrecionais e/ou utópicas, incapazes de produzir uma pressão concentrada transformadora e democratizante sobre a estrutura e dinâmica da sociedade civil e política.16

Dentro desse período vale ressaltar que o foco principal da proteção das leis eram as crianças e mulheres, os mais afetados pelo trabalho pesado, proibindo longas jornadas, em locais com alta insalubridade e periculosidade, ainda que não eram estes os termos usados, permitindo o descanso ao menos uma vez na semana e aos feriados e estabelecendo regras básicas de higiene e segurança no trabalho. Na França, “a lei de 21 de março de 1884 reconhece a liberdade de associação

13 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Direito Sindical. 2. ed. São Paulo: LTr, 1984, p. 21

14 GRANIZO e ROTHVOSS, 1935 apud MARANHÃO, Délio. Direito do Trabalho. 9. ed. Rio de Janeiro: Ed. da Fundação Getúlio Vargas, 1981.

15 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 35. ed., São Paulo: Saraiva Educação, 2019.

16 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 15 ed. São Paulo: LTr, 2016. p. 99.

(19)

profissional, extinguindo o regime da Lei Le Chapellier”

17

, sendo um importante passo para o aumento da conscientização da classe trabalhadora que iria permitir no futuro a regulamentação das associações como sindicatos visando a melhoria para os trabalhadores.

A segunda fase, chamada de intensificação, ocorreu no período de 1848 a 1980 e teve como marcos principais o Manifesto Comunista de Marx e a liberdade de associação limitação de jornada máxima de 12 horas na França.

18

Já o terceiro período, de consolidação, é datado de 1890 a 1919 e tem como marco a conferência de Berlim em 1890, que abordou diversos temas de direito do trabalho, e a Encíclica Católica Rerum Novarum no ano de 1890 do Papa Leão XIII, quando a Igreja finalmente se posicionou de forma incisiva e se preocupou com o trabalhador, orientando que o Estado intervisse na relação entre trabalhador e patrão.

19

A quarta e última fase chamada de autonomia pode ser considerada a partir de 1919 até os dias atuais. No ano de 1919 é criada pelo Tratado de Versalhes a Organização Internacional do Trabalho, “[...] que iria incumbir-se de proteger as relações entre empregados e empregadores no âmbito internacional, expedindo convenções e recomendações nesse sentido.”

20

x. Com o advento da II Guerra Mundial é criada a Declaração Universal dos Direitos do Homem, confirmando o direito ao trabalho, isonomia salarial e liberdade sindical. Nesse período temos também a primeira constituição a tratar sobre direito do trabalho, que é a mexicana de 1917, trazendo expressamente em seu texto proteções ao trabalhador como por exemplo o direito a greve.

1.2 Criação e importância das entidades sindicais

A palavra sindicato deriva do latim syndicus, que é proveniente do grego sunkidé, que significa aquele encarregado de proteger os direitos de uma comunidade, remetendo à ideia de uma instituição com finalidade de lutar pelos interesses daqueles que a integram.

21

Existem inúmeros conceitos de diferentes autores e doutrinadores, que variam também de acordo com o local onde está

17 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 35. ed., São Paulo: Saraiva Educação, 2019. p. 51.

18 MARANHÃO, Délio. Direito do Trabalho. 9. ed., Rio de Janeiro: Ed. da Fundação Getúlio Vargas, 1981.

19 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 35. ed., São Paulo: Saraiva Educação, 2019.

20 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 35. ed., São Paulo: Saraiva Educação, 2019. p. 53

21 AROUCA, José Carlos. Curso Básico de Direito Sindical. São Paulo: LTr, 2006.

(20)

inserido, o momento político e econômico e outras variáveis. De forma ampla e geral o autor José Martins Catharino define que

Sindicato, em amplo sentido, é a associação trabalhista de pessoas, naturais ou jurídicas, dirigida e representada pelas primeiras, que tem por objetivo principal a defesa dos interesses total ou parcialmente comuns, da mesma profissão ou atividade, ou de profissões similares ou conexas.22

A partir desta definição podemos esmiuçar várias características do sindicato, como por exemplo que ele poder ser constituído por trabalhadores (pessoas naturais) ou empregadores (pessoas jurídicas) já que, curiosamente, os primeiros sindicatos a surgirem na França foram dos patrões, chamados de câmaras sindicais principalmente de carpinteiros e pedreiros. As câmaras sindicais dos funcionários apareceram tempos depois, aproximadamente em 1835, com funções inicialmente de assistência.

23

Alfredo J. Ruprecht faz uma divisão bastante didática sobre a evolução do sindicalismo, em três períodos denominados como repressão, tolerância e reconhecimento.

24

Surgindo de forma concomitante ao próprio instituto do direito do trabalho, conforme estudado anteriormente, o sindicalismo inicialmente não era visto com bons olhos pelo Estado por todo o mundo, havendo diversas leis no sentido de proibir as associações. Este foi o período da repressão, quando as associações, inclusive de empregadores, eram expressamente proibidas e “Quanto à natureza, a associação foi considerada inicialmente um delito. As reuniões de trabalhadores eram punidas como infração penal, no período subsequente à proibição das corporações de ofício.”

