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O IMPACTO AMBIENTAL DAS CONSTRUÇÕES E A

Nas últimas décadas, a sociedade humana desfrutou de uma infinidade de novos produtos derivados de materiais e tecnologias inovadoras. No entanto, toda essa modernidade levou a altos custos ambientais e para saúde humana, representada por poluição, lixo urbano e industrial tóxico e perigoso. Isso porque ocorreu uma mudança do perfil de resíduos, causada pela substituição de materiais tradicionais (vidro, aço, madeira) por outros componentes (alumínio, plásticos) (FURTADO, 2001).

Atualmente, todos os setores econômicos vêm sentindo a pressão da crise energética mundial e, na indústria da construção civil, não poderia ser diferente. Além da instabilidade política nas regiões produtoras de petróleo, há que se considerar os limites temporais da disponibilidade da grande maioria dos recursos, de grande parte de matérias-primas fundamentais, como o ferro, cromo, carvão e do próprio petróleo (MASCARÓ, 1991; BRAGA et al., 2002).

Na busca por metas estabelecidas em direção ao desenvolvimento sustentável de um país, é necessário ressaltar a importância significativa do setor da construção civil. Na realidade, a indústria da construção civil representa a atividade humana com maior impacto sobre o meio ambiente, no momento em que alteram a natureza, função e aparência de áreas urbanas e rurais, além de consumirem recursos naturais e gerarem resíduos em maiores quantidades que outros setores da economia (SILVA et al, 2003).

Apesar disso, a construção civil também contribui essencialmente para a qualidade de vida da população, no momento em que gera empregos e fornece meios para o atendimento de necessidades humanas básicas (como abrigo, saúde, educação e interação social) (SILVA, 2003). Assim sendo, surge a necessidade da busca por materiais alternativos e provenientes de recursos renováveis para a utilização na construção civil, pois esta, ao mesmo tempo em que traz malefícios ao meio ambiente, contribui para uma série de aspectos essenciais para a população.

Outro aspecto a ser considerado na escolha de materiais e tecnologias construtivas é a quantidade de energia consumida desde a construção até a fase de uso. Na quantificação do consumo energético de um edifício, leva-se em consideração não somente o processo básico da produção dos materiais e do uso do edifício (aquecimento, refrigeração e iluminação), mas

também a energia incorporada ao material desde a sua extração, transformação em produto acabado, uso e demolição (BARBOZA, 2000; JOHN, 2000). A energia gasta durante o ciclo de vida de uma construção é um dos itens mais importantes para a avaliação do impacto ambiental no setor, sendo um dos indicadores de sustentabilidade das construções (BARBOZA, 2000).

Uma outra abordagem utilizada como suporte para a sustentabilidade tem sido a do reaproveitamento do resíduo da obra (entulho) como matéria-prima para fabricação de outros componentes (RIBEIRO, 2003).

A construção sustentável também envolve questões das práticas de construção limpa e técnicas em eficiência de recursos desde a extração do material até a demolição e disposição dos seus componentes (OFORI, 2000). O conceito implica uma ampla e complexa abordagem a respeito da construção e gerenciamento do ambiente construído, tomando a análise do ciclo de vida de um produto como perspectiva (KRONKA, 2001; SILVA et al., 2001).

No entanto, atualmente, pode-se observar uma evolução no conceito de sustentabilidade da construção, que transcende a sustentabilidade ambiental para atingir a sustentabilidade econômica e social, que enfatiza o valor dado à qualidade de vida do indivíduo e das comunidades. É nesse contexto que os princípios de desenvolvimento sustentável são aplicados no ciclo da construção civil desde a extração e beneficiamento da matéria-prima, por meio de planejamento, construção de edifícios e da infra-estrutura, até o controle e disposição final do material de demolição (CIB&UNEP-IETC, 2002). A Figura 2.1 exemplifica o modelo de sustentabilidade na produção de edificações, funcionando como um sistema fechado, em que prevalece a reciclagem e a reutilização dos recursos, gerando menos resíduos para serem absorvidos pelo meio ambiente, o controle do crescimento populacional e o uso racional de energia (BRAGA et al., 2002). Nesse novo modelo, os produtos, além de apresentarem um desempenho ambiental adequado durante a sua vida útil, não são destinados a aterros ao final de suas vidas úteis e, sim, projetados para facilitar as operações de reabilitação e reformas, desmontagem e reutilização de seus componentes e até reciclagem, minimizando o consumo de recursos naturais (JOHN, 2000).

