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A estruturação do trabalho em capítulos e seus respectivos conteúdos leva em consideração a importância dos elementos evidenciados em campo, na prática e nas narrativas dos interlocutores, assim como sugere Baptista (2008, p. 63) ancorada em DaMatta, ao colocar que “são os dados da pesquisa empírica que estruturam o desenvolvimento do trabalho.” Assim, procura-se desenvolver reflexões que permitam fazer as interconexões complexas entre o direito à cidade, a habitação de interesse social, a cidadania e a mulher. Portanto, o trabalho está composto de 3 (três) capítulos, conjugando-se as dimensões teóricas e empíricas relacionadas, além da introdução e das considerações finais.

Então, partindo-se da ideia de que o direito à cidade apresenta uma dicotomia entre a ordem jurídica, reconstruída ou desconstruída e a desordem que a própria cidade suburbana evidencia como uma ordem nela mesma, utilizou-se o embasamento teórico para se discutir essa desarticulação, apresentando-se, inicialmente, os aspectos da cidade de Santa Rita-PB, e procurando evidenciar os dados de sua urbanização através de documentos oficiais (plano diretor, decretos, leis, projetos e cartografias), dados consultados através de meio eletrônico (jornais, noticiários e blogs de moradores locais) e in loco, nesse caso, registrados por ferramenta fotográfica e, principalmente, informações trazidas por interlocutores locais, através de suas narrativas e de bibliografia acadêmica.

16 Nesse processo, alguns procedimentos metodológicos são de fundamental importância no

desenvolvimento desta pesquisa, tais como: pesquisa bibliográfica para aprofundamento teórico e dos fatos pesquisados; levantamento de informações junto aos órgãos institucionais responsáveis pela produção de levantamentos de dados sobre o desempenho econômico e social do município; visitas de reconhecimento do espaço urbano do município de Santa Rita-PB; adaptação de mapas para localização dos espaços estudados; e, principalmente, a coleta de dados primários através de realização de entrevistas e observação- participante; além de banco de imagens sobre o espaço municipal, particularmente sobre os aspectos pontuados no trabalho.

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Portanto, o primeiro capítulo analisa a cidade de Santa Rita, buscando realçar os traços imbricados com a pesquisa e pautando suas análises na perspectiva do direito à cidade dos moradores daquela localidade, buscando compreender, a formação da periferia da cidade, em particular, da comunidade Marcos Moura. Nesse primeiro momento da tese, dividiu-se o capítulo em seções que discutem: as entrelinhas do espaço urbano da localidade de Santa Rita sob os diversos ângulos envolvendo o direito à cidade e, de forma mais pontual, o bairro Marcus Moura, sempre permeando o texto com as narrativas dos moradores e moradoras e de outros interlocutores e interlocutoras que contribuem para a análise desses aspectos.

Mister se faz, nesse item, compreender sobre a urbanização e a urbanidade da cidade central, ao mesmo tempo, identificar aspectos que contribuíram para a formação da periferia local que reflete, também, a segregação social, merecendo destaque, a questão da aquisição da moradia, da violência na cidade, a inserção social dos citadinos na cidade reconhecida como “formal” e, notadamente, abrir a reflexão sobre o discurso de igualdade perpetrado no plano dos direitos fundamentais de cunho universalizante, mas que não se coaduna com a construção das concepções concretas e práticas sociais. E mesmo que não se busque exaurir o assunto, pretende-se trazer alguns elementos, entrelaçando dados exteriores e as narrativas dos interlocutores, assim como, análise teórica pertinente, que servem para se compreender o contexto no qual está inserida a comunidade Marcos Moura e como se dá a apropriação do espaço que lhes pertence.

A análise não se baseia apenas em dados ou estatísticas, que são importantes sob um determinado aspecto para se reconhecer a cidade e a comunidade, mas procura observar as impressões evidenciadas pelos moradores a respeito da localidade onde vivem, sob diversos ângulos, permitindo refletir sobre os aspectos geográfico, social, histórico, econômico e político sob uma perspectiva local, a partir das narrativas de seus moradores. Finalmente, a proposta desse primeiro capítulo é não só contextualizar o espaço geográfico onde a pesquisa se realiza, mas trazer à tona a análise desse espaço, através das declarações e narrativas, das paisagens e passagens que consolidam a existência da localidade à vivência das pessoas ali residentes, dentro de um contexto em que o Estado contribui para a valorização seletiva dos espaços em detrimento das insurgências locais, em que os cidadãos buscam sua promoção social, através da luta por reconhecimento.