25

. Entretanto a repressão e proibição não foram suficientes para conter a evolução do sindicalismo, já que a associação dos trabalhadores era o único meio possível para reivindicar melhores condições de trabalho. Portanto elas continuavam a existir mesmo que de maneira sigilosa e foram ganhando força com o tempo sendo inevitável para o Estado reconhecer que a proibição não era mais viável. Esse é o

22 CATHARINO, José Martins. Tratado Elementar de Direito Sindical. 1. ed., São Paulo: LTr, 2016.

p.164.

23 VIANNA, José de Segadas. Direito Coletivo do Trabalho. São Paulo: LTr, 1972.

24 RUPRECHT, Alfredo J. Relações Coletivas do Trabalho. Tradução Edilson Alkmin Cunha. São Paulo: LTr, 1995.

25 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Direito Sindical. 2. ed. São Paulo: LTr, 1984, p. 22.

(21)

período de tolerância, quando a coalizão deixou de ser delito, sendo a Grã-Bretanha o primeiro país a suprimir o crime em 1824.

26

O reconhecimento, que inclusive é o nome dado ao terceiro período, veio logo depois, e é muito bem definido por Amauri Mascaro Nascimento:

Alterou-se a noção sobre a natureza jurídica que deveria ser atribuída à associação, passando, através de seguidas postulações, de delito, como era até então concebida, para direito, como condição de liberdade a liberdade de associação, valorizada a tal ponto que adquiriu o nível de liberdade pública reconhecida nos textos constitucionais.27

Nesse período, que pode ser considerado o atual, além do reconhecimento expresso da liberdade de expressão em textos constitucionais, inicia-se também a prática mais incisiva das relações entre sindicatos patronais e de empregados, dialogando de forma aberta e negociando sobre as condições de trabalho, já que não são mais tolerados abusos e violações tendo em vista a globalização acelerar a evolução do relacionamento humano e das práticas trabalhistas, sendo a intervenção dos sindicatos de extrema importância para auxiliar na melhor forma de superar as constantes mudanças no mundo moderno.

28

Diante de todo esse histórico de evolução, o sindicalismo mostrou-se maior que uma simples instituição para defender direitos de seus integrantes, passando a atuar de forma fundamental em questões sociais, políticas, econômicas e jurídicas. No cenário social o sindicato contribui para a diminuição da desigualdade e da distribuição de riquezas, possibilitando ao trabalhador que desfrute inclusive dos bens por ele produzidos, afastando a ideia de que o operário é somente uma ferramenta para produzir mais riqueza para os grandes industrialistas. Já que no período liberal o Estado se eximia de fornecer condições mínimas de cidadania para os mais pobres, a atuação do sindicato foi fundamental para estreitar essa relação fazendo com que o Estado percebesse sua responsabilidade e atuasse de maneira mais efetiva, a princípio editando leis que aboliam os abusos praticados aos trabalhadores mas que consequentemente os inseriram na sociedade, dando voz a eles que passaram a perceber que outros direitos e garantias também só seriam conquistados com luta e

26 RUPRECHT, Alfredo J. Relações Coletivas do Trabalho. Tradução Edilson Alkmin Cunha. São Paulo: LTr, 1995.

27 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Direito Sindical. 2. ed. São Paulo: LTr, 1984, p. 22

28 RUPRECHT, Alfredo J. Relações Coletivas do Trabalho. Tradução Edilson Alkmin Cunha. São Paulo: LTr, 1995.

(22)

reivindicações. Para Orlando Gomes o sindicalismo e a convenção coletiva são de extrema importância para evolução social do trabalhador, conforme exposto:

No campo social, o advento da convenção coletiva de trabalha representa acontecimento sem par na história das relações do trabalho. Vimos que no regime da pequena indústria o trabalhador não intervinha na regulamentação das condições de trabalho. Mesmo quando a relação de trabalho foi travada livremente, por meio do contrato, as condições sociais, desnivelando a situação do operário e a do patrão, permitiam que a vontade deste continuasse a ser a lei do trabalho, visto como o contrato teoricamente livre se transformara praticamente em contrato de adesão. A estipulação das condições de trabalho manteve-se unilateral, nesse regime aparentemente liberal. E denotava pronunciada tendência a conservar tal caracter através dos regulamentos de fábrica, nos quais a vontade patronal se exteriorizava na plenitude de seu discrecionarismo.29

No âmbito político o sindicalismo também caminha muito próximo, apesar de na atualidade ser não recomendável a participação direta do sindicato, temendo a desvirtuação deste no verdadeiro sentido para o qual foi estruturado. Mas é inevitável a participação do sindicato na política pela sua importância como entidade, mas desde que sua atuação seja em prol dos interesses daqueles que o compõem, sendo inadequada a inserção da entidade sindical na política partidária, sendo esta própria dos partidos políticos.