E é dessa forma que as chamadas edificações sustentáveis, concebidas para favorecer o uso racional dos recursos naturais, a utilização de materiais ecologicamente corretos e que controlem seus resíduos, vêm se tornando objeto de estudo em pesquisas científicas.

Figura 2. 1: Ciclo de produção fechado Fonte: JOHN (2000)

Em relação à aplicação do conceito de desenvolvimento sustentável, os países europeus foram pioneiros na definição de novas políticas ambientais. A utilização de normas e sistemas de rotulagem ambiental, avaliação do ciclo de vida de produtos, regulamentação compulsória, acordos e códigos voluntários de ética ambiental são algumas das novas políticas ambientais para a indústria (FURTADO, 2001).

Com a atenção voltada ao meio ambiente, os pesquisadores e empresários do mundo inteiro têm se dedicado a estudos relacionados com a questão da sustentabilidade das construções, já que alguns dos materiais e processos mais utilizados atualmente na construção civil são inadequados do ponto de vista ambiental.

Surge, então, a necessidade de mudança desse quadro por meio de pesquisas no setor e de um novo perfil adotado pelos arquitetos, projetistas e engenheiros. No entanto, atualmente, a materialização de uma solução de engenharia não depende exclusivamente de decisão e ajuda financeira, mas também de um amplo debate e negociação com os setores ambientalistas que defendam os interesses locais. Além disso, é preciso atender aos requisitos exigidos por órgãos gorvenamentais normalizadores e financiadores (BRAGA et al., 2002).

É interessante salientar que a busca por uma postura ambientalmente responsável, principalmente por parte de grupos empresariais, pode acarretar em aumento da

competitividade no setor, isso porque o mercado consumidor internacional tende a ficar mais seletivo, buscando produtos que atendam às necessidades dos consumidores sem comprometer o meio ambiente (NGOWI, 2001).

Nesse contexto, Shimbo (1997) acrescenta uma lista de classes de variáveis ou indicadores de desempenho que devem ser considerados para a avaliação da sustentabilidade de um dado empreendimento, de acordo com o Quadro 2.2.

Avaliação ecológica Avaliação social Avaliação econômica Avaliação tecnológica

• grau de

reprodutividade ao longo do tempo • grau de riscos aos

sistemas naturais (atmosfera, solos, águas e seres vivos) • grau de atendimento às necessidades do presente sem comprometer o futuro • grau de atendimento à população de baixa renda • incremento do padrão de vida (condições de saúde, nutrição, educação) da população de baixa renda • acréscimo da renda

real per capita da população de baixa renda

• grau de

aprimoramento dos sistemas sociais

• distribuição mais justa de renda

• acesso aos produtos e serviços

• taxa de retorno de investimento em capital natural e capital feito pelo homem • grau de competitividade em termos econômicos independentes de subsídios e reservas de mercado • grau de compatibilização entre a escala de produção e as finalidades de seu uso • quantidade de insumos energéticos renováveis para produção de bens

• grau de simplicidade e tecnologia (facilidade de compreensão e uso) • densidade de capital e trabalho

(relação demanda de

trabalho/tecnologia empregada) • durabilidade do produto • possibilidade de reciclagem e

reutilização

• utilização de recursos disponíveis no próprio sistema social • grau de aceitação cultural pelos

usuários

• grau de otimização dos recursos financeiros, materiais e humanos disponíveis

• exigências de desempenho para segurança e conforto

QUADRO 2. 2: Indicadores para a avaliação ecológica, social, econômica e tecnológica para empreendimentos em uma perspectiva de desenvolvimento sustentado

Fonte: Adaptado de SHIMBO (1997)