Entretanto, como o estudo perpassa os conceitos sobre a titularidade residencial feminina frente às políticas públicas de habitação de interesse social no contexto atual,

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tendo em vista que o sistema brasileiro apresenta mecanismos que priorizam a mulher no âmbito da aquisição da moradia, a investigação traz um ensaio sobre a identidade da mulher, do projeto habitacional implementado para construção de 500 unidades habitacionais no bairro de Marcos Moura, denominado loteamento Novo Bairro, no município de Santa Rita, na Paraíba. Diz Agier que a etnografia deve se basear:

em qualquer conhecimento numa relação de investigação pessoal, ou seja, ter escalas que possam apreender qualquer pessoa. O campo é constituído pelas relações que se podem ter, as relações interpessoais que o próprio investigador tem e não um entrevistador que faz o trabalho para ele e lhe presta contas. (AGIER, 2011, p. 53).

Assim, nesse segundo capítulo, faz-se uma abordagem sob a perspectiva do que é disponibilizado pelo sistema habitacional brasileiro, procurando-se no embasamento teórico do tema proposto, estabelecer um estudo multidisciplinar e dialógico entre os seguintes vértices: (1) as insurgências da cidade e da periferia; (2) as inflexões das políticas de habitação social e (3) do próprio projeto habitacional implementado, o que implica em construir uma teoria voltada para a análise coerente da questão sobre o espaço que cabe à mulher, principalmente, em se tratando de mulheres de estratos sociais inferiores, a partir da implementação das políticas urbanas de habitação de interesse social, atendendo assim, à demanda de moradia, a ser formulada com base na inserção social dessas sujeitas na cidade.

Busca-se compreender em suas interrelações pessoais, sociais, e em suas reivindicações de cidadania, de suprimento de suas necessidades, como essas mulheres se reconhecem como cidadãs? Como reconhecem ou identificam, em suas experiências, o direito à cidade e à moradia? Como elas atribuem o valor à cidadania, dentro do aspecto mais amplo do direito à cidade onde vivem? O que representa a aquisição da casa própria, dentro de uma perspectiva de gênero, do espaço que lhes cabe no contexto urbano através da política habitacional brasileira? O que significa reivindicar um direito social constitucional? Nesse percurso, surge a questão: o que se entende por moradia digna, como uma das dimensões dos direitos sociais previstos na Constituição?

Não se pode olvidar nesse item, discutir-se as assimetrias evidenciadas entre o caráter formal do sistema jurídico e as demandas das citadinas pela dimensão de reconhecimento da cidadania, buscando-se identificar espaços de desenvolvimento da cidadania para a mulher, balizadas nas novas práticas públicas em se articular com o direito à moradia, o direito à cidade no combate às desigualdades de oportunidades e de

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tratamento conferido à mulher, mas tudo isso sob o olhar da própria mulher e, a partir disso, estabelecer uma análise teórica, com base nos textos doutrinários.

Pretende-se, entrementes, analisar se esse processo proposto pela política nacional de habitação de interesse social no Brasil tem contribuído para a promoção e inserção social da mulher de baixa renda ou, de outra forma, vem fomentando a segregação e exclusão dessa mulher no contexto urbano e social do qual ela faz parte.

No terceiro capítulo, utilizar-se-á a discussão baseada no eixo vinculante dos dois primeiros capítulos, privilegiando-se a teorização sobre a dimensão do reconhecimento do direito à moradia da mulher de baixa renda dentro do contexto das cidades, iniciando- se a discussão sob a perspectiva do reconhecimento e tratamento da transversalidade de gênero na comunidade estrangeira e pátria, ressaltando os movimentos de articulação para a incorporação de gênero nas políticas públicas, trazendo para o texto reflexões sobre a concepção de gênero e sobre a tensão entre o público e o privado, para, então, abordar o protagonismo da mulher na política habitacional de interesse social.

Ao longo do trabalho discutiu-se questões pertinentes ao direito à cidade sobretudo sobre a segregação social evidenciada na urbanização brasileira, agregada à exclusão social e à pobreza estrutural, a partir do qual, buscou-se envolver os demais itens do estudo sobre os reflexos dessas tensões na vivência local das mulheres estudadas, ante as concepções de igualdade, justiça social e dignidade e a noção de moradia digna, trazida pela dogmática jurídica. Nos itens desenvolvidos, evidenciou-se as práticas da mulher local e de sujeitos sociais frente à pluralidade contínua de elementos, especialmente do grupo daquela comunidade Novo Bairro, ainda em formação.

Como já foi esclarecido, o texto está permeado de narrativas e análise teórica, sendo que as falas dos citadinos e citadinas são ilustrativas de como, ao procurar compreender as questões relacionadas ao protagonismo da mulher de baixa renda no contexto da aquisição de habitação de interesse social, faz-se mister, também, lançar o olhar sobre o dilema das periferias das cidades brasileiras, até porque “são as pessoas que fazem a cidade, os grupos sociais que fazem a cidade, e não a cidade que faz sociedade” (AGIER, 2011, p. 55).

ASPECTOS METODOLÓGICOS

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