30

Para Amauri Mascaro Nascimento

É preciso separar política de política partidária, reconhecendo a pertinência da primeira e desaconselhando a segunda. Razoável, também, ponderação segundo a qual é indesejável a utilização do sindicato como meio para fins políticos, tanto quanto é admissível a utilização da política para fins sindicais.31

Como consequência da constante atuação do sindicato na sociedade, o impacto econômico também é verificado no ambiente onde o sindicato está inserindo, podendo afetar tanto a micro como a macroeconomia, de formas positivas ou negativas, direta ou indiretamente. Indiretamente pois com o combate da desigualdade descrita anteriormente o trabalhador que antes não consumia e estava às margens de qualquer relação comercial, agora pode participar mais ativamente no ciclo econômico, consumindo mais e contribuindo para expansão de outros tipos de negócios que antes eram concentrados em pequenos grupos de empresários e geralmente de só um ramo de atividade econômica. E de forma um pouco mais direta

29 GOMES, Orlando. A convenção coletiva do Trabalho. São Paulo: LTr, 1995, p. 30.

30 BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro de. Direito Sindical. 5. ed. São Paulo: LTr, 2015.

31 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Direito Sindical. 2. ed. São Paulo: LTr, 1984, p. 216.

(23)

com as negociações coletivas, seja quando normatiza um valor de salário para certa categoria, aumentando ou até mesmo restringindo seu poder de consumo, seja pelos atos praticados pelos sindicalizados quando do processo de negociação, como uma greve por exemplo que a depender do ramo de atividade pode gerar um verdadeiro caos na economia. Além disso outros aspectos da negociação coletiva devem ser analisados juntamente com o salário, levando em conta que também são tratados assuntos como jornadas de trabalho, repouso, condições de trabalho, licenças, demissões, que também afetam a economia.

32

1.3 O sindicalismo no âmbito jurídico

A contribuição do sindicalismo para o direito é amplamente percebida na sua própria história, que se forma e estrutura basicamente em harmonia, sendo o sindicalismo peça fundamental para a normatização e regulamentação do direito do trabalho como ramo do direito. Essa contribuição se deu através dos movimentos de associações e sindicatos que, de certa forma, forçaram o Estado a reconhecer a necessidade de proteger os trabalhadores dos abusos que estes sofriam. Entretanto após o reconhecimento da entidade sindical e seu estabelecimento na sociedade em geral eles passaram a contribuir de outra forma para o direito, de forma mais indireta e até mesmo formal, se incluindo no ordenamento jurídico de forma jamais antes vista, inserindo no vasto mundo do Direito um ramo que antes não era observado, não tinha preocupação por parte do Estado e não era objeto de estudo de juristas, que focavam somente nos tradicionais ramos do direito público e privado. Sobre o tema ensina Alfredo J. Ruprecht:

A organização sindical reclama a formulação de um ordenamento jurídico em consonância com os problemas que apresenta a sociedade atual.

Preocupada com a falta de normas e com a indiferença do Estado, luta desde seus primórdios pela dita formulação e chega a se converter num co- legislador por meio das convenções coletivas. O Direito do Trabalho – teoria e prática – segue de perto as normas consensuais obtidas pelo sindicato.33

Portanto, o que se pode concluir é que as relações trabalhistas merecem um olhar especial pelo Direito, mas é evidente que não é possível que o legislador consiga

32 RUPRECHT, Alfredo J. Relações Coletivas do Trabalho. Tradução Edilson Alkmin Cunha. São Paulo: LTr, 1995.

33 RUPRECHT, Alfredo J. Relações Coletivas do Trabalho. Tradução Edilson Alkmin Cunha. São Paulo: LTr, 1995, p. 109.

(24)

acompanhar de perto todas as interações que estão ocorrendo nas mais diversas classes de trabalhadores, que sofrem cada vez mais rapidamente e dinamicamente mudanças no modo de exercer suas atividades. Certo é que com o avanço da tecnologia a sociedade tende a mudar suas relações e interações, surgindo situações que por algumas vezes serão conflitantes e que exigirão de algum ente uma posição para definir qual a melhor maneira de resolução ou até mesmo para definir quem tem o “melhor direito”. Só que os trabalhadores não podem esperar por essa definição somente do Estado quando esses conflitos ocorrerem, tendo em vista o caráter alimentício que tem o salário recebido. Além disso é claro e evidente que a disparidade de poder econômico entre patrão e empregado é uma relação desigual e que sempre irá beneficiar aquele em detrimento deste. Por isso a atuação do sindicato se faz importante, para atuar ao lado do empregado, mas não como uma arma a mais para incentivar e aquecer ainda mais o conflito, mas sim para equilibrar a relação e possibilitar que o embate seja resolvido da forma mais vantajosa ou menos penosa para a classe que está representando.

