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Estudo de caso 02 – chalés Peterly´s

5.2 DESCRIÇÃO DOS ESTUDOS DE CASO

5.2.2 Estudo de caso 02 – chalés Peterly´s

Este estudo de caso se refere a um conjunto de chalés, situados em Pedra Azul, sul do Estado do Espírito Santo, com planta baixa quadrada, dispostos eqüidistantes uns dos outros em terreno íngreme e que fazem parte da estrutura oferecida pela pousada Peterly´s. Esses chalés foram construídos com o sistema construtivo de eucalipto roliço empilhado formando as paredes estruturais que se cruzam nos vértices da construção. Na varanda, um dos apoios do telhado foi atribuído a um pilar de madeira nativa. O chalé é constituído de uma sala de estar com lareira, um banheiro, um quarto e uma varanda e foram inaugurados no ano de 1998. Para o encaixe das toras empilhadas, foi utilizado o sistema macho e fêmea. Após dois anos de construção, foi feita uma calafetação com pó de serra e cola que serve para vedar eventuais frestas ocasionadas durante o período de variação dimensional da madeira. A ficha técnica da construção está detalhada no APÊNDICE K.

A fundação dos chalés foi feita com a chumbação das paredes estruturais da edificação numa cinta de concreto, o que pode comprometer a durabilidade do subsistema fundação, caso não tenha sido prevista a drenagem do concreto. Primeiramente, foram previstos em projeto apenas sete unidades de hospedagem, porém a declividade do terreno e a implantação dos chalés favoreceram o surgimento de mais unidades de hospedagem com o aproveitamento do espaço abaixo da laje de piso, ocupado somente pelos pilares da fundação (Figura 5.5 e 5.6).

Figura 5. 5: Planta baixa, corte e implantação dos chalés

Figura 5. 6: Vista geral do chalé Peterly`s e detalhe dos encaixes das toras

5.2.2.1 O processo de projeto

Neste caso, o projeto arquitetônico original não previa a utilização do sistema log-home. No decorrer da obra, foram feitas adaptações para o sistema de eucalipto roliço empilhado, que, apesar do resultado estético satisfatório, resultou em alguns problemas relacionados com o planejamento do fornecimento da madeira e na racionalização do material.

5.2.2.2 Levantamento Técnico

No Quadro 5.3, estão descritos os principais problemas observados durante o levantamento técnico pela pesquisadora. A FICHA DE AVALIAÇÃO utilizada pela pesquisadora está detalhada nos APÊNDICES I e J.

O sistema construtivo utilizado foi o sistema construtivo em eucalipto semi pré-cortado, que é semelhante ao estudo de caso 01, já que a empresa fornecedora do eucalipto é a mesma (EMPRESA I). A presença de emendas em peças de eucalipto num mesmo pano de parede denota também a falta de racionalização construtiva.

ASPECTOS ECONÔMICOS  Talvez pelo custo de reposição, notou-se a necessidade de reaplicação do hidrofugante nas fachadas voltadas para o sol da tarde, por questões estéticas

DURABILIDADE  As paredes estruturais de madeira estão chumbadas numa cinta de concreto, colocando a madeira em contato direto com o concreto

ADEQUAÇÃO AMBIENTAL  Também neste caso, como no caso da casa em Piaçu, apesar de a pesquisadora não ter acompanhado a fase de montagem da edificação, a presença de emendas nas peças utilizadas para vedação sugere a falta de planejamento durante a montagem. Isso implica a possibilidade de maiores perdas e produção de resíduos durante esta fase

 O sistema utilizado, com toras empilhadas encaixadas e pregadas, ou seja, com a utilização de pregos, pode inviabilizar a sua reutilização e, já que o eucalipto utilizado foi tratado com CCA, verificam-se problemas com a disposição final do material

CONFORTO ACÚSTICO  Embora não tenham sido feitas medições dos níveis de ruído, o isolamento acústico dos chalés é comprometido pela forma na qual o revestimento de piso (frisos de madeira) dos chalés foi instalado. Os frisos de madeira foram colocados sobre barrotes apoiados na laje de piso. Assim, os frisos ficaram sem contato com a laje de piso, o que compromete a absorção de ruídos

CONFORTO LUMÍNICO  Embora não tenham sido feitas medições dos níveis de iluminação, os pontos de iluminação artificiais disponíveis são insuficientes para leitura.

ESTANQUEIDADE  Também neste caso, há emendas em peças de eucalipto e frestas ocorridas durante a secagem das peças de madeira que podem comprometer o desempenho térmico da edificação

HIGIENE  As frestas decorrentes da retração da madeira durante a secagem dificultam a limpeza, podendo colaborar para a colonização de fungos

Quadro 5. 3: Levantamento técnico – principais problemas observados nos chalés Peterly’s

No que tange a aspectos estéticos e de conservação, a pesquisadora observou que, em algumas fachadas, principalmente as voltadas para o sol da tarde, há necessidade da reaplicação do hidrofugante, pois as toras de eucalipto já estão apresentando um tom esverdeado, caracterizado pelo tratamento preservativo aplicado (Figura 5.7). No entanto, internamente, o estado de conservação é bastante satisfatório. A aplicação do hidrofugante incolor valorizou os aspectos naturais do eucalipto utilizado. Podem ser observadas também, nessa mesma

Figura 5.7, emendas em toras de eucalipto, como na casa em Piaçu, que podem influenciar a estanqueidade da edificação.

