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Cada vez mais presente na construção civil, a racionalização do processo construtivo leva ao desenvolvimento de novos materiais, componentes e sistemas construtivos que visam a buscar alternativas aos produtos tradicionais usados na construção.

No entanto, existe a necessidade de se avaliar essa gama de novos produtos que surgem no mercado, pois a utilização de novas tecnologias, sem uma prévia avaliação, pode acarretar inúmeras manifestações patológicas na construção.

Diante dessa necessidade, o conceito de desempenho surgiu no final dos anos 60, no período pós-guerra, com a função de sistematizar a variedade de produtos, técnicas e sistemas construtivos desenvolvidos visando à reconstrução dos países envolvidos na guerra. As primeiras instituições a abordarem esse assunto foram o RILEM, a ASTM e o CIB. Posteriormente, mais uma instituição aderiu a esse grupo, a ISO (BONIM, 1998; MITIDIERI, 1998; CASER, 2000). No Brasil, o IPT e a ABNT são as instituições que mais têm se dedicado a difundir o tema, sistematizando requisitos e critérios de desempenho para materiais e sistemas de construção (CASER, 2000).

A palavra desempenho, aplicada à construção civil, significa comportamento em utilização e caracteriza a necessidade de um produto apresentar certas propriedades que o capacitem a cumprir sua função quando sujeito a determinadas ações1 (CIB, 1982; SOUZA, 1988; MITIDIERI, 1995; ABNT, 2002). O CIB (1982) sintetiza o significado, afirmando que desempenho nada mais é que a aplicação de um rigoroso método analítico e científico para estudar o funcionamento de um edifício e suas partes. Por esse motivo, o conceito de desempenho tem sido bastante aplicado no desenvolvimento de produtos, no intuito de garantir a qualidade, além de assumir caráter metodológico, servindo de guia e determinando meios para alcançar resultados mais seguros (INO, 1992).

Na indústria da construção civil, a aplicação do conceito de desempenho consiste em traduzir as necessidades e expectativas dos usuários adaptadas à realidade local em requisitos técnicos e critérios quantitativos de desempenho. Desse modo, é possível mensurar todas as

1 Tais ações atuantes sobre o edifício são denominadas condições de exposição do edifício (CIB, 1982; SOUZA,

necessidades e expectativas como forma de garantir o sucesso do empreendimento (BECKER, 1999).

A avaliação de desempenho, tanto da edificação como de suas partes, se torna necessária para a prevenção de seu comportamento potencial, quando em utilização normal. Dessa forma, pode ser garantido seu perfeito funcionamento. Essa avaliação é baseada em requisitos e

critérios, que expressam condições quantitativas e qualitativas as quais o edifício deve atender para satisfazer às exigências dos usuários, sob determinadas condições de exposição. Para cada requisito de desempenho, há um conjunto de indicadores ou parâmetros que fornecem informações sobre o funcionamento da construção, conforme apresentado no Quadro 2.1.

REQUISITOS DE DESEMPENHO INDICADORES DE DESEMPENHO

Exigências de segurança estrutural  Estabilidade e resistência mecânica

Exigências de segurança ao fogo  Limitações do risco de início e propagação de um incêndio Se gu ra a es tr ut ur al

Exigências de segurança à utilização  Segurança do usuário e segurança a intrusões Exigências de estanqueidade  Estanqueidade aos gases, aos líquidos e aos sólidos Exigências de conforto higrotérmico  Temperatura e umidade do ar

Exigências de qualidade do ar interno  Odores e pureza do ar Exigências de conforto visual  Claridade e insolação Exigências de conforto acústico  Nível de ruído

Exigências de conforto tátil  Eletricidade estática, rugosidade e umidade Exigências de conforto antropodinâmico  Acelerações, vibrações e esforços de manobra Exigências de higiene  Abastecimento de água, eliminação de matérias

usadas H ab it ab ili da de

Exigências de adaptação à utilização e acessibilidade  Funcionalidade dos espaços

Exigências de durabilidade  Conservação e desempenho ao longo do tempo, conservação da vida útil de projeto, quando submetido a intervenções periódicas de manutenção e conservação, segundo instruções específicas do fornecedor. Facilidade de manutenção da construção

D ur ab ili da de e m an ut en ab ili da de

Aspectos econômicos  Custo inicial acessível. Custo de manutenção acessível para a edificação não sofrer deterioração precoce. Custos de operação decorrentes do excessivo consumo de energia ou de água

QUADRO 2. 1: Requisitos de desempenho das edificações

Fonte: a partir de ISO 6241 (1984); JOHN (1988); MITIDIERI (1998); SOUZA (1988)

No Brasil, a avaliação de desempenho vem encontrando certos obstáculos por parte do meio técnico e, principalmente, pelo meio empresarial que não consegue considerá-la como instrumento fundamental na melhoria da qualidade de um produto. Outro obstáculo notório é a heterogeneidade de critérios para avaliação de novos produtos para a construção, bem como a própria metodologia adotada na avaliação de desempenho (MITTIDIERI et al., 2003).

No caso das construções em madeira, esse problema é agravado pela completa ausência de procedimentos para avaliação de desempenho dessas construções, impossibilitando até a disposição de linhas de crédito destinadas à habitação em madeira, já que, para isso, agentes financiadores, como a Caixa Econômica Federal, exigem prévia avaliação de desempenho da construção.

Portanto, é necessária a adoção de uma sistemática avaliação de desempenho de produtos, para que seja possível a garantia da sua qualidade pelo fornecedor ou produtor. Além disso, o produtor pode com isso se diferenciar do mercado, já que comprova a qualidade do seu produto, aumentando suas possibilidades de comercialização e negociação.

No entanto, apesar de toda a dificuldade encontrada ao se avaliar produtos ou sistemas construtivos existentes, tem surgido, também, a necessidade de o mercado da construção civil se adaptar a um novo tipo de requisito de desempenho que visa à eficiência ambiental do ambiente construído. Essa adaptação do mercado, em frente a questões ambientais, está assumindo extrema importância e sua discussão está cada vez mais presente na mídia e sob a mira da opinião pública, que pressiona as autoridades por ações mais concretas no sentido de aplicar penas a quem não demonstre responsabilidade com o meio ambiente.

Sendo assim, a avaliação de desempenho ambiental das construções tem sido exaustivamente discutida no meio técnico e tem o objetivo de otimizar o processo de projeto, construção, reforma e demolição de edifícios, avaliando a capacidade dos edifícios de contribuírem para um ambiente mais sustentável (ISO/CD 21931, 2002). Silva (2004) acrescenta que o desempenho ambiental de edifícios está finalmente se consolidando no País e que já é uma necessidade percebida pela construção civil nacional.

É nesse contexto que a madeira surge como opção viável para a construção ambientalmente responsável, pois, além de ser proveniente de recurso renovável, é reciclável, possui boas propriedades de conforto visual, tátil, térmico e acústico, se projetada corretamente.

Neste capítulo, será abordada a sustentabilidade como requisito de desempenho das construções e sua aplicação na fase de projeto. Pretende-se discutir a importância da sustentabilidade na construção civil, citando os requisitos de desempenho que devam ser considerados na etapa de projeto para edificações que utilizem madeira de reflorestamento como principal componente construtivo.

2.2 O IMPACTO AMBIENTAL DAS CONSTRUÇÕES E A SUSTENTABILIDADE