Atualmente uma das principais funções do sindicato é a resolução de conflitos, cuja palavra, segundo Amauri Mascaro Nascimento:

É utilizada para designar a contraposição de interesses entre duas ou mais pessoas; nesse sentido é que se fala de conflito de interesses. É das maiores a sua importância no Direito em geral. O Direito é interesse juridicamente protegido. A principal função do Direito do Trabalho é a composição dos interesses divergentes. No Direito do Trabalho, os conflitos não são apenas individuais; são sociais, entre grupos, com o que um dos seus setores trata da disciplina jurídica desses conflitos.34

Tendo em vista que o embate e os interesses entre empregado e empregador muitas vezes vão se colidir, cabe ao sindicato, seja dos empregados quanto dos empregadores, procurar os meios para resolver tal situação. Cabe ressaltar que, apesar de não haver discrição ou distinção em relação à atuação dos sindicatos de empregadores e empregados, socialmente falando a atuação do sindicato do empregador é altamente recomendada e produtiva, sendo quase sempre até mesmo necessária, tendo em vista que muitas vezes a condição econômica do empregador é extremamente melhor que a do empregado, podendo aquele pagar por um advogado particular para defendê-lo enquanto este não dispõe de capacidade financeira suficiente para ter um representante que o auxilie de forma adequada e

34 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Direito Sindical. 2. ed. São Paulo: LTr, 1984, p. 235

(25)

efetiva. Sendo assim, em caso de um conflito entre empregado e empregador, caso o trabalhador não seja bem assistido poderá ter vários de seus direitos suprimidos e abusados, como historicamente já aconteceu e como ainda acontece, com a frequência não desejada, atualmente.

Os conflitos podem ser individuais ou coletivos, em relação ao sujeito, sendo que nos conflitos individuais pode-se perceber a presença de um ou mais empregadores contrapondo ao empregador, desde que esteja individualizado o interesse naquele debate, já nos coletivos os empregados não atuam diretamente já que são representados pelo sindicato que de forma geral abrange todos os membros de uma categoria. Outro aspecto é em relação ao interesse da negociação. O conflito é individual quando, mais uma vez, podendo um ou mais trabalhadores reivindicar ante o empregador assuntos estritamente individuais para aquela pessoa ou grupo, não se estendendo aos demais alheios ao processo. Já no coletivo o interesse é transindividual, já que a figura do sindicato atua em prol de uma categoria de pessoas não definidas e especificadas, sendo todos aqueles que compõe determinada categoria beneficiados ou afetados pelo processo de negociação conduzido pelo sindicato que os representa.

35

Focando nos conflitos coletivos, podemos classificá-los ainda em jurídicos e econômicos, conforme ensina Mauricio Godinho Delgado:

Os conflitos e natureza jurídica dizem respeito a divergência de interpretação sobre regras ou princípios jurídicos, quer incrustados ou não em diplomas coletivos negociados. A interpretação divergente, é claro, repercute de modo diferenciado nas relações grupais entre trabalhadores e empregadores. No caso dos conflitos de natureza econômica, trata-se de divergência acerca de condições objetivas que envolvem o ambiente laborativo e contratos de trabalho, com repercussão de evidente fundo material. Aqui, a divergência abrange reivindicações econômico-profissionais dos trabalhadores, ou pleitos empresariais perante aqueles, visando alterar condições existentes na respectiva empresa ou categoria. [...].36

Tendo em vista a evolução histórica social já abordada anteriormente, as relações de trabalho passaram a enfrentar cada vez mais conflitos coletivos diante da conscientização dos trabalhadores e até mesmo maior atuação do Estado no sentido de proteger essa classe.

35 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Direito Sindical. 2. ed. São Paulo: LTr, 1984.

36 DELGADO, Mauricio Godinho. Direito Coletivo do Trabalho. 5. ed. São Paulo: LTr, 2014. p. 33 e 34.

(26)

O conflito coletivo tem um fim normativo. É o meio de desenvolvimento de uma ação destinada a obter as normas que faltam para que as relações de trabalho prossigam em termos de um equilíbrio que foi afetado pelo interesse coletivo dos trabalhadores em melhores condições de trabalho. Em sua base está uma problemática de produção de novos modelos jurídicos, de estruturas normativas como unidades integrantes de um conjunto fático- axiológico, que sob a tensão dos fatos e das novas exigências rompem-se, uma vez que vivem em função de uma determinada ordem que nunca se mantém imutável. O conflito é a projeção de um comportamento referível à elaboração de uma norma. A sua tarefa é a de destruição para a reconstrução do plano normativo. Representa o epílogo de uma tensão que implicará o começo de um procedimento genético-jurídico, explicado como movimento dialético.37

Sendo assim existem basicamente 3 maneiras de resolução desses conflitos, conforme classificação de Amauri Mascaro Nascimento: a autocomposição, a heterocomposição e a autodefesa. Resumidamente, a autocomposição é aquela onde as próprias partes procuram solucionar o conflito, sem intermediação de terceiros e sem emprego de violência, podendo ambas as partes ajustarem suas vontades para a solução pacífica, ou até mesmo apenas uma sacrificar seu próprio interesse. Já a heterocomposição ocorre quando as partes não chegam em um consenso somente com a autocomposição, sendo necessária então a intervenção de um terceiro que decide a controvérsia e impõe a decisão às partes, já que sozinhas não puderam resolver. São exemplos mais clássicos de heterocomposição

38

a arbitragem e a jurisdição, sendo a arbitragem percebida quando as próprias partes nomeiam terceiro para intervir, e a jurisdição quando o Estado, através do poder judiciário necessita atuar de forma impositiva no conflito. Já a autodefesa é definida por Amauri Mascaro Nascimento como a forma mais primitiva de resolução de conflito, tendo em vista que os meios utilizados são bruscos e muitas vezes não procuram ouvir a outra parte, buscando impor de forma abrupta seus interesses. Ainda assim tal forma de resolução não deve ser vista de forma totalmente negativa, tendo em vista esta muitas vezes esta ser a única maneira e meio possível para alcançar aquilo que se deseja. É o caso da greve, por exemplo, que inclusive é permitida e regulamentada atualmente na maioria dos países democráticos.

39

Dos dois modelos primeiros modelos de resolução de conflitos apresentados temos como resultado uma norma que resume tudo aquilo que foi discutido e o que

37 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Direito Sindical. 2. ed. São Paulo: LTr, 1984, p. 244

38 Alguns autores consideram a mediação uma forma de heterocomposição, entretanto como não há imposição pelo terceiro, já que as partes têm que concordar e podem ou não aceitar, essa parte da doutrina é minoritária nesse sentido.

39 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Direito Sindical. 2. ed. São Paulo: LTr, 1984.

(27)

foi convencionado entre as partes integrantes, passando a ser uma regra a ser aplicada entre os interessados, de acordo com as condições e prazos estabelecidos na própria norma. Dentro do direito do trabalho essas normas são conhecidas como acordo coletivo e convecção coletiva, que são também classificados como diplomas negociais coletivos:

Os diplomas negociais coletivos qualificam-se como alguns dos mais específicos e notáveis destaques próprios do Direito do Trabalho no universo jurídico dos dois últimos séculos. Na verdade, firma o marco que esse ramo jurídico especializado estabeleceu com relação a conceitos e sistemáticas clássicas do Direito Comum: é que eles privilegiam e somente se compreendem em função na noção de ser coletivo (vejam-se além desses institutos da negociação coletiva, também as figuras do sindicato e da greve, por exemplo). Com isso, fazem contraposição à hegemonia incontestável do ser individual no estuário civilista preponderante no universo jurídico.40

Basicamente as diferenças entre o acordo e a convenção coletiva são os sujeitos participantes do processo e o prazo que irá vigorar cada norma. Na convenção coletiva temos obrigatoriamente a participação da entidade sindical, representando os empregados e os empregadores de certa categoria econômica, aplicando-se àqueles pertencentes a tal categoria, sendo pertinente o caráter genérico e coletivo, produzindo desta forma regra jurídica, e não somente cláusulas obrigacionais. Já o acordo coletivo não necessariamente possui a participação de sindicatos representativos da categoria econômica dos empregadores, mas ainda permanece obrigatório o envolvimento direto da entidade sindical dos empregados.

Por isso, a participação geralmente é de uma ou um pequeno grupo de empresas, não abrangendo totalmente a categoria de trabalhadores e sendo aplicadas suas normas somente àqueles que estão vinculados às empresas participantes no processo, de forma restrita, portanto, como a participação é mais personalizada, constitui-se acordos de vontades.

41

Em teoria, os acordos e contratos coletivos de trabalho são complementares ao contrato individual do trabalho e não podem contrariar leis previamente estabelecidas, devendo abranger situações não definidas pelo legislador e acordar entre as partes a melhor forma de resolução, buscando uma aplicação mais ágil e prática em relação ao processo legislativo que é lento e burocrático. Desta forma

40 DELGADO, Mauricio Godinho. Direito Coletivo do Trabalho. 5. ed. São Paulo: LTr, 2014. p. 158.

41 DELGADO, Mauricio Godinho. Direito Coletivo do Trabalho. 5. ed. São Paulo: LTr, 2014. p. 159

(28)

esses instrumentos contribuem para a formação e estruturação do Direito Coletivo do trabalho, conforme definido por Alfredo J. Ruprecht:

As convenções coletivas têm sido, em várias ocasiões, verdadeiras precursoras da legislação e até da doutrina trabalhista, e podemos ainda acrescentar que, em muitos países, o Direito do Trabalho vem na esteira das convenções coletivas. É que a conjunção dos trabalhadores e empregadores, fontes e interessados diretos, são os elementos mais capazes de determinar quais são as verdadeiras regras da alçada do Direito Trabalhista, não só quando as relações são harmônicas, mas também quando surgem desavenças e se deve recorrer à conciliação. [...]42

42 RUPRECHT, Alfredo J. Relações Coletivas do Trabalho. Tradução Edilson Alkmin Cunha. São Paulo: LTr, 1995, p. 282.

(29)

2. O DIREITO COLETIVO DO TRABALHO NO BRASIL

2.1 História do Direito Coletivo do Trabalho Brasileiro

Em relação ao Direito do Trabalho em geral, sua evolução no Brasil se deu de forma quase contemporânea junto aos outros países ocidentais, isso porque já tínhamos início de um processo de transformação em escala mundial, nos séculos XVIII e XIX. Entretanto as mudanças aconteceram de forma lenta e gradativa, podendo essa lentidão ser justificada pelo colonialismo tardio e que muito perdurou até a independência de Portugal e a constituição do Império.