Figura 5. 7: Vista e detalhe da fachada oeste do chalé Peterly´s

Em relação aos custos iniciais da construção, o proprietário considera que os valores gastos com as construções em madeira foram semelhantes aos gastos com os apartamentos em alvenaria. Para os custos de manutenção, o proprietário analisa comparativamente a manutenção dos chalés em madeira e dos apartamentos em alvenaria e considera que em quase nada se diferencia em termos financeiros. A única diferença consiste na aplicação do verniz hidrofugante, em prazos periódicos que, no caso dos apartamentos em alvenaria, é substituído pela aplicação de pintura acrílica para as paredes internas dos apartamentos, já que, externamente, estas foram revestidas em pedra.

Acerca dos materiais utilizados, eucalipto e pedra, pode-se dizer que são materiais que necessitam de pouca energia durante seu processo de fabricação e foram extraídos de regiões próximas à obra. A utilização do eucalipto tratado à base de CCA também confere durabilidade ao eucalipto, deixando-o imune a organismos biodeterioradores. No entanto, seu uso é comprometido, visto que transforma a madeira em um material tóxico ao meio ambiente, quando da sua disposição final.

Em entrevistas com os funcionários de manutenção da pousada, estes afirmam que não é notada a presença de insetos e que a manutenção interna feita nos chalés não é diferente da manutenção interna dada aos apartamentos. No entanto, a pesquisadora observou algumas gretas de difícil manutenção, resultantes de uma secagem da madeira mal conduzida, o que pode colaborar para a colonização de fungos. Por outro lado, por estarem situados numa

região descampada, os chalés usufruem uma excelente ventilação, colaborando para a renovação interna do ar.

No que diz respeito a conforto ambiental, os chalés apresentam um aproveitamento regular da iluminação natural, mas um bom desempenho higrotérmico. É notada uma certa insuficiência quanto à iluminação artificial nos ambientes internos para leitura, principalmente no quarto. Com relação ao conforto térmico, a pesquisadora realizou medições nos chalés de madeira e nos apartamentos de alvenaria, com a ajuda de termômetros eletrônicos e observou que os desempenhos térmicos destes são similares.

Além disso, o projeto hidrossanitário dos chalés previu água quente em todas as torneiras, proveniente de aquecimento a gás, o que não foi previsto para os apartamentos em alvenaria. Porém, foi observado um grande desperdício de água nas torneiras até a chegada da água quente. Não houve, nesse caso, aproveitamento de energia solar, o que poderia ter sido considerado durante a construção, visto que a implantação dos chalés em terreno descampado poderia usufruir a captação de energia solar que é gratuita e limpa.

A respeito das condições de isolamento acústico, o piso dos chalés, apesar de serem constituídos de assoalho sobre laje, sua instalação foi comprometida. Os barrotes para instalação dos frisos de madeira foram colocados sobre a laje, fazendo com que as tábuas ficassem apoiadas somente sobre estes barrotes, sem contato com a laje, colaborando para o surgimento de ruídos. Isso poderia ter sido resolvido com um detalhamento adequado de projeto que recomendasse a fixação dos barrotes na laje (Figura 5.8).

É interessante também citar que um dos chalés foi todo adaptado para a acessibilidade de deficientes físicos, fato interessante a ser observado já que se trata de uma pousada que não pode restringir o acesso a nenhum tipo de hóspede.

Figura 5. 8: Detalhe da execução do piso e recomendação para futura execução

FRISO DE MADEIRA

COMO FOIEXECUTADO COMO DEVERIA TER SIDO EXECUTADO

ENCHIMENTO COM CARVÃO

5.2.2.3 Pesquisa com os usuários

No Quadro 5.4, podem ser observados os resultados das respostas atribuídas aos chalés Peterly`s e a conseqüente classificação entre os conceitos (Péssimo, Ruim, Bom, Ótimo). Por esses resultados, pode-se observar que as condições de conforto acústico e iluminação são os requisitos que mais comprometem o desempenho da edificação.

Em relação ao conforto acústico, como mencionado anteriormente, a instalação dos barrotes apoiados na laje para fixação dos frisos de madeira, observado pela pesquisadora durante o levantamento técnico, é um fator que colabora para o comprometimento do desempenho acústico da edificação, o que pode ser confirmado pelos resultados das respostas dos usuários.

COMO VOCÊ CLASSIFICA? (USUÁRIO) PÉSSIMO 0,0 a 2,5 RUIM 2,6 a 5,0 BOM 5,1 a 7,5 ÓTIMO 7,6 a 10,0

1. As condições de conforto térmico (ventilação e temperatura dos ambientes

internos) - 1 5 4

2. As condições de conforto acústico (interferência de ruídos internos e externos)

1 3 6 -

3. As condições de iluminação - 5 1 4

4. Conforto tátil (umidade, temperatura e rugosidade nas superfícies de modo geral)

- 1 5 4

5. As condições de estanqueidade (quando

chove, entra água na construção?) - - - 10

6. A integração da construção com o

entorno - - - 10 N úm er o to ta l d e us ri os e nt re vi st ad os = 1 0

Quadro 5. 4: Resultados das respostas dos usuários na pesquisa

A diferença na classificação de conforto acústico pelos usuários entrevistados pode estar ligada ao fato de que os ruídos que comprometem o desempenho acústico da construção são gerados pelos próprios usuários, ou seja, dependente de seu próprio comportamento durante o uso na edificação, já que não há interferência de ruídos externos.

A ausência de suficiente iluminação artificial no interior dos chalés, como também observada pela pesquisadora, é apontada pelos usuários como a principal razão de insatisfação em relação ao desempenho lumínico da edificação, o que pode ser solucionado com o acréscimo de pontos de iluminação direcionados para leitura.