Carlos Alberto Barata Silva divide a evolução da legislação do trabalho no Brasil em dois períodos, compreendendo o primeiro o Império e parte do período Republicano e o segundo, desde 1930 até os dias atuais. No Império, a Lei de 13 de setembro de 1830 regulava o contrato escrito sobre prestação de serviços e a Lei n.

108 de 1837 regulava o contrato de prestação de serviços dos colonos, mas em 1879 foi publicado o Dec. n. 2.827, que revogou essas duas primeiras leis e estabeleceu as regras para o contrato de locação de serviços. Percebe-se nesse primeiro momento que as leis tratavam exclusivamente das relações agrícolas, tendo em vista a industrialização no país ainda estar em fase de iniciação e muito pouco desenvolvida.

43

Nota-se também que o conceito de trabalho ainda era muito raso e não muito difundido, razão pela qual o Estado não tinha muito interesse em regular esse assunto. Além disso temos também a escravidão muito presente e que mesmo após a sua abolição em 1888 ainda deixou muitas consequências sociais, conforme entendimento de Pedro Paulo Teixeira Manus:

Lembre-se, ainda, que o trabalho executado no Brasil, nessa fase do liberalismo, salvo poucas exceções, era aquele desenvolvido pelos escravos que, considerados como “coisa”, não eram sujeitos de qualquer direito. Eis um motivo do retardamento da industrialização brasileira: o desprezo de que era alvo o trabalho pelos homens livres que aqui viviam e que grada raízes até os nossos dias. [...].44

Já em relação ao movimento sindical que, segundo Segadas Vianna, “demorou a aparecer”

45

no Brasil, temos o surgimento de várias associações e sociedades no

43 SILVA, Carlos Alberto Barata, Compêndio de Direito do Trabalho: parte geral e contrato individual de trabalho. 2. ed. ver. e atualizada. São Paulo: LTr: 1978

44 MANUS, Pedro Paulo Teixeira. Direito do Trabalho. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2003, p. 29

45 VIANNA, José de Segadas. Direito Coletivo do Trabalho. São Paulo: LTr, 1972, p. 30

(30)

fim do século XIX e início do século XX, como a Liga Operária em 1870 e a União Operária em 1880, mas estas não traziam em sua essência finalidades próprias ao proletariado. Temos como exemplo também a Sociedade União dos Foguistas em 1903, a União dos Operários estivadores no mesmo ano e a União dos Operários em Fábricas de Tecidos em 1917. Mesmo aparentando ser tímida e quase que inexistente a luta sindical no Brasil, Délio Maranhão destaca que no ano de 1919 vários movimentos de greve nos principais centros do país como Recife, Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro colaboraram para intensificação do sindicalismo e percepção do Estado quanto a necessidade de regulamentação desse tema.

46

Em relação à legislação, no ano de 1903 foi editado o Decreto n. 979 que permitiu a reunião em associações dos trabalhadores rurais, tanto da agricultura como das indústrias rurais, permitindo ainda a liberdade de escolha da forma de sindicalização e em 1907 foi expedido o Decreto 1637 de 5 de janeiro, que “criava as sociedades cooperativas e estendia o direito de se associarem em sindicatos a todos os profissionais, inclusive os liberais”

47

e que estabeleceu as finalidades do sindicato, sendo o “estudo, defesa e desenvolvimento dos interesses gerais da profissão e dos interesses individuais de seus membros”

48

, basicamente estendendo o direito de livre associação aos trabalhadores urbanos. No ano de 1923 foi instituído o Conselho Nacional do Trabalho pelo Decreto n. 16.027, de 30.4.1923 e em 1925 são concedidas as férias de 15 dias anuais para trabalhadores de estabelecimentos comerciais, industriais, e bancários através da Lei n. 4.982, de 24.12.1925.

49

Podemos perceber nessa época, no início do século XX, uma maior estruturação da legislação trabalhista, conforme pensamento de Carlos Alberto Barata Silva:

Já se notava, assim, nesse período, uma maior preocupação os legisladores pela elaboração de normas reguladoras das relações de trabalho. Ou porque o desenvolvimento industrial já se viesse pronunciando, ou porque a exemplo dos legisladores das demais nações os nossos tivessem passado a encarar o assunto com mais seriedade, o certo é que no período analisado, notou-se acentuada melhoria na produção legislativa sobre Direito do Trabalho [...].50

46 MARANHÃO, Délio. Direito do Trabalho. 9. ed. Rio de Janeiro: Ed. da Fundação Getúlio Vargas, 1981, p.298.

47 VIANNA, José de Segadas. Direito Coletivo do Trabalho. São Paulo: LTr, 1972, p. 31

48 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Direito Sindical. 2. ed. São Paulo: LTr, 1984, p.51

49 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 17. ed.rev. atual. e ampl. São Paulo: LTr, 2018.

50 SILVA, Carlos Alberto Barata. Compêndio de Direito do Trabalho: parte geral e contrato individual de trabalho. 2. ed. ver. e atualizada. São Paulo: LTr: 1978, p. 47

(31)

Pode-se concluir que para um Estado que nada regulamentava sobre Direito do Trabalho realmente foi um período de grande avanço, entretanto é unanimidade na doutrina brasileira que o período que mais colaborou para a legislação trabalhista no Brasil, tanto no direito coletivo quanto no direito individual, se iniciou no ano de 1930, com a revolução.

O maior mérito da Revolução de 1930, no que toca ao Direito do Trabalho, constituiu na criação do Ministério do Trabalho, Industria e Comércio, pelo Dec. n. 19.443, de 26 de novembro de 1930. Pouco depois foi organizado o Departamento Nacional do Trabalho, pelo Dec. n. 19.671-A de 4 2 -1931. A necessária fiscalização da aplicação do trabalho desdobrou-se, progressivamente, em órgãos regionais e locais.51

Temos nessa época uma forma totalmente diferente de atuação do Estado que antes era liberal e com mínima intervenção nas relações sociais e agora passa a ser largamente intervencionista, dando finalmente foco às questões sociais, mas na verdade como uma maneira de manter o controle do Estado através do sistema jus trabalhista.

52

Em 1931 o Decreto n. 19.770 de 31.3.1931 estabeleceu de forma oficial e expressa a estrutura sindical, mas de forma oficial e atribuindo cada vez mais um caráter público e corporativista, na tentativa de transformar a associação num órgão estatal e estabelecendo a figura do sindicato único.

53

As mudanças no sindicalismo foram vastas e perceptíveis, segundo Segadas Vianna:

Antes, os sindicatos eram pessoas jurídicas de direito privado. depois, a sua publicização foi manifesta. Antes, os sindicatos eram livremente criados pelos interessados, com administração e estatutos próprios. Depois, sob a custódia do Ministério Público do Trabalho, Indústria e Comércio, concebidos como órgãos de colaboração do Governo e com estatutos personalizados perderam a sua autonomia, dependendo do reconhecimento do Estado, que deles exigia a apresentação de relatórios da sua atividade.54

Claramente perceptível a extrapolação da intervenção do Estado no sindicalismo, de certa forma engessando sua atuação e restringindo sua liberdade de atuação já com o intuito de controlar e evitar ações dos trabalhadores contra o Estado em caso de insatisfação. Entretanto tal modelo não agradou a sociedade e não

51 PRADO, Roberto Barreto. Curso de Direito Coletivo do Trabalho. 2. ed. rev. e atual. São Paulo:

LTr, 1991, p. 183

52 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 17. ed.rev. atual. e ampl. São Paulo: LTr, 2018.

53 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 17. ed.rev. atual. e ampl. São Paulo: LTr, 2018.

54 VIANNA, José de Segadas. Direito Coletivo do Trabalho. São Paulo: LTr, 1972, p. 57.

(32)

perdurou por muito tempo, e logo em 1934 com a nova Constituição, voltou o modelo de pluralidade sindical além da autonomia, passando o sindicato a ser “teoricamente, compreendido como pessoa jurídica de direito privado, dotado de liberdade de ação, de constituição e de administração.”

55

Importante notar o termo “teoricamente”

adotado pelo autor, isto porque, apesar da regulamentação trazer tais liberdades sindicais, outras regras e fatores impediam o exercício da liberdade na prática, como por exemplo a necessidade de reunir obrigatoriamente no mínimo 1/3 de empregados da mesma classe na mesma região, praticamente impossibilitando a pluralidade de associações sindicais. Outro ponto era a autonomia sindical, que não era totalmente respeitada, uma vez que era obrigatória a participação de um delegado do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio em assembleias sindicais, no intuito de controlar os atos praticados e até mesmo coibir atitudes contrárias ao Estado.

56

Também não perdurou tal sistema e no ano de 1937, no golpe do Estado Novo, a nova constituição outorgada (que será mais detalhada no próximo tópico) trazia novamente a figura do sindicato único, voltando a ser uma entidade oficial e sob o controle do governo regulados posteriormente pelo Decreto nº 1.402 de 5.7.39.

57

Nesse intermédio entre 1930 e 1939 vários decretos e leis foram editadas com assuntos protetivos ao trabalhador, como proteção ao trabalho do menor, regulamentação do trabalho feminino, criação de carteira profissional, fixação de jornada máxima de trabalho e outros assuntos que em 1943 foram estruturados e reunidos em um único diploma normativo, o Decreto-lei n. 5.452 de 1.5.1943 que instituiu a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), assumindo a natureza de código e reunindo desde então até os dias atuais as principais normas pertinentes ao Direito do Trabalho.

58

Entretanto, à época a CLT ainda carregava uma característica muito corporativista e deixava o sindicato sob a sombra e controle do Estado conforme Constituição que vigora na época de sua instituição. Mesmo assim a atuação dos movimentos sindicais ainda perdurava e insistia, buscando melhorias e conquistando direitos que são essenciais atualmente, conforme destaca Pedro Paulo Teixeira Manus:

Ainda que sob o regime corporativo, a atuação sindical entre nós é cada vez mais frequente, trazendo sempre melhoria nas condições de vida e de salário

55 VIANNA, José de Segadas. Direito Coletivo do Trabalho. São Paulo: LTr, 1972, p. 59

56 VIANNA, José de Segadas. Direito Coletivo do Trabalho. São Paulo: LTr, 1972.

57 VIANNA, José de Segadas. Direito Coletivo do Trabalho. São Paulo: LTr, 1972.

58 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 15. ed. São Paulo: LTr, 2016.

(33)

dos trabalhadores. Veja-se a propósito a Lei nº 605, de 5 de janeiro de 1949, que instituiu o repouso semanal remunerado; e a Lei nº 4.090 de 13 de julho de 1962, que instituiu a Gratificação Natalina, conhecida como décimo terceiro salário, estas que são frutos da ação sindical entre nós.59

Após esse período de evolução passamos por certa estagnação e restrição no direito à greve no ano de 1964, passando por um período de arrocho salarial, perseguições a trabalhadores e até morte de líderes do movimento sindical. A situação só vem a melhorar no final dos anos setenta, com a volta dos movimentos sindicais em todo o país e a criação de entidades como a CUT, aumentando a proteção aos trabalhadores e incentivando novamente a negociação coletiva, situações que seriam também inseridas posteriormente na Constituição de 1988.

60

2.2 O Direito Coletivo nas Constituições Brasileiras

A Constituição Federal é a lei maior de um país soberano, e traz em seu texto geralmente a estruturação e organização básica do Estado, seja de forma territorial ou administrativa, direitos e garantias fundamentais individuais, direitos sociais (não sendo regra nas constituições de alguns países) e a organização judiciária daquele país. Com a evolução do Direito do Trabalho de forma geral e do Direito Coletivo, é natural que as constituições brasileiras insiram em seu texto o presente tema, seja na parte de direitos e garantias fundamentais seja na parte da organização judiciária. De forma mais aprofundada no estudo das nossas constituições passadas e da que vigora atualmente, promulgada em 1988, vamos buscar verificar a importância do direito coletivo do trabalho para a formação constitucional e também o inverso: como as constituições contribuíram para a efetivação do direito do trabalho como efetivo ramo do direito e a institucionalização do direito coletivo na sociedade.

Cabe ressaltar a diferença entre os direitos e garantias individuais dos direitos sociais, muito bem definida por Manoel Jorge e Silva Neto:

Os direitos sociais – restringindo-nos à sua conceituação – são direitos públicos subjetivos dirigidos contra o Estado, a determinar a exigibilidade de prestações no que se refere a educação saúde, trabalho, lazer, segurança e previdência social. Diferem, portanto, dos direitos e garantias individuais na medida em que impõem um comando programático para ser cumprido pelo Estado, comando positivo representado por um mínimo em termos de realização do projeto social. Aqueles impõem ao estado um não-fazer, uma

59 MANUS, Pedro Paulo Teixeira. Direito do Trabalho. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2003, p. 30

60 MANUS, Pedro Paulo Teixeira. Direito do Trabalho. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2003.

Referências

Documentos relacionados

Trabalho de conclusão de curso apresentado à Coordenação de Direito do Centro Universitário do Distrito Federal - UDF, como requisito parcial para obtenção do

Poderão participar os alunos regularmente matriculados no Curso de Direito do Centro Universitário do Distrito Federal – UDF, assim como os alunos convidados do Grupo Cruzeiro do

Tendo como base as orientações da Coordenação do Curso de Direito e do Núcleo de Prática Jurídica do UDF – Centro Universitário do Distrito Federal, o Centro Universitário da

O objetivo do primeiro capítulo foi caracterizar quantitativa e qualitativamente a disponibilidade de recurso (guano) como influência na riqueza e diversidade da comunidade

AGRESSÃO DE TRANSEXUAL FEMININO NÃO SUBMETIDA A CIRURGIA DE REDESIGNAÇÃO SEXUAL (CRS). PENDÊNCIA DE RESOLUÇÃO DE AÇÃO CÍVEL PARA RETIFICAÇÃO DE PRENOME NO

"a posse de estado de filho (parentalidade socioafetiva) constitui modalidade de parentesco civil". A doutrina tem elencado que dada a ampliação do núcleo essencial

Para pacientes com diabetes mellitus tipo 2 em tratamento com insulina basal uma vez ao dia, basal-bolus, pré-mistura, ou self-mix, a mudança da insulina basal para Tresiba ® pode

Partindo deste princípio, e com experiência à frente dos proces- sos formativos na área de Informações e Registros em Saúde, o Labo- ratório de Educação